quarta-feira, 31 de março de 2010

Olhar de fotógrafo

foto: Ronaldo Barroso

Brasília vive dias de expectativa. Os jornais se alimentam de algo que está por ser notícia. Um depoimento... A dúvida... a incerteza... Uma sessão extraordinária... Outro depoimento... Uma inconstitucionalidade... Novo depoimento.

Esse é o clima da véspera do feriado de páscoa por aqui. Uma eleição indireta deverá indicar o próximo governador do Distrito Federal. A eleição está prevista para acontecer no dia 17 de abril. Mas ninguém tem certeza de nada.

O governador interino é uma possibilidade. Ele pode ser o escolhido e ficar aonde está até o fim do ano. Mas carece de atitudes mais confiáveis. Assim que pode, deu aumentos para os servidores.

Perigosamente, ele aproximou do limite do aceitável os gastos do governo com a folha de pagamento. Desconfia-se que por trás disso esteja o interesse em garantir um novo mandato. Ele jura que não.

A semana útil vai se fechando. Ainda ecoa no ar a ameaça feita pelo delator-mor, no seu mais recente depoimento à Câmara Legislativa: O rolo compressor vem aí!

Diante de tudo isso, o repórter fotográfico Ronaldo Barroso, com o olhar afiado de sempre, flagrou essa cena. Um amontoado de velas em chama, tendo ao fundo o prédio do Supremo Tribunal Federal. Ele atribuiu à fotografia o título - "Rogai por nós!"

Uma bem apropriada coincidência. É lá no Supremo que repousa um pedido de intervenção federal. É de lá que se espera que venham decisões sensatas e norteadoras. Que ajudem a Capital Federal a sair desse caos em que se encontra.

Em resumo, é por lá que passa a fé em um tempo melhor do que temos agora. A fé de todos nós.

inverno em Belém

Silma Ferreira

Finalmente o “inverno” parece ter chegado a Belém do Pará. Desde domingo tenho dormido com o condicionador de ar desligado, contando apenas com a agradável brisa da noite, no 11º andar de meu prédio.

Durante esta semana algumas manhãs foram chuvosas, outras ensolaradas e quentes. Hoje o céu está nublado, o dia está quente, mas, certamente teremos um temporal à tarde, com direito à fantástica manifestação da natureza: ventos fortes, chuva torrencial tornando tudo branco, raios e trovões.

No “inverno” de Belém a “chuva das 4” dá lugar à chuva das 2h, das 5h ou de qualquer horário.

Silma Ferreira é psicóloga, especialista em gestalt e psicologia organizacional, sócia diretora da Impar Educação Profissional, em Belém - PA. E minha prima querida, que de vez em quando me manda mensagens como essa que vocês acabaram de ler.

terça-feira, 30 de março de 2010

Jornalismo e poesia


Boa parte do que aprendi a fazer no jornalismo de televisão vem da escola de Armando Nogueira (foto acima, arquivo Revista Época). Quando eu cheguei à Globo de Mato Grosso do Sul, no meio da década de 80, ele estava finalizando o projeto de Jornalismo das Afiliadas e estava prestes a passar o comando para o Alberico de Souza Cruz.

Foi nessa época também que tomei contato com Woile Guimarães, Raul Bastos, Wilson Serra, Luiz Gonzales, Pinheirinho e Celso Pelosi, que formavam a equipe de precursores desse novo modelo de jornalismo e que percorriam o Brasil ajudando a treinar as equipes que se integrariam em definitivo à rede nacional.

O desafio da TV Morena, afiliada da Globo era imenso. Não só produzir reportagens com qualidade, que pudessem ter interesse nacional. Mas era preciso romper com a barreira do trínômio pré-estabelecido, violência-contrabando-drogas. Coordenar uma equipe de jornalismo próximo da tríplice fronteira Brasil-Paraguai-Bolívia era sinônimo de pauta conflituosa.

Nenhuma cidade ou estado, nenhum povo, gosta de aparecer nacionalmente pelo estigma. E era assim que aconteciam as poucas entradas nacionais com notícias de Mato Grosso do Sul. Se não fosse pela tragédia, só restava o exótico.

Então, seguindo as novas orientações que nasceram na cabeça de Armando, passamos a experimentar um outro tipo de construção jornalística. Que mostrasse mais a cara do regional, que desse mais ênfase para o cotidiano e que encontrasse a beleza na informação local, a ponto de transformá-la em uma pauta nacional.

Quem deu os primeiros passos nessa direção foi a jornalista Ecilda Stefanello, que me levou para a TV Morena e a quem vim substituir na direção de jornalismo alguns anos depois.

Quando o ranking de emissoras foi estabelecido, um dos principais critérios da Globo para definir as posições de cada afiliada era o volume de produção de reportagens locais que entravam em rede nacional. A TV Morena estava nas últimas posições, entre as 30 emissoras que compunham o ranking.

Três anos depois, quando deixei a emissora, já na condição de diretor de jornalismo, havíamos subido na escala e o jornalismo da TV Morena frequentava agora as seis primeiras posições da rede. O período coincide com o aumento da importância das reportagens sobre a produção agropecuária, sobre ecologia, o aumento do interesse sobre o pantanal e a valorização da cultura regional.

De certa forma, o Brasil que começava a passar na TV se via com outros olhos. Com um pouco mais de orgulho pela identidade local. Esse formato de jornalismo pode não ter agradado a todos. Mas foi definitivo para fazer crescer os padrões de qualidade da TV Brasileira.

Na origem dele, estavam Armando Nogueira e Alice Maria. Armando, o mestre da palavra, me ajudou a compreender que é possível sim fazer um bom jornalismo na TV. E que é necessário não perder o encanto pela palavra. Ainda que na televisão uma imagem valha por mil delas. Ainda assim. O texto do Armando e a sua poesia vão fazer falta ao jornalismo.

segunda-feira, 29 de março de 2010

A orquestra catrumana dos “Joãos”


Em 2008, eu coordenava uma campanha na eleição para prefeito, em Montes Claros, norte de Minas Gerais. Faltavam poucos dias para o sete de setembro e nós ainda não sabíamos como fugir da mesmice, na hora de homenagear o dia da independência do Brasil.

Três e pouco da tarde de um dia quente, como só os dias quentes do sertão de Guimarães Rosa sabem ser. Eu conversava com dois outros “Joãos” – o Flores, diretor de cena; e o Rodrigues, artista plástico e secretário municipal de cultura (da imagem aí ao lado).

Eu queria algo diferente. E lembrei do projeto que o João Rodrigues tinha posto em prática – Uma orquestra de rabecas. O projeto era precioso. Gente do campo, mãos rudes, calejadas pelo trabalho duro da roça, que se dispunha a tocar instrumentos musicais. Mais do que isso, se propunha a aprender a fabricá-los. Uma ousadia, coisa de artista, encravada no sertão.

