sábado, 24 de outubro de 2020

O mundo é uma bola


 

Em 1970, eu tinha oito anos. Lembro vivamente a imagem de um homem magro, calçando um Conga (uma das poucas marcas de calçados esportivos à época no Brasil), calção azul e camiseta regata amarela, correndo pelas ruas da minha Madre Deus, com uma bandeira do Brasil nas mãos. 

 

Olhei intrigado. Intrigação de menino. Por que ele está fazendo isso? Perguntei à minha avó. Pelé. Ela respondeu. E seguiu falando, depois de uma pequena pausa. Pelé ganhou a copa do México. Era 1970. E eu nunca esqueci aquela cena. 

 

Depois, acompanhei ao largo, encantado como um súdito, a trajetória do Rei do Futebol. O mais legítimo que o Brasil já teve. Fazia com a bola o equivalente ao que Platão, Sócrates e Nietsche fizeram com o pensamento. Um Einstein dentro das quatro linhas da relatividade futebolística. 


Foto: Assessoria CBF
Foto: Arquivo CBF

Faz oitenta anos que ele nasceu para ser rei na eternidade. Neste 23 de outubro, todos se rendem à evidência que seus pés comprovaram, cada vez que a torcida assistindo a um espetáculo gritou “gol de Pelé”: o mundo é uma bola.