quarta-feira, 29 de setembro de 2010

It's a long, long, long, long way...

Fazer canções é um dom.
Coisa de poeta.

Cantiga que traduz amor, então...
Nem se fala.

Um dia, vi meu maestro soberano, Luiz Theodoro,
cantar uma música pra filha dele, Júlia.
Era um dia de aniversário.
Talvez fosse até o aniversário dela,
não me lembro direito.
Sei que havia uma família reunida .
Sei que havia vários violões e muita cantoria.
E nós estávamos lá.

A um determinado momento,
eles se entreolharam e ele começou
a dedilhar uma música. Ela começou a cantar.
E a chorar junto.
Cantava e chorava.
Não sei dizer o que era mais bonito.
O canto, o choro, aquela roda de viola...

Hoje à tarde, Lula me ligou.
Me disse que fez uma música pra Júlia.
Não sei se era aquela ou se é uma nova.
Mas a imagem que me veio à cabeça foi a daquele dia.
Ou melhor, daquela noite.

A nova música é linda. Lula me mandou há pouco.
Fala do tempo, do amor, dos caminhos,
das belezas e das incertezas da vida.

Certeza mesmo, como Lula diz na letra,
 só há uma:

It's a long, long, long way.
Day by day.

Viu, Júlia?

PS. Lula me ligou de novo.
A música foi selecionada em um
festival nacional. É uma das trinta
que está disputando um concurso
que será resolvido através de votação dos
internautas.

Quem quiser ouvir a música é
só ir ao link da Rádio Nacional.
Aproveite e vote. A Júlia, a música
e o Lula merecem.


terça-feira, 28 de setembro de 2010

Em Brasília, 17h. Chove. Pouco, mas chove.


O dia amanheceu com cara de chuva.

O tempo fechado anunciou o dia inteiro: ela vinha.

Às vezes, parecia fumaça. Às vezes, neblina.

Mas o tempo prometia, ela vinha.

E a gente, como passarinho na muda, com o bico aberto e sedento, a esperar umas poucas gotas que nos reanimem, que nos livrem da secura...

Choveu em Brasília.
Não foi muito.

Mas foi o suficiente para a gente quase ficar de alma lavada..

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O amor, o mar e a garrafa

Maurilo, o dono do pastelzinho, lá de BH,  reparte um link que me enche de alegria esse fim de tarde de segunda-feira. Um belo filminho, feito com uma técnica que, em cinema, se chama "Stop motion". Num português claro isso consiste em fazer milhares de fotografias sequenciais e, depois, juntar uma a uma delas, imprimindo-lhes uma velocidade que permita ao olho humano perceber a sensação exata de algo em movimento.

Um filminho desses, com cinco minutos de duração, consome algumas centenas de horas de produção e montagem. É um trabalho minucioso, detalhista. Mas ao final, depois de pronto, qualquer esforço se justifica. Sobretudo quando, como num passe de mágica, objetos inanimados adquirem vida própria e nos provocam uma enorme emoção. Exatamente como neste trabalho que está aí abaixo.

O filme chama-se "garrafa" e foi escrito, dirigido, animado e sonorizado por Kirsten Lepore. Tenho certeza de que você não vai se arrepender por investir cinco minutinhos pra ver essa delícia de animação.



Bottle from Kirsten Lepore on Vimeo.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Música pro fim do dia

Pitty, pra fechar a sexta.

Ontem fui assim

Talvez sejam os ares de Brasília. Talvez, a seca. Talvez, a insegurança política. O fato é que ontem foi meu último dia de cabelos compridos neste ano de 2010. Cansei do visual. Cortei. Mudei. Diferente do mitológico Sansão, não perdi as forças. Me senti mais forte.

Acaso ou não, apesar da noite mal dormida, amanheci mais leve, com a notícia que virou de cabeça para baixo a eleição em Brasília: Roriz sai de cena. Frustrado pelo resultado do julgamento de seu recurso no STF, que entrou madrugada a dentro sem dar-lhe uma decisão confortável, o velho coronel pediu pra sair.

Acho que é a sua última cena. Melancólica. É um desfecho de cinema, para um movimentozinho modesto, que começou com meia dúzia de assinaturas, cresceu e virou lei. Uma lei que pede mais transparência e que impede pessoas enroladas com a Justiça de disputarem cargos públicos.

