sábado, 31 de julho de 2010

Descaso Literal

Os livros têm grande responsabilidade na constituição do que sou. Através deles, percorri mundos desconhecidos, naveguei mares nunca antes navegados, descobri a beleza da letra, me emocionei, imaginei... e aprendi.

Os livros têm comigo uma relação de intimidade única. Alguns deles me emprestaram fórmulas para vencer o medo, outros me deram a noção da origem e outros ainda, me ensinaram a poesia.

Os livros, enfim, estão na minha vida para sempre. Mas há quem não tenha zelo por eles.

Este curta-metragem, que posto aqui, narra um ano decepcionante na vida de um livro. Um olhar cuidadoso e documental sobre as agruras de um livro sem sorte, que não encontrou um leitor à sua altura. Uma alegoria do descaso literal.


The Diary of a Disappointed Book from Studiocanoe on Vimeo.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Imersão




No fundo, no fundo,
um mundo perdido

Agua, peixe ,
rio vertido

escafandro
pra mergulhar

O banco, sentado,
vendo a hora vagar

nada é preciso
nadar, navegar

papel, tinta,escrita
tudo é onda a passar

alcançar o inalcansável
o indizível, o invisível

No fundo, no fundo...
Bem no fundo do mar

poesia de Maranhão Viegas
para ilustração de Daniel Mafra

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Olhar indiscreto

Tarde de trabalho em Ceilândia - DF. Ronaldo Barroso, fotógrafo antenado, dá uma fugida da reunião para "tirar a água do joelho". Entra no banheiro de uma igreja evangélica e se depara com um aviso inusitado.

Ele fez o que precisava, mas não deixou de registrar o alerta da indiscrição divina.

Mano Menezes e a República

Marcia Braga*


Mário Vargas Llosa dizia que o futebol é um prazer vazio, e por isso iria permitir o resgate da sociedade. Por outro lado, ele também permite alguns milagres, como, por exemplo, o de ser o que quisermos que ele seja. É assim que conseguimos fazer que um técnico da seleção brasileira seja o ocupante de um dos cargos públicos mais importantes do país. Governadores e presidentes não conseguem mobilizar tanto as massas nem envolvê-las em discussões acaloradas, quanto um técnico da seleção. Mano Menezes, a figura hoje mais importante da nossa república, está só começando, e já tem gente questionando: mas por que Neimar?

Robert Levine em "Esporte e Sociedade: O Caso do Futebol no Brasil" (Revista Luso-Brasileira/1980), afirma que o futebol no Brasil além de ser um esporte, é também uma máquina de socialização, ao permitir um sistema altamente complexo de comunicação de valores essenciais. Está correto. E eu penso em Afonsinho e sua luta pelo passe livre.

"Prezado amigo Afonsinho
eu continuo aqui mesmo
aperfeiçoando o imperfeito
dando um viva, dando um tampo
desprezando a perfeição
que a perfeição é uma meta
defendida pelo goleiro, que joga na seleção
e eu não sou Pelé nem nada
e se muito for, sou um Tostão..."
(Meio de Campo/G.Gil)



*Marcia Braga é jornalista e professora do curso de Jornalismo da FUNORTE, em Montes Claros, Minas Gerais. Sua auto-definição é um poema: "Meia dúzia de palavras sobre a minha origem: sou mineira de BH, jornalista e artesã, de palavras e objetos".

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Brigam Espanha e Holanda

Quando a final da Copa do Mundo se definiu entre Espanha e Holanda, meu pensamento vagou imediatamente para a poesia de Leila Diniz. A poesia virou música (Um cafuné na cabeça, malandro, eu quero até de macaco) na voz de Milton, que tratou de eternizar também a leitura do poema, na voz de Leila.

A copa, a bola, o mar, a poesia. Leila e Milton. Há algo de igual entre eles. Nos campos da mãe África, a primeira copa do mundo naquele continente se decidiu entre navegarores, entre bravos descobridores. Um vagar genuino entre a poesia do jogo e o jogo do poeta.

