sábado, 28 de agosto de 2010

Festa em Cavalcante

Minha amiga Dinalva deve estar com os cabelos em pé. Didi, aí em cima, esbanjando o charme num modelito "sessentani", adora o sossego da cidadezinha de onde ela veio, Cavalcante, no interior de Goiás. Eu até brincava com ela - vou te transformar em prefeita, pra afugentar os turistas da cidade e conservar o ar bucólico e a tranquilidade do lugar.

Mas não tem como fugir: A música alcançou Cavalcante. E a cidade, pelo menos nos dois próximos dias, vai ferver. Hoje e amanhã, a arte toma conta de Cavalcante, com o 6º Festival de Música Instrumental e Arte Popular.

Passam pelos palcos da praça central da cidade, a 300 quilômetros de Brasília, atrações locais e internacionais, além de artistas da capital federal. Entre as atrações estão Marcos Mesquita e Viola Moderna, Cia. das Índias — com André Luiz Oliveira e Cláudio Vinícius,— Fernando Corbal e banda, Quarteto Capital, Pablo Fagundes, Brasília Big Band, Dança da Sussa e Cristobal Rey Quinteto (Chile).

Uma das atrações mais tradicionais do Festival é a Pequena Orquestra de Cavalcante, resultado de oficinas musicais oferecidas às crianças do grupo, durante 15 os dias que antecedem o evento, para as habilitarem e aperfeiçoarem para as apresentações que acontecem hoje e amanhã.

Com 264 anos de existência, o município de Cavalcante (GO) detém a maior parte do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, situada na zona do cerrado, entre as montanhas e os vales da região. Como chegar à cidade: direto pela BR-020 até Planaltina, em Goiás. Pouco depois da cidade, pegue o trevo para a GO-118, sentido Alto Paraíso e Teresina de Goiás. Em Teresina, siga pela GO-241 direto para Cavalcante.

Didi, paciência, o sossego de Cavalcante vai dar um tempo, viu!

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Atchim!!!!

(Ilustração: Marcelo Andreo)

O tempo do candidato "Dr. Gripe" na televisão era tão curto, mas tão curto... que só deu pra um espirro.

Quase estratégia

Minha amiga Ana Tereza, que assina Donana em seu Blog, me saiu com essa "quase estratégia". Delícia de texto. Raciocínio exato para dias de imprecisão, de desconcerto, dias comuns em tempos de campanha.



(Sempé)

A meta é não ter meta alguma.
O foco, é desfocar.
Mudar o plano, desconstruir o óbvio.
Transgredir, se divertir e errar.

Um milhão, sem preconceito

Conheci o Thiago no blog da Cris Guerra, o Hoje vou assim. O Thiago é soropositivo. O que poderia ser apenas um detalhe, não fosse o preconceito que ele sofre todos os dias. Do mesmo jeito que a Cris, estou com o Thiago e sou um seguidor do seu twitter. O objetivo é alcançar 1 milhão de seguidores e fazer as pessoas mudarem sua atitude. Junte-se a nós. Siga no Thiago no twitter, divulgue o vídeo e ajude a curar essa doença chamada preconceito.

@thiagovhiver from #1milhaosempreconceito on Vimeo.

domingo, 22 de agosto de 2010

Secura



Há meses não cai
um gota d'água por aqui.
O cerrado segue seco

O verde entristeceu
secou de vez o caminho
fumaça arde nos olhos
o dia de um cinza besta
ocupa horas a fio

Besteira pensar em chuva
sem água o fogo se espalha
devasta uma imensidão
segue o seco. Chuva, não.

Sem água
Sem verde
Sufoco
Solidão

(poesiazinha de Maranhão, pra fechar o domingo, que segue seco)

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Coincidências da vida


Uma das características da evolução do homem, que nos distingue dos animais, é a nossa capacidade de raciocinar e de mudar de opinião. Quanto mais a vida passa, mais as verdade deixam de ser absolutas, fruto do que se convencionou chamar de maturidade.

Nos últimos tempos, cada vez mais, Mara e eu nos encontramos sozinhos à mesa falando sobre nossas crianças. Elas cresceram, estão começando a seguir o seu próprio rumo, ainda nos dão (e acho que não deixarão, nunca, de nos dar) alguma preocupação, mas nos dão mesmo é muito orgulho.