Hoje, um dia depois de ter decidido cortar o cabelo, junto-me aos milhões de brasileiros que imaginam que esse país ainda tem jeito. Com a cabeça mais arejada. Graças ao 1011 (lê-se dez, onze), apelido de um amigo, repórter cinematográfico aqui da produtora onde estou trabalhando, meu último cabelo comprido do ano ficou registrado. A foto é dele. E vai me lembrar sempre deste dia em que a política de Brasília, de fato, começou a trilhar sua nova história.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Bonito isso

Elisa Mendes é uma fotógrafa mineira que conheci virtualmente, através da Cris Guerra. Ela fotografava a Cris para o Blog "Hoje vou assim" quando a Cris ainda estava na Lápis Raro. As duas estão na foto, aí ao lado.

Falando desse jeito, parece coisa de um passado lonjão. Não é. Está bem perto, mas passou. Elisa leva a vida com o olhar de fotógrafa (e que coisas lindas que ela faz), hoje, em NY.

Aprendi a gostar das coisas dela olhando as coisas da Cris. Hoje, quando quero dar um brilho nos olhos do dia, "passo" na Cris e na Elisa. É certeza bater na porta do bom gosto. Sem medo de errar. Elisa mantém um blog "Bonito isso", que eu nunca deixo de visitar. E lá descubro coisas muito legais a partir do olhar dela.Ela também tem uma página onde apresenta o seu trabalho de fotógrafa profissional, vale a pena conferir.

Esse é o grande barato da internet. Uma pessoa que encontra outra, que conhece mais uma e, quando você vê, tem um montão de amigos que nem conhece direito, mas que já fazem parte da vida da gente como bons e velhos amigos de infância. De repente, não mais que de repente, a vida vira uma grande cozinha. Com espaço para todos.

Hoje, a Elisa me apresentou uma nova amiga, uma cantora chamada Yael Naim. Tenho certeza de que vocês vão gostar dela também. E assim, fazendo novos amigos, a gente celebra a chegada da primavera.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Três olhares

Recebi um e-mail da Mara me mostrando três maneiras de olhar o mesmo cenário. Ela me dizia que quando viu as fotos, feitas quase do mesmo ângulo, imaginou que eu pudesse escrever algo.

Estava certa. A seca de agora me obriga a enxergar a cena da varanda de casa e pensar em três momentos distintos.



Na primeira foto, uma manhã de inverno, com direito a névoa rasante, frio e verde que lembram em tudo uma cena do Sul. Rendeu até um textinho falando sobre acordar e ver a paisagem assim.



A segunda foto foi feita pela Mara em um momento de angústia, enquanto esperava a chegada dos bombeiros para apagar um fogareu ameaçador que se formou bem ali, onde antes havia névoa e frio. Naquele dia, parte do incêndio eu mesmo tive que apagar. E a cena voltou a render um textinho aqui no Blog.



Na última foto, é o que temos hoje. Nosso lago vizinho, quase seco. As árvores sem verde e a grama seca, misturada com as cinzas do último incêndio. Brasília arde o sol desse início de primavera. Segue o seco. Falta a chuva, que uma hora, todos acreditamos, virá.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Jornalismo, marketing e velhos amigos


A foto ài em cima marca o reencontro de três amigos de faculdade. Eu, Marquinhos Goiano e Jupira. Nos encontramos este ano, depois de 25 anos sem nos ver. E ela está aí para ilustrar uma lembrança que me veio, graças ao convite que recebi para fazer uma palestra sobre jornalismo e marketing político.

Sexta-feira passada, atravessei a cidade para conversar com estudantes de comunicação da Faculdade Anhanguera. Duas turmas - uma de jornalismo e outra de publicidade - de alunos do sétimo período do curso, ou seja, às vésperas de cair definitivamente no mercado de trabalho.

O convite me foi feito por dois Rodrigos - o Pael e o Jorge. São professores e amigos. A conversa rendeu e me fez lembrar velhos tempos de banco de escola. Quando os sonhos com a profissão eram mais românticos que hoje.

Entretanto, se o romantismo é menor hoje, é bom saber que, 25 anos depois de sair da faculdade, o encanto com a profissão que eu escoilhi persiste. Durante a conversa, a Mércia, uma das alunas de jornalismo me perguntou: O que você mais gosta de fazer? Como é que você se define depois de ter vivido tantos ângulos diversos da profissão?

Respondi de pronto: Sou um bom contador de histórias. As minhas e as de quem passa pela minha vida. Exatamente como está escrito aí ao lado, no perfil que compõe a identidade deste blog.

