quarta-feira, 27 de abril de 2011

Caroline, quando crescer

Caroline, hoje.

Corinne, hoje. Quem sabe, Carol - quando crescer.
Carol, filha de Isabel, minha irmã,cortou cabelo. Não sei se a negociação foi dura ou não. Mas ela que já era lindinha com os cachos compridos, ficou mais linda ainda, com os cachos curtos. O fato é que lá pelas tantas a Isa disse que ela havia ficado parecida com uma cantora inglesa, a Corinne Bailey Rae.

Carol olhou a imagem da moça e se convenceu do "parecimento":
- É mesmo, né mamãe! Tem foto dela pequena?

Não, não tem Carol. Mas quem sabe, olhando assim, a gente já tenha uma noção de como você vai ficar quando crescer, viu!

Pra comemorar esse raciocínio ingênuo e delicioso, curta aí a "Carol crescida", cantando um dos seus grandes sucessos.

Broken Bells - Vaporize

Pra começar bem o dia. Vídeo indicado por Albert Klink. Valeu, Albert.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Do blog pra MOC

Ontem, João Rodrigues deixou um recado pra mim: "Belo texto, no Jornal de Notícias, de Montes Claros!" Fiquei sem entender. João Rodrigues é um amigo, artista plástico fantástico, ex-secretário de Cultura de Montes Claros.

Sobre o João já falei aqui no blog. O conheci durante uma campanha política e a amizade ultrapassou os limites do tempo e do espaço.

Como o João não estava "on line" recorri a um outro amigo mostesclarense, o Flávio Colares. Flávio é um músico, disfarçado de bancário. Gente boa e profissional competente. Foi com a ajuda dele que entendi o que havia acontecido.

Tempos atrás, falei aqui no blog sobre a construção do beijódromo. Ideia visionária de Darcy Ribeiro, que a arquitetura de Lelé e a decisão politica da UNB transformaram em coisa real. Pra quem não leu, o texto está aqui.

Pois, neste fim de semana, o Jornal de Notícias, de Montes Claros, resolveu reproduzir o texto na sessão de opinião, na página dois. João me avisou. Flávio me mandou o arquivo. E eu, orgulhosamente, divido com vocês. Por Montes Claros, pelo Beijodromo, por Paulinho e por Darcy.


Reprodução pag. 2 Jornal de Notícias - MOC 

domingo, 24 de abril de 2011

Dias que voam

No início da década de 70, meu pai e minha mãe abriram uma pequena mercearia. Era uma forma de completar a renda da família. Ele, militar. Ela, professora. Meu avô, eu e meus irmãos tomaríamos conta do negócio. Mercearia Maranhão, foi batizada.

Era uma mercearia modesta. Plantada na Vila Paraguaia, em Foz do Iguaçu, local onde vivíamos. Ocupava a parte da frente do terreno onde estava a nossa casa. Era um negócio familiar. Construímos em conjunto, cada uma das peças da mercearia. O balcão, as prateleiras, a pintura das paredes, a colocação das lâmpadas e, por fim, a arrumação das mercadorias, tudo, teve a nossa participação direta.

Havia um pouco de tudo. E não demorou muito para que tivesse uma clientela fiel. Dessa época, me lembro que eu chegava da escola e ia tirar o meu turno de trabalho. Sobre o balcão frigorífico, onde estavam as bebidas e o leite pasteurizado em saquinhos, havia uma vara de madeira atravessada, sustentando um tesouro culinário sem par: lingüiças.

Lembro do cheiro e do sabor daquelas lingüiças como se fosse agora. Elas matavam a minha fome nas jornadas vespertinas. E guardaram um perfume eterno em minha mente. Hoje, vasculhando a internet, encontrei um texto sobre o fechamento de uma mercearia, em Lisboa. O texto está postado num blog que se chama "Dias que voam". Um cantinho delicioso da internet, onde costumo me alimentar de idéias e, desde já, recomendo a vocês.

As fotos da mercearia portuguesa (todas que ilustram este texto) me remeteram aos tempos da Mercearia Maranhão. As cores são outras, o lugar é outro, mas guardam uma identidade perfumada, capaz de provocar uma saudade e uma dor no peito quase impossíveis de descrever.

Velhos tempos, belos dias.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Uma vida em imagens

foto: Editora Taschen
Linda e Paul McCartney ficaram casados entre 1969 e 1998. O casamento só acabou quando ela perdeu uma batalha para o câncer. Dessa longa e inusual união, sobretudo no meio artístico, resultaram uma carreira de sucesso musical e três filhos: Mary, Stella e James.

Agora, a figura discreta de Linda recebe uma bela homenagem de Paul e de seus filhos. Um livro póstumo de fotografias. Linda McCartney: Life in Photographs, publicado pela editora alemã Taschen.

No final dos anos 60, Linda McCartney atuou como fotógrafa da cena musical. Com uma imagem de Eric Clapton ela se tornou a primeira mulher a ter seu trabalho publicado na capa da revista Rolling Stone, em 1968.

Foto: Editora Taschen
Linda também retratou ícones como Aretha Franklin, Janis Joplin, Bob Dylan e Jimi Hendrix. Bandas como Simon & Garfunkel, The Who e The Doors também estiveram na mira das lentes de Linda McCartney. Além, é claro, do quarteto de Liverpool.

Foto: Editora Taschen
Não deve ter sido fácil para Paul e seus filhos escolherem as melhores, num acervo que passa de 200 mil imagens. Mas a edição está pronta. O livro está a venda no site Amazon e também no site da editora Taschen, onde uma edição de 750 exemplares, limitada para colecionadores, numerados e assinados por Sir Paul McCartney custa R$ 1,6 mil.  As imagens que compõem o livro também serão exibidas em junho, em uma mostra em Londres.

Se você não quer esperar e nem tem uma viagem programada para Londres, pode matar a curiosidade e ver todo o conteúdo folheando o livro pela internet. Para isso, basta que você clique aqui.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Um dia lindo e uma canção de amor

Angelique Kidjo
O dia em Brasília amanhece lindo. Tão lindo que me fez lembrar um raciocínio de Gabriel, meu filho. É uma coisa boba, mas faz todo sentido quando dito assim, de repente.

Aconteceu um dia destes. Depois de uma longa sequência de dias chuvosos, fazíamos o nosso percurso matinal entre Sobradinho e o Plano Piloto. O dia se fez  bonito, tal qual hoje. Um colorido resultante da mistura das cores dos carros e das gentes, sob o sol. Um céu de brigadeiro, sem  nenhuma nuvenzinha pra manchar o azul. De verdade, um dia radiante, independente de que casa ele ocupasse na semana. Podia até ser uma segunda-feira e, ainda assim, ele estaria lindo.

Incontido diante daquela beleza toda, Gabriel soltou: "Está um dia tão lindo que dá vontade de viver!"