É nessa fase, a da maturidade, que a gente vai percebendo que os nossos filhos são o que resultou de nós, melhorados, em muitas vezes, em relação ao que fomos um dia. Hoje, quando acordei, recebi uma ligação da minha mãe. Me cumprimentou como quem abençoa uma eterna criança. E me falou que o meu pai havia saído cedo, para uma solenidade no Congresso Nacional, em homenagem ao dia do Maçom.

Por uma dessas coincidências da vida, o meu aniversário cai exatamente no dia do Maçom. Meu velho é maçom e vive dizendo que a minha chegada ao mundo transformou-se em um presente duplo pra ele.

Por outra dessas coincidências da vida, meus amigos da TV Senado cobraram a minha presença para um tradicional café da manhã, das sextas-feiras, na redação. Queriam me abraçar e lembrar os três anos que passei por lá, aprendendo um pouco mais e dividindo aquilo que trago comigo dessa longa jornada de jornalismo.

Juntei as duas coisas e percebi que poderia estar com meus amigos e ainda fazer uma surpresa pro velho. Meti terno e gravata e fui. O carinho que tenho pelos amigos que fiz na TV Senado é especial. A minha chegada a Brasília, quase quatro anos atrás, se deu por lá. Em pouco tempo, eu me sentia rodeado por pessoas que parecia conhecer há anos. E isso não mudou, mesmo depois de tê-los deixado.

Depois do café, pedi ao André Ricardo (que terminou fazendo a foto que está lá em cima) que me levasse ao Plenário do Senado. Lá dentro, avistei meu pai, ao lado de seu amigo, também jornalista, Adirson Vasconcelos. Acenei e ele veio ao meu encontro. O aniversário era meu, mas fiz questão de que o presente fosse dele. Naquele momento, troquei de lugar, por compreender que ele deve pensar de mim algo parecido ao que penso dos meus filhos.

Um bocado do que sou é fruto das experiências que adquiri andando pelo mundo, conhecendo gentes, costumes e lugares diferentes. Mas há em mim um pedaço, que considero a essência da minha origem, que me foi dado por Dona Isabel e “seu” Viegas. Hoje, meu dia, devolvo a eles parte do orgulho de ser quem sou.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Macondo, 47!


Encerro hoje um ciclo. O dos 47. Daqui a pouco, já vai. 48. Um não faz muita diferença de outro, mas a vida anda mais distinta. No sentido de diferente. Hoje, em meio ao turbilhão da campanha, fui apresentado a um vinho “Primitivo di Manduria” – Sessantanni 2006.

Um primor. Provocou-me um delicioso hiato criativo. Vaguei por alguns minutos. Minha cabeça foi a Macondo e voltou. Sim, Macondo de Gabriel Garcia Marques. Não me pergunte “por que?”, só sei que foi a imagem que me veio.

Na abertura do livro “Cem anos de solidão”, Macondo é descrita assim: "uma aldeia de vinte casas de barro e taquara, construídas à margem de um rio de águas diáfanas que se precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e enormes como ovos pré-históricos".

Foi lá que estive. Como um Melquíades, como um membro da família de José Arcadio Buendia, um instante de realismo fantástico, distante dessa selva política de concreto e leis, chamada Brasília.

Sorver e dividir o vinho na companhia de um amigo de origem síria talvez tenha me induzido a pensar em Macondo. Ele, aliás, tem cara de um personagem de Gabriel Garcia Marques. Tem gosto refinado, mas sobretudo, tem firmeza nos olhos e vigor na alma.

A comida importava menos. O lugar também. Importou, pra nós, o sabor e a viagem que o vinho nos permitiu fazer.

Um presente. Uma virada de página. Um futuro pleno e aberto, como uma Macondo. Adeus, 47.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

"Cabeça a Prêmio" em Campo Grande


(com informações da "Casa do Maribondo" e foto da revista Quem)

Acontece em Campo Grande nesta terça-feira, 17 de agosto, a pré-estréia do filme "Cabeça a Prêmio", primeiro longa-metragem dirigido pelo ator Marco Ricca, baseado na obra homônima do escritor Marçal Aquino. A fita conta a história da família Menezes. Os irmãos Mirão (Fúlvio Stefanini) e Abílio (Otávio Muller) são poderosos fazendeiros de Mato Grosso do Sul. Quando a filha de Mirão, Eliane (Alice Braga), e Dênis (Daniel Hendler), piloto de avião da fazenda, têm um caso, a família entra em crise. O casal foge e é perseguido pelos empregados da família, Brito (Eduardo Moscovis) e Albano (Cássio Gabus Mendes).

