sábado, 28 de abril de 2012

Tonho, Cacau, Milton e o Clube

Integrantes do Clube da Esquina (Toninho Horta dirigindo o Jeep)
Em 1972, um grupo de novos valores da música popular brasileira, liderados por Milton Nascimento e Lô Borges, lançava um álbum antológico, com dois Long Plays, chamado Clube da Esquina. O disco trazia canções como "Nada será como antes", "Trem azul", "Paisagem na Janela" e a canção título, "Clube da Esquina número 2".

Tonho e Cacau, foto original da contra-capa do disco
Clube da Esquina - 1972

Na capa do disco a figura de dois meninos, flagrados em uma beira de estrada de terra, próximo ao município serrano de Nova Friburgo,  no Rio de Janeiro, região onde moravam os pais adotivos de Milton.

Capa do disco Clube da Esquina - 1972

Quarenta anos se passaram desde aquele 72, histórico. O Clube da Esquina virou uma lenda. Milton, uma lenda viva, que agora começa a fazer uma turnê em comemoração aos cinquenta anos de carreira. O primeiro show, como não poderia deixar de acontecer, foi ontem, em Belo Horizonte. E vai correr o mundo.  (Já tem show marcado pra Brasília. E esse é daqueles que não se deve perder. É o que eu penso.)

Tonho e Cacau. Na capa do disco e hoje, 40 anos depois. 

Um trabalho de investigação feito pelo Jornal "O Estado de Minas" descobriu a dupla de meninos, hoje, homens feitos, na mesma Nova Friburgo. A reportagem pode ser lida aqui. Milton e os dois, cada um do seu jeito, se dizem emocionados com a descoberta, depois de tanto tempo de anonimato. Eles devem se encontrar pela primeira vez quando o show chegar ao Rio de Janeiro.

Milton Nascimento e Lô Borges

O ano promete. Razões para celebrar 2012 não faltam: 50 anos de "Travessia" a música que apresentou Milton ao mundo. 40 anos de "Clube da Esquina". Depois daquele Clube, nada mais foi como antes.



Vida sem Sá, poesia fria

João Sá Maia - Foto: Fumaça
A tarde de sexta fica mais triste (aliás, tristeza há de sobra, nestes tempos últimos). Abro a caixa de e-mails preocupado com transmitir e receber coisas do trabalho e recebo uma porrada nos peitos: "Faleceu hoje, em Campo Grande, o publicitário João Sá Maia"
Um comunicado frio, mas necessário. Ainda bem que o Eduardo Crivelente lembrou de me avisar. Súbito, perco a pressa. Perco a noção do tempo. Vasculho na memória a imagem do Sá. Encontro letras e escritos. Encontro cenas de horas passadas entre montanhas e vales, nos sertões de Guimarães, à borda do Jequetinhonha. 
Sim. Nossos últimos goles de água e de idéias aconteceram em Montes Claros, MG, em 2008. Uma aventura política, que só não foi mais furada por que promoveu encontros e reencontros que levarei para o resto da vida. Como as horas de dor e criatividade que tive com Sá Maia. 
Naquele ano, o corpo dele já não aturava desaforos. Estava cansado e limitado. Mas a cabeça... Ah, a cabeça do Sá era e continuaria sendo, sempre, um celeiro de boas frases, de genialidades, de inconsequências literárias deliciosas.
É mais um dos meus bons amigos que passa pro lado de lá. Está nem sei onde, uma hora dessas. Mas onde quer que esteja, está "geniando" letras, frases e canções. Busquei freneticamente algo de nossas conversas passadas. E encontrei um e-mail/carta que ele me escreveu. 
Aquelas linhas trazem a mais perfeita tradução da alma do Sá. Ele estava triste, mas até na tristeza era delicioso, delicado. Uma delicadeza bruta e fina, ao mesmo tempo. Falava da perda de uma amigo brasiliense. Falava de uma peleia jurídica em que acabara de entrar, para tentar receber os trocos da campanha feita e nem toda paga. E falava com um carinho especial da vida, das pessoas. Descrevia sua Campo Grande com um olhar triste e belo. Era o começo do fim, cheio de poesia. Da poesia que nunca nos faltou. E que agora, mudou de plano.  
Hoje abro espaço para uma tristeza poética. E reparto com vocês as letras escritas por Sá. Que eu guardo carinhosamente como uma jóia rara. Uma jóia pra sempre. Valeu, Sá. 



Samaia samaia@terra.com.br
03/06/09



para mim

E aê, Maranhoc?
Nada a ver, mas recebi de Brasília uma notícia entristecedora. Douglinhas irmão amigo foi-se fora do combinado como diz o Boldrin. Cardiologista porreta planaltocentralino dos grotões nordestinos, sorriso permanente, guerreiro das causas inacabadas. Um merecedor do prêmio lênin. Vários companheiros estão por aí, de todo lugar, se despedindo e levando seus pertences e patuás para serem abençoados por oxossi e ianasan. Quase fui, não fosse o se...mas o Douglinhas nem reparou. Eu sei q ele entende essas coisas de ausências...agora mais que nunca.

Como vão todos: Mara, as crianças (!!??), você?

Não sei se vc sabe (claro q sabe) ou está acompanhando os desdobramentos das desventuras catrumanas. A galera foi pro pau. Faca no dente. Me chamou, fui junto. Coisa de difícil solução pra todo lado. Justiça brasileira veloz como jabuti tetraplégico em maratona de paraolimpíadas paris-dakar. Não há previsões. Nem favoritos, placar em aberto. Quem ver, viverá e aos vencedores, os pequis. Pequi-pariu todos eles...

Vivo em retumbante vagabundagem, às margens plácidas da marginalidade improdutiva, tanto que tem deixado o Domenico Di Masi puto de tanto ócio. Mas quem anda mais putanhesca é a Mariana minha filha teen age. O trabalho por aqui, q já andava mais difícil que perna de cobra, e muito aparteado pelos amigos do rei, escasseou de vez. E pau na bunda dos prejudicados, ecoam os áulicos: farinha pouca meu pirão primeiro. No que estão certos e seguros do ponto de vista deles. A fila não anda e aumenta todo dia. 


saída é a porta da mendicância profissional. Difícil escapar, não há saída de emergência. Ou dá ou desce. Ou como eu sloguei o programa do Dácio Correa: Ou Dácio ou Décio, um homem com V maiúsculo. Um dia seremos todos putas e daremos vivas à putaria toda, e mandaremos a nossa arrogância e nossa hipocrisia à puta que nos (me) pariu. Viveremos felizes, então, todos de cócoras, na terra dos sapos cururus. e saravá.

Campo Grande frio feito beira de lagoa escandinava dawuelas de folhinha de inverno na padaria. Até fumacinha de frio pela boca tem. Frio é um luxo muito chique de burguês que minha nordestinidade, falta de pêlos e abstinência não suportam. Sem conhaque, sem cobertor de orelha, sem edredons da terra do teletube, sem aquecimento central nem lateral o que me sobra é tremer de frio e bem dizer o calor de escrever e me lembrar dos amigos

bjs
joão  maia

Minha lista, meus desejos

Um filminho sobre as coisas que desejamos, que queremos fazer todos os dias da nossa vida. Bom pra começar o sábado. Bom pra quem ainda não fez a sua lista. Bom pra obrigar a gente a pensar em dosar melhor a vida.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

O barco atelier

Le bateau Atelier - Claude Monet

Quando era pequeno, mal sabendo falar, Gabriel dizia ter um sonho. "Conhecer os jardins de Monet". Sim, o Monet a que ele se referia era mesmo o Claude, pintor impressionista, que ainda hoje é capaz de causar deslumbramento com a sua técnica.

Gabriel conhecera os seus quadros nas aulas de arte, na escola onde ele passava a maior parte do dia. Era a única escola de período integral da cidade. E, numa parte da jornada, eles tinham aulas de música, de filosofia e de artes.

Hoje, vasculhando a blogosfera, meus olhos deram de cara com um quadro de Claude Monet. Le Bateau Atelier. Invadiu-me um desejo como o de Gabriel  em infância. Hoje, nesse exato instante, tudo o que eu mais queria era percorrer os jardins de Monet. Realizar o sonho de meu filho e me resguardar do tempo. Quem sabe, desfrutar de uns poucos instantes a bordo do barco imaginário. Quem sabe...

domingo, 22 de abril de 2012

Declaração ao Imposto de Renda

Papo rápido, com Mariana e Clarice.

As duas descem a escada e me encontram. Mariana pergunta:

- Pai, voce já fez a declaração ao Imposto de Renda?
-Não filha, vou organizar a papelada pra fazer essa semana. Por que?
-Tenho uma amiga que já fez.
- É? E como foi?
 - Assim, ó:
Imposto de Renda eu te odeio!

Feliz 52, Brasília!


Foi ontem. Mas a homenagem da Google a Brasília é tão delicada, criativa e inteligente que vale a pena ser postada hoje. Uma brincadeira arquitetada. Os símbolos arquitetônicos da cidade, como o Museu JK, o Congresso Nacional, a Catedral e o Palácio do Planalto, construídos pela mente mágica da dupla  Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, adquirem o significado das letras que formam o nome da empresa e induzem a nossa mente a enxergar a palavra Google.

Uma linda declaração de amor à cidade. Coisa de gente inteligente.

Cake - pra começar o domingo

O domingo pede algo mais leve. Pede sol. Pede um hiato entre a correria e o trampo. Domingo é quase sinônimo de alívio. A cortina fechada no quarto me permite uns poucos minutos a mais de sono. E isso é bom.

O sol lá fora, o feriado na ideia. O cheiro do pão que acabou de ficar pronto na cozinha. Hora de café. Hora de Cake.  E não é que, juntando tudo isso, eu encontro na rede um clip novo dos caras que fala em inclusão e junta um monte de gente com cara de domingo?

Então, The Winter, da banda americana Cake. Pra celebrar o domingo.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Se fosse pra falar...

Fernando Lemos - Foto: arquivo da família
Se fosse pra te dizer algo, diria que valeu a pena.
Mesmo com toda lama, mesmo com toda a cena.

Nos teus olhos enxerguei caminho que eu não trilhei.
Porque eu ainda não existia ou se existia, não sabia, nem desconfiava.

Viajastes por noites e ruas pelas quais não tenho mais como passar. Ah, mas tuas passagens me ficaram vivas. Nas tuas falas, nos teus relatos, nas tuas loucuras de abril, nas tuas noites de inverno.

Não havia de adivinhar as nossas ruas cruzadas. Mas elas se cruzaram.
Teu jeito estranho de lembrar, de deduzir e falar.
Meu jeito inteiro de sentir, de permitir e perturbar.

Sabe Fernando,
dessa vida ligeira que a gente leva
da qual quase nada nos resta
resta a certeza de que é única

E assim sendo
transfigura-se im-perfeita

Não importa eira, nem beira
Não importa o ter

Da vida, que passa ligeira,
importa o existir

Das tuas mãos, que vestiram as letras de Glauber,
De Ronaldo, de Marco Aurélio e tantos outros
resta claro o conteúdo

Houve beleza em cada ponto e vírgula
E haverá, sempre.

(Para o meu amigo de ontem e de sempre, Fernando Lemos)

A guitarra e a voz rouca de Dylan

Mr. Robert Allem Zimmerman

Havia uma distância ali. Uma distância de palco, de vida, de memória. O ginásio Nilson Nelson, em Brasília, aos poucos via os seus vazios preenchidos. Uma plateia composta por novos e velhos. Gente que ainda não saiu das fraldas direito e gente que já percorreu longas estradas. Em comum, a admiração pela música e pela poesia de Mr. Robert Allem Zimmerman. Sim, é assim que consta nos registros o verdadeiro nome de Bob Dylan.

9h33min da noite de terça, 18 de abril. As luzes se apagam e os gritos começam. Gaita, guitarra, baixo, bateria, teclado e a voz rouca, inconfundível. Era ele. Uma figura quase minimalista, no centro de um cenário despojado e preciso. Aquilo era síntese do mais puro Rock'n Roll.


A lenda do imaginário coletivo, ao alcance dos olhos. O tempo passou para Bob também. Ele é hoje um senhor de movimentos limitados, quase mecânicos. Mas não importa o tempo e as marcas deixadas por ele. Vai continuar sendo Bob Dylan. E as pedras vão continuar rolando toda vez que ele pisar no palco.

Olhei em volta e havia uma plateia em transe. Por força do contrato - que proibiu fotógrafos e imagens em telões - o som de Dylan era bem maior que a imagem dele. Decidi sair em busca de um outro ângulo, onde pudesse ficar mais próximo de sua voz e de sua guitarra.

Caminhei ao redor do Ginásio, alcancei outra entrada. Acertei a medida da distância. Era ali que eu iria ficar até o fim do show. A fórmula "velhas canções com novos arranjos" tornou algumas delas quase irreconhecíveis. Don't think twice e It's all right foram bons exemplos. Mas pouca gente ligou para isso.

A noite era de reverência. E o ginásio quase foi à loucura aos primeiros acorde de Like a Rolling Stone. Nessa hora, ao meu lado, um sujeito pulava e gritava como se pudesse falar com o mundo: É Bob Dylan!!! Anunciava aos berros. Meus filhos precisam saber disso, eu vi Bob Dylan de perto!!!


Olhei pra ele e assenti, num silêncio cúmplice. Meus filhos precisam ficar sabendo disso.

Eu vi Bob Dylan de perto


terça-feira, 17 de abril de 2012

O bardo


Saindo pra ver Bob Dylan. Segundo show (o primeiro, foi no Rio) da atual turnê brasileira, aqui em Brasília. Sonho de moleque. Sonho de poeta. Sonho de músico que nunca fez mais do que sonhar com a música. E cantar umas besteirinhas, com a ajuda do meu maestro soberano. Mas isso é conversa pra outra hora.  Depois eu conto. Mr. Tamborine Man me espera. Inté.

sábado, 14 de abril de 2012

My Valentine

Sir Paul McCartney
O velho e bom Paul McCartney acaba de lançar um novo álbum. Kisses on the Botton. Paul é uma fonte que parece inesgotável. Do novo trabalho, a música My Valentine é a mais vigorosa. E recebeu um cuidado especial, por sugestão da filha Stella.

Três vídeos, dirigidos pelo próprio Paul, acabam de ser liberados na internet. No primeiro, com Johnny Depp. No segundo, com Natalie Portman. E no terceiro, com os dois, juntos. Eles protagonizam a música em linguagem de sinais. Minimalistas e antológicos. Do jeito que a noite de sábado pede pra ser encerrada.




Xingu - veneno e antídoto

Orlando, Leonardo e Cláudio. Boas interpretações no filme Xingu.
Quando eu era menino, muitas vezes, ouvi falar deles: Os irmãos Villas-Bôas. Naqueles tempos, a história deles era lição obrigatória na escola. Para defini-los, eram usados termos que não faziam muito sentido na cabeça das crianças: Desbravadores da Amazônia, Indigenistas e por aí a fora.

Hoje, me vejo em frente à telona assistindo a história romanceada da vida e da luta deles. Um quê de nostalgia e deslumbramento me toma ao reencontrar personagens tão íntimos da minha vida. Tão pertos e tão distantes eles estiveram de mim, nesse tempo todo.

Cena do filme Xingu
Falo de Xingu, o filme de Cao Hamburger, que entrou em cartaz nos cinemas brasileiros semana passada. De saída, lhes digo que é mais um belo exemplar da boa fase do cinema nacional. Luz, direção, atores, cenários e música estão à medida de qualquer bom festival mundial. Não nos envergonham, ao contrário.

Enquanto assisto, me dou conta de que o tema é controverso. Vai despertar longas discussões entre os que defendem os índios e os que defendem o progresso. Como se um fosse a antítese do outro. O embate será rico, apaixonado e interminável. Mas não é sobre isso que eu quero falar.

Penso na capacidade dos nossos "irmãos americanos do norte". Eles têm uma habilidade invejável para transformar personagens de sua história, controversos ou não, em mitos do cinema. Nós, brasileiros, temos um cacoete incontrolável para destruir reputações. Busco na memória por exemplos que me contradigam e encontro apenas dois: Pelé e Airton Senna.

No mais, somos viciados em pregar peças, em ridicularizar histórias, em transformar feitos em chistes. Duvida? Vou citar um único exemplo - Rubens Barrichello. Nascido nos EEUU, a história dele seria motivo de orgulho, serviria de exemplo de dedicação e perseverança. Mesmo sem ter sido campeão uma só vez, num esporte em que os campeões são figuras do porte de semi-deuses.

Nascido em terras tupiniquins, Rubinho é exemplo de fracasso. Mote invariável de piadas.

O que me faz pensar sobre isso é o fato de que eu senti um orgulho danado ao gastar pouco menos de duas horas assistindo Xingu, no cinema. Rever meus velhos conhecidos das páginas de livros escolares, vê-los transformados em personagens vibrantes da história do Brasil e saber que aquela saga, tirante um ou outro detalhe, resultado da liberdade poética do diretor, aconteceu de verdade me obrigou a reencontrar o meu país. Pude rever com olhos adultos e maduros a história dessa cruza entre nativos e estrangeiros.

Caio Blat, João Miguel e Felipe Camargo - Os irmãos Villas-Bôas
Numa síntese: a Expedição Roncador-Xingu, que aconteceu nos anos 40, do Século passado, permitiu alcançar o extremo Norte brasileiro. Os irmãos Leonardo, Cláudio e Orlando Villas-Bôas ajudaram a abrir 1.500 quilômetros de picadas no meio da selva. Cruzaram 1.000 quilômetros de rios. Abriram 19 campos de pouso. Formaram 43 vilas e cidades. Contataram 19 diferentes tribos indígenas. Enfrentaram mais de 200 crises de malária. E, em 1961, conseguiram finalmente criar o Parque Nacional do Xingu.

Uma frase dita pelo personagem de Cláudio Villas-Boas é o resumo dessa história. Refletindo em voz alta ele diz: "Nós seremos o veneno e o antídoto dessa gente". É ou não motivo suficiente para sair da cadeira e correr para um cinema mais próximo? Quer mais um empurrãozinho? Clique aí embaixo e veja o trailer. Depois, fique à vontade pra registrar aqui, no espaço para comentários, o que achou do filme.

Zeca e a dose que salva


Quinta, 12,  foi aniversário de Zeca. Zeca faz quinze anos (de carreira) e não sei ao certo quantos de vida. No fim do dia, quis o acaso que eu me encontrasse com Bety e ouvisse dela a impossibilidade de estar em dois lugares ao mesmo tempo. Lá foi, que ela me entregou dois ingressos para o show de lançamento do novo álbum de Zeca Baleiro, "O disco do ano". Aceitei de coração aberto e de alma em êxtase. Salvei o dia.

Foto: Márcio Mion/Acontece Brasília
Quis o destino que Zeca resolvesse comemorar o aniversário aqui em Brasília. E estreando um novo show, "Calma ai, coração", e lançando um novo disco, e inaugurando uma outra etapa da vida. Quis o destino, também, que eu e Mara estivéssemos lá pra ver tudo isso.

Tudo em Zeca me remete ao meu Maranhão. Sua fala, sua poesia, sua lírica, seu jeito manso de ser firme. Nesse novo show, Zeca brinca como sempre. Se diverte fazendo o que gosta e nos diverte com boa música. Relê clássicos como Disritmia, de Martinho da Vila. Mistura o Pop com o Rap, é Pink Floyd e Moreira da Silva - tudo junto, ao mesmo tempo, agora. E tira poesia, de um jeito "quase sem querer" de tudo o quanto pode.

A gente não vê o tempo passar. E quando termina o show, a música gruda no cérebro. E a língua solta repete, repete, repete... o muito do que se ouviu no palco. O pouco do que se queria que fosse mais. Valeu, Zeca! Pelas horas de memória maranhense. Pela poesia universal da sua música. Pela dose de alegria e leveza que salvou minha alma, numa quinta. Que não prometia absolutamente nada além do mesmo de sempre.

domingo, 8 de abril de 2012

Sombra Boa


Não precisa dizer absolutamente nada. Manoel  de Barros disse tudo e Marcio de Camillo musicou. E as crianças cantaram. E virou vídeo, que eu posto aqui pra temperar essa tarde/noite de domingo. Pra fechar o dia e secar a chuva que chove em mim.

A Páscoa, a Física e os livres

Luiz Evangelista, o primeiro à direita e a turma do Terceirão.
Da minha passagem por Maringá - PR, no final dos anos 70, guardo belas lembranças e amizades definitivas. Uma delas, como o professor Luiz Evangelista (um predestinado, como diria o Zé Simão). Lá, estudando o terceiro ano do ensino médio (na época chamávamos "Colegial"), no Colégio Marista, recebi as primeiras provocações filosóficas do Luiz.

Era algo inusual, mas ele, professor de Física, traduzia-se em nossa melhor companhia. Ouvia música popular, ensinava a disciplina com um estranho e sedutor brilho nos olhos, e nos fazia enxergar beleza onde normalmente se via números e fórmulas matemáticas.

Luiz fez com que fundássemos o primeiro Clube de Filosofia da escola e nos fez descobrir a Filosofia como um veio do pensamento, como um norte para as nossa vidas de adolescentes.

Há alguns meses, estive com o Luiz e com quem conseguimos juntar da nossa antiga turma, em Maringá. E foi emocionante perceber que, 32 anos depois, engatamos uma conversa como se não houvesse um hiato de distância, nem de tempo, nem de espaço. Um milagre da física quântica. Ou, simplesmente a comprovação real das amizades sinceras.

Hoje, abro a caixa de mensagens e recebo um bilhete do Luiz, que faço questão de dividir com todos.

Caríssimos amigos do Terceirão
(era assim que ele chamava, e ainda chama, a nossa turma)

Como vocês sabem, um dos significados da palavra "páscoa" é "passagem". Porém, alguns autores mais ousados conseguem achar uma raiz na palavra que teria a ver com "golpe". Seria o "golpe" com que Javé retirou o seu povo do Egito e o tornou livre!

Pois bem: que vocês sofram um belo "golpe"  e tenham uma vida ainda mais feliz, autêntica e livre!
Uma Boa, Serena e Santa Páscoa!

Um abraço.
Luiz

Valeu, Luiz. Boa Páscoa e bom "golpe" para todos nós. 


sábado, 7 de abril de 2012

Aleluia... É sábado!!!

Guilherme Rondon
Ontem choveu à noite. Hoje, sábado, dá mostras de que vai chover também. Então, abro o computador e dou de cara com o novo vídeo do meu amigo Guilherme Rondon. Guilherme vive em Campo Grande. Frequenta o pantanal sulmatogrossense não como visitante, mas como parte integrante.

Tanto que foi lá, no meio das águas espelhadas do Rio Negro, que ele construiu o seu estúdio. De vez em quando, Guilherme junta a tropa e faz uma "invernada criativa".  A última, em junho do ano passado, rendeu um disco. Made in Pantanal. É de onde chega agora esse vídeo com a canção, que ele diz sua preferida e que é minha também, Tão Pouco.

Pra começar o sábado de aleluia, com muito. Guilherme Rondon. Made in Pantanal. Tão Pouco.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Asa

Às vezes, a gente é surpreendido assim, no começo do dia. Acabei de conhecer essa moça, mas ela já está na estrada há algum tempo. De qualquer forma, pra mim, é uma estreia. E o começo é bom. Asa (pronuncia-se Asha) é uma nigeriana que se encantou pela música através de antigas coleções de discos, encontradas na casa de seu pai.

Asa foi estudar na França e, de lá, surgiu para o mundo da música como uma promessa em iorubá (língua secular africana, oriunda da Nigéria e muito usada em ritos afro-religiosos aqui no Brasil).

Um novo Bob Marley, dizem alguns. Uma diva negra, dizem outros. O fato é que Asa vai misturando rock, R & B, canções tradicionais do seu país e um pop moderninho com a maior facilidade do mundo e sem perder o tom.

Um presente pra mim, nesse começo de sexta. Um presente pra minha mãe, nessa canção de 2008. So Beautiful.



Ou uma doce canção de protesto, em Fire on the Mountain. Seja bem-vinda.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

O velho e o mar

Um filme em stop-motion genial. Um trabalho de escola inspirado no conto "O Velho e o Mar" de Ernest Hemingway. Trilha sonora belíssima, desenhos de primeira qualidade. Digno de prêmio. Pra fechar a noite de quinta.

the old man and the sea from Marcel Schindler on Vimeo.

My Baby...

Andrea Motis. My Baby Just Cares For Me. Porque hoje é quinta. Porque vale a pena e porque essa menina, ainda menina, já é uma deusa.


Aventuras do Moa 1


O leão de Independência

Carlos Moa
Quando chegaram a Independência, pequena cidade do interior do Rio Grande do Sul, recém-casados, Carlos Moa e Lisete Hartmann estavam divididos. Ele, feliz como pinto no lixo. Era o seu primeiro trabalho como engenheiro de uma prefeitura. Aliás, lá em Independência, a partir do momento em que assumiu o cargo, o Carlos Moa passou a ser a terceira autoridade da cidade. Só perdia em importância para o prefeito e para o padre.

Lisete, não. Estava meio acabrunhada. Entristecida. Queria ser professora, mas em uma cidade maior, não ali, naquele finzinho de mundo, aquela coisinha miúda. Tão triste estava que não conseguiu se empolgar com a casa nova alugada pelo Carlão.

Entrou em casa cabisbaixa. E o Carlão, animado. Veja isso, veja aquilo. Lisete não queria ver nada. Só chorava. Carlão a consolou até o momento de ir para o trabalho. De tardezinha eu volto, a gente toma um chimarrão e a vida vai se ajeitar, prometeu ele antes de fechar a porta.

Lisete
Lisete olhou a casa. Tudo encaixotado, tudo por arrumar e vontade, nenhuma. Chorou um pouco mais. As horas foram passando sem que Lisete se desse conta. Até que, em meio ao choro, ouviu um rugido de leão. Espantou-se. Meu Deus! Estou tão angustiada, tão distante de onde queria estar que começo a ouvir coisas. Imagine, um leão! (Pensou ela meio na dúvida de sua própria consciência).

Mais um pouco de choro e... Outro rugido. E mais outro. E mais outro. As lágrimas de Lisete agora tinham uma razão a mais. Está certo que estou longe da cidade, mas um leão por aqui não faz nenhum sentido. Acho que estou realmente angustiada, pensou em silêncio, cortando um pouco o choro, mas sem  nenhuma vontade de abrir a janela.

A angústia da Lisete cresceu na mesma proporção dos rugidos do leão imaginário. Por via das dúvidas, decidiu trancar-se no quarto. Já não confiava no seu discernimento, era uma mulher em forma de pranto.

Nisso, já de tardezinha, o Carlão volta pra casa e encontra a Lisete, trancada no quarto, sentada no centro da cama, encolhida e quase desidratada de tanto chorar.

Ao vê-lo ela confessou: Carlão, eu não quero parecer ridícula, mas desde a hora em que cheguei nessa casa estou ouvindo coisas estranhas e isso não é um bom Sinal. Carlão, acho que estou ficando louca. Calma, Lisete, o que está acontecendo? O que você está ouvindo que não acha normal?

Lise e Moa
Entre um soluço e outro, ela disse que estava ouvindo rugidos de leão o dia inteiro. Calmamente, o Carlão levantou-se em direção à janela. No caminho tranquilizou a Lisete: Você não está louca nada, mulher. Tem mesmo um leão aqui, no terreno ao lado de casa. E puxando a Lisete para junto da janela a fez ver não só um leão, mas um grupo de macacos, um elefante e outro tantos bichos exóticos. Todos pertencentes ao circo que, tal como a Lisete e o Carlão, chegara naquele mesmo dia a Independência e se instalou, por coincidência, no terreno ao lado da casa do engenheiro Carlos Moa e da professora Lisete.   

Nas asas da Passaredo


Ontem, voltando do Sul, sobrevoei a UNISINOS nas asas da Passaredo. Imediatamente, lembrei de Elis, de Milton, da canção em que eles falavam sobre voar nas assas da Pan Air e o pensamento vagou por outras plagas. Me levou aos tempos da faculdade de jornalismo.

30 anos depois, percebo que o prédio central, que chamávamos de redondo, parece ter sido concluído. No início dos anos 80, quando estudei jornalismo lá, a cidade de São Leopoldo se dividia em três grupos distintos: 23 mil universitários; 25 mil operários da indústria do calçado; e aproximadamente 25 mil descendentes de alemães.

Prédio onde funcionava a antiga sede da UNISINOS
Era um tempo mágico. A sede velha da universidade, no centro de São Leo, funcionava em um prédio antigo, arquitetura clássica, onde ficava o Restaurante Universitário e um viveiro de espécies de plantas raras. Entre aquelas plantas e jardins ajudamos a cuidar da filha da Jupira, nossa amiga de curso de jornalismo. Kamala, por conta disso, era meio filha de todos nós. Quem estivesse de folga, era o responsável de plantão, principalmente quando a Jupira estava em aula. 

Marquinhos Goiano, Chile e Jupira.
Turma da sede velha da Unisinos
Em frente à sede velha, dois lugares eram sagrados. O “Parada Um” e o Primeiro Distrito Policial. O “Parada Um” era o nosso bar preferencial. Bastava atravessar a rua e ele estava lá. Não tinha nada de mais, a não ser as fartas doses de cachaça com canela e intermináveis conversas filosóficas ou não, que me ajudaram a enfrentar o rigor do frio gaúcho. De alguma maneira, foi nesse momento que se consolidou em mim o amor pela poesia e pelo jornalismo.

A delegacia de polícia era onde, invariavelmente, íamos parar depois de algum porre homérico. Havia um camarada chamado Jefferson "Véio" que era freguês da delegacia. Dois ou três goles de cachaça eram suficientes para trazer à tona um revolucionário incontrolável, cujo porre não poupava ninguém.

Do presidente ao general, passando pelos padres e entreguistas, todos eram, devida e sistematicamente, esculhambados por ele. O Jefferson também ficou famoso na faculdade por ser o primeiro vivente com coragem para oferecer, numa das raras conversas sérias que teve com o reitor, chá de cogumelo para combater a depressão. Por muito pouco não foi expulso.

Na sede velha conheci minha primeira paixão gaúcha – Áurea Kern. Ela estava na primeira turma, no primeiro dia de faculdade. E foi uma das primeiras a me chamar de Maranhão Viegas, apelido definitivo – que mais tarde viraria nome profissional, e que me foi inventado pela professora Elvira Coelho.

Áurea Kern 
A história de como ganhei esse apelido já contei aqui no blog. Querendo relembrar, basta clicar neste link. Minha paixão pela Áurea foi infinita enquanto durou, exatamente como nos versos de Vinícius. 

O avião se aproximou de Londrina. A comissária de bordo começou a recolher copos e guardanapos. O avião começou a descer. Hora de fechar o texto. Hora de resguardar a memória.

domingo, 1 de abril de 2012

Era pra ser mentira

Carlão 
Quando o telefone celular tocou, à uma e pouco da manhã, levei um susto. E ele tornou-se maior ainda quando vi que era a Mara. O coração disparou. A Mara chorando e falando algo que eu não entendia, pelo choro, me jogou num abismo. Mil possibilidades, todas trágicas.

Longos segundos, quase uma eternidade, até Mariana tomar-lhe o telefone e me dizer, de bate e pronto: Pai, o tio Carlão se foi...

Como se foi? Se foi pra onde? A essa hora da madrugada? Pai... O tio Carlão sofreu um enfarte e não resistiu. Era a Mariana, do jeito dela, também nervosa, mas racionalizando a notícia que a Mara não conseguia me dar.

Vivi um silêncio ensurdecedor vindo lá do fundo da minha alma. Não era hora do Carlão ir. Mas a cabeça não funciona direito nestas situações. Mariana desligou o telefone sem perceber que eu não voltei a falar com a Mara. Andei no quarto escuro sem saber direito o que fazer, nem pra onde ir. O Carlão...

Voltei ao telefone. Liguei pra Mariana. Pedi para falar com a Mara. Acalmei-a. Sim, vamos pra lá, vamos ficar perto da Lisete, das meninas e do Carlão. Mas antes de tudo, se acalme, você vai precisar estar inteira.

De prático: mudança de rota, ao invés de Campinas - Brasília, Campinas - Porto Alegre e, depois, Santo Ângelo. Antes disso, um pedido de ajuda para alterar o horário de quem iria me levar de Machado (sul de Minas) a Campinas. A saída, marcada para as seis da manhã, agora precisava ser o mais rápido possível.

O tempo passa mais rápido do que a gente pode imaginar. Meu sono foi-se embora. Me restava o silêncio do quarto de hotel e o pensamento longe.

Conheço o Carlão há pelo menos 30 anos. Desde o primeiro dia em que fui morar com a Mara, ainda nos tempos da universidade. Quando eu cheguei, ela já namorava e morava com a Lisete. Formamos um quarteto. Iguais, sendo diferentes, aprendemos a nos gostar.

Férias em Fortaleza: Mariana, Gabriel Lisete, Camila,
eu, Júlia e Carlão
Nesses tempo todo, não me lembro de ter passado um ano sem estar junto deles. Primeiro, Carlão e Lisete. Depois vieram nossas crianças e as crianças deles. Juntos, eu e Carlão consertamos antenas de televisão, cortamos os pelos do cachorro da Dona Maria (nossa sogra), desmontamos chuveiros que não funcionavam, bebemos cerveja, comemos churrasco, rimos muito, nos socorremos quando foi preciso, choramos um pouco, fomos à praia, compusemos música... Juntos, vivemos uma vida intensa.

Carlão, Júlia, Mara e Gabriel
Em janeiro passado estivemos juntos pela última vez. A vida pedia novos planos e Carlão os tinha de sobra. Não deu tempo. Carlão antecipou a partida sem dar sinal de alerta. Acabara de chegar de uma festa,  subiu para o quarto, não teve tempo de ligar a TV. Ao entrar no quarto, Lisete o encontrou, já sem vida, no chão. No calendário e no relógio o primeiro de abril já vigorava.

Longa jornada, boa companhia
Sentado aqui no aeroporto, à espera de um vôo que me leve ao sul, tenho a convicção de que será um longo dia. E como eu queria que tudo não passasse de uma grande mentira de primeiro de abril. Como eu queria...