Pois, hoje o dia está tão lindo, mas tão lindo, que aumenta em muitas vezes a nossa vontade de viver. Por isso, e porque hoje é quinta com cara de sábado, divido com vocês um canto de amor que vem da África, sugerido pelo meu amigo Luca Maribondo.

É uma apresentação antiga de uma grande cantora do Benin, Anngelique Kidjjo. O vídeo foi gravado durante um show com as maiores expressões da música africana, para ajudar a campanha de combate à malária. A música fala de amor e tem legendas em inglês. É simples de traduzir, mas se você não sabe inglês, não importa. Não se preocupe. Curta a canção Mallaikka, que é linda por si só. Como o dia de hoje.


quarta-feira, 20 de abril de 2011

Vestida para festejar

Amanhã, Brasília faz 51 anos. Resisto à tentação simplista de associar a data ao slogan da cachaça. Brasília merece melhor trato. Então, recorro ao meu amigo fotógrafo, Ronaldo Ferreira, para fazer algo que julgo mais elegante e sincero. Uma homenagem simples a esta cidade, que acolhe a mim, a minha família e milhões de brasileiros, de todos os cantos deste imenso país. De forma simples e eterna (como o amor de Vinícius, infinito - enquanto dure).

Brasília, minha casa, se veste com "roupa nova", tecnológica, virtual, para festejar seu aniversário. É um respiro de alegria numa terra que, corajosamente, tem resistido a muitas provocações.

Na pausa para festejar, o olhar de fotógrafo do Ronaldinho capturou as imagens ai abaixo. Uma "senhora" Brasília. Do jeito que a gente sempre vai querer que ela seja. Na sequência de fotos, projeções sobre as curvas do Museu Nacional alteram a paisagem da noite monumental de Brasília. E fazem parte da campanha que defende que a abertura da Copa do Mundo de Futebol 2014, seja aqui na cidade.

Museu Nacional, com Catedral ao fundo.

Museu Nacional, Congresso ao fundo.

Museu Nacional e Ministérios ao fundo.


Brasilia, 51 anos. A copa começa aqui.


segunda-feira, 18 de abril de 2011

Novo hino da juventude portuguesa

A Pátria-avó já não é mais a mesma. Vive dias sofridos e de muita incerteza. No Clube de elite em que se tornou a União Européia, Portugal se vê na rabeira. Os males da grande união se mostram agora na forma dos fantasmas que assombram vários países do Novo/Velho Continente. Inflação, instabilidade política, desemprego, depressão.

Em meio a tudo isso, surge uma lufada de frescor no pensamento português. E vem de onde só se esperaria vir: dos jovens e dos artistas. A fusão dessas duas vertentes tem nome e causa orgulho, em Portugal: Os Deolinda.

Pra quem não sabe, a Deolinda é o nome dado a uma figura típica de Lisboa. Vive nos subúrbios, é uma mulher forte, tradicionalista e não perde uma boa telenovela. Sofre pelo seu time do coração, o Benfica e venera a diva do fado,  Amália Rodrigues, sem deixar de tocar no seu gramofone os discos de António Variações, Zeca Afonso e Sérgio Godinho (ídolos da nova música popular portuguesa). Solteira e boa rapariga, vive na companhia dos seus dois gatos e um peixinho vermelho.

Deolinda é tudo isto sem existir fisicamente. O projeto musical que deu origem à banda surgiu em 2006 quando Pedro da Silva Martins (guitarra clássica) apresentou quatro canções aos amigos que viriam a formar o restante do grupo, Ana Bacalhau (voz), Zé Pedro Leitão (contrabaixo) e Luís José Martins (guitarra clássica).

Estava ali, de imediato, reunida a concepção do que viría a se transformar em um fenômeno pop, um sopro de liberdade e renovação - Os Deolinda. Sobre eles, eu já falei aqui mesmo no Blog. Mas hoje, abro espaço para mostrar uma canção que virou Hino da nova juventude portuguesa: "Que Parva que sou". Poesia vigorosa e bem humorada, ao mesmo tempo, a letra retrata de forma fiel a perplexidade que paira sobre os juvens portugueses nesse instante de incerteza dos rumos.

Busquei uma versão que tenha legendas para que a música seja melhor compreendida. No dicionário, a palavra "parva" significa pessoa pouco inteligente, idiota. Com vocês, Os Deolinda. Vida muito inteligente, na nova música de Portugal.

domingo, 17 de abril de 2011

Quando a fantasia vira História

Cena da novela Cordel Encantado 
A Televisão brasileira, vez por outra, produz história. Neste exato momento, estamos vivendo um caso desses. Falo da novela Cordel Encantado. Um folhetim no mais legítimo estilo "Capa e Espada" que encanta pelo texto, pela imagem, pelo humor e pelo drama - tudo usado na medida correta.

No ar há uma semana, a novela me fez lembrar de um antigo professor, dos tempos da UNISINOS, de quem eu gostava muito, Francisco Diana Araújo. Araújo, como o chamávamos, era e continua sendo um dos meus ídolos. Foi quem me ajudou a enxergar o mundo da comunicação com ciência e com prazer.

Ele era apaixonado por telenovelas. Se ainda estiver vivo - espero que sim - certamente está com os olhos grudados na telinha, escrevendo suas críticas e análises, mas sobretudo, curtindo o espetáculo. Pois bem, o Araújo nos dizia sempre: "Vocês, estudantes de comunicação, tem obrigação de assistir TV com outros olhos. Enxergar além, com olhar de pesquisador, de especialista. Nada na televisão é de graça, é por acaso".

Como a novela vai ao ar às seis da tarde, horário em que o meu dia de trabalho ainda não terminou, programo a TV e gravo todos os capítulos para assistir antes de dormir, ou nas madrugadas, enquanto faço a minha corrida na esteira.

Thelma Guedes e Duca Rachid
A história escrita por duas mulheres, Thelma Guedes e Duca Rachid, traz para as nossas casas uma fantasia que reúne reis, cangaceiros, sertanejos, donzelas, megeras, e um par romântico formado por uma princesa - filha de um rei europeu; e um príncipe, filho de um rei do cangaço. Os dois, passam a infância distantes de suas famílias originais, se descobrem e se apaixonam na adolescência. E tentam reescrever um destino que, por outras vias, já está traçado.



Estão ali todos os ingredientes encontrados nos maiores clássicos da literatura ocidental - mocinhos, bandidos, poder, frustração, filosofia, religião, amor, ilusão, dor, humor e diversão. Reparem nos detalhes do figurino; na riqueza dos cenários; na qualidade da iluminação e na bela fotografia obtida com as moderníssimas câmeras F35,  que valorizam ainda mais as cenas gravadas na França ou no sertão de Sergipe.

Pra fechar essa conversa, não descuide da trilha sonora. É um espetáculo à parte. Reproduzo aí abaixo a abertura da novela, uma bela música interpretada por Gilberto Gil e Roberta Sá.