Eu disse o que pensava. Queria vê-los saindo por detras das árvores, tocando em seus instrumentos uma música que encantasse e desse legitimidade àquela homenagem. Dezenas deles, multiplicando a imagem tão viva de outro ícone do sertão: Zé côco do Riachão. João, o Flores, começou a imaginar a cena. Raios de sol, no fim da tarde, entre as árvores do sertão. Em meio aos feixes de luz, os homens e suas rabecas.

A imagem era linda, mas como produzir isso, em tão pouco tempo? Não sei. Sei que fui correndo para o computador, parir o texto. Os “Joãos” que se encarregassem de decifrar a fórmula. Eis que o Rodrigues sugeriu o óbvio: porque não fazer a gravação na própria luteria?

Bingo. Misturando as cenas da fazedura dos instrumentos com os homens tocando em peças acabadas. Uma metalinguagem da criação. A simplicidade vencendo outra vez. Estava ali, em estado puro, a nossa homenagem. À independência, ao homem, à vida. E a música a ser tocada? Aí, foi a minha vez: o Hino da Independência! Por que não?

De novo, o óbvio em nossas mãos. Essa é uma das lições que as campanhas políticas nos dão sempre. O melhor pode ser o mais simples. Desde que feito com paixão. Com verdade. Com tesão.

Tinhamos exatos três dias para ensaiar o hino. Quer dizer, para eles aprenderem a tocar o hino e gravar as cenas. O resultado vocês terão a oportunidade de ver aí abaixo. Ficou uma peça preciosa como todos aqueles homens e seus instrumentos musicais o são também. Preciosos.

Essa semana, conversei com João Rodrigues. Ele já não é mais secretário de cultura. Mas a arte plástica ganhou com a sua volta ao atelier de pintura. João me disse que a orquestra não existe mais. A luteria, também não. O que ficou daquela gente está na memória de cada um deles. Está na minha memória e na memória dos dois “Joãos”. E no filme, editado pelos meninos competentes da produtora mineira Casca de Noz, que vocês vão poder assistir já, já.


Luteria – é o local onde se fabricam instrumentos de corda.
Catrumano – termo que define a gente mais original do sertão de Minas Gerais.

Lembrança de Infância.


Mariza Poltronieri

Era início da década de 70, lá no século passado. Lembrança da infância num tempo em que tudo era meio ingênuo e permitido.

O Noroeste do Paraná, região agrícola, era berço de inúmeras espécies de animais silvestres, dentre eles, codornas e perdizes, facilmente encontradas nas vegetações rasteiras, próximas as fazendas que cultivavam café.

Assim como meu pai, muitos homens faziam valer um hábito dos seus primitivos ancestrais, algo essencialmente masculino, iam literalmente à caça. Juntavam suas tralhas, armas, munições, cantis, barracas e cães perdigueiros para participar de notórias caçadas.

Esta aventura era compartilhada pelas beiradas pelas mulheres e crianças. Todos aguardavam ansiosos o retorno dos heróis.

Sujos e cansados, homens e seus cães traziam consigo uma preciosa carga, dezenas de perdizes que seriam limpas e cozidas para deleite de todos.Em minha memória guardo a alegria, o aroma e o sabor desses momentos.

O preparo de tão honrosa iguaria era quase um ritual. As perdizes, pequenas aves de carne escura e saborosa, passavam por um cozimento lento, numa mistura simples de alho, cebola e rosmarino, com pequenas regas de água, de quando em quando, para extrair todo o sabor da carne, de gosto tão peculiar.

Para acompanhar essa suculência, uma polenta molinha, cozida por cerca de uma hora, folhas tenras de almeirão temperadas com vinagre de vinho de garrafão e nacos de queijo curado.

Tudo era colocado sobre uma longa mesa onde, caçadores, mulheres e crianças dividiam o espaço e também as histórias daquela saga vivida.

Entre uma garfada e outra, podia sentir o prazer de comer e ouvir.
Ainda acredito que o melhor tempo é aquele em que não há pressa, onde podemos desfrutar do momento com intensidade e com a chance de ter um segundo prazer, movido pela lembrança.


Na receita desta postagem, uma pasta muito simples e reconfortante.

Espaguete na manteiga de sálvia:

Ingredientes:
· 250g de espaguete cozido al dente
· 50g de manteiga
· 3 dentes de alho picadinhos
· 10 folhas grandes de sálvia fresca picadas
· Sal a gosto
· Queijo parmesão a gosto

Preparo:
· Em uma frigideira aqueça a manteiga e frite o alho até que cheire. Acrescente a sálvia e o sal. Desligue o fogo.
· Misture o espaguete ao molho e sirva polvilhado com parmesão.

Mariza Poltronieri é culinarista em Maringá, PR. E tem espaço garantido aqui, para escrever sempre que quiser, sobre alquimia gastronômica. Ou, sobre o que ela desejar.

domingo, 28 de março de 2010

A molequinha linda que faltava na MPB!


Volta e meia, um novo nome surge na MPB. O mais recente tem nome e sobrenome: Maria Gadú. Ontem fomos ver o show da menina. Sim, uma menina. 22 anos de idade, paulistana, Maria Gadú, em pouco tempo de vida, já disse a que veio. Veio para ficar.

Em sua página na internet, ela conta, num vídeo release, que toca e canta desde os seis anos de idade. Aos quatorze, quando as colegas de escola planejavam a festa de debutante, ela já trabalhava, cantando e tocando nos bares, à noite.
Sua formação musical é rica. Ela mesma conta que na infância ouviu muita música clássica. Deve se originar aí a intimidade com os instrumentos e as variantes vocais de delicadeza indiscutível.

Sobre as influências musicais, ela confessa: Além dos clássicos – aos seis anos causou a maior surpresa ao tocar um piano em público, dentro de um shopping – cita Adoniran Barbosa e Mariza Monte.

Durante o show as influências ficam evidentes. Ela é impressionante em 100% do tempo. Surpreende quando faz uma ponte melódica incomum, juntando "Filosofia", de Noel Rosa, num arranjo tão moderno, roqueiro e inovador, a “You know I’m no Good”, de Amy Winehouse. (confira no link, aí embaixo)

Depois, manda ver, em Altar Particular, um samba legítimo que carrega na raiz a alma de Nelson Cavaquinho e Marisa Monte, ao mesmo tempo.

Maria não para. Não tem limite, não tem vergonha. Faz uma música melosa da Sandy virar um musicão. Abre um relicário emocional para homenagear a avó Cila. Passeia por Paralamas e Alanis Morissette; transforma “Ne Me Quitte Pas” em tango, tudo sem perder o jeito de moleca. Uma menina madura. Capaz de compreender e resistir a um público muitas vezes indisciplinado, muitas vezes deslumbrado – a ponto de beirar a má educação. Uma mulher, pronta pra estrada.

