terça-feira, 30 de março de 2010

Jornalismo e poesia


Boa parte do que aprendi a fazer no jornalismo de televisão vem da escola de Armando Nogueira (foto acima, arquivo Revista Época). Quando eu cheguei à Globo de Mato Grosso do Sul, no meio da década de 80, ele estava finalizando o projeto de Jornalismo das Afiliadas e estava prestes a passar o comando para o Alberico de Souza Cruz.

Foi nessa época também que tomei contato com Woile Guimarães, Raul Bastos, Wilson Serra, Luiz Gonzales, Pinheirinho e Celso Pelosi, que formavam a equipe de precursores desse novo modelo de jornalismo e que percorriam o Brasil ajudando a treinar as equipes que se integrariam em definitivo à rede nacional.

O desafio da TV Morena, afiliada da Globo era imenso. Não só produzir reportagens com qualidade, que pudessem ter interesse nacional. Mas era preciso romper com a barreira do trínômio pré-estabelecido, violência-contrabando-drogas. Coordenar uma equipe de jornalismo próximo da tríplice fronteira Brasil-Paraguai-Bolívia era sinônimo de pauta conflituosa.

Nenhuma cidade ou estado, nenhum povo, gosta de aparecer nacionalmente pelo estigma. E era assim que aconteciam as poucas entradas nacionais com notícias de Mato Grosso do Sul. Se não fosse pela tragédia, só restava o exótico.

Então, seguindo as novas orientações que nasceram na cabeça de Armando, passamos a experimentar um outro tipo de construção jornalística. Que mostrasse mais a cara do regional, que desse mais ênfase para o cotidiano e que encontrasse a beleza na informação local, a ponto de transformá-la em uma pauta nacional.

Quem deu os primeiros passos nessa direção foi a jornalista Ecilda Stefanello, que me levou para a TV Morena e a quem vim substituir na direção de jornalismo alguns anos depois.

Quando o ranking de emissoras foi estabelecido, um dos principais critérios da Globo para definir as posições de cada afiliada era o volume de produção de reportagens locais que entravam em rede nacional. A TV Morena estava nas últimas posições, entre as 30 emissoras que compunham o ranking.

Três anos depois, quando deixei a emissora, já na condição de diretor de jornalismo, havíamos subido na escala e o jornalismo da TV Morena frequentava agora as seis primeiras posições da rede. O período coincide com o aumento da importância das reportagens sobre a produção agropecuária, sobre ecologia, o aumento do interesse sobre o pantanal e a valorização da cultura regional.

De certa forma, o Brasil que começava a passar na TV se via com outros olhos. Com um pouco mais de orgulho pela identidade local. Esse formato de jornalismo pode não ter agradado a todos. Mas foi definitivo para fazer crescer os padrões de qualidade da TV Brasileira.

Na origem dele, estavam Armando Nogueira e Alice Maria. Armando, o mestre da palavra, me ajudou a compreender que é possível sim fazer um bom jornalismo na TV. E que é necessário não perder o encanto pela palavra. Ainda que na televisão uma imagem valha por mil delas. Ainda assim. O texto do Armando e a sua poesia vão fazer falta ao jornalismo.

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