Ricca, que chega nesta terça a Campo Grande, conta que um dos objetivos do filme é aprofundar o ser humano. "Então, pouco importa a sexualidade, o que a pessoa faz, a contravenção, o que a gente está mostrando é a dor da pessoa", diz ele.

Estão no elenco também Ana Braga, mãe de Alice, Via Negromonte e o uruguaio César Troncoso ("O Banheiro do Papa"). Outro uruguaio, Daniel Hendler ("25 Watts", "Abraço Partido"), faz seu primeiro filme brasileiro. "Foi um desafio grande porque é um filme difícil de fazer. Mas gostei muito do livro e, por isso e também por conhecer o Marco, aceitei participar antes de ler o roteiro", conta ele. Há também a presença de Geraldo Espíndola, que faz uma ponta.

Cássio Gabus Mendes e Eduardo Moscovis aceitaram o projeto pelas mesmas razões. "Acho o universo do Marçal muito interessante e quando eu soube que o Marco ia dirigir, ia ser o primeiro projeto dele, isso me interessou mais ainda, porque é uma pessoa em quem eu confio muito", diz Moscovis.

"Na verdade, faz tempo que gosto do universo [literário] do Marçal Aquino. Mas sempre achei muito difícil alguém me convidar para participar de um filme [inspirado em um livro dele]. Por causa da televisão, você acaba muito rotulado. Mas quando o Marco me ligou, aceitei na hora e nem sabia direito o que era", faz coro Gabus Mendes.

A pré-estréia em Campo Grande será apenas para convidados e acontecerá no Cinemark. Curta aí o trailer do filme.

sábado, 14 de agosto de 2010

A Sapucaí, em 12 segundos


Joãozinho Trinta é candidato a deputado distrital, em Brasília. Hoje, aconteceu a primeira gravação dele em estúdio. Ao todo, são 12 segundos para mandar o seu recado. Parece pouco para quem passou a vida comandando espetáculos de, pelo menos, 80 minutos, no sambódromo. Mas há diferenças básicas entre o carnaval e a eleição.

Joãozinho está há algum tempo em uma cadeira de rodas. E vive em Brasília porque frequenta o Hospital Sarah Kubitschek, uma instituição referência para o tratamento de pessoas com politraumatismo ou que enfrentam problemas locomotores. Ele se encaixa nesse segundo tipo. Vítima de um acidente vascular cerebral, Joãozinho sofre uma paralisia que o obriga a viver na cadeira de rodas. Os movimentos ficaram limitados. Os pensamentos, não.

Encontrei Joãozinho nos corredores da produtora pedindo ajuda para resolver um problema: ele queria que a sua aparição no programa eleitoral fosse precedida de uma locução parecida com a que o Neguinho da Beija-flor faz, ao anunciar a entrada da sua escola na Avenida.

“Olha o Joãozinho Trinta ai, gente!”. Era o que ele queria. Fazendo isso, seis dos seus preciosos 12 segundos iriam embora, mas chegou-se à conclusão de que valia a pena. Joãosinho ficou feliz. Enquanto resolvíamos isso, ele passava pelo camarim para a maquiagem. Conversamos rapidamente.

Me identifiquei como maranhense e ele sorriu, surpreso. Começamos a falar de São Luis. Queria saber de onde eu era. Da Madre Deus, informei. Joãozinho tem muita dificuldade para falar. Mas fala pelos olhos. Forçou a memória e lembrou da distância que havia entre o lugar onde morava e o meu bairro.

Quis saber onde ele viveu, em São Luis. Me disse que era perto do Quartel. Sugeri o endereço do quartel que conheci na minha infância, onde meu pai trabalhava, o 24º Batalhão de caçadores, que ficava no Bairro do João Paulo. Ele riu. Não, esse é do seu tempo, eu sou bem mais velho, me disse. A porta do estúdio se abriu. Ele precisava gravar. Desejei boa sorte e ele entrou.