Não gosto de comparações, mas vi ali, no palco, uma sucessora à altura, alguém capaz de aplacar um pouco o vazio deixado por Cássia Eller no universo feminino da MPB. E o que é mais impressionante, com a possibilidade de ir além. Pela molecagem, pela beleza da voz, pela versatilidade e pela capacidade de inventar.

E como não podia deixar de ser, fazendo show em Brasília, no dia do aniversário de Renato Russo (ele faria 50, ontem, se estivesse vivo), Maria Gadú cravou uma pedra de toque na música brasileira. Ousou fazer uma interpretação nova, pessoal, de Faroeste Caboclo, uma das mais longas músicas da Legião Urbana. Icone musical de uma geração inteira de seguidores de Renato, a música ganhou o que a gente costuma chamar de versão definitiva.

Maria Gadú chegou a mim pelas mãos da Mara. Um dia ela me ligou, esfuziante, incontida: Você precisa ouvir isso. Ela estava certa. Eu precisava mesmo.

sábado, 27 de março de 2010

Viva, Renato, viva!

No dia 11 de outubro de 1996 eu, Mara, Mariana e Gabriel estávamos voltando de uma viagem à Bolívia. Tínhamos ido a Cochabamba rever nossos compadres, Liliana Bayá e Roberto Rojo. Eu e Mara somos padrinhos de Aymê, uma afilhada que nunca batizamos, mas que sabe o quanto de amor temos por ela. Da mesma forma, também amamos Tessay, a primeira filha de Liliana, que ajudamos a criar, quando éramos estudantes do curso de jornalismo, na UNISINOS. Mas isso é história pra outra hora. Nosso amor por Tes, Aymê, Liliana e Roberto vem de longe e não tem hora pra acabar.

O fato é que voltávamos de uma curta estada com eles, lá na Bolívia. Nessa época, a ligação entre a Bolívia e Campo Grande, onde morávamos, implicava também em uma obrigatória passagem de balsa sobre o Rio Paraguai, à saída de Corumbá. Não havia ponte, ainda.

O ônibus parou. Descemos, como sempre fazíamos. E passamos alguns minutos esperando a balsa chegar à margem do rio, no lado onde estávamos. Havia uma barraca de venda de bebidas. Havia uns homens enganando outros homens, com aquele jogo de adivinhar em que caçapa estava escondida a pedrinha. Havia uma escuridão do início da noite e havia uma certa melancolia.

Algo que misturava o fim da viagem, a volta para casa, o cansaço, a beira de rio, o cheiro de mato... E havia uma televisão ligada na Globo. Num determinado momento, o apresentador, acho que era a Lilian Vitefibe, disse com um ar de tragédia no rosto: morreu hoje o símbolo de um geração: Renato Russo. Pow! Foi como receber um cruzado de direita. E foi direto nos peitos.

Nos entreolhamos, eu e Mara, sem saber direito se era pra acreditar. Não que a gente não soubesse que ele andava mal. Mas ninguém queria escutar aquela notícia. Ainda mais assim, sem avisar, sem nada.

Mas a reportagem continuou. E era verdade. E a balsa chegou enquanto o jornal ainda mostrava as reações das pessoas, sobretudo, as reações dos jovens, por todo o Brasil.

Lembro do silêncio que nos tomou. Atravessar o Rio Paraguai era sempre algo silencioso e contemplativo. Principalmente, à noite. Naquela noite, então, o silêncio foi maior e mais doído. Renato era um dos meus ídolos que partia. De um jeito que eu não queria. De uma forma que eu custava a entender.

Naquela época, Gabriel tinha quatro e Mariana tinha oito anos. E os dois, ainda hoje, continuam amando as músicas do Renato. Ele só saiu de cena. Mas continua por aqui. Hoje, Renato faria 50 anos, se estivesse vivo. Viva, Renato. Viva, sempre.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Cisco, filho de Cris e Gui

Francisco nasceu Cisco. Um anjo iluminado. É o que a Cris Guerra nos diz, todo dia. Sua vinda é um presente. E ele vai levar isso para o resto da vida. E, tudo indica, vai levar bem.

Essa imagem dele, aí ao lado, foi um susto bom, uma surpresa. Pra quem, como eu acompanha a trajetória da Cris pelas suas linhas, pelos seus escritos, foi como uma mágica, ver o Cisco assim, crescido. A imagem fala por si. É um homenino lindo, como diria Caetano.

Da barriga da Cris até ser Cisco, ele foi cuidado com o carinho de um, de dois, de dez, de dez milhões. De certa forma, daqui de longe, acho que dei a minha colaboração como cuidador lendo o que a Cris escrevia e torcendo por eles. Tanto que, a hora em que vi a foto do Cisco, senti vontade de escrever.

Guilherme, o pai, deve ser orgulhoso, em qualquer escala, na dimensão qualquer em que se encontre, desse menino e dessa menina. Por aqui a Cris vai dando conta do recado de viver com maestria e elegância. A gente percebe isso de longe. E traz no rastro, como um cometa, ninguém menos: Francisco.

PS. Se você ainda não conhece a Cris Guerra, aí vão os caminhos para conhecê-la. Ela é publicitária, em Belo Horizonte. Trabalha na Lápis Raro, uma agência das mais respeitadas e criativas, de Minas. Administra três blogs muito legais: "hoje vou assim"; "Amor e ponto" e "Para Francisco". Neste último, abre o coração para contar muito da sua história e do amor por Guilherme, que gerou ninguém menos que Francisco. Vale a pena conhecê-la. Pode apostar.

Pra começar bem o dia!


Celene Araújo é uma profissional de sucesso. Tem uma sólida carreira de jornalista, viveu momentos históricos na Globo, na Record e em vários outros veículos de comunicação. Há mais de dez anos, ela prepara políticos e empresários na área de Media Traning. Por conta disso, tive a oportunidade de conhecê-la e de fazer alguns trabalhos em conjunto. Hoje, ela me mandou uma mensagem que eu tomo por testemunho. De carinho, de respeito e cumplicidade. Não tem como o dia não começar bem, quando a gente recebe uma mensagem como a que reproduzo aí abaixo. Valeu, Celene!

Maranha,
Adorei o "quem tem amigo músico não morre sem trilha sonora". E , mesmo atrasada, quem te acompanha não fica só, meu lindo. Nós é que agradecemos e somos (ao menos eu sou) pessoas melhores depois de conhecer você. Profissional e pessoalmente. E quanta gente incrível nestes (ainda?) 100. A foto ficou D+. Fora a Flor, B.B.King e muito, muito mais. Meus dias não começam sem "ler"o Blog do Viegas. Quem não te adivinha nunca te mereceu!
Beijo e saudade
Celene Araújo

quinta-feira, 25 de março de 2010

Ricardo e a música brasileira

Marcia Braga*

Meu amigo Ricardo lá de Curitiba está fazendo um artigo sobre música brasileira. Ele manda o artigo para que eu dê uma olhada. Está muito legal, criativo, bem escrito, mas num determinado momento ele diz que "Carinhoso" (Pixinguinha/João de Barro) é um grande tema em que o autor descreve as maravilhas do seu próprio sentimento. Segundo ele, uma coisa rara na música. Fiquei pensando, pensando, pensando... e sou obrigada a discordar. O Roberto Carlos também já fez o mesmo.

