domingo, 3 de abril de 2011

Sobre liberdades e calças jeans

James Dean - a rebeldia em pessoa e sua calça Jeans
Célio Calmon, um amigo jornalista com quem trabalhei na TV Senado e de quem tenho muita saudade, rompe o silêncio, vence a distância e me manda notícias, provocado pelo texto que escrevi sobre as trilhas sonoras produzidas por Zé Rodrix. Diz o Celinho:

Bela música, Maranha, sobre medo. Gostei também muito da viagem no tempo com os comerciais do José Rodrix. Só que falar que liberdade é usar uma calça velha, azul e desbotada em plena ditadura é no mínimo uma afirmação politicamente incorreta. Será uma metáfora do Zé Rodrix ou era só isso que restava pra gente sem liberdade como todos nós, usar uma calça azul, velha e desbotada??? 

Provocado pelo Célio, passei a pensar na hipótese de um protesto dissimulado na trilha do comercial de TV da calça US TOP, exatamente no período mais duro do regime militar brasileiro. Não me parece ter sido essa a idéia. Nem penso que fosse apenas esse o canal de comunicação que nos restasse (aos sem liberdades), na época. Mas, como a poesia é livre, não ouso descartar essa hipótese.

Certa vez, li uma entrevista do Zé Rodrix em que o repórter perguntava a ele sobre as circunstâncias em que ele e Tavito teriam escrito "Casa no Campo", música que tanto sucesso fez  na voz da Elis Regina. O repórter queria saber se a letra traduzia a verdade de um desejo deles.

Como alguém que quebra um mito, ele disse friamente que não. Que inspirou-se na poesia, nada ligado à realidade de uma casa de campo ou algo assim. Apesar disso, milhões de pessoas que gostam dessa música, quando a ouvem, costumam fazer uma viagem bucólica e imaginam o cenário descrito na letra como algo a ser vivido, como ideal de realização.

Pensando no que o Célio escreveu, me lembrei de outra música, escrita por Silvio Rodrigues e interpretada magistralmente por Pablo Milanes - os dois, músicos cubanos de primeira qualidade. A música chama-se "Unicórnio Azul". E descreve de forma poética um instante de perda, de saparação.

Como os dois são cubanos, há aí uma carga emocional que permite vastas interpretações. Os românticos,  dizem que a letra se refere à perda de um grande amor; os engajados, dizem que é uma metáfora sobre a perda da liberdade; outros falam sobre a morte, o fim de uma amizade. De fato, a poesia permite toda e qualquer interpretação. Nenhuma está errada. Nenhuma é a mais correta.

Há, entretanto, uma  interpretação para o sentido dessa letra que estabelece um elo inevitável com o começo da nossa conversa, sobre o texto do Célio. Segundo essa versão, "Unicórnio Azul" era a marca de um jeans muito usado em Cuba. E a música então seria, em verdade, uma ode à peça que um dia, deixada no quarador, foi perdida, sumiu, desapareceu.

 Como se vê, Celinho, na poesia, há espaço para tudo. E em sua homenagem, resgatei uma interpretação magistral de Pablo Milanes para esta música. A qualidade da imagem não está lá essas coisas, mas vale pela beleza da música e pela emoção do intérprete.

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