quarta-feira, 26 de maio de 2010

Por falar em futebol...

Gabriel, meu filho, há dias insiste para que eu veja a propaganda inteira da Pepsi Cola. Ele tinha razão.

A propaganda é pueril. Magistralmente bem feita. Boa direção, bom roteiro, bons atores e um cenário magnífico.

Não tem como não apreciar. Até os que só bebem coca cola são obrigados a tirar o chapéu.

Taí o link. é só clicar e saborear.

O cara da camisa amarela

Acabo de ver o jogo do Cruzeiro contra o Botafogo. E não tive como não voltar no tempo ao ver o time mineiro entrar em campo com camisas amarelas. Lembrei do Raul Plasmann. Raul foi goleiro do cruzeiro por 12 anos a partir da segunda metade da década de 60, no século passado.

A primeira vez que entrou em campo usou uma camisa amarela. O jogo era contra o maior rival, o atlético, e a camisa que ele teria que usar, do goleiro a quem iría substituir ficou pequena.Raul pediu uma emprestada ao lateral esquerdo, Neco. Uma camisa amarela.

Raul entrou em campo surpreendendo a todos com a quela camisa. Na época, os goleiros eram figuras sizudas. Vestiam preto, azul marinho ou cinza. Muitos o chamaram de ridículo. Sua camisa amarela passou a ocupar a mídia. Duvidaram até da sua masculinidade. Por muito tempo, ele teve que conviver com um apelido jocoso de “Vanderleia”, a musa luora da jovem guarda.

Mas Raul foi um jogador à frente do seu tempo e fez mais. Sua pinta de galã fez encher os estádios com outra novidade: a torcida feminina. Raul resistiu ao preconceito e a todos com a competência de ser um dos maiores guarda-metas que o futebol brasileiro já teve.


Hoje, assistindo aquele cruzeiro amarelado e lindo, fico pensando comigo mesmo: os tempos evoluíram. Raul deve estar morrendo de rir.

sábado, 22 de maio de 2010

tocando em frente

(poesia de Maranhão Viegas para ilustração de Lesley Barnes)


Transformar verso em música
reverso em melodia

tocar
todos os dias
a vida como um
instrumento

soprar sem sentir dor
o tom
impreciso
incerto
e encantador

viver é uma arte

tocar a vida
é reger em harmonia
mil instrumentos
ao mesmo tempo
e ainda fazer
poesia

Vidas Paralelas

(Da série, mulheres de minha vida)

Recebi um e-mail de uma amiga que pede reservas quanto à identidade, mas autoriza a publicação do conteúdo da mensagem. E a publicação vale. É uma espécie de declaração de amor incondicional.

Conheço as duas. A autora da mensagem e a amiga a quem ela descreve. E posso atestar, são amigas, quase irmãs. E vivem como se tivessem sido separadas no berço.

Cada uma a seu modo, construíram o que a que escreve chama de “vidas paralelas”. É a única coisa da qual discordo. Porque, nas ciências exatas, as paralelas não se juntam. Na vida real, estas duas mulheres nunca se perderam. Nem pelo tempo, nem pela distância. Seguem firmes e dão mostras de que, como paralelas que contrariam as leis, se cruzam num ponto de fuga e nunca se deixarão. Eis o texto. Boa leitura.


(artes de Lesley Barnes e Ivana Resek)

Minha amiga e eu somos daquelas parceiras com quem tudo pode ser dito e feito.
Já somos amigas há mais de 30 anos. Apesar das muitas coisas em comum que temos, somos incrivelmente diferentes.

Ela é gremista roxa e eu sou colorada desde pequeninha;
Ela não come nada que tenha alho e eu não sei comer nada que não seja temperado com alho.

Ela nasceu sob um signo regido pelo ar e eu pela terra.
Ela gosta de plantar flores e eu hortaliças. Ela é ousada e sonhadora e eu sou precavida e vivo os dois pés no chão. Ela é jornalista (mais para as ciências sociais) e eu sou geóloga (mais para as ciências exatas). Ela diz que prefere trabalhar com os políticos e eu odeio minha função de assessora parlamentar.
Ela casou com um cara expansivo e eu com um introspectivo. Ela optou por dedicar seu melhor tempo para a função de mãe e eu, apesar de me achar uma boa mãe, sempre me esforcei para ser uma profissional reconhecida.


Ao longo destes tantos anos de amizade, houve períodos em que quase não nos víamos ou não tínhamos notícias uma da outra. Mas tínhamos a certeza de que se uma precisasse de um ombro, a outra sempre estaria ali, pronta para escutar, opinar, chamar a atenção ou se indignar pela tristeza da outra.

Sem saber das escolhas pessoais, vivíamos fazendo coisas parecidas (até as bobagens). Ela saiu do Rio Grande para construir uma vida diferente em outra região e eu também. Ela passou maus bocados para vencer um câncer no seio e eu no útero.Ela tem uma filha linda e decidida e eu uma filha encantadora e valente. Ela tem uma irmã muito parceira e eu tenho uma irmã muito protetora. Ela deu o nome de Gabriel ao seu filho, e eu, no ano anterior, já havia tido o meu Gabriel (e não é que nossos garotos precoces passaram no vestibular, ainda no meio do terceiro ano? além de arcanjos são inteligentes).