É só comparar as letras de "Carinhoso" e "Como é grande o meu amor por você" (Roberto/Erasmo Carlos). A primeira diz:



"Meu coração, não sei por que/ bate feliz quando te vê/ e os meus olhos ficam sorrindo/ e pelas ruas vão te seguindo/ mas mesmo assim, foges de mim/ ah, se tu soubesses como eu sou tão carinhoso/ e o muito, muito que te quero/ e como é sincero o meu amor/ eu sei que tu não fugirias mais de mim/ vem, vem, vem, vem/ vem sentir o calor dos lábios meus à procura dos teus/ e vem matar esta paixão/ que me devora o coração/ e só assim então/ serei feliz, bem feliz..."

Na segunda letra temos:


"Eu tenho tanto prá lhe falar/ mas com palavras não sei dizer/ como é grande o meu amor por você/ e não há nada pra comparar/ para poder lhe explicar/ como é grande o meu amor por você/ nem mesmo o céu, nem as estrelas/ nem mesmo o mar e o infinito/ não é maior que o meu amor/ nem mais bonito/ me desespero a procurar/ alguma forma de lhe falar/ como é grande o meu amor por você/ nunca se esqueça nem um segundo/ que eu tenho o amor maior do mundo/ como é grande o meu amor por você..."

Em termos de composição poética os temas são os mesmos e as duas músicas exploram a mesma descrição, ou seja, o que o Ricardo chama de auto-exaltação. Talvez, o Roberto (ou Erasmo, não sei quem fez a letra) tenha sido bem mais hiperbólico que o João de Barro, ou não, como diria o Caetano.

*Marcia Braga é jornalista e professora do curso de Jornalismo da FUNORTE, em Montes Claros, Minas Gerais. Ela abastece a minha caixa de mensagem, sempre, com alguns textos deliciosos. Sua auto-definição é um poema: "Meia dúzia de palavras sobre a minha origem: sou mineira de BH, jornalista e artesã, de palavras e objetos". Acho que está na hora de dividir alguns dos escritos da Marcia com vocês.

quarta-feira, 24 de março de 2010

A vida no Haiti

Depois do terremoto, a vida segue, no Haiti.
Neste curta metragem, magnifico, feito pela Leclerc Brothers Motion Pictures, uma produtora independente, especializada na produção de documentários e comerciais, é possível ter uma idéia da rotina dos haitianos.

A trilha sonora foi composta por: George Fenton, da Planet Earth.
O nome da música é: Namibia - The Lions and the Oryx.

Life in Haiti-Canon 5D MKII & Glidetrack from Leclerc Brothers Motion Pictures on Vimeo.

terça-feira, 23 de março de 2010

O blog é 100!


O blog acaba de romper a barreira dos 3 dígitos. Em 66 dias de existência, são 100 os seguidores dessa minha aventura virtual. Pode parecer pouco neste mundo de terabytes. Para mim, é muito significativo. O centésimo seguidor é uma grande amiga que estava sumida, há tempos: Vânia Galceran.

Obrigado a todos que me acompanham, mais uma vez. Estas coisas que escrevo não fariam sentido sem vocês. Obrigado, pela companhia.

Eu vi Lucille, bem de perto.


Foi de repente.
Decidi fazer um investimento em meu desejo. Desejei ver BB King e sua Lucille. E fui lá. E vi os dois, bem de perto. Eles se completam. Ele e ela. Conversam com intimidade o tempo inteiro. E ele, do alto dos seus 84 anos de estrada, se diz completamente apaixonado.

Não, ele não tem mais a mobilidade, nas pernas, que tinha antes. Mas os dedos... Ah! Os dedos do mestre continuam fiéis. Continuam a tocar Luicille, como nenhum outro, em qualquer lugar, jamais tocou.

BB King é comovente. Pela coragem de seguir tocando. Pela capacidade de seguir encantando até ouvidos moucos, como o meu. No meio do show, aqui em Brasília, ele falou sobre a sua idade. E brincou. E no meio da brincadeira, falou sério. Se disse apaixonado pelo Brasil e sua gente. E disse que não sabia se iria voltar aqui. Mas que, apesar dos seus 84 anos, gostaria muito de voltar.

Disse amar o Brasil. Disse amar o jeito brasileiro, sobretudo, o jeito das mulheres brasileiras. Enquanto falava nelas, se remexia na cadeira. Velhinho safado!
No mais, ele fez o melhor. Ele tocou com a vivacidade do início da carreira, acrescido de uma vida inteira de experiência. Com a paixão de sempre. Tocou com magia e zelo.

E eu, que nem imaginava isso tudo, me encantei de estar ali. Apesar da cadeira vazia ao meu lado. Hoje, vi Lucille bem de perto. Pra nunca mais esquecer.

Para os que não sabem: O BB vem de Blues Boy. E Lucille é como ele chama a sua guitarra. O verdadeiro nome de BB King é Riley Ben King.

domingo, 21 de março de 2010

Eternamente, Flor!


Na casa de Flor tudo é detalhe. Os quadros na parede. As fotografias envelhecidas. O santuário. A janela com a árvore, sacudida lá fora, pelo vento. Aquela árvore foi Zezão quem plantou, quando chegamos a Brasília, faz mais de quarenta anos, explica. Tudo ali remete a Minas, origem da família.

Zezão é o companheiro de vida. Ela, com noventa anos recém completados. Ele, com noventa e nove, já sem visão alguma, mas com a lucidez dos meninos.

Flor acaba de sair de uma temporada na UTI. Quem vê, desconfia. Ela se move ligeira pela casa. Apesar da respiração arfante. Abre a geladeira, oferece água ou suco. Retira a comida congelada. Afasta uma panela do fogão e deixa o fogo aceso por uns instantes. Volta-se para a pia. Depois, lembra do fogo aceso e o apaga.

Senta-se ao meu lado sem nunca tirar das mãos um terço. Seus olhos miudinhos conversam comigo, enquanto aguardo Laura, sua neta jornalista. Flor me conta que teve onze filhos. Hoje já não os tem mais. Alguns se foram antes. Flor, que em verdade chama-se Florides, é leonina. E faz jus ao signo. Não perde a altivez. Ainda que esteja de pijamas.

