domingo, 12 de março de 2017

1979 = infinito





1979.
Somados, os números que compõem essa data resultam no número 8. Querem ver? 1+9 = 10 +7=17 + 9 = 26. 2 + 6 = 8.  O 8 deitado - ∞ - se traduz no símbolo universalmente reconhecido como o infinito.

Talvez esteja ai no resultado dessa “equação” a mágica que fez um grupo de adolescentes inaugurar, em 1979, uma amizade do tamanho do infinito. Algo que começou há 35 anos e não tem data para terminar. Pois, essa é a nossa história. Os amigos que compõem a turma do Terceiro B, do Colégio Marista de Maringá são especiais. 
Ali havia filhos de imigrantes japonês, italianos, descendentes de espanhóis,  de portugueses, de nordestinos... aquela turma era um pouco do Brasil miscigenado. Aos poucos, descobrimos que éramos diferentes dos outros “terceiros”. Nem melhor, nem pior, mas diferentes em quase tudo. Primeiro, porque tivemos a sorte de ter um professor quase da nossa idade, que nos provocava o tempo inteiro.



Ele, Luiz Roberto Evangelista, pra nós sempre foi o “Pirulito”. Por dedução, conclui-se que ele tinha a cabeça avantajada em relação ao corpo franzino. O Luiz foi um dos primeiros a perceber que éramos especiais e nos conduziu a um caminho também muito especial. Por provocação dele, criamos o primeiro Clube de Filosofia do Colégio, em toda a sua história. Dessa forma, de uma hora pra outra, passamos a conhecer e conviver com o pensamento (pra nós, inédito e em alguma medida incompreensível) dos pré-socráticos, de Platão, de Kant, de Friedrich Nietzsche e de muitos outros.


Nossos retiros na chácara dos maristas eram muito mais que espirituais. Eram de corpo e alma. Éramos a juventude no seu melhor e mais inocente frescor. O amor era uma constante em nossas vidas e vinha em forma de poesia, de paixão platônica, de desejos inconfessos, de pequenos olhares, de beijos contidos, de toques de mão. O amor, vinha em forma de música que escutávamos todos juntos. De preferência, música brasileira.

Ah, as tarde nas casa de Olívia, mãe de Mariza, eram memoráveis.  Havia lá uma cozinha maravilhosa, que sempre nos abastecia o estômago com um carinho qualquer, em forma de sabor da culinária italiana. 

Mas havia também algo que nos atraía muito, uma coleção de discos de MPB que pertencia à irmã de Mariza, Heloísa, e que era o nosso guia para o mundo mágico das artes e da contemporaneidade.
Então, amávamos explícita ou platonicamente as nossas meninas. E elas, a nós também. E quando a dor de amor era demasiada (porque havia dor de amor também, claro!), havia sempre um prato quente e bem feito por Dona Olívia, para nos ajudar a afastar a angústia da alma, saciando o vazio do estômago e, por tabela, do coração.

Comida, aliás, nunca foi o nosso problema. Havia os doces da Dona Clara, mãe do Ricardo Sandri; a comida mineira da Dona Marilene, mãe da Edna; os sabores lusitanos da casa da Dona Rosa, mãe do Eduardo Esteves; e os lanches na casa da Dona Shirley, mãe da Alverina.  



Andávamos em bandos, mas o nosso bando era gentil e surpreendente. Nas olimpíadas escolares, tínhamos camisetas especiais, torcida especial, times em todos os estilos de competição. Não me lembro de termos tido um desempenho capaz de inscrever nosso nome no panteão da glória esportiva maringaense, mas também não me recordo de termos envergonhado ninguém.

1979. Aquele ano mágico (e infinito) de nossas vidas era ano de encontros, mas também de despedidas. Nos despedíamos da nossa meninice. A vida profissional se avizinhava, embora nenhum de nós, salvo raro engano, tivesse bem definido, com clareza, aquilo que queria mesmo da vida.
Tínhamos uma noção de que bem ali a vida fechava um ciclo e começava outro, naquele exato instante. Não tínhamos ideia do quê viria pela frente, mas o que quer que fosse, era desafiador.

O certo é que ninguém combinou, mas aquele ano de 79, aquela turma do Marista de Maringá, fez um acordo tácito, através do olhar – onde quer que estivéssemos, um dia voltaríamos a nos encontrar. Ninguém sabia se aquilo seria levado a sério, mas foi.

A vida permitiu a muitos de nós que os caminhos se cruzassem. Nos juntamos pela primeira vez, quinze anos depois da formatura e foi delicioso. Demoramos mais um bom tempo para fazer uma nova “juntada” e foi bom, de novo. E agora, aos 35 anos completados de nossa turma, nos reunimos uma vez mais.



Nosso corpo nos traduz como “jovens senhores e senhoras”. Uns, com menos cabelos sobre as cabeças, outros com uma cinturinha avantajada, alguns já grisalhos... As meninas, não! Para elas, o tempo quase não passou. Elas continuam carregando aquele perfume que tanto nos encantava, nas tarde de música e poesia. Mas nossa alma, a de todos nós, sem distinção, continua juvenil. E isso, em boa parte, é o que continua a nos fazer “especiais”.

Se é verdade que a coincidência da “equação” nos deu de brinde um tempo infinito, também é verdade que o maestro dessa alquimia se chama Luiz Evangelista. É em função dele que gira a nossa união. Por ele e com ele, seguimos a nossa jornada – ainda que cada um esteja em latitudes ou longitudes distintas.

No último dia 15, reunimos 20 dos quase 40 alunos da turma de 35 anos atrás. E o Luiz nos deu “A aula de física quântica que não tivemos em nossa vida”. As fotos desse encontro traduzem um pouco da nossa emoção. 

A reportagem da TV também.



Cartas à Constituinte - Trinta anos depois

Ulysses Guimarães caminha sobre a rampa do Congresso.
Quando fevereiro começou, lembrei da data: Trinta anos de instalação da Assembleia Nacional Constituinte. E lembrei, também, que dez anos antes, quando estava na TV Senado, dei uma pequena contribuição na produção de um material sobre as "Cartas que foram escritas à Constituinte". 

Ulysses e a "Constituição Cidadã"
Foi dai que surgiu a ideia de tentar identificar pessoas que viviam no Distrito Federal, à época, e que tivessem também mandado sugestões à Constituinte. Foi um trabalho de garimpagem. Localizei 50 cartas (há mais, mas parei por ai). Já tinha um número que julgava suficiente para o trabalho e, com um pouco de sorte, localizaria entre essas cartas garimpadas alguém para relembrar a história. O desafio seguinte foi pedir à produção que tentasse encontrar alguém que ainda estivesse por aqui. Um trabalho tocado com maestria e persistência pelo amigo Oussama El Ghaouri Filho.  



Um a um os endereços originais foram verificados. Das cinquenta cartas, nove autores foram localizados. Destes nove, apenas dois toparam participar da "crônica de sexta". Foi uma vitória. Ver uma ideia que nasceu despretensiosa tomar forma, sair do papel e virar realidade. Para ajudar a contar uma história de um Brasil dos sonhos, nestes tempos em que mais comuns são os pesadelos. Eles não sabiam, mas nós levamos uma reprodução em cores das cartas originais. Por isso, a emoção do reencontro é absolutamente original. 

Suely Martins e Maranhão Viegas
Compartilho com vocês o resultado do trabalho levado ao ar ontem, sexta-feira, 10/03, no Repórter DF - telejornal pelo qual estou responsável - e, em rede nacional, pelo Repórter Brasil. 


Este material tem muito significado, também, porque  marca o meu reencontro com o lado da frente das câmeras - coisa que não acontecia havia pelo menos vinte anos.