Nesse meio tempo, recorri ao meu pai para saber de que quartel ele falava. Era do 5º Batalhão de Infantaria, que ficava perto da praça Deodoro, por trás do Colégio Rosa Castro. Informações seguras do Viegão. Aliás, disse meu pai, saiba que é daí que vem o nome da escola de samba do seu Bairro. Aquela por quem o coração bate apertado, só de lembrar, a Turma do Quinto.



Eu não fazia idéia. Cresci adorando o som e as cores azul e amarelo, da Turma do Quinto, mas nunca imaginei por que ela se chamava assim. Descobri hoje, por acaso, que ela é fruto da união de um grupo de ex-soldados daquele quartel, a “Turma do Quinto”, minha escola preferia, tem aí a origem do seu nome de batismo.

Desliguei a tempo de encontrar o Joãozinho na saída do estúdio. Falei pra ele que o quartel a que se referia ficava perto do Colégio Rosa Castro. Ele se emocionou. – Há quanto tempo não ouço esse nome! Enquanto tirava a maquiagem, estendeu-me a mão, agradeceu e confidenciou: preciso do seu voto. Aliás, preciso de milhares de votos. Perguntei o que ele havia falado em seis segundos e ele me disse: Não sou político, sou Joãozinho trinta e quero o seu voto. Um raciocínio curto e preciso. Como um desfile, na Sapucaí.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Luz... Câmera... Ação!


Em fevereiro deste ano reencontrei o Renzo Vasquez, na internet. A história desse encontro, já relatei aqui mesmo. Hoje, falei de novo com ele. Agora está no Brasil, mais precisamente, em Natal. Fazendo campanha. Dirigindo um candidato ao governo.

Entre uma edição e outra, Renzo me chama no MSN. E me manda um conjunto de informações sobre um filme. “A box for Rob”. Acesso o link e assisto um trailer, semiacabado. Pra qualquer um é uma emoção ver o seu trabalho nascer. Aquele, pra mim, era o nascimento do filme dirigido pelo Renzo. O primeiro longa. Dirigido por mais um brazuca, nos Estados Unidos.



Renzo me explicou que é a história de uma vingança, de um serial killer, uma matador em série, em bom português. E de caixas misteriosas. Me disse que o filme foi rodado em uma cidadezinha chamada Concord, na Carolina do Norte.

Quis saber como ele foi parar lá. Me explicou que tinha dirigido um clip para o cara que é produtor desse filme, três anos atrás. O cara gostou do trabalho, não perdeu o contato e, no ano passado, o convidou para dirigir este filme. A filmagem foi concluída em cinco semanas. A montagem está sendo feita em Wake Forest, onde é a sede da produtora. A previsão é de que o filme esteja pronto até o fim do ano e que o lançamento aconteça no início do ano que vem.

A partir daí... Bom, a partir daí é começar a caminhada por festivais e torcer para que o Renzo chegue logo ao Sundance, Cannes, e por que não, ao Oscar. Torcida não vai faltar. Sorte e fé, meu amigo.

No rastro da madrugada

(foto: Jorge Guerrero)

Perseidas flamejantes. Rastros incandescentes que acontecem a cada 133 anos. A chuva de fogo que deslumbra astrônomos e leigos teve o seu auge na madrugada desta sexta. Não estarei aqui na próxima, é certo. Talvez, por isso, planeje gastar um tempo com os olhos voltados pro céu nesse fim de semana.

No céu de Brasília há boas chances de se ver a chuva, apesar dos especialistas informarem que os melhors lugares estão no emisfério norte. Aqui, o tempo é seco, não há nuvens e, na minha casa, há um pedaço de quintal onde a interferência da iluminação artificial da cidade é pouca.

A noite do céu de Brasília, há três anos, é parte da minha vida. Já foi testemunha de muitas das minhas conversas. Umas, sérias. Outras, encantadas. Outras, simplesmente, pra ver a hora passar.

Hoje, vou gastar um tempo olhando pros rastros de Perseidas, admirando a beleza do fogo e pedindo proteção divina. Pra mim, pros meus e pra quem mais a minha cabeça alcançar.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

A primeira conquista


Gabriel e Geraldinho estudaram juntos por muito tempo, na escola Harmonia, em Campo Grande. A escola foi uma das primeiras a adotar o ensino integral. Eles tinham aulas regulares de manhã e filosofia, música, línguas e esportes à tarde.