O professor Rodrigo Jorge, autor de um blog de comunicação, registrou nossa passagem pela faculdade. Espero, sinceramente, que a minha modesta participação possa ter contribuído para que os novos comunicadores entrem com o pé direito no mercado de trabalho.

Brasil com P

sábado, 11 de setembro de 2010

Cerrado em chamas

Faz tanto calor em Brasília!
A seca deixa tudo envelhecido.
O ar é denso.
Respirar é mais difícil
Onde havia verde, hoje, há cinza.
Reservas queimadas.
Animais sem pasto.
Folhas secas.


A Charge publicada na edição de hoje
do Correio Braziliense é preciosa.
Brinca com um dos símbolos da cidade,
o monumento que homenageia JK, em frente
ao memorial dele.

E traduz com perfeição o sentimento de todo mundo:
É tanto calor que nem estátua aguenta!

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Houve uma vez...

Corria o ano de 1977. Eu fazia a minha primeira aventura cigana, aos quinze anos. Depois de passar férias em São Luis, de onde tinha saído havia cinco anos, aceitei o convite para ficar na casa dos meus tios e fazer o primeiro ano do antigo científico, no Colégio Marista.

A casa do tio Zé e da Tia Belinha ficava no Beco do Seminário, por trás da Igreja de Santo Antônio. Foi um tempo de reencontro com a minha história, com as minhas raízes, com meus amigos de infância e com gente nova, que de alguma maneira influiu muito no que eu sou hoje.

O ano foi rico. Tive as minhas primeiras noitadas na Madre Deus. Aprendi a jogar frescobol com o Carlinhos, meu primo de Fortaleza. Descobri Milton Nascimento e o Clube da Esquina, com o Adir - um colega de faculdade de Carlinhos. Namorei Maria Tereza, minha primeira grande paixão. Atravessei a ponte de São Francisco inúmeras vezes. De dia, em direção à praia de Ponta da Areia. À noite, para os cinemas e discotecas.

Naquele ano, Elvis foi encontrado morto, em uma banheira, em Graceland. Lembro como se fosse hoje a chamada do Jornal Nacional, em que um consternado Cid Moreira Dizia: Agora à noite, o Hospital Batista de Menphis informou que Elvis Presley foi encontrado morto pelo seu empresário (confira o vídeo no final desse post).

Foi um choque. Do mesmo jeito que foi um choque, também, a explosão de um outro sucesso pop, naquele mesmo ano. Surgia Peter Frampton, um guitarrista com cara de anjo barroco. Ele tocava lindamente uma balada que virou febre mundial e aplacou um pouco a tristeza pela perda de Elvis: Baby, I love your way.

Hoje, 33 anos depois, abro o jornal e vejo o rosto de Frampton, careca e mais gordo, estampado nas manchetes. Ele está em Brasília para um único show. Um filme passa em minha cabeça. São Luis, Tio Zé, Madre Deus, Tereza, Ponta da Areia, Milton e Elvis. É bom ouvir os timbres do passado.

Encontro no You Tube e reparto com vocês nesta manhã de setembro, duas pedras de toque daquele distante ano de 77: as reportagens do Jornal Nacional e a música de Frampton.



terça-feira, 7 de setembro de 2010

Os gregos que nos fascinam


*Marcia Braga

Depois de uma procura que foi quase uma odisséia, encontro uma edição portuguesa de 1939, da peça "Coéforas", de Ésquilo. Esses gregos me perseguem pela vida, e foi em companhia deles que passei o feriado. O tema é a morte e seus ritos funerários, e coéforas quer dizer escravas.

Ésquilo conta a história de Electra que, a pedido de sua mãe, Clitemnestra, vai realizar um ritual de expiação. Clitemnestra, com ajuda de seu amante, Egisto, havia assassinado o marido, Agamenon, assim que este voltara da Guerra de Tróia.

Mas Electra questiona a importância da cerimônia, uma vez que sabe do assassinato, e a participação das coéforas vai ser decisiva para que ela se convença que deve pedir aos deuses, não o perdão para a mãe, mas que vinguem a morte do pai.

O resto da história é conhecido: Electra vai convencer seu irmão, Orestes, a vingar o pai, e assim Clitemnestra e Egisto são mortos. Ou seja, uma sucessão de mortes que se fundamenta na vingança, ato que até hoje nos assombra, muitas vezes envolvendo várias gerações de uma mesma família, como é comum até hoje em algumas cidades do nordeste brasileiro. E é essa vingança sucessiva com seus rituais de perdão, purificação, o central em "Coéforas".

