sábado, 1 de abril de 2017

O som da mansidão



Caro amigo, Mário.
Meu maestro soberano, Lula.

Escrevo agora, depois de ter conseguido espaço e tempo para
digerir o som da noite de quinta. De quinta, nada, som de primeira,
noite de primeira.

Tudo contribuiu para uma noite de reencontro de amigos. Chuva, lá fora;
calor humano em farta monta, num espaço acolhedor, confortável e
harmônico. 

Meu abraço em Dona Isaura, na entrada da casa, foi mais do que um desejo de
boas-vindas. Foi como se tivesse abraçado cada um dos seus filhos e netos que compunham a cena, no palco. Ela estava radiante.
E não era por menos. Não haveria de ser.

Macarrão e Armando não são filhos, mas é como se fossem. No mínimo, irmãos. 

A música que sai da cabeça de vocês, antes de chegar aos nossos ouvidos, passa - inevitável - pelo coração. Quando chega aos instrumentos, vem carregada de um sentimento puro, de emoção viva, de raiz. Uma mistura bem dosada da brisa carioca com o ar das montanhas dos Geraes.

Recorro a Caetano pra dizer que encontrei ali "Miltons, Tons e seus tons geniais".
E chicos, e Edus, e Mários e Lulas...

Senti um orgulho besta de ver pais e filhos dividindo o palco, a luz e a inspiração.
Gabriel e sua troca de olhares com Lula revela intimidade única, que vai além dos teclados. Nos teclados, aliás, é quando a sua timidez explode em qualidade sonora.  

Artur (é assim que se chama o filho do Mário, né? Se não for me perdoem, mas falo do filho do Mário.) tem uma voz aveludada e comovente. Tão linda que faz esquecer o senho fechado e os gestos mínimos. Seu corpo é sua voz. E sua voz é tudo. Ponto. 

Julinha merece um beijo especial. A menina brasileira desabrochou mulher, na França, e voltou pra ocupar seu espaço. 

Um show de mansidão.
Obrigado pelo som de primeira, na noite de quinta. Som da mansidão. 

Um abraço.  

Maranhão Viegas 

Carta escrita ao Mário e ao Luiz Theodoro - este último, a quem me permito chamar de "meu maestro soberano - depois de assistir ao show de lançamento do primeiro CD de Mário Theodoro, na noite de quinta-feira, 30.03, no Teatro dos Bancários, em Brasília.

8 comentários:

  1. Nossa! fiquei com inveja de não ter ido a esse show (na verdade de não ter sabido que ele existiria) depois desse texto.

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  2. Muito grato, meu amigo!
    O show foi em homenagem às pessoas queridas...ou seja...tbem em sua homenagem!
    Luiz Theodoro

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  3. Foi mesmo impagável e imperdível, aliás não tem como pagar ou perder oportunidade como essa de quinta-feira. Foi lindo o show, é para que não passe o momento, transformei os discos do Mário e o do Luís em MP3 e hoje ouvi sem parar mas minhas caminhadas pelo parque.
    Paro para ouvir Dois Pretos e vejo como a Música Brasileira é forte e respira. Gde abraço de fã

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  4. Reforço cada palavra redigida neste blog.
    Cada citaçao a mais verdadeira e real.
    Só emoção! Refrigério para poucos! E deveria ser para todos!
    Como não ser contagiada pela "Dandara"? Entrou na alma como alguem conhecida.
    Parabéns!
    Esperamos nova oportunidade brevemente !!!!

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  5. Maranhão, voce é um az das palavras e da boa escrita. Com vc cada palavra, cada frase e cada detalhe vira um poema que transpira e transborda lirismo.

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  6. Maranhão Viegas, não o conheço, e você nem imagina o quanto o admiro por conseguir traduzir, em palavras, o que eu julgava intraduzível: toda a beleza, delicadeza, doçura, soando, ressoando, encantando e arrebatando ouvidos, olhos e corações extasiados e agradecidos pelo privilégio daquele momento único e inesquecível ...

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  7. Palavras maravilhosas, Maranhão! Um texto que traduz a importância da verdadeira música brasileira, principalmente a autoral.

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