De tirar o fôlego

Bom dia, comunidade.
Começo o domingo perdendo o fôlego com as imagens produzidas pela equipe da BBC, para a série "Human Planet". Cheguei até ela graças à indicação do Renzo Vasquez. Sem perder tempo, achei que devia partilhar com vocês. É impressionante e desafiador. Prepare-se.

sábado, 16 de abril de 2011

Bailes, moças e medidas

O Clube era o mesmo de cinco anos antes. Mas, dentro dos vestidos e ternos havia outros rostos, menos  conhecidos. Bernardo havia resistido um pouco à ideia de ir ao baile. Mas foi, convencido pela família. Seu receio se confirmara em quinze minutos de festa: nenhum dos amigos de antigamente estava lá. Resignou-se.

Tudo ali era muito igual. A decoração, o palco; até as músicas, por vezes, eram as mesmas. Varrendo o espaço com  olhar, ele viajou no tempo. Lembrou que os carnavais da primeira adolescência foram passados quase todos naquele lugar. E recordou as inúmeras voltas que deu no salão, ao som das mesmas marchinhas de sempre, pulando de mãos dadas com as colegas de turma, naquele espaço que antes parecia enorme. "O tempo aumenta a distância e encolhe as medidas", concluiu.

E, como num filme, foi-se lembrando de quase tudo daquele período. O uniforme  da escola - camisa branca e calça bordô - uma ousadia para os padrões clássicos da época. As matinês do Cine Star, sempre às quartas e sábados. O bom mesmo era chegar uma hora antes do filme. Para trocar revistinhas. Ele mesmo lera uma coleção quase inteira de TEX, só na base da troca.

De repente, a viagem no tempo se interrompe por conta de uma imagem real. Ele acabara de enxergar o Nêgo. O amigo mais errado, mais encrenqueiro, mais causador de confusão da escola. E o Nêgo, que também parecia estatr desparceirado no baile, não economizou euforia ao encontrá-lo. Os dois engataram uma conversa rápida de reconhecimento: onde estavam, o que faziam, em poucas frases, puseram a vida em dia. E constataram - nenhuma menina da turma havia restava na festa.

Mal terminaram o raciocínio e avistaram a Lígia, sentada do outro lado do salão, na mesa da família. Um sopro de esperança. O baile, afinal, poderia render alguma coisa. Mas, por ser a única, Lígia estava alçada à condição imediata de objeto de disputa. Uma música lenta começou no exato momento em que os dois disputavam o privilégio do convite à Lígia, na porrinha.

Quando Bernardo ganhou a disputa, a música já ía pela metade. Atravessou o salão, olhando pra trás, só pra provocar o Nêgo.  Chegou à mesa da Lígia com um sorriso no canto da boca e muita humildade. Estratégia que nunca falhou nos bailecos da escola. Convidou-a pra dançar. Ela o reconheceu e disse não. Simples, assim. Ele gelou. Olhou pra trás. O Nêgo, lá de longe, só olhando.

O frio na espinha resgatou-lhe à memória os antigos bailes juvenis. A turma de meninos de um lado. A de meninas do outro. Os meninos sem coragem para arroubos individuais, combinavam uma investida em grupo, um atrás do outro. Cada um determinado a tirar para dançar uma das meninas da rodinha. Quase que invariavelmente, quando o primeiro menino não parava na primeira menina, como combinado, nenhum dos outros que vinham atrás parava também. Era um fiasco. Muitas festas terminaram sem que o "trem da felicidade" entrasse nos trilhos.

Pois, ali, a situação exigia um outro final. Porque o tempo passara. Porque a história era outra. Porque não havia outros atrás, na fila, com quem dividir a frustração do "toco". E, por fim, porque o Nêgo estava olhando e percebendo que algo estava para dar  muito errado.

Encheu-se de coragem e pediu de novo, quase em súplica - "Dança comigo, vai..." Nesse momento, o pai da Lígia intercedeu e fez com que a moça aceitasse o convite. Bernardo agradeceu. A música estava do meio pro fim, mas não importava. Ela olhou firme em seus olhos e disse: Eu avisei que eu não queria dançar com você. Enquanto falava, saía da cadeira em que estava sentada e crescia, "para o universo e além", na frente dele.

Isso mesmo. A Lígia crescera muito mais que ele. E só parou de subir quando a cabeça dela estava dois palmos acima da dele. E a dele, incomodamente, estacionada entre os seios dela. Ela depositou as mãos nos seus ombros. Ele, envolveu a cintura dela com as mãos e procurou não fazer movimentos bruscos. Dançou a dança mais difícil da sua vida. Até que a meia música, que parecia não ter fim, terminasse.

Antes de sair do clube, refez o raciocínio sobre o tempo: "Ele aumenta as distâncias e encolhe as medidas. Não as da Lígia".

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Manu Chao - Me gustas tu

Pra fechar a noite de sexta. Manu Chao. Me gustas tu.

Diários da África - De volta pra casa

*Suzi Theodoro

Estou voltando pra casa certa de que cumpri minha tarefa. Tenho a sensação de que poderia ter feito mais. Mas, é possível que este ainda não seja o tempo adequado. As mudanças só ocorrem, quando o ambiente está pronto para elas. Desejo sinceramente que tenha deixado uma semente de esperança, de uma vida melhor para o povo angolano. Como disse meu parceiro de viagem de ontem (aquele senhor, considerado o "pai da geologia", de Angola): A terra é grande, mas o mundo é pequeno. Então é melhor dar tempo ao tempo.

Hoje, mais do que em outros momentos, vi dois mundos na África. Um é aquele que já conhecemos. De miséria, necessidades e, mesmo assim, de esperança e alegria. O outro, um mundo da fantasia. Isto me dá a certeza de que a África ainda precisará de muito tempo para ser soberana.

Se antes era a mão de obra escrava, depois exportadora de recursos naturais, agora é o petroleo. Quando se vê na perspectiva da geopolitica, não é possivel ter esperanças. Falta muito tempo para o povo da África se libertar de fato.

Por algum tempo, a mama África ainda será dilapidada pela cobiça. Apesar disto, ou talvez por isto mesmo, ela seja tão linda. Não sei bem descrever este tipo de beleza. Existe, em cada africano que conheci (não só aqui, mas no Quenia, em Camarões e na África do Sul) há uma postura de altivez e paz interior, que não consigo perceber em nenhum outro povo do mundo.

Pode haver um pouco de romantismo de minha parte, que sempre tende para o lado do mais frágil. Sei lá, é a sensação que tenho. O povo é lindo, como é linda a menina que ilustra esse texto. E como têm esperança de uma vida melhor e mais digna! Suas danças, sorrisos e arte mostram que ainda esperam por um mundo mais justo. Talvez, por isto, suas crianças sejam tão lindas.

Enfim, parto com o coração em paz. Acho que vim trabalhar e tentar deixar um pouco do meu sonho e desejo de ver um mundo melhor e mais fraterno. Mas, também, vim me conhecer um pouco mais, através do olhar dos africanos.
 