Há algo de magia em pensar que os campos firmes da África se tornaram o mar impreciso de um novo campeão do mundo, numa disputa histórica em que "brigaram", como na poesia premonitória de Leila, Espanha e Holanda, pela paixão maior do futebol: o direito de ser - por quatro anos - o dono da bola.

O poema está ai, em seguida. A música, logo abaixo.



Brigam Espanha e Holanda
Pelos direitos do mar
O mar é das gaivotas
Que nele sabem voar
O mar é das gaivotas
E de quem sabe navegar.

Brigam Espanha e Holanda
Pelos direitos do mar
Brigam Espanha e Holanda
Porque não sabem que o mar
É de quem o sabe amar.


Leila Diniz

sábado, 17 de julho de 2010

Assombros



Às vezes, pequenos grandes terremotos
ocorrem do lado esquerdo do meu peito.

Fora, não se dão conta os desatentos.

Entre a aorta e a omoplata rolam
alquebrados sentimentos.

Entre as vértebras e as costelas
há vários esmagamentos.

Os mais íntimos
já me viram remexendo escombros.
Em mim há algo imóvel e soterrado
em permanente assombro.


Poema de Affonso Romano de Sant'Anna
Foto de Ignacio Sanz

Dedo de prosa

Não mais que um dedo de prosa.

Na estrada de Brazlândia tinha um foco de incêndio. Agosto veio mais cedo este ano. Seca e fogo. Agosto é fogo. Comida de gente simples mata melhor a fome. Come-se com mais gosto. Come-se tudo a contento. Satisfeito e cheio. Satisfeito inteiro. Agora que a tarde anda, vejo Nelson Mota na TV. Ele faz o que eu queria fazer, conta histórias. De outros, de muitos, de tantos que ele próprio se parece com a história, em pessoa. O avião em que meus pais estavam arremeteu duas vezes antes de pousar longe do lugar pra onde eles foram. Agora eles riem. Na hora, não.

Dia destes, liguei pra minha mãe. Teu pai subiu no telhado. Pára mãe, essa piada eu conheço e é de mau gosto. Não é piada menino, teu pai subiu no telhado e está lá até agora. Foi consertar a antena de TV. Viegão não tem jeito. Tem, aliás. Parece menino. Desce daí, menino, deixe de confusão!

Amanhã tem caminhada. Amanhã é domingo. E porque hoje é sábado, aí vai: Céu e Moska. Eu gosto muito.

domingo, 4 de julho de 2010

Cores de Veneza

Around Venezia from Icam on Vimeo.

Racismo, não!

Quando o mundo se reúne em um evento como a Copa do Mundo de 2010, há muito mais do que só um troféu em jogo. Na África do Sul, país anfitrião do torneio deste ano, as relações raciais certamente se destacam como uma das questões mais complexas.

Neste curta, stop-motion, intitulado Go África do Sul!, o tema é analisado a partir de um conto, envolvendo bolas de futebol. O curta foi dirigido por Robbert Jan-Vos, e a arte dirigida e animada por Renske Mijnheer.

Go South Africa! from Sir Moving Images on Vimeo.

Animação, pra começar o domingo

FAMOUS LAST WORDS - DEERHUNTER from Cove Entertainment on Vimeo.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Sem juízo

Quando perder o juízo
Morderei teu lábio inferior
Como quem beija uma pétala
Te direi poemas secretos
Todo o verbo já dito

E uma flor
Quando o juízo se for



Sem Juízo é um poema de Victor Barone, criador do Blog "Poema Dia". O projeto Poema Dia pretendeu, inicialmente, reunir 28 poetas e escritores que se comprometeriam a adotar um dia do mês e, neste dia, postar um poema ou mini-conto de sua autoria. O objetivo: criar uma rede na qual se pudesse beber das fontes de cada um e divulgar o trabalho de todos. Deu certo e o projeto foi ampliado para mais 28 poetas, dois a cada dia.

Diariamente, pode-se encontrar aqui gotas de poesia, lampejos de vida em forma de versos, sentimentos travestidos em palavras. Os 56 remadores da nau Poema Dia navegam por mares bravios e convidam a todos os que olham além do óbvio para embarcarem nessa anárquica-nau para uma viagem cujo destino descobriremos a cada segundo.