Gabriel é nosso filho (meu e da Mara) e Geraldinho, filho de Geraldo Espíndola e Baiana, que na verdade se chama Dalila, mas que ninguém a reconhece assim. Certa vez, os dois faziam uma das suas primeiras viagens com a escola. Iam para Corumbá.

Tinham sete ou oito anos e começavam a descobrir os encantos da beleza feminina. Geraldinho enveredou pela poesia, escreveu umas linhas e transformou o resultado em música. Chamou Gabriel para a aventura - a idéia era conquistar a amiga, que eles julgavam ser a mais bonita do grupo. Stela. Em termos de conquista, foi um desastre. A música (se é que pode se chamar isso de música) dizia mais ou menos assim:

“Stela, Stela,
É uma tetéia,
Estou apaixonado,
Por essa mocréia”


Tudo o que eles conseguiram foi fazer a Stelinha ficar roxa de raiva e ignorá-los solenemente pelo resto da viagem. Na volta, já em casa, Gabriel contava essa história e rolava no chão, de tanto rir. Conquista, zero. Molecagem, 10.

Esta semana, a Baiana me mandou um link para uma reportagem publicada às vésperas do dia dos pais, em um jornal de Campo Grande. A matéria tratava da relação de filhos e pais artistas. Estavam lá, entre outros, Geraldão e Geraldinho Espíndola.

Geraldinho ficou um menino lindo. Deve estar escrevendo coisas melhores do que a primeira poesia e enchendo de orgulho nossos amigos Geraldo e Baiana. Assim como Gabriel, me surpreende com a qualidade da sua escrita, do seu raciocínio e, claro, das suas tiradas. Eles cresceram, não se vêem faz muito, mas tenho a impressão de que o espírito da molecagem vai permanecer com eles, pro resto da vida. Tomara.

domingo, 8 de agosto de 2010

A poesia que é música


Comecei o domingo lendo a entrevista do Vitor Ramil, no Correio Braziliense. O Vitor é o irmão mas novo da dupla gaúcha Kleyton e Kledir. Eles formam uma família musical das mais produtivas da MPG - Música Popular Gaúcha.

Vitor não se aplica muito a esse gênero. É urbano, mas é, sobretudo, um menestrel campesino, um sujeito transcendente. Com um pé na depressão, mas transbordante de poesia, de lirismo. A música que ele faz pode ser uruguaia, pode ser argentina, pode ser brasileira. Ele faz, bem feita, uma música que tem alma.

Na entrevista deste domingo ele fala sobre o seu mais recente trabalho, "Delibab" em que mistura a poesia do argentino Jorge Luis Borges com a música do gaúcho João da Cunha Vargas. Lembrei do Mauro di Deus quando estava lendo. Pensei que ele vai gostar de ouvir esse disco, se ainda não ouviu.

Amarrando um pensamento noutro, numa associação livre, pensei na indefinição que permeia a minha escrita. Por vezes, penso que escrevo poesia. Em outras, sou todo prosa. Mas no conjunto, não consigo separar o que faço em bandejas distintas. Meus escritos são prosa e poesia ao mesmo tempo.

Daí pra pensar no meu maestro soberano, Lula Theodoro, foi um pulo. Fiquei lembrando do exercício de provocação que ele sempre me faz. E foi inevitável pensar nas coisas que já fizemos juntos.

Dessas aventuras musicais com Lula, resultou uma apresentação ao vivo na casa dele. Um debut nos palcos. Brinquei de cantor. Cantei uma canção de Godofredo Guedes que me encanta. E Lula, na viola; Armando, no baixo; e Macarrão, na percussão, garantiram o som que disfarçou com qualidade a minha voz de amador.

Lula tem sido responsável por esses pequenos prazeres em minha vida. Dias destes, mandei-lhe um poema e ele musicou. Chamei de "Brincadeira" e ele trabalhou sério. O resultado é algo de que me orgulho. Muito mais pela capacidade arranjadora do Lula, do que pela minha aventura vocal.