*Suzi Huff Theodoro
Geóloga da Petrobras, pesquisadora adjunta sênior da UnB e PhD em gestão ambiental e desenvolvimento sustentável.

Luz e sombra


O traço, um fino fio
um assobio no ar
as curvas de um dia cheio
tem nuvem solta, acolá

Voltar enxergar o céu
redondo ou retangular
tirar da lua o horizonte
na forma que imaginar

Chiaroscuro
contraste
tua luz
teu doce vestigio
bem longe
a me iluminar

(Poesia de Maranhão Viegas, para foto de Ronaldo Ferreira)

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Diários da África

* Por Suzi Theodoro
Baobá africano - foto Suzi Theodoro
Já são 2h20 da manhã e enfim cheguei à casa do meu amigo Paulo, depois de uma incrível aventura geológica. Hoje tive um lindo dia angolano. Já não sinto mais aquela angustia com o que relatei ontem. Vi outra Angola.

Fomos (dois professores, um aluno de mestrado e eu) para o sul (cerca de 300 km), sempre perto da costa do Atlântico, em uma viagem de campo de geologia como há muito eu não fazia. Martelo, marreta, máquina fotográfica, GPS e um carro digno do Magaiver (só faltava falar) ou seria dos stronbarries (Júlia, minha filha deve se lembrar bem dessa referência. Não é mesmo, Júlia?). O cenário era o mesmo.

Peguei meu chapéu, repelente, água e mochila e lá fui para mais uma aventura na savana africana. Vi falésias, superfícies lunares (erosivas), espelhos de falha, dobramentos e, por fim, os basaltos, meus favoritos, em todas as suas formas. Terminamos com os solos derivados dos basaltos, que por incrível que pareça, têm o mesmo cheiro do solo do sítio, lá no Rio Grande do Sul. Quase comi um pouco para ver se eram iguais (geofagia).

Vi tudo que tinha direito e ainda com o privilégio de ter a companhia do “pai da geologia” de Angola, um senhor muito simpático, com os seus 70 e tantos anos, que conhece em detalhes cada feição geológica deste país. Isto sem contar as histórias da guerra pela independência e depois, na guerrilha contra a UNITA.

Ele é tão importante para o país, que o presidente lhe deu o tal carro que eu citei lá em cima, que só falta falar. Ele foi, durante 20 anos, o chefe do departamento de geologia da Universidade Agostinho Neto. Ele foi o único professor de geologia da Universidade durante alguns anos, de modo que dava todas as disciplinas. Do primeiro ao último semestre. Repetiu isto durante quatro ciclos de alunos. Um senhor sem dúvida encantador com tantas histórias e conhecimentos.

Ah sim! E tão importante quanto tudo isto foi ver o Oceano Atlântico pelo lado de cá. Lindo e azul. Ai, lembrei da menina Feliciana. Lula, como ela deve ter sofrido de saudades. (Comentário do Maranhão - Liguei para o Lula agora mesmo pra saber quem era a “menina Feliciana”. Pensei que fosse alguma menina africana que ele e Suzi tivessem acolhido por algum tempo. Em poucas palavras, Lula me contou. Feliciana era a tetravó dele. Relatos de família contam as circunstâncias em que ela deixou a África e chegou ao Brasil, dando início à saga da família. Era o auge da ação dos mercadores de escravos e seus navios negreiros. Um dia, um desses navios estava sendo carregado. O capitão, enquanto aguardava, enxergou uma menina brincando com a sua mãe, na areia da praia. Era Feliciana, ainda criança. Encantou-se com ela. E decidiu levá-la como "brinde", separando-a definitivamente de duas mães – a biológica e a África.)

As praias daqui são lindas, mas não há pessoas tomando sol ou coloridas, como nas nossas praias. O que achei mais interessante foi olhar o mar do outro lado. O meu senso de direção me avisava que precisava olhar para leste, mas lá estava o imenso oceano a me mostrar que eu havia mudado de lado. Também vi muitos e imensos baobás (como o da foto, lá em cima). São majestosos.

Vi pessoas que moram no interior. São incríveis. Sempre nos dirigem um olhar de curiosidade e um imenso sorriso. As mulheres carregam seus filhos nas costas e levam grandes trouxas de roupas na cabeça. São tão magrinhas e dóceis, mas ao mesmo tempo, tão fortes e imponentes (como as da outra foto, nesse texto).

A viagem de campo me fez bem. Posso dizer que em determinados momentos deste dia, estive próximo ao ponto da comunhão plena e absoluta com a terra. Eu estava no meu elemento, fazendo o que mais gosto.

*Suzi Huff Theodoro

Geóloga da Petrobras, pesquisadora adjunta sênior da UnB e PhD em gestão ambiental e desenvolvimento sustentável.

Fogaréu

Pra incendiar a quinta-feira: Hermanos, irmãos. Fogaréu.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

A páscoa dos meus dias.

*Por Mariza Poltronieri

Dizem que tudo que faz parte da vida de uma gestante também faz parte da vida do bebê que ela carrega. Pesquisas à parte, minha mãe me concebeu, pariu e criou dentro de um restaurante. Talvez, meu amor pela culinária venha daí. Estava sempre pertinho das panelas, dos seus cheiros e sons quando remexidas por colheres ou trepidadas por alimentos borbulhantes.

Conta a lenda que eu, recém nascida, ficava encaixada em uma gaveta da cozinha, reservada para guardar o pão. Tal qual um berço improvisado, aguardando entre uma mamada e outra, entre um fritar e um cozer. A quarta de uma fileira de seis filhos já não era uma novidade, não custava nada esperar.

Dentro deste restaurante passei, junto com meus irmãos, a melhor infância. Um mundo absolutamente diversificado de pessoas e comportamento. Não dava para ser igual afinal, quem vive um restaurante sabe que nós pertencemos a ele e não o contrário.

Habitavam aquele restaurante pai, mãe, irmãos, empregados. Tudo era muito: muita gente, muito trabalho, muito cansaço e muita diversão. Tudo que é muito guarda inúmeras lembranças. Das lembranças, a mais peculiar eram as festas dos dois únicos dias de folga absoluta. Um restaurante nunca fecha, é a regra da hospitalidade. Deve-se guardar os dias santos, é a regra da fé católica.

Somar as duas coisas só era possível em duas datas: Natal e Sexta-feira da paixão. O engraçado, que mesmo não existindo mais o restaurante, ele impôs uma regra que se perpetua até hoje.

Na primeira das datas, comemoramos a ceia do dia 24, antigamente para que todos pudessem descansar no dia seguinte; na segunda data fazemos o almoço com as tradições peculiares, somente peixe e uma tentativa de contrição, exigência da celebração que se impõe ao dia. Somente tentativa, pois bacalhau convida para o vinho e, convenhamos, não dá para ficar sério com tanto prazer.