Vivemos tantas coisas diferentes nestes anos, cada uma com seu destino e acabamos as duas nos encontrando e morando em Brasília. Tivemos tantas experiências incríveis e frustrantes, ainda que separadas ao longo destes anos, mas não deixamos de sentir amor e respeito pelas opções uma da outra.

Apesar desta grande amizade, nós ainda reservamos espaço para muitos(as) outros(as) amigos(as), que mesmo sendo únicos e importantes, nunca ocuparam o lugar especial em que nossa amizade se estabeleceu.



Somos tão parecidas e com afinidades tão profundas que até a morte destas novas amigas, também muito queridas, acontece no mesmo tempo. Um dia eu liguei aos prantos porque havia perdido uma grande parceira intelectual e também uma pessoa incrivelmente querida, a quem eu dediquei os mais sinceros e fraternos sentimentos de amizade.

No dia seguinte ela me liga chorando muito, porque também perdeu uma grande amiga.
Desta vez, apesar da coincidência, a perda foi brutalmente diferente. Ela perdeu a amiga para a morte, por causa de um câncer lento, mas letal. Eu perdi a amiga para a vida, por uma destas causas que não se escolhe, apenas se deve acatar.
A amiga dela lutou bravamente pela vida, mas antes da morte, lhe deu a oportunidade de uma despedida em que selaram o compromisso de continuidade em outras esferas de existência.


A minha nunca precisou lutar por nada nesta vida, apenas usou de artimanhas que lhe garantiam o sucesso e o acesso ao afeto. Diferentemente da minha amiga de anos a fio, eu não tive despedida, mas uma interrupção abrupta, sem necessárias explicações ou possibilidades de perdão.

Minha amiga e eu ainda estamos tristes. Uma pela perda definitiva e arbitrária decida pela mão do destino e, a outra, pela incompreensão dos fatos, escolhas e traições, decidida pela mão da cobiça.

Felizes, tristes, frustradas, ousadas ou serenas, assim tem sido nossas vidas, com eventos e acontecimentos inevitáveis, que nos tornam mais solidárias e solitárias. Nós sabemos que muito provavelmente não é o destino que determina quem entra nas nossas vidas, mas são as atitudes que determinam quem fica.

Não sabemos sobre o nosso futuro, mas o conhecimento do nosso passado nos dá a certeza da continuação desta fraterna amizade. E é por isto, que apesar de diferentes, somos tão iguais.


quinta-feira, 20 de maio de 2010

Intuição de pai

(arte de Carmen Silva)

É quando a gente recebe sinais de que algo vai acontecer. Em alguns casos, a gente percebe detalhes. Comigo é assim. Quando a intuição vem tenho poucas escolhas. Quando ignoro a intuição, quase sempre, arco com as conseqüências.

Hoje, bem cedo, tive uma intuição. Fui atrás dela. Mas não fui inteiro. Cuidei da primeira parte da intuição e descuidei do resto. Fiquei esperando. Quando a minha intuição se confirmou foi um impacto. Um grande susto. Mas a consequência foi menor do que poderia ter sido. Para a minha sorte.

Era bem cedo da manhã. Corri pro cantinho da cozinha onde estão as imagens de um Santo Antônio e de um Santo Onofre. Acendi uma vela e agradeci a proteção. E jurei não descuidar mais das minhas intuições.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Roberto y Liliana


Antes de conhecer Roberto Alem Rojo, conheci Liliana Bayá. Que sempre foi apaixonada por ele. Eu e ela nos encontramos na faculdade. Ela, arquitetura; eu, jornalismo. Era o começo dos anos 80, no Sul do Brasil. E nós dois éramos os bichos estranhos, os animais de zoológico no meio da gente sulista. Ela, nascida na Argentina e criada em Cochabamba, na Bolívia. Eu, nascido no Maranhão e, desde os primeiros dias de faculdade, identificado pela minha origem nordestina.

Nós dois éramos referência para análise de tudo. Nas aulas de Sociologia, depois das apresentações dos mestres, abriam espaços para conhecer a visão do nordestino e da andina.

Na aula de Cultura Brasileira, a mesma coisa. Na de Deontologia, lá estávamos nós, outra vez. E assim foi até que ficamos amigos. Liliana já tinha a Tessay. Mais tarde, teve a Aimê, duas filhas, nenhuma com o Roberto. A esta altura, ele, já circulava entre a América Latina e a Espanha como um jovem cineasta.

Formado em cinema pela escola de Cuba, Roberto casou-se (não com Liliana) teve um filho, Andrés (o primeiro que aparece à esquerda, na foto em preto e branco, aí embaixo), aprendeu a fazer filmes e guardar amores. Aliás, o amor dele por Liliana esteve recolhido por muitos anos. Pelas diferenças políticas de uma família e de outra. Separados ideológica e geograficamente, eles seguiram se amando em silêncio. Até que se encontraram de novo, no início dos anos 90.

