segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Três ou quatro coisas de Leminski

Paulo Leminski nasceu em Curitiba, em 44. Foi um estudioso da língua e cultura japonesas e publicou em 1983 uma biografia de Bashô. Sua obra tem exercido marcante influência em todos os movimentos poéticos brasileiros dos últimos anos.

Conheci Leminski muito rapidamente, em Curitiba. No Bar do Cardoso, que era um dos lugares que ele gostava de frequentar. Não sei se o bar ainda existe. Também não sei se o Cardoso - um senhor de idade, já no início dos anos 80, quando estive lá - ainda vive. Só Leminski, apesar de morto, continua cada vez mais vivo em minha poesia.

Aliás, falando isso, me lembro de um raciocínio de Milton Nascimento, que terminou virando canção. Ele, Milton, se referia à admiração, ao amor que sentia por John Lennon. E escreveu: "Certas canções que ouço cabem tão dentro de mim que perguntar carece - como não fui eu que fiz?".

Assim, penso em Leminski. E nesta manhã de segunda, feriado do Dia da República, reproduzo três ou quatro coisas de Leminski que me tocam tão fundo que eu mesmo me pergunto: Como não fui eu que fiz?

Eu

eu quando olho nos olhos
sei quando uma pessoa
está por dentro
ou está por fora

quem está por fora
não segura
um olhar que demora
de dentro de meu centro
este poema me olha

Incenso Fosse Música

isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além

Haicai

a estrela cadente
me caiu ainda quente
na palma da mão

cortinas de seda
o vento entra
sem pedir licença

 Eu no retrato, não sou um. Sou três por quatro.

foto: Miki Persona para ilustração d'os gemeos









4 comentários:

  1. Concordo plenamente. Leminsk leu seu pensamento ("Eu", é a sua cara!) e o transformou em poesia. De fato, a afinidade de vcs dois é visivelmente confirmada.Sempre que tiver oportunidade, vibre por ele com seus bons sentimentos, onde ele estiver trocarão Energias que o inspirarão a tocar muitos corações. Digo isso com a propriedade de quem teve(e continuarei tendo,rsrs... espero!) o privilégio de conviver por alguns meses com você. Sua sensibilidade vai muito além daquilo que esperamos de um colega de trabalho ou de um chefe. Com certeza, que posso falar, também em nome dos nossos companheiros de trabalho, sei que carregam consigo o mesmo sentimento que o meu. Obrigada por ter sido esse "disparador psíquico", fazendo-nos acreditar que somos capazes de suplantarmos todas os obstáculos.

    Vou parar por aqui... já tô com os olhos merejando.

    Beijo grande!

    Fraternalmente,
    Simone

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  2. AMOR BASTANTE

    quando eu vi você
    tive uma idéia brilhante
    foi como se eu olhasse
    de dentro de um diamante
    e meu olho ganhasse
    mil faces num só instante

    basta um instante
    e você tem amor bastante

    um bom poema
    leva anos
    cinco jogando bola,
    mais cinco estudando sânscrito,
    seis carregando pedra,
    nove namorando a vizinha,
    sete levando porrada,
    quatro andando sozinho,
    três mudando de cidade,
    dez trocando de assunto,
    uma eternidade, eu e você,
    caminhando junto

    Paulo Leminski

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  3. Minha querida comadre Margot me escreve dizendo que não conseguiu postar um comentário. Não tem problema, comadre. Com a sua licença, transcrevo aí o carinhoso texto que você me mandou. Beijo e saudade. De você e de todos.

    "Meu querido, só você mesmo poderia lembrar de Leminski e sua excelente poesia numa manhã de segunda-feira, o que, com certeza tornará minha semana bastante melhor. De quebra, proporcionar que escutasse mais uma vez Ceriema, cuja versão, confesso que, embora respeitando Inezita, prefiro as de amigos daqui, que você conhece muito bem.

    Quanto ao lançamento do livro, diga ao Mauro que gostaria muito de poder estar presente, pois gostava imensamente do Adão, a quem tive a honra de receber em minha casa para jantar. Um ser humano dos melhores, que transparecia uma dignidade rara de se encontrar. Pena que nos deixou cedo, empobrecendo ainda mais o já debilitado cenário político do país.

    Quanto a você, que no momento deve estar feliz por ter vencido mais uma batalha, sinto sempre a sua falta, aliás, eu e muita gente, pois deixou uma lacuna em Mato Grosso do Sul, não apenas em nossos corações, mas no árido meio jornalístico."

    Beijos mil,

    Margot

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  4. Tal qual teus poemas, os do Paulo Leminsk sabem traduzir os sentimentos que nós, os reles mortais desprovidos do dom da escrita poética, temos e não conseguimos traduzir em palavras. Adorei conhecer Eu, parece déjà vu.
    Beijos,
    Isa

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