Seria mais fácil nos manter sérios com pão e água o que seria heresia para uma família gourmet. Este é o momento da confusão. Imagine para uma Mama de 81 anos ver todos os filhos rindo e se prostrando de sono um em cada sofá e nada de ir à igreja?

Lembro bem que lá na infância meu pai dizia que todos estávamos perdoados. Uma família que ri junto está bem perto de Deus. Acho que minha mãe sabe disso, mas tanto quanto rir, o folclore familiar faz parte deste céu.

Espero que cada um possa do seu jeito perpetuar uma ou muitas histórias. Vejo pelos meus filhos e sobrinhos, quão confortável e aconchegante é o folhetim de nossa família. Eles amam reviver repetidamente nossa história. Prova que o passado ainda pode ser revivido com amor e leveza.

Feliz Páscoa!

Ofereço uma receita com cara de Brasil. Um bolo de bacalhau ao molho de camarão com leite de côco. Um pecado que só pode ser espiado se você for feliz.

Aproveite.

Bolo de Bacalhau ao molho de camarão com leite de côco

Ingredientes da Massa:· 1 kg de bacalhau salgado· 1 kg de batata baroa (mandioca salsa)· 1 litro de leite· 1 cebola picada· 2 dentes de alho picados· 6 ovos inteiros· Sal e pimenta-do-reino a gosto· Azeite para refogar.

Ingredientes do Molho:· 1 kg de camarão de tamanho médio· 4 tomates italianos sem pele e sem sementes· ½ maço de coentro picado· 100 ml de azeite de oliva (para quem gosta pode por ½ a ½ azeite de dendê)· 2 dentes de alho picados· 1 litro de leite de côco· 1 cebola picada· Sal a gosto· 1 pimenta dedo-de-moça sem sementes picadinha.

Modo de Fazer a Massa· Retire a pele do bacalhau e coloque-o de molho em água abundante na geladeira, por 48 horas, trocando-a seguidamente.· Cozinhe o bacalhau em nova água por cerca de 5 min, ou até ficar macio, retire as espinhas, desfie.· Em uma panela, aqueça um pouco de azeite e refogue o alho e a cebola. Incorpore o bacalhau, mexendo por alguns minutos, desligue o fogo e reserve.· Descasque e cozinhe as batatas no leite com uma pitada de sal, amasse ou passe por um espremedor para obter um purê. Acrescente o bacalhau desfiado e misture até a massa ficar homogênea. Prove o sal e a pimenta, ajuste se necessário. Espere amornar.· Bata os ovos inteiros e misture à massa.· Coloque em fôrmas refratárias individuais, tipo ramekin ou em uma forma de bolo grande, untadas com manteiga e farinha de rosca e leve ao forno médio, pré-aquecido, por mais ou menos 20 a 30 minutos ou até dourar na superfície. Desenforme e sirva com o molho.

Modo de Fazer o Molho· Refogue a cebola e o alho no azeite de oliva, junte o camarão, acrescente os tomates e tempere com o sal e a pimenta picadinha. Após 5 minutos de cozimento, junte o leite de côco e cozinhe em fogo baixo, por mais 10 minutos, com a panela tampada até ficar cremoso. Desligue o fogo e acrescente o coentro. Mexa bem e sirva.

Como montar os pratos individuais:· Desenforme cada bolinho sobre o prato de servir. Coloque um pouco de molho em torno do bolinho. Enfeite com ramos de coentro e sirva.

*Mariza Poltronieri é culinarista em Maringá, PR. E tem espaço garantido aqui, para escrever sempre que quiser, sobre alquimia gastronômica. Ou, sobre o que ela desejar.

terça-feira, 12 de abril de 2011

O olhar de Suzi para a mãe África

Minha amiga Suzi Theodoro desembarcou em Angola faz poucos dias. Suzi, em verdade, foi primeiro amiga de Mara, na época em que as duas estudavam Geologia, na UNISINOS. Mara mudou para a Comunicação. Suzi seguiu o caminho das pedras, ou das rochas, como costumam me corrigir.

A distância e a mudança de rumo não as separou. Continuaram amigas. E continuam até hoje. Num determinado momento da vida, se reencontraram. Desta vez, casadas. Suzi me apresentou o meu maestro soberano, Luiz Theodoro. Mara também me apresentou, jornalista, a eles. E o que eram dois, viraram quatro.

Um pouco dessas nossas histórias já rolou aqui. Com o Lula, as músicas que fizemos em parceria. Com a Suzi os textos e comentários que volta e meia aparecem. Agora, como havíamos combinado, ela entra em cena como autora de textos/reportagens. Direto de Angola. Suzi e o seu olhar brasileiro sobre a mãe África.

Angola seria um prato cheio para você, Maranhão. Um jornalista com um olhar mais atento, com viés político forte e uma percepção das questões sociais aflorantes, não poderia deixar de ver que a mama África (Angola) é uma terra de contrastes impossível de ser imaginada no nosso Brasil.

Tenho frequentado dois mundos. Dos negros (Angolanos, nem por isto pobres) e dos brancos (estrangeiros), sempre ricos para os nossos padrões.

Acho que por conta das diferenças tão brutais, ainda não consegui articular as palavras certas para descrever o que vejo. Luxo e lixo fazem parte da mesma face da mesma moeda neste país.

O presidente quer recuperar os anos de guerra e fazer a infraestrutura que o povo precisa e merece. 50 em 5, me dizem os angolanos (professores). Os chineses e a Oldebrech constroem estradas, rodovias, aterros, condomínios e viadutos, mas o povo ainda está morando miseravelmente (muitos).

Sinceramente, meu coração está apertado com o que vejo (e já vi misérias terríveis em Camarões e no Quênia). Mas nada se compara a Angola. Mercedes, ferraris, toyotas e o povo nas candongas (o transporte publico/privado daqui - são lotações azuis, que não respeitam nenhuma norma de segurança - são táxis coletivos) .

Vocês podem pensar que estou em transe, ou que bebi uns copos a mais (só tomei dois). Mas, não. É uma realidade que me choca mais do que outras porque Angola também é Brasil .Temos a mesma mãe, ou seria Madrasta?

Falamos a mesma lingua, temos o mesmo suingue, a mesma facilidade de improvisar e as mesmas deficiências. Mas somos como gêmeos que foram separados (pelos portugueses e pela deriva continental), que se transformaram em adultos totalmente distintos. Já não somos iguais.

Espero poder mandar ( na próxima mensagem) fotos dos baobás, das lindas morenas e dos jovens tímidos, mas ao mesmo tempo soberanos, que tenho visto em relances de olhar.

Grande beijo para vocês.
 
Suzi Huff Theodoro
Geóloga da Petrobras, pesquisadora adjunta sênior da UnB e PhD em gestão ambiental e desenvolvimento sustentável.