Neste domingão, dia dos pais, divido com vocês todos essa nossa orgulhosa "Brincadeira". Apenas para não esquecer que a vida vale o que a gente consegue fazer dela.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

A estréia de Sóley

Sóley é uma menina de 23 anos de Reykjavik, na Islândia. Em seu primeiro disco, "Teatro Islândia", ela reúne seis canções em que abusa da voz doce e do estilo de tocar piano. As canções de Sóley têm a suavidade de um sonho. Como Alice, Sóley viaja em seu próprio país das maravilhas, onde tudo só acontece pela lógica surreal dos sonhos.

Curta ai, então, uma musiquinha de Sóley Stefansdottir,"Blue Leaves", pra fechar a quinta-feira.

Sóley - Blue Leaves from Máni M. Sigfússon on Vimeo.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

A nova moldura da Cris



Minha amiga Cris Guerra está de casa nova.
É uma casa bacana. Não como a da poesia de Vinícius - sem teto, sem nada.
É uma casa chic, como só haveria de ser.

E o que é mais legal:A Cris acertou na "moldura".
A parede da Cris é o que há.
Lá estão os traços vivos do cotidiano, da rua, da vida real.
Tudo ao seu estilo de "ir assim".

Hoje, vou de Cris e sua parede nova. E sua casa nova.
Sorte, fé e muito bom gosto, guria! Sempre.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Com um pé em NY city


O Jô era um amigo comum de dez. Ele, como nós, frequentava o "Luz e Cena". O "Luz" era uma bar especial. Era lá que os grandes encontros aconteciam. Foi lá que comemoramos a vitória das eleições no Diretório Acadêmico. Foi lá que seduzi e fui seduzido pela Mara. Foi lá que li os primeiro poemas do Alemão Scartazini. Lá, éramos todos artistas de nós mesmo. E do resto do mundo.

O Jô surgia do nada, nas noites do Luz. E quando não se aguentava, subia nas mesas e incorporava a Liza Minnelli. Com uma roupa colada ao corpo, chapéu côco e bengala nas mãos, brincava, cantava, dançava, se divertia e nos divertia a todos, ao som de New York, New York.

Lembrei do Jô quando comecei a pensar em NY City, porque Mariana pôs os pés lá, hoje. Era um presente que devíamos a ela. Não a cidade, a aventura. A viagem. A realização de um desafio - encarar o mundo e sobreviver a ele com humor e paixão.

Pois, ela está lá. E eu ouço Liza cantando e vejo o Jô dançando e vejo a Mariana cruzando as ruas e sorrindo aquele sorriso farto e largo.

Hoje, ela mandou várias mensagens para a mãe dela. Dizendo estar "so happy". Hoje e nos próximos dias, minha alma frequentará o MOMA, visitará Basquiat, Andy Warhol, delirará com o Velvet Underground e Lou Reed...

O Central Park e Lennon estarão ao alcance das mãos. Hoje e pelos próximos dias, um pedaço de mim passeia em New York, como quem toma um vinho na noite seca de Brasília.

domingo, 1 de agosto de 2010

Pedaços da Torre

A notícia foi suficiente para interditar um dos ícones da arquitetura de Brasília: Neste sábado, 31.07, pedaços de concreto se soltaram e por pouco não atingiram os turistas que disputavam um lugar para ver Brasília do alto da Torre de TV.

Apurados os detalhes, há um misto descuido, falta de manutenção e irresponsabilidade por parte de quem tem a obrigação de preservar o patrimônio arquitetônico da cidade. Quem vive ali por perto, diariamente, como os feirantes que vendem de comida a artesanado, ao pé do monumento, diz que mesmo em época de seca há infiltrações que provocam um gotejamento permanente na estrutura da torre.

Imediatamente pensei: Neste caso, a vida imita (mal) a arte. É que no começo de maio deste ano, o fotógrafo alemão Thomas Kellner esteve por aqui mostrando a sua arte, que consiste em desconstruir a arquitetura real.

Thomas percorre o mundo dando novas formas e nova visão a imagens famosas. Uma das que ele mostrou na exposição de Brasília foi a Torre de TV. Na arte de Thomas, a desconstrução da Torre se aproxima do belo, do inusitado. Na vida real, os pedaços da Torre que caem sobre nós, tem sabor de tristeza e frustração.