Inquieta, confere a hora do almoço. Faltam detalhes. Chama Regina, a filha que divide a vida com ela e Zezão. Orienta o que falta esquentar. Um pouco mais de feijão. Aquecer o arroz. E tudo estará pronto. Regina responde sem sair do quarto – Calma. Flor se encosta na parede e segreda, como se pensasse alto: Calma... Essa gente de hoje... Para eles, tudo é calma.

Volta ao sofá e me informa, sem precisar, que eu poderia almoçar com eles. Agradeço. Tem um almoço esperando por Laura em minha casa. Onde? Me pergunta. Em Sobradinho. Regina deu aulas em Sobradinho. Por muito tempo. Hoje, aposentou-se, me conta Flor.
A memória está intocada. Viva. Pertinente. Chama por Regina, novamente. Do nada. Como se tivesse percebido um detalhe que ninguém mais houvesse. – Feche a janela do corredor, Regina. Laura vai sair do banho e não pode tomar esse vento.

Volta-se para a minha companhia. Fala das bisnetas, filhas de Laura. Uma é do Ceará. A outra, do Hezbolah. E ri um riso matreiro, como se tecesse no imaginário a personalidade das meninas. Antes de sairmos ela se afasta da sala. Vai em direção à poltrona, mais perto da janela e de frente para uma televisão. E balbucia consigo, está na hora do meu jornal.

Na saída da casa de Flor, dou-lhe um beijo de despedida. A pele enrugada pelos noventa anos não traduz a intensidade dessa mulher. No caminho, Laura me diz que Flor lhe chamou num canto, na noite em que ela, Laura, chegou a Brasília, para visitá-la. E cofessou-lhe: Você precisa vir logo para cá. Temos muito a conversar. Tenho coisas para lhe falar sobre as quais nunca falamos.

Laura está pensando seriamente em vir de muda para Brasília. Não é à toa que carrega nas costas uma tatuagem que diz – eternamente, Flor.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Short cuts de uma vida curta


Um dia, entrei numa redação de TV com o desafio de apontar o rumo, fazer jornalismo, contar história. Cabia a mim ser o comandante de uma nau de insensatos e destemidos aventureiros. Havia um bocado de gente nova. Nova de idade. Nova de experiência. Uma novidade denunciada pelos olhos arregalados.

Foi assim que me vi fazendo parte do início de carreira de um monte de gente boa, predestinada a brilhar na profissão, determinada a ser jornalista de verdade. Dessas pessoas que trazem consigo paixão, tesão; que são capazes de contagiar com isso tudo o que se metem a fazer. Foi assim que conheci Serginho Carvalho, Myriam Violeta, Eliane Oliveira, Andréia Lima, Veruska Donato, Aldo Olarte, Adriano Furtado, Dary Junior, Anderson Carvalho. Uma tropa de meninos e meninas dispostos a enfrentar o mundo e fazer história. Qualquer história, a partir do bom exercício do jornalismo.

Era 1991. Era a TV Guanandi, retransmissora da Bandeirantes, em Campo Grande. E pra ajudar a dar o tempero a essa turma toda, contei com o apoio providencial de um camarada bem mais experiente do que todos nós – nem por isso, mais convencional ou mais previsível – Luca Maribondo.

Luquinha era o que hoje se costuma chamar de “dinossauro” da profissão. Não no tom pejorativo. Mas na temporalidade, no exercício e no conhecimento. Às vezes, eu pensava que a presença do Luca servia para impor respeito à gurizada. Outras vezes, via a gurizada cuidando do Luca como um bando de pastores em busca da ovelha desgarrada. Ele se divertia. E eu também.

Era um tempo bom. Fizemos escola. Fizemos um jornalismo inovador numa TV que tinha parcos recursos. Tratávamos a notícia com leveza e consistência. Com objetividade e humor. Aquele grupo de meninos e meninas desavisados invadia a praia do jornalismo endurecido. Brincando de fazer notícia, fazíamos notícia sem brincar. Fazíamos história.

Juntos, fizemos história quando o helicóptero do Exército caiu em Aquidauana e nós chegamos primeiro. Quando o pneu do papa móvel furou e ninguém além de nós estava lá. Quando cobrimos as greves, quando falamos de quem não podia falar. Fizemos história na cobertura política, com bom humor quando havia ranço. Com o frescor da juventude, quando tudo era velho. Com maturidade. Enfim, fazíamos tudo com tesão.

Um dia, o grupo se desfez, como tudo um dia se desfaz. Minha memória deve ter me traído e deixado alguns nomes de fora. Não é desrespeito, é a memória ou a falta dela. Alguns dos que eu falei já não estão mais aqui, como o Aldo e a Andréia. Saíram de cena mais cedo do que deviam. É uma pena, não deviam ter saído assim

Confesso publicamente que aquele foi e sempre será um dos momentos mais ricos da minha vida profissional. E é muito bom ver todos esses meninos e meninas terem virado gente grande. Uma gente grande que eles já eram, desde sempre, desde cedo. Por mais curta que seja essa vida. Ter estado com eles me fez uma pessoa melhor.

terça-feira, 16 de março de 2010

Brasília ao sabor do vento (ou da tempestade)


Nunca estivemos tão próximos de uma intervenção federal como hoje. Se Brasília fosse um termômetro, eu diria que o filete de mercúrio teria atingido o seu ponto máximo.

Na mesma noite, o TRE cassa Arruda (o governador afastado) por 4 a 3, por infidelidade partidária. E o Ministério Público do Distrito Federal ajuiza uma ação de antecipação de tutela, pondo sob suspeita mais 26 pessoas : dez deputados distritais; dois suplentes já convocados para assumir; e outros quatorze suplentes de deputados distritais.

Não tenho a formação e o conhecimento jurídicos necessários para dar uma sentença definitiva. Mas olhando assim, quer me parecer que se esse último pedido for aceito, significará o fechamento da Câmara Legislativa do Distrito Federal.

Ou pelo menos provocará a interrupção inevitável das atividades legislativas (quem vai sobrar para votar qualquer coisa?)

A Câmara Legislativa é quem deveria, em um período máximo de trinta dias, escolher pelo voto indireto o novo governador, que concluiria o atual mandato, ficando no governo até o dia 31 de dezembro deste ano.

Imagino que a noite será longa para o Procurador Geral da República, para o presidente do STF e para o presidente Lula. Assim como será longa também para os protagonistas que sobraram deste cenário de terra arrasada em que se transformou o ambiente político do Distrito Federal.

Sopra um vento frio na noite desta terça-feira. Pode ser só uma fresca. Pode ser tempestade. (crédito da foto: m.cavalcante)

segunda-feira, 15 de março de 2010

Kit sobrevivência, direto de Lisboa

Claudinha (de quem eu já estava com saudades, porque fazia dias que não aparecia por aqui) resolveu dar as caras e falar sobre o seu "kit sobrevivência". Variações do Chico Marítimo. D'além Tejo, o pá!