Hermanos, irmãos - o Clip

Camilo, Jerry e Teixeira - Hermanos y irmãos
Eles vivem ali, "na fronteira onde o Brasil foi Paraguai", como diz o verso de Paulinho Simões, na música Sonhos Guaranis. De tanto beber da fonte cultural fronteiriça, misturam sem se dar conta os sotaques e timbres. Sua produção não cabe em rótulo algum. É música natural. São hermanos e irmãos.

Guardadas as devidas proporções e ressuscitando um velho hábito de percorrer novos caminhos em busca de outros sons (por terra ou pela água), eles refizeram sobre rodas o que a Comitiva Esperança - de Almir, Paulinho e Zé Gomes - fez no passado, do jeito possível - puxados por bois, de canoa ou a cavalo.

Marcio de Camilo, Jerry Espíndola e Rodrigo Teixeira pegaram a estrada. Percorreram terras e nascentes, lagos e montanhas, cerrados e planícies levando sua música e colhendo inspiração. Uma música que tem a cara da fronteira e o coração do pantanal.

Aí embaixo, o trecho final dessa nova aventura musical. Hermanos, irmãos.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Brasília, em poucas linhas

Jane Resina, minha amiga e advogada, me liga pedindo um roteiro básico, para conhecer um pouco de Brasília, em algumas poucas horas entre desembarcar de Campo Grande, fazer uma escala e embarcar novamente, rumo a Lisboa. Penso que não dá para fugir do óbvio. Mas até o óbvio, bem visto, é interessante. E me arrisco num roteiro/poesia.


Querida Jane.
Brasília é uma cidade linda.
Nasceu planejada, sonhada, desejada.
Nasceu de uma ousadia em forma de cruz e se criou borboleta ou avião. Depende do jeito de quem a vê.
Nao importa. Importa que, de qualquer lugar de onde se esteja, é possível contemplar o horizonte.

Pra uma passagem rápida, como a sua, algumas coisas não podem faltar. Aconselho o seguinte: Saindo do aeroporto, creio que o melhor é visitar a Catedral. Ela estará aberta e servirá para muita coisa. Para deslumbrar os seus olhos e para abençoar seu caminho. É o mínimo. E só precisa um pouco de fé.

Depois, vá direto ao memorial JK. Lá estão os vestígios mais vivos do fundador. Seu corpo - longe de ser morto - carrega toda a história dessa terra. Em volta dele, a própria história. As fotos, os papéis, os cantos reproduzidos da casa onde viveu, os livros. Dona Sara também está lá. Com seus vestidos miudinhos e elegantes, com a força de uma mulher sagaz. Os croquis, os planos vencidos, a história em fotos. Tudo está lá.

Depois, uma passada na Praça dos Três Poderes lhe dará a idéia de como se faz esse país. Com sonhos, desencantos e novos sonhos. Um debate constante. O exercício da dialética entre os poderes. E o país vai tomando forma. Às vezes, rápido. Outras vezes, nem tanto.

Dai, creio, já será tempo de sentar-se para comer e ver mais uma vez o horizonte. Corra para o Pontão do Lago Sul. Sente-se à vista do lago. Enxergue a terceira ponte e seus arcos, os barcos, sinta-se em outro lugar. Pois, isto também será Brasília.

Mate a fome e a sede. E rume de volta para o aeroporto. Portugal, a patria mãe, que um dia nos virou as costas, hoje lhe espera de braços abertos.

Um beijo.
Boa viagem!

Green door

Renzo Vasquesz me escreve, de Londres, avisando: Green door está pronto! A nova aventura cinematográfica deste amigo de longa jornada é uma poesia dançada.

Como ele mesmo explica, o filme tenta estabelecer um diálogo entre o cinema e a dança. A fórmula que Renzo e Sílvia Razuk empregaram deu certo. Mais do que um "filme-dança" como eles definiram, digo que é um filme poesia.

Green Door é o resultado de uma pesquisa em dança terapia e foi criado pela dupla brasileira em parceria com a bailarina ítalo-belga Neda Ponzoni. Os teóricos dizem que a "dança terapia" consiste na exploração dos conflitos e contradições do ser humano.

No caso deste filme, há mais equilíbrio que contradições. Mais harmonia que conflitos. Vale a pena gastar os próximos cinco minutos para começar bem a segunda-feira.


green door - dance film from Renzo Vasquez on Vimeo.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Yo no buscaba nadie y te vi!

Mara foi um desses encontros casuais em minha vida. Tão casual que dura até hoje. Tá certo, o tempo e a longa estrada mudaram muita coisa. A vida nos fez mais compreensivos e mais cúmplices. Não menos bonitos, apesar de mais envelhecidos. A esse amor comportado chamam maturidade.

Eu sempre acreditei nela. Ela, por vezes, duvidou de si mesmo. Mas essa mulher, que lá atrás cruzou o meu caminho, me fez viver um amor imenso, se mostra capaz de superar os limites, toda vez que eles, os limites,  a provocam.

Ontem, o melhor dela surgiu pra mim em forma de letras. O melhor que eu sempre vi. Ontem, suas linhas me visitaram, no melhor estilo. Frases curtas, poucos parágrafos e uma vida inteira passada a limpo. Ela, outra vez, está renascida. Eis a Mara, que eu me orgulho de dividir com vocês.

Acho que acontece com muitos de nós. Véspera de aniversário e a gente cai na tentação de dar uma espiadinha no passado. As lembranças correm como num filme acelerado. Afinal, são 52 anos em segundos.

Da infância, ficaram as imagens de amigo invisível, vestidos engomados, brincadeiras em apartamento. Só aos 6 veio a rua, espaço nem sempre permitido, mas sempre desejado. Cercada de meninos, sobrou a indignação de saber que bem na minha vez acabaram os “canudinhos” e eu nasci assim.

Da adolescência, vieram os experimentos, as dúvidas e muitos dos melhores amigos que ainda tenho. Colégio interno (misto, graças a Deus!), risadas, frustrações e muitos planos para o futuro que já estava bem ali.

A faculdade. O grande encontro. O amor da minha vida. Um olhar, meia dúzia de palavras, uma garrafa de cachaça e outra de vinho, um frio de gelar os ossos e uma cama. Tudo no mesmo dia. Há 28 anos.

O universo conspirou a meu favor e me emprestou dois dos seus melhores exemplares. O primeiro veio 5 anos depois do grande encontro. O segundo, aos 9. São a minha melhor parte.

Mal botei um pé nos “enta” e um diagnóstico teimava em mudar o rumo da prosa. “Nem pensar”, decretei. Em charme e osso, desbanquei o maldito. Mas a vida profissional deu dois passos para trás. Não me importei, ganhei outros rounds. Mais 6 anos e novo desafio. “Já tenho know how, não vai ser dessa vez”. Deu certo de novo.

Mais 6 anos e os planetas alinhados ordenaram: “coragem, mulher! Agarra essa nova oportunidade na vida e arrasa!”

Há três meses venho juntando tudo que já aprendi para continuar aprendendo. Todos os dias são como uma lufada de vento, como uma chuva morna de verão que refresca algo sedento e cansado.

Às vésperas de 52, estou mais apta para fazer um pacto com a felicidade. E para ter a certeza de que o melhor ainda está por vir.

Mara Viégas
Quase ex-marinha 51 – uma boa idéia!


Daqui a poucos minutos, ela é 52. Beijo, meu bem. Feliz aniversário!
 

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Tiros em Realengo

Será uma longa noite para as famílias de Realengo.
Para os brasileiros, de forma geral.

Aqueles tiros, aqueles gritos, a imagem daqueles meninos
e meninas apavorados diante da morte
vão ficar ecoando por um bom tempo em nossas mentes.

Hoje, o país tropical,
abençoado por Deus e bonito por natureza
quebrou mais um cristal.

Hoje, o Brasil tornou-se um pouco mais igual
às sociedades intolerantes e cruéis.

Hoje, tingimos com o sangue de inocentes
uma página da nossa história.

O dia mais sombrio dos últimos tempos
vai demorar a passar.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

O bem imaterial de Gabriel

O dia mal amanhece e desperto com um aviso de texto novo no blog do Gabriel. Para um aprendiz de escritor, como eu, não há presente melhor. Paro tudo, as análises, a política, os compromissos. Ler Gabriel de manhã cedo é uma satisfação.

Há um bocado da gente nos filhos. E eles são capazes de fazer melhor, sempre. Melhor do que transferimos em conhecimento, em beleza e sensibilidade. Por isso, com o maior orgulho, divido com vocês essa leitura que ajudou a fazer o meu dia ficar melhor.

Dia Longo Dia


O dia já não começou bem, como de praxe peguei engarrafamento e cheguei atrasado na aula. Até aí ainda consigo relevar. As aulas de hoje seguiram normalmente. O problema não era a aula, era a chuva. Ontem, por acaso, encontrei com uma amiga minha do tempo de ensino médio e decidimos almoçar juntos. Eu chamaria todos os nossos amigos em comum que estudam na UnB e faríamos um grande almoço para matar a saudade. Prometido e feito. Mas esqueci de avisar São Pedro.

(O que você acabou de ler é só o primeiro parágrafo, só para aperitivar. O texto inteiro, eu aconselho leitura, está lá no blog dele: Gabriel, por ele mesmo. Arrume um tempinho e passe lá. Você vai curtir. Tenho certeza.)

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Quando Mariana nasceu

Quando ela nasceu, eu tinha 26.
Por mais que eu estivesse esperando,
por mais que eu tivesse planejado,
era impossível saber como ía ser.

Ela nasceu e a minha vida mudou.
Então, passei a perceber as letras
com as quais eu escrevia,
as cores que pintavam o meu branco
o cinza do raiar do dia
o verde, em volta da lua

Assim, ela chegou em mim,
como um sol num quintal
e nunca mais a vida foi a mesma.
Há vinte e três anos

Todo dia que esse dia chega
ele é novo.
E vem com um sorriso largo
como o dela, Mariana.

A minha Mariana.

Jesus numa moto

O texto sobre trilhas sonoras de comerciais rendeu. Rendeu boa conversa e outros bons textos. Célio Calmon, Mauro Di Deus, Margarida Marques, Marcia Braga são alguns dos que se animaram a escrever e alimentar as idéias sobre "liberdade, jeans e Zé Rodrix". Só por isso já vale a pena a gente ir buscar algo mais, algo além do que os comerciais e as trilhas sonoras encomendadas.

Porque, como diz a Marcinha, antes de partir para as trilhas comerciais, Zé fez muitas outras coisas. Lindas e marcantes, como essa que está aí abaixo, num vídeo em que o trio - Sá, Rodrix e Guarabira - reunido, outra vez, celebrou a longa estrada de sucessos. Viva, Zé! Viva, sempre.

Liberdade velha, azul e desbotada

*Marcia Braga

Sá, Rodrix e Guarabira
Zé Rodrix, antes de abandonar a carreira musical para se dedicar aos jingles, criou coisas belíssimas que as novas gerações desconhecem. Mas a propaganda da calça USTop deixava muita gente irritada, por ser uma apropriação de uma ideia de luta. Aliás, procedimento que a indústria cultural realiza com muita competência.

A frase: "desbota e perde o vinco", no final da propaganda, não poderia ser mais genial. Era um apelo aos diretamente envolvidos, digamos, com a contracultura. Rodrix rendeu-se aos encantos do sistema? Precisava sobreviver? Sei lá! Se a liberdade, em tempos de ditadura, era uma calça velha, azul e desbotada, posso quase afirmar que muita gente pensava que era desabotoada.

Quanto à música "Casa no campo", dentro desse contexto, perde seu carater bucólico, natureba, e se transforma numa espécie de louvação ao individualismo. Em outras palavras, e que tudo mais vá pro Inferno.

Já James Dean (1931/1955), que alguns podem suspirar de saudades por representar o descontentamento de uma geração em completa perplexidade (fim da Segunda Guerra Mundial; Guerra Fria; divisão do mundo em dois blocos), é outro produto feito exatamente para representar o que representou, além de vender calças, motos, carros e jaquetas, é claro. Afinal, só triunfam os vencedores, que são, não por acaso, aqueles "predestinados" ao sucesso, que continua tão insano quanto o fracasso. Ou será que o capitalismo foi criado para nos dar felicidade e não vender mercadorias?
 
*Marcia Braga é jornalista e professora do curso de Jornalismo da FUNORTE, em Montes Claros, Minas Gerais. Sua auto-definição é um poema: "Meia dúzia de palavras sobre a minha origem: sou mineira de BH, jornalista e artesã, de palavras e objetos".

Margaridas e Ciclames

*Eliane Oliveira di Quarto

Caro Maranhão!

Leio o blog. Te sigo! “Seo” Lúdio se foi. Afloram-me lágrimas. Será culpa dos hormônios endoidecidos com a gravidez e a amamentação? Assim acredito. Leio do seu encontro com o passado depois de uma noite em que muito pensei no meu passado. A penumbra e o silêncio da madrugada, durante a amamentação, propiciam. Será por isto que esta noite sonhei tanto com a Gilmara. Levantava pra alimentar a minha pequena, voltava pra cama e o sonho recomeçava de onde tinha parado.

Sonhei o meu passado. Os tempos em Campo Grande, as pessoas que me apontaram um caminho. Faço tesouro daquele tempo. Sonho o meu futuro. Cheguei aos 42. Já se vão quase 11 anos em Milão, uma mudança de vida drástica guiada pelo amor. Ainda hoje as pessoas admiram-se: "cosa fai una brasiliana qui? Il Brasile è cosi bello!! " Olho para os meus filhos e emerge a certeza de que aqui terminarei os meus dias. Quem me conheceu quando cheguei, e me acompanha ainda hoje, costuma dizer que sou mais italiana do que brasileira. Em quê não sei. Minha mãe não cansa de dizer: "Ah, menina!! Você já virou italiana."

A mudança será cotidiana. Então, quase imperceptível. Para o Andrea sou sempre a "brasileira". Penso em tudo no último minuto. Deixo tudo para amanhã. Confio sempre que de um modo ou de outro se faz quase tudo. Para os brasileiros tornei-me super organizada, hiper pontual, exigente com o tempo dedicado à mesa, quase alemã na educação dos meus filhos. Tamanha diversidade de pensamento aquece meu coração. Quer dizer que nem sou, assim, tão menos brasileira. Nem sou, assim, tão italiana.

Neste percurso o matrimônio e a maternidade. Um novo idioma e uma janela para o mundo. Tudo contribui para uma nova alma. Esforço-me para regar as duas, como quem rega as margaridas no verão e os cíclames no inverno. Não é de todo mundo possuir duas almas. Cuido "só" para que convivam bem. Cuido em não transcurar um privilégio.

Faço tesouro, também, desta conquista. Um tempo que se faz a cada dia, a cada aurora. Um sopro quente se vai. Um sopro quente vem e os sonhos nunca dormem.

Faz-se dia! Conto ao Andrea o sonho que recomeçava sempre do mesmo ponto e ouço: "Che cosa strana! A me non succede mai. Peccato!" Preparo o café da manhã, visto o Lorenzo para a escola, amamento a Sophia.

Que seja abril!

*Eliane Oliveira di Quarto é uma querida amiga, jornalista, brasileira, radicada há muitos anos em Milão, na Itália. Eliane é casada como Andrea,  editor italiano; e mãe de Lorenzo e Sophia (que aparece agarradinha com ela, na foto aí ao lado). Eliane escreve aqui, sempre que quiser e sobre o que quiser.

domingo, 3 de abril de 2011

Sobre liberdades e calças jeans

James Dean - a rebeldia em pessoa e sua calça Jeans
Célio Calmon, um amigo jornalista com quem trabalhei na TV Senado e de quem tenho muita saudade, rompe o silêncio, vence a distância e me manda notícias, provocado pelo texto que escrevi sobre as trilhas sonoras produzidas por Zé Rodrix. Diz o Celinho:

Bela música, Maranha, sobre medo. Gostei também muito da viagem no tempo com os comerciais do José Rodrix. Só que falar que liberdade é usar uma calça velha, azul e desbotada em plena ditadura é no mínimo uma afirmação politicamente incorreta. Será uma metáfora do Zé Rodrix ou era só isso que restava pra gente sem liberdade como todos nós, usar uma calça azul, velha e desbotada??? 

Provocado pelo Célio, passei a pensar na hipótese de um protesto dissimulado na trilha do comercial de TV da calça US TOP, exatamente no período mais duro do regime militar brasileiro. Não me parece ter sido essa a idéia. Nem penso que fosse apenas esse o canal de comunicação que nos restasse (aos sem liberdades), na época. Mas, como a poesia é livre, não ouso descartar essa hipótese.

Certa vez, li uma entrevista do Zé Rodrix em que o repórter perguntava a ele sobre as circunstâncias em que ele e Tavito teriam escrito "Casa no Campo", música que tanto sucesso fez  na voz da Elis Regina. O repórter queria saber se a letra traduzia a verdade de um desejo deles.

Como alguém que quebra um mito, ele disse friamente que não. Que inspirou-se na poesia, nada ligado à realidade de uma casa de campo ou algo assim. Apesar disso, milhões de pessoas que gostam dessa música, quando a ouvem, costumam fazer uma viagem bucólica e imaginam o cenário descrito na letra como algo a ser vivido, como ideal de realização.

Pensando no que o Célio escreveu, me lembrei de outra música, escrita por Silvio Rodrigues e interpretada magistralmente por Pablo Milanes - os dois, músicos cubanos de primeira qualidade. A música chama-se "Unicórnio Azul". E descreve de forma poética um instante de perda, de saparação.

Como os dois são cubanos, há aí uma carga emocional que permite vastas interpretações. Os românticos,  dizem que a letra se refere à perda de um grande amor; os engajados, dizem que é uma metáfora sobre a perda da liberdade; outros falam sobre a morte, o fim de uma amizade. De fato, a poesia permite toda e qualquer interpretação. Nenhuma está errada. Nenhuma é a mais correta.

Há, entretanto, uma  interpretação para o sentido dessa letra que estabelece um elo inevitável com o começo da nossa conversa, sobre o texto do Célio. Segundo essa versão, "Unicórnio Azul" era a marca de um jeans muito usado em Cuba. E a música então seria, em verdade, uma ode à peça que um dia, deixada no quarador, foi perdida, sumiu, desapareceu.

 Como se vê, Celinho, na poesia, há espaço para tudo. E em sua homenagem, resgatei uma interpretação magistral de Pablo Milanes para esta música. A qualidade da imagem não está lá essas coisas, mas vale pela beleza da música e pela emoção do intérprete.

Sem medo de estar vivo

O medo é uma linha que separa o mundo...
O medo é uma casa que ninguém vai...

Medo de decir...
de encontrarce...

Assim, enfrentando o medo de estar vivo
e de acontecer em minha completude,
quero adormecer
para poder começar
o domingo em paz.

sábado, 2 de abril de 2011

Aquela música do anúncio

Não faz muito tempo, descobri um blog português especializado em revelar as trilhas sonoras de anúncios comerciais. É uma idéia interessante. Quantas vezes a gente assiste um comercial de TV e fica mais impactado pela música do que, necessariamente, pelas imagens ou pelo produto anunciado?

No Brasil, há exemplos históricos. Quem, por exemplo, não se recorda das trilhas sonoras produzidas por Zé Rodrix - sim ele mesmo, o integrante original do trio "Sá, Rodrix e Guarabira"? O Zé compôs algumas das mais emocionantes trilhas sonoras para comerciais, como os da calça "US Top".



Ou, quem não se lembra - evidentemente, para os que já viam TV nos anos 70 - de um clássico comercial da Pepsi-cola, em que ele mesmo puxava o coro de um refrão que ficou na memória de uma geração inteira: "só tem amor quem tem amor pra dar..."



Claro que há muitos e muitos outros exemplos. Quando a gente começa a puxar pela memória, eles vêm inteiros e vivos. Mas hoje vou ficar com o vídeo que me chamou a atenção no blog português.  A trilha foi usada no comercial de um produto da Loreal, que tem a Cláudia Schiffer como personagem principal. Quem quiser ver o anúncio e conhecer o blog, basta clicar aqui.

A trilha sonora é do grupo The Temper Trap e basta clicar no link abaixo para assistir o vídeo delicioso. Pra fechar a noite de sábado e começar o domingo.