Ela e ele haviam terminado casamentos anteriores. O amor entre os dois prosseguia a ponto de superar o tempo, a distância... a ponto de superar as ideologias e imposições familiares. Livres das amarras, uniram-se para viver uma grande história de amor.

Conheci Roberto algum tempo depois. Ajudei-o a vencer o medo do Brasil, país que lhe havia roubado a amada por quase dez anos. Nos tornamos amigos de infância. Meu primeiro trabalho com ele foi a tradução de um documentário que ele havia feito no “Salar del Uyune”, uma imensa área de sal petrificado no alto da Cordilheira dos Andes.

Traduzi o roteiro original com a ajuda da Flora Akatsuka e dirigi a versão brasileira, apresentada por Kiko Ribeiro. O documentário foi levado ao ar, primeiro, pela TV Educativa de Mato Grosso do Sul e, depois, enviado à TV Cultura de São Paulo para exibição em rede nacional.



Nos anos 90, por duas vezes, eu e Mara estivemos com eles em Cochabamba. Foi um tempo curto e delicioso, com manhãs de sol aos pés da cordilheira nevada e noites de intenso frio e chá quente. Eles estiveram em nossa casa pelo menos duas vezes também. E se aventuraram em uma curta temporada brasileira, em Santa Catarina, quando a situação política e econômica da Bolívia empurrava os seus filhos para o êxodo.

Somos compadres. Durante a faculdade, ajudamos a cuidar da Tessay, que se tornou uma veterinária reconhecida e respeitada na Bolívia. Quando Aimê, a filha mais nova de Liliana, nasceu, viramos padrinhos de verdade. Aimê lhes deu certamente o presente mais estimado nestes anos todos: Zoe, uma netinha que ocupa permanentemente o imaginário amoroso de Roberto e Liliana, como um novo fôlego ao tempo que passaram distantes um do outro. Somo isso tudo, mas somos, essencialmente, amigos.



No final do ano passado, um dos filmes de Roberto, um documentário sobre os conflitos de 11 de janeiro de 2007, que convulsionou a Bolívia, colocando frente a frente campesinos, políticos, cocaleiros e irrigadores, foi selecionado para a 4ª Mostra Cinema e Direitos Humanos e exibido em 16 capitais brasileiras.



Roberto me escreve dizendo que, como prêmio pela participação, assinou um contrato com a TV Brasil que vai permitir a exibição, em rede nacional, deste seu novo trabalho. Sem dúvida, uma oportunidade para ver como anda a mão cinematográfica do meu compadre. E para tê-lo por perto, mais uma vez.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Do campo para a História

Mauro di Deus é um pesquisador por natureza. Desses que não sossega o facho. Vira e mexe, Maurinho sai com outra novidade que, invariavelmente, guarda um conteúdo de memória.

Sua memória, aliás, é fonte permanente de inspiração para meus textos. Foi ele quem me contou a história do painel do Athos Bulcão, no salão verde da Câmara dos Deputados.

Ontem ele me escreveu para falar do seu mais recente desafio: escrever um livro sobre a vida do deputado federal gaúcho, Adão Pretto.

Nas palavras do Mauro:

“Adão era um descendente de italianos, pequeno e de olhos azuis. Tinha pouca instrução escolar. Foi alfabetizado aos 18 anos lá na pequena Miraguaí no interior do Rio Grande do Sul. Era pequeno agricultor e sacodiu o país com a mais expressiva mobilização de agricultores e de sem terra que o Brasil ainda não tinha experimentado.

Em plena ditadura militar, a partir de 1979 começaram por ocupar a Fazenda Macali, depois a Anoni e em 1981 liderou milhares de pessoas acampadas na Encruzilhada Natalino clamando por terra para produzirem. Os milicos mandaram o coronel Curió para acabar com movimento. Não conseguiu! Ficaram, ocuparam e estão lá até hoje produzindo alimentos de qualidade. E dessa mobilização surgiu, também, o MST.

Adão, um dos principais líderes foi escolhido por esse e por outros movimentos que então se organizavam para representá-los e, nas eleições de 1986, foi eleito deputado estadual. Em seguida os pequenos agricultores, os sem terras, as mulheres campesinas, os atingidos por barragens e outros movimentos, o elegeram por 5 vezes consecutivas deputado federal. Adão foi um exemplo pungente de coerência e de luta. Morreu de uma pancreatite em fevereiro de 2009 no meio do quinto mandato.”


Para contar essa história, Mauro fez, há alguns dias, uma incursão ao interior do Rio Grande do Sul. Conversou com amigos, parentes, políticos que conheceram Adão de perto.

“Foi um mergulho profundo na história recente dos movimentos sociais que ajudaram o país a sair do obscurantismo para a fase democrática em que hoje vivemos. Muitas histórias, muitos depoimentos, muita emoção.

Em breