terça-feira, 30 de outubro de 2012

Coração civil

Sonho de menino, que vira moleque, que vira rapaz, que vira gente grande. Sem perder a ilusão de construir um país diferente. Sem perder  a cor dos sonhos. Um coração civil, como o de Milton, que esta semana fez 70 anos.

Por ele, pelos sonhos que nascem e pelos que persistem. Pra que a terça recupere a segunda perdida. Pra que a vida veja graça em seguir, apesar dos dias de dor. Apesar da falta de graça que, às vezes nos toma o tempo e quer roubar a vida.

Coração civil. Para que a alegria prevaleça.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Saudades, não!

Wilson Barbosa Martins: Saudades, não!
A tarde é de correria e de convulsão nos teclados. A eleição se aproxima. E-mails, vídeos, ilha de edição... Tudo aqui em volta transpira eleição, segundo turno, decisão. De repente, a caixa de mensagens registra  a entrada de um texto curto e preciso. É Mauro Di Deus. Outra vez, me escrevendo.

Em poucas palavras, ele relata uma conversa definitiva e histórica, que teve há pouco, com Dr. Wilson Barbosa Martins. O texto é auto-explicativo. Denso e poético ao mesmo tempo. É o desfecho de uma história que começou alguns posts atrás e que você pode entender melhor puxando para baixo a barra de rolagem do blog ou clicando aqui.

Mauro me escreve, descrevendo a conversa:

Maranhão,
liguei hoje pela manhã e falei com o Dr .Wilson. Foi atencioso, mas incisivo: Não irei! - disse ele. Tentei argumentar da importância da presença dele, e ele:

Estou com quase 96 anos. Tudo é mais difícil. 
E não vou a Brasília para uma "Reunião de Saudades"!
Não foi preciso dizer mais nada.
Abraço,


Mauro di Deus.

Fico aqui pensando na precisão descritiva de uma "Reunião de Saudades".  Não há mesmo o que dizer. Com uma frase, Dr. Wilson encerrou uma parte da história como quem fecha um livro lido. Saudades, não! Obrigado.

sábado, 20 de outubro de 2012

Back to black

Pra fechar o dia. Amy Winehouse.

Memórias da profissão

Mauro di Deus
Mauro di Deus me ligou. Antes, me escreveu da França. Relatando sua passagem pela Cidade Luz e pelos museus. Em especial, pelo Museu D'orsay. Me disse que viu Van Gohg bem de perto, por um longo tempo, a ponto de se emocionar. Eu imagino, Vincent é capaz de emocionar qualquer um. combinamos um vinho para temperar as histórias. Vai ser logo. Maurinho é bom de histórias e eu gosto de vinho.

Depois ele me ligou de novo. Agora pra pedir um favor: Preciso localizar o "Dr." Wilson Barbosa Martins. Dr. Wilson vem a ser o primeiro governador eleito pelo voto direto, em Mato Grosso do Sul, logo após terminados os tempos duros do governo militar.

Dr. Wilson Barbosa Martins
Quando eu cheguei por lá, no início da carreira de repórter, fui trabalhar em uma televisão controlada por um adversário político dele. E na primeira vez em que fui entrevistá-lo, travamos um diálogo que nos tornou amigos para o resto do tempo.

Pedi a entrevista, ao final de uma solenidade. Dr. Wilson me olhou calmamente e disse: "Meu filho, não perca seu tempo. A sua televisão não deixa a minha entrevista ir ao ar." Era verdade. Mas eu não me aquietei. "Governador, o senhor governa. E eu sou repórter. Tenho que entrevistá-lo porque o senhor é notícia. Se a entrevista vai ao ar ou não, é um problema do meu editor. Eu vou fazer a minha parte."

Ele sorriu, me permitiu entrevistá-lo. E viramos amigos.

Depois do pedido do Maurinho, fiz uma busca para conseguir um contato com ele. Eu e Dr. Wilson, há muitos anos não nos falávamos. Ele veio ao telefone. Tem mais de noventa anos. Mas preserva uma memória lúcida, de menino.

Lembrei-lhe da nossa história. Ele riu. Quis saber como eu estava. Trocamos rápidas impressões sobre o tempo - passado e presente. E lhe falei sobre o desejo da Cârama dos Deputados de fazer-lhe uma homenagem. Era o que o Mauro corria para organizar. Uma sessão solene de resgate dos mandatos que foram cassados pela ditadura. Dr. Wilson era dono de um deles.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Muito além do arco-íris

Porque é longe. Porque é sexta. Porque tem mar. E porque o mar em mim não é de hoje. É de útero. Somewhere Over the Rainbow - Israel "IZ" Kamakawiwo'ole.


quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Inorbel, para poucos!

Dias destes, vi o meu amigo Maurilo, lá de BH, desejoso de uma latinha de Coca Zero com o seu nome. É que a coca-cola desenvolveu uma campanha em que alguns nomes privilegiados são impressos nas latas, sustentando uma tese de que "Quanto mais Fulano de Tal melhor!"

A brincadeira é saborosa. E deve ter rendido um bom impacto na venda do refrigerante zero, da marca. Muita gente ficou desesperada pelo charme de ter uma latinha com o seu nome. Foi assim que os Ronaldos, Marianas, Marias, Gabriéis, todos passaram a disputar latinhas da campanha.

Eu, Inorbel - de batismo, faço parte do time do Maurilo, que ficou esperando uma oportunidade de ver reconhecida a amplitude da campanha, acrescida por nomes especiais.

Hoje, finalmente, o meu desejo se materializou. Edição limitada. Especialíssima. Para poucos. A vida fica mais saborosa em pequenas porções. Ou latinhas.

Guilherme, aos poucos

Acabo de assistir o vídeo de uma apresentação nova do Guilherme Rondon. Uma beleza, um arranjo sensacional e uma das minhas músicas preferidas, do novo disco dele. Tão Pouco. Tão lindo.

sábado, 13 de outubro de 2012

Mimimi

A Banda Mais Bonita da Cidade, cheia de mimimi. Pra começar bem o sábado. Com mimimi da melhor qualidade.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Memória de campanhas


Opílio, meu avô.
Nestor era um camarada muito conhecido na Madre Deus. Tanto quanto o meu avô, Opílio Viegas. Nestor era um negro de presença, mestre de obras, dos bons. Requisitadíssimo e com muito estilo.

Não suportava a ideia de andar sujo ou mal vestido. O fato de ser mestre de obras tornava-o mais exigente consigo mesmo. Então, sempre que terminava o trabalho, Nestor saía da obra impecável. Terno de linho branco, sapato lustroso e perfume importado.

Era tão popular que um dia decidiu testar a popularidade disputando uma eleição de vereador. Anunciou a decisão para quem pode e saiu em campanha. Poucos dias antes da votação, Nestor entrou na quitanda do meu avô.

Cheio de "nove horas" - como se diz, lá no Maranhão, sobre as pessoas que exageram na formalidade, Nestor empostou a voz e pediu, solenemente, ao meu avô: - Seu Opílio, eu preciso do seu voto. E desfiou um extenso rosário de projetos e propostas que ele jurava, defenderia, caso fosse eleito.

Meu avô ouviu tudo atentamente. Gostava do Nestor. Assim, de graça. E deu-lhe a garantia do voto. Nestor saiu do encontro feliz da vida e foi em busca de outros eleitores, mais votos, já sonhando com a vereança.

No dia da eleição, meu avô acordou cedo e dirigiu-se à sessão em que votava, que funcionava na Rua de São Pantaleão, perto do Hospital Geral. Estava na fila, quando viu o Nestor aproximar-se.

Nestor cumprimentava um por um dos eleitores. Dizia umas palavrinhas e seguia em frente. Até chegar ao meu avô. Abriu um sorriso, demonstrou grande intimidade e confidenciou ao pé do ouvido: "Seu Opílio, estou eleito!" Meu avô sorriu e retribuiu o cumprimento. Mal sabia o Nestor que acabara de selar o seu destino. Pelo menos, no que dizia respeito ao voto do meu avô.

Terminada a eleição, contados os votos, veio a surpresa ruim: Nestor perdera a eleição. Ia continuar mestre de obras. Resignado, passou a conferir urna a urna para tentar entender o que acontecera. Quando conferia os votos na urna em que votava o meu avô descobriu que não recebera um voto sequer.

Com um misto de frustração e raiva, saiu em direção à quitanda do meu avô. Chegando lá, encontrou seu Opílio no balcão e foi logo disparando: "Eu pensei que o senhor fosse um homem de palavra". A que o meu avô respondeu prontamente: "E sou".

Nestor, então retrucou: Se é mesmo, como explica o fato de eu não ter nenhum voto na urna em que o senhor votou? Impávido, meu avô concluiu: "Eu estava pronto lhe dar o meu  voto. Quando o senhor disse que estava eleito, me despreocupei. E tratei de garantir um voto a mais para alguém que de fato estivese precisando". Na lógica Opiliana aquilo era mais do que justo.

Nestor, vítima da sua própria ingenuidade, seguiu tocando as obras. Ninguém jamais viu um mestre de obras tão elegante. A política perdeu Nestor. Para sempre.

(Dedico essa história à memória viva de meu pai, que ontem, durante um longo dia de passeio, vinhos e comidinhas, me contou mais uma, das muitas, do "seu" Opílio.)

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Sonhos

Akira Kurosawa
Em 1990, Akira Kurosawa, um dos mais festejados diretores japoneses, filmou oito contos curtos e os juntou em um longametragem, a que chamou de "Sonhos". Em minha opinião, uma obra prima. Lembro de tê-lo assistido em uma sessão especial de cinema de arte.
cartaz original do filme japonês
Dos oito episódios, o quinto - "Corvos" - é um dos mais brilhantes. Um jovem pintor, diante de uma tela de Vincent Van Gogh fica tão estasiado que se transporta para o seu interior. Começa um passeio pelos traços firmes do quadro, até dar de cara com o próprio autor do quadro, Van Gogh - no filme, interpretado por ninguém menos do que Martin Scorsese. Os dois travam um diálogo.

Scorsese, na pele de Van Gogh
O filme é simples e belo. A mão certeira de Kurosawa cria um devaneio magistral. E o sonho se completa em si. Não foi à toa que, naquele ano, "Sonhos" conquistou o Oscar de Melhor Filme Estrageiro.

Hoje, fechando o dia, recebo um e-mail, da Mariza Poltronieri, com um link que mostra trechos desse episódio. É um bom sinal. Fechar a semana, sonhando com Kurosawa. Vale a pena conferir.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

A barra do dia

Da janela do avião
Vejo o sol nascer
Na barra do dia

Asas de metal
Cortando a distância
Dividindo ao meio
O caminho, a vida

O longe se foi
O perto se aproxima
Incontida a hora
do reencontro

A chegada, sempre,
O outro lado
da moeda
partida

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Baratos e afins

A ilha de edição é onde tudo acontece. O pouco vira muito. O nada se transforma em algo. A imaginação, a realidade, o desejo, a vontade. Na ilha a mente se isola e se amplifica. Você entra com hora marcada e não sabe a hora de sair.

A ilha de edição é o coração da produtora. O cartão, a imagem, o efeito, a montagem, o dedo nervoso do editor, a hora que não passa, o sono, o cansaço, a trilha sonora. A ilha é tudo.

Quando a edição acaba e o filme fica pronto, dá uma sensação de alívio! O filme é a extensão do pensamento do editor, do roteirista, do criador. Então, o filme pronto é o parto concluído. A geração planejada. O filho parido, que nasce crescido e pronto para partir.

Vai, criação, sustentar a ideia, seduzir as mentes, conquistar a memória e traduzir o tempo.

Depois de tudo, quando a edição termina, a ilha não passa de um território vazio. O coração, fértil de melancolia. É sinal de que tudo deu certo.