Ésquilo faz Orestes vagar pelo mundo perseguido pelas Fúrias, até a sua redenção. E quando ele lhes pergunta por que não fizeram o mesmo com sua mãe, elas lhe respondem que marido não era parente.

Já Eurípedes trata o mito grego com mais generosidade. Em sua "Electra", ela e o irmão depositam nos deuses toda a culpa pelo duplo assassinato. Apolo seria o responsável, já que os homens estariam submetidos aos caprichos dos deuses.

Orestes é aconselhado pelos tios a ir embora para Atenas, para escapar das Fúrias. As mortes teriam sido obra do Destino, que seria mais poderoso que os homens, os heróis e os próprios deuses.

Nem Ésqulo ou Eurípedes tocam no motivo que teria levado Clitmnestra a odiar o marido a ponto de tramar sua morte. Sabemos, através de Homero, que Agamenon teria sacrificado a filha Efigênia, um pedido dos deuses para que os ventos voltassem a soprar e ele pudesse zarpar com seus navios para Tróia. Mas os dois dramaturgos não tocam nessa questão. O próprio homem fica sendo o responsável pelo seu destino.

Fico imaginando que, se esses gregos que viveram há mais de quatro mil anos, nos fascinam até hoje, é porque alguma coisa de grandiosa e sábia haveria neles. E assim penso:

"Queremos saber, queremos viver
confiantes no futuro
por isso se faz necessário prever
qual o itinerário da ilusão
a ilusão do poder
pois, se foi permitido ao homem
tantas coisas conhecer
é melhor que todos saibam
o que pode acontecer..."
(Queremos saber/Gilberto Gil)



*Marcia Braga é jornalista e professora do curso de Jornalismo da FUNORTE, em Montes Claros, Minas Gerais. Sua auto-definição é um poema: "Meia dúzia de palavras sobre a minha origem: sou mineira de BH, jornalista e artesã, de palavras e objetos".

O perigo ao lado


Quase duas da tarde. O telefone toca. É Mara, nervosa. O que houve? Agora já está tudo bem. Mas, pergunto de novo, o que houve? Instantaneamente vejo um e-mail chegar. Te mandei as fotos no e-mail. Um incêndio aqui, na chácara, ao lado de casa. Foi preciso chamar os bombeiros.

Abro as imagens. É fogo mesmo. Brasília, 40°. Há cento e dois dias não chove por aqui. É ruim para respirar. A paisagem está feia e o mato seco representa um perigo constante.

Quando os bombeiros chegaram, o fogo já estava controlado. Os vizinhos foram mais rápidos.O atraso não é culpa deles. Há inúmeros chamados ao mesmo tempo. O melhor mesmo é aproveitar a deixa e molhar um pouco mais ao redor de casa. E torcer para que a temporada de chuva não demore.

domingo, 5 de setembro de 2010

Primeiros raios



Um bafo de sol
em casa

Um sopro de afeto quente
um esconderijo
um jeito
um afago
no peito

Manhã de sol
campo aberto

Quem disse que
o mundo é solidão?
Quem disse?

(poesia de Maranhão Viegas para uma manhã de setembro)

sábado, 4 de setembro de 2010

Poesia de sábado


O Vento
(poema: Fabio Terra. Ilustração: Leila Monsegur)


O brinquedo do vento, são as folhas,
que mudam de endereço a cada carinho dele.

As vezes ele, o vento, teima em chatear a gente,
coisa de irmão caçula,
Coloca as mãos nos olhos só pra você advinhar quem é.

Outras horas se descamba proutro porto,
atrás da maresia dos sonhadores

Mas sempre volta trazendo
novos ares e paixões.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

música de sexta-feira

Quando Gonzaguinha era vivo, a música dele traduziu uma geração. Coisa de percepção do momento, de contestação e essência. Quando ele morreu, veio um vazio. A música ficou e sobreviveu a tudo.

A um país e suas histórias. A desastres ecológicos, a amores e tristezas.

Depois que Gonzaguinha morreu, surgiu Cássia Eller. Cássia era a divina tradução de tudo o que Nando Reis dizia. Nasceram um para o outro. E os dois pra poesia. E pra música. E pra todos nós.

Hoje, fui apresentado a outra parceira de Nando. Pode ser que a poesia não tenha ido de todo. Foi Gonzaguinha. Foi Cássia. Ficaram Nando e Roberta. Roberta, viu!