sábado, 9 de março de 2013

Boa noite, John-boy!

Elenco original da série "Os Waltons"
Ontem, na hora de dormir, me veio à cabeça uma frase simples, que povoou parte da minha adolescência televisiva:
"Boa noite, John-boy!" 

Era a senha que dava início a uma série de cumprimentos, que nós, telespectadores, só tínhamos direito a ouvir e imaginar. Enquanto o cumprimento acontecia, a imagem na tela da TV era a do casarão da Família Walton se afastando lentamente, até o fade total. E o episódio terminava com uma sequência de outros cumprimentos: "Boa noite, Mary Ellen", "Boa noite, Jin Bob", "Boa noite, Elizabeth"... e assim se seguiam os cumprimentos, com o áudio diminuindo lentamente, até que cada um dos sete irmãos se cumprimentassem. Nunca dava pra escutar a todos, mas a gente supunha que todos passassem por aquele rito de delicadeza. 

Cumprimentar-se ao deitar para dormir era uma característica dos Waltons, que viviam uma vida simples, numa região rural do estado da Virgínia, nos Estados Unidos da época da Grande Depressão. Pareciam ter posses, mas como todos os americanos daquele período, enfrentavam uma crise financeira sem precedentes. 

A série televisiva nasceu de um longa metragem e virou clássico nos anos 70. No eixo da história, a superação de problemas pessoais e comuns, recorrendo a uma fórmula aparentemente simples: o amor e a união da família. 

A série se passava entre os anos 30 do Século passado e alcançava a Segunda Grande Guerra mundial. E eram contadas sob o prisma do filho mais velho, John-boy, que sonhava ser jornalista.

Gastei muitos fins de tarde acompanhando as histórias de John-boy e sua família. Era uma realidade distante da minha. Costumes, roupas, expressões e angústias diferentes das que eu vivia. Algumas coisas, entretanto, se encarregavam de unir - sem que eu me desse conta - nossos mundos tão diversos: A persistência, a obstinação, a vontade de acertar e o recurso de vencer os maiores desafios sem perder de vista a capacidade de amar.

No fundo, acho que a vontade de John ser jornalista, ainda que de forma inconsciente, terminou por contribuir para a minha decisão posterior de escolher a mesma profissão. É só uma hipótese, mas hoje, depois de tanto tempo, me pego refletindo sobre isso. Enquanto a imagem do casarão dos Waltons, em minha mente, vai se afastando. E eu ouço, como naquelas tardes do passado, nítidos e delicados, os cumprimentos que começavam sempre com um "boa noite, John-boy"

2 comentários:

  1. Dei um passeio no tempo e me vi no sofá da sala assistindo e ouvindo os Waltons. Se sua escolha profissional vem daí a gente não sabe, mas que de sua escolha podemos ler textos tão gentis, eu tenho certeza. Obrigada.

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  2. As vezes me lembro do menino pequeno, magro, mirrado, e que morava num morro na favela ainda existente hoje, chamada Serra, na minha eternamente querida Belo Horizonte, Minas Gerais,e que também assistia a esta série com uma diferença graúda: eu tinha que pagar para vê-la as vezes, na tevê dos meninos meus vizinhos que em meio a tanta pobreza, ainda tinham mais que nós, o luxo de ter uma pequena tevê daquelas de marca Philips, redondinha e em preto e branco, pois na nossa simples casa, ou seria barraco mesmo, no sentido original e antigo desta palavra, só tinhámos o rádio, grande companheiro de todos os méritos e por quem eu sempre fui apaixonado, querendo descobrir desde criança, como é que alguém falava ali dentro!.Este menino era eu que coincidentemente também cresceu superou lutas e dificuldades e hoje também é um jornalista do tipo maluco beleza, a moda antiga e que pelo jeito, desde 1969 sem ter morado em outro lugar, vai fechar a conta e passar a régua junto ao Criador, aqui mesmo nesta querida, bela e insólita Brasília de tantas e tantas coisas malucas e divresidades! E parabéns pelo excelente texto!

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