Bacana essa proposta!
Também compartilho da teoria do pai do Renzo.Mas acho que acrescentava além do anel um pequeno tablete de chocolate ao leite que é para ajudar a produzir endorfina rapidamente no caso de dor extrema( tristeza e doenças na alma)e uma garrafinha com água para resfriar rapidamente grandes calores emocionais e repor a hidratação a niveis consideráveis (no caso de choro compulsivo e incontrolável).
A paciência vem já incluida na frase do anel e é dose que basta.
Um beijinho
Claudinha

sexta-feira, 12 de março de 2010

O kit do Victor vem da Ilha

O kit sobrevivência do Antônio Victor, lá de São Luis, se assemelha ao do Chico Marítimo, lá de Trancoso. Deve ser porque os dois, independente da geografia e da distância, e independente de nunca terem se encontrado a não ser aqui, são homens que vão pro mar. Olha aí o que o Victor mandou:

Maranhão,
Legal esse seu kit de sobrevivência. De fato, os componentes de cada kit vão variar de acordo com as prioridades dos náufragos. Legal também o comentário do Chico (pai do Renzo), trazendo-nos a historinha do Rei. Compartilho dessa filosofia no dia a dia. Nem me empolgo tanto que não possa mais voltar ao chão, nem me afogo em melancolia que não me possa fazer emergir. Portanto, a inscrição no anel do rei é sábia e está certíssima: ISSO TAMBÉM PASSARÁ.
Um grande abraço do Victor

quinta-feira, 11 de março de 2010

Surrealismo


Algo não está certo quando não está certo
Algo está certo quando está
Certo não está
Quando algo
certo
não está

não está
certo
Quando algo
certo não está
Algo está certo quando está
Algo não está certo quando não está certo

(Valho-me de "São" Salvador Dali, pra ficar por aqui. Mesmo)

Kit sobrevivência do Chico Marítimo

Há alguns dias, propus um exercício aos leitores deste blog: Qual o seu kit sobrevivência? O Chico Marítimo gostou da idéia e acaba de mandar o dele. Boa Chico, valeu!!!

Grande Maranhão!
Boa essa do kit sobrevivência. Vamos lá! Certa vez ouvi uma história de um Rei que havia encomendado um Kit desses à sua Corte e, principalmente, aos sábios que nela viviam. Deveria ser algo que lhe valesse extremamente e simultaneamente para as horas mais difíceis e para as de maior alegria de modo que pudesse estabilizá-lo no caminho do meio. Então os sábios da corte apresentaram-lhe um anel no qual havia uma frase. Essa frase era o Kit sobrevivência a que nos referimos então. Ela deveria servir para fazer com que o Rei abaixasse o facho nos momentos de alegria excessiva e, ao mesmo tempo, servir para lhe dar ânimo nos momentos mais difíceis de sua vida. Bem, essa frase ou esse kit dizia: ISSO TAMBÉM PASSARÁ.
Viva!
Chico (pai do Renzo)

quarta-feira, 10 de março de 2010

Tremendão na Brokolis

O Paulo Emílio é um grande camarada. Nos conhecemos fazendo a campanha de Zaire Rezende, em 2000, para prefeito, em Uberlândia. Paulo era o editor de finalização, contratado pela Virtual Cinema e Vídeo, do Marcílio, de BH.

Foi um trabalho e tanto, com uma equipe determinada, que levou Zaire à Prefeitura pela segunda vez. A primeira havia acontecido 16 anos antes.

Depois disso, nos cruzamos novamente em 2004, na eleição do prefeito Athos Avelino, em Montes Claros. Era uma das campanhas mais pobres de recursos. E foi uma das mais ricas em qualidade de produção das que já participei.

A campanha era tocada pela pequena produtora que o Paulo Emílio montou para atender um candidato azarão, que não tinha dinheiro para bancar muito luxo e que ganhou na onda do desejo de mudança que a cidade desencadeou.

A equipe de editores era formada por um grupo de meninos, skatistas, absolutamente irreverentes e sem qualquer compromisso com o quadradismo das fórmulas costumeiras dos programas de TV, do horário político.

Naquele ano, fizemos algumas das mais lindas peças publicitárias que já vi em uma campanha política. Lembro de uma, bem simples, com senhoras da tradicional família mineira. Povo simples, costureiras, católicas fervorosas, dividindo a imagem sacra com a esperança de um tempo novo, melhor. A trilha era brilhante. A imagem, nem se fala.

Em outra peça, duas crianças brincavam em manilhas coloridas, no meio de uma praça, e cantavam um repente conduzidas por uma dupla de cegos. A simplicidade e o lirismo invadindo a praia da política, com a marca dos meninos irreverentes de BH.

Depois da vitória em Montes Claros, Paulo Emílio deu um salto e consolidou a Brokolis, sua produtora. Não demorou muito pra começarem a pipocar os primeiros prêmios nacionais. Um dos primeiros prêmios veio da MTV, pela gravação do clip do Pato Fu. A Brókolis dos meninos, virou Brokolis do Brasil.

Hoje, encontrei o Paulo Emílio numa esquina da WEB. No MSN. E demos boas risadas lembrando dos tempos de campanha e de casos como o de uma empregada que não acertava o nome dele por nada desse mundo. Na pressa para falar ela emendava um nome no outro e criava um neologismo que, aos nossos ouvidos, soava algo como “Seo Baremis”. Foi batismo instantâneo. Por um bom tempo ele foi chamado assim.

Agora ele está comemorando outras conquistas. Me disse, louco de contente, que o Conrado Almada, diretor super premiado, está em definitivo na Brokolis. Conrado ganhou o VMB do ano passado. E durante a festa encontrou o Erasmo Carlos que manifestou desejo de gravar um clip com ele.

A gravação aconteceu na semana passada. Paulinho está radiante com o resultado e encheu de elogios o Tremendão. O vídeo ainda não está pronto, mas curtir o novo trabalho Erasmo já é possível ver na página dele. E, aumenta, que isso aí é rock and roll.




O que já está pronto é o novo clip do Skank, "Noites de um verão qualquer", que pode ser visto aqui, na página de abertura do site da Brokolis. Uma pedrada! A cara da irreverência do Paulo Emílio, do Kona, da meninada da Brokolis.

domingo, 7 de março de 2010

"eu vim de Ilha de Maré, minha senhora"...

É assim que começa uma canção antiga, marcadamente baiana, mas sobretudo, nordestina. Me lembro de ouvi-la muito em minha infância, na voz de Alcione ou de Clara Nunes. É daquelas músicas que quando a gente ouve provocam uma dorzinha lá no fundo da alma e nos remetem ao passado. No meu caso, às ruas e becos de São Luis.

Hoje, recebi uma mensagem da Alene Lins, jornalista que vive na Bahia, que começava com esse trecho da música e relatava uma viagem que ela fez. Passe o dia com a música na cabeça. O texto da Alene, também vale a pena dividir com vocês. Vai um pedacinho aí.


Ilha de Maré é uma das 56 ilhas que compõem a Baía de Todos os Santos. Andamos tanto, atravessamos mais da metade da ilha a pé. Caminhada das 9:30h até as 15hs, com apenas tres paradinhas de 10 minutos. Quase morri. O joelho tá pedindo arrego, porque fiz descalça... haja impacto. Começamos pelo povoado de Botelho, passamos por Praia Grande, Passa Cavalo e Itamoabo.

No meio disso tudo, muito mangue para atravessar, escorregar, se divertir, um verdadeiro berçario de carangueijos. Foi interessante, pois nunca tinha atolado a alma no mangue.

Vi gente muito linda pelo caminho: meninos descalços e risonhos, brincando com conchinhas, senhoras lavando roupa, senhores tecendo seus artefatos para a pesca, jovens no futebol na beira da praia...

Também vi lixo em todo canto, ouvi arrocha e antenas parabólicas. E lá, numa casinha no meio do nada, a Beyoncè se fazia ouvir... coisas de lugarejos na era da globalização.

Mas a praia é um encanto à parte, agua morna, calma, deliciosa.
E no final do passeio, a natureza se rebelou. Fechou numa tempestade. linda, mas perigosa.


Quem gostou, pode conferir mais no blog que ela escreve.

Pra fechar,Ilha de maré, na voz de Mariene de Castro.Pra quem nunca ouviu ficar conhecendo. Pra quem já conhece, matar a saudade. Como eu.

Kit sobrevivência


Um prestobarba com três lâminas.
Um shampoo 2 em 1.
Uma garrafa de vinho tinto
(Finca La Linda - Malbec ou Clos Torribas - Crianza)


Durante uma campanha política a gente que trabalha por trás das câmeras, na equipe de produção dos programas de TV e rádio, precisa aprender a viver com pouco.
Pouco tempo pra resolver problemas, poucos recursos técnicos (quase sempre menos do que a gente precisa).
Poucas horas pra dormir.
Pouco espaço pra descansar.

A ordem, em geral é estar atento. Como dizia um antigo anúncio da TV Globo, na década de 70: Plantão geral e o melhor do carnaval.

Pensando nisso andei vasculhando a minha memória para saber qual o meu kit de sobrevivência numa campanha. Sempre que pensei em comprar algo, eram essas, que descrevi lá em cima, as três primeiras coisas que verificava.

Claro, há variações. Dependendo do lugar; dependendo do clima; da região ou até mesmo, do país onde a gente está. Mas em geral, o kit que descrevi resolve a minha vida, em campanha. Só o que falta, às vezes, é uma alma boa, com tempo disponível para ir ao supermercado comprá-lo. Porque, na maioria das vezes, nem tempo pra isso a gente tem.

Pensando assim, fiquei imaginando: o que seria o kit sobrevivência de outras pessoas, em outras situações?

Então, quero propor um exercício aos leitores desse blog que se animarem com a brincadeira. Sei que cada um de nós tem um kit sobrevivência para as horas incertas. Às vezes ele é real. Ás vezes, pode ser imaginário. Não importa.

O que importa mesmo é saber que, de um jeito ou de outro, quando a água bate no nariz a gente sempre tem sempre um plano "B" em mente. Por isso, estou convidando aqueles que toparem a descrever aqui qual é o seu kit sobrevivência e em que situação usaria. Que tal? Alguém se habilita?

sexta-feira, 5 de março de 2010

Chuva, estrada e travessia


Chovia a cântaros.
Na angústia de ver o material pronto, concluído, avisei o cara da produtora que estava indo pra corrigir o necessário e fechar a edição. Nem pensar em deixar para o dia seguinte e perder o “dead line”. Nessa área, que envolve produção de TV, o amanhã às vezes é muito tarde. Às vezes, simplesmente, não existe. Sina de editor, lá estava eu a 20 km de distância, às dez e meia da noite, adiando o fim do dia e saindo novamente para o trabalho.

Até aí, não há novidade. Sempre foi assim na minha vida. Quando é preciso resolver, não importa a hora, a distância, a temperatura... Não importa nada. O que importa é resolver.

O problema é que sair desabaladamente só resolvia uma parte da questão. A outra ainda carecia de solução. É que o material a ser entregue nas emissoras no dia seguinte precisava de uma vinheta de encerramento. Menos de dois segundos. Na verdade, o que a gente chama de “brilho sonoro”, como uma pontuação numa frase escrita, ou uma entonação na frase pronunciada.

Passa poste, viaduto, carro e ponte. Passa o tempo e a chuva não passa. Brasília, na chuva, é estranha. Às vezes assusta, às vezes desafia. A gente se sente meio dono das ruas vazias e cobertas de água da chuva. De repente – zum! Passa um louco em alta velocidade e te traz para a realidade. Mesmo sozinho, é preciso ter cuidado.As quadras e siglas podem parecer confusas para quem não está habituado. Mas é inegável: a sopa de letras e números, que em outros lugares chamam de endereço, não falha.

Já na produtora a constatação de que nada é tão simples. A percepção é a de que é preciso terminar o trabalho antes do dia amanhecer. Corro para o computador. Abro a internet. Navego e nada. De repente, me lembro do meu maestro Luiz Theodoro. É tarde, mas peço socorro.

-Lula, preciso de ajuda. Um brilho, uma vinhetinha, menos de um segundo. A idéia é o toque de um sino. Simples assim.
- Mas, para quando?
- Pra agora.
-Hum... Quase meia noite. Eu te mando como? Pela internet? Ok. Tô indo pro estúdio.

Viro a página e vejo o Deraldo ficar on line no Google Talk. Deraldo é um velho companheiro de estrada. Jornalista da TV Senado, documentarista de mão cheia com muitos trabalhos premiados e um vasto conhecimento de música, especialista mesmo. Isso agora, porque na época da faculdade, no Rio Grande Do Sul, ninguém suportava o Deraldo e o seu violão. Não por ele, nem pelo violão, mas pelo repertório único “A rosa de Hiroshima”, que tantas vezes varei noite ouvindo.

- Deraldo, me socorre (não que eu tivesse dúvidas do socorro do Lula, mas a experiência manda a gente ter sempre um plano B engatilhado para essas circunstâncias). Preciso de um brilho, uma vinhetinha, um som de um sino.
- Fala Maranhão, estou entrando no Orkut dos outros, o que você precisa?(entrar no Orkut dos outros à meia noite é a cara dele)
- Tá aí em cima, já te disse.
- Peraí. Vou ver o que posso fazer.

Os arquivos começam a chegar dez minutos depois. Como a chuva, que não pára. Primeiro os que o Deraldo enviou. Não resolveram, mas me acalmaram. Deraldo tem bom gosto musical. Superou a fase única da Rosa de Hiroshima. Em seguida, os do Lula. Nove arquivos de sinos. Como aqueles que tocam no final de “San Vicente”, do Milton Nascimento.

O dia está salvo. VT fechado, trabalho concluído. Missão cumprida. Volto pra casa sob chuva. No caminho, vou ouvindo Travessia, do Milton. Quem tem amigos musicais não morre sem trilha sonora.

Meu maestro, Alf e a brisa

Maranhão...
Como seu leitor (e exigente), entrei no seu blog e não ví o que procurava...
Ontem a música entristeceu...
O nosso Johnny Alf se foi...
Ele e a brisa...
O dia ficou feio a beça, cara!
Sei que há milhões de coisas importantes acontecendo...
Porém, uma das mais, pra mim, e sei que pra vc tbém, é que o grande Johnny se foi
E isso tá doendo pra ...!


Acabei de receber a mensagem aí acima.
Foi o meu "maestro soberano" Luiz Theodoro que me escreveu.
Justa cobrança, pra um descuido imperdoável.

Johnny Alf se foi e com ele, aquele jeito doce de cantar e seduzir.
Uma saída de cena que vai deixar saudade.
E, como diz o meu maestro, fez o dia ficar feio à beça!

E vai rolar a festa...

É como se houvesse dois mundos em Brasília. O político está vivendo um inferno astral. O placar: STF 9 X 1 ARRUDA. O governador na prisão há três semanas, sem perspectivas de sair. E uma frase como nunca houvera, dita pelo Ministro Ayres Brito, do STF, faz eco no eixo monumental e certamente provoca os instintos mais primitivos de todas as cabeças pensantes: “Dói na alma ver o governador sair do Palácio para a cadeia... Mas há quem chegue às maiores alturas para fazer as maiores baixezas”.

No outro mundo, indiferente aos abalos sísmicos provocados pela política, Brasília se transforma em eixo mundial da cultura. O mês de março “está bombando”, como diria a gurizada. E eu explico:

Uma rápida olhada nos jornais e a gente logo vê que vai rolar uma grande festa cultural. No Teatro Nacional, este fim-de-semana, tem a Companhia de Dança Débora Colker, na sala Villa-Lobos. Débora mostra a coreografia 4 por 4, criada em 2002.



Os mineiros do Skank estão de volta à cidade e mostram o show “Estandarte”, às dez da noite no Marina Hall. Só hoje. Zélia Duncan sobe ao palco do Teatro OI, hoje e amanhã, para mostrar o repertório completo do seu nono cd, “Pelo sabor do gesto”. Show e disco foram muito elogiados por público e crítica.

O filho do eterno síndico Tim Maia, Léo Maia, também desembarca na cidade para uma rápida apresentação, no Kapella bar do Clube Asbac. O músico vem acompanhado do diretor musical e guitarrista Cássio Calazans e mostra músicas do seu terceiro cd, “Sopro do Dragão”. O início do show está marcado para as dez da noite.

A Capital Federal também é a primeira cidade a receber a turnê da peça “As pontes de Madison”, história que fez sucesso no cinema com Meryl Streep e Clint Eastwood. A versão nacional tem direção de Regina Galdino e é estrelada pelos atores Marcos Caruso e Denise Del Vecchio. No teatro do CCBB, amanhã, às nove da noite e domingo, às oito da noite.



E pra fechar, quatro atrações internacionais: A-Ha, na turnê de despedida do grupo que marcou uma geração inteira, desembarca por aqui pra uma única apresentação no dia 16 de março, no Centro de Convenções.




O grupo inglês Franz Ferdinand mostra o repertório do disco “Tonight”, considerado pela revista Rolling Stone o melhor disco internacional de 2009. Uma única apresentação no dia 21 de março, no Marina Hall.


No domingo, é a vez do Guns N’Roses desembarcar em Brasília e dar início ao roteiro sulamericano da turnê mundial “Chinese Democracy” que está na estrada desde 2008. O show começa às 20h30, no ginásio Nilson Nelson. A abertura é de Sebastian Bach, ex-vocalista do Skid Row.

Por fim, o mestre BB King. Imperdível. O rei está de volta, dessa vez com a turnê “One more time”. Vai ser no dia 22 de março, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Não precisa dizer mais nada.





Não falei? É por essas e outras que se chega à conclusão de que Brasília, sua gente, seus sabores e seus amores são mesmos maiores do que qualquer crise. Como diria o poeta: Vamos (literalmente) tocando em frente.

quarta-feira, 3 de março de 2010

A dose que salva

Os blogs da Cris Guerra, publicitária mineira que já virou preferência nacional, são muito legais. Eles me atraem desde a primeira vez em que, estimulado pelos meus amigos de BH, visitei o “Para Francisco” e depois, inevitavelmente, fui parar no “hoje vou assim”.

De tanto ouvir falar da Cris fiquei com a sensação de que já a conhecia há muito tempo. Ler os seus escritos confirmou essa sensação. Viciei nos textos dela. Tanto que até ganhei um exemplar do livro “Para Francisco”, especialmente autografado pela Cris, graças à intervenção da Soraya, outra publicitária mineira, que estava lá no dia do lançamento.

Um dia Cris Guerra, falou sobre o filme “Once – Apenas uma vez”. E pôs lá um link, permitindo que a gente visse um trecho dele também. O efeito foi imediato: vi o trailer e fiquei com vontade de ir correndo ao cinema.
O filme irlandês, dirigido por John Carney, não é novo. É de 2006. Mas é uma preciosidade. Pela forma simples de falar de amor. Pela delicadeza com que retrata a esperança, o respeito, a admiração, a cumplicidade e a sintonia entre pessoas tão distintas.

Ele trata, enfim, de sonhos e desejos. Alguns que a gente alcança. Outros com os quais apenas sonhamos. Mas faz isso com a mansidão de quem ouve uma boa melodia. Aliás, a trilha sonora é visceral e surpreendente.

Não há mistérios na fórmula. Todo mundo compreende e são raros os que não se emocionam com a história. Como já havia saído de cartaz, não sosseguei enquanto não comprei a minha própria copia, por menos de R$ 20,00, (pasmem) nas Lojas Americanas.

Quem não quiser se dar ao trabalho de fazer uma busca insana em meio a centenas de filmes, pode passar em uma boa locadora da sua cidade. O esforço vale a pena, eu garanto. Lembrei desse filme hoje, acho, pelo cansaço do dia. Pela chuva que cai aqui em Brasília. E pela necessidade de manter a esperança, sempre. “Once – Apenas uma vez”. A dose de sensibilidade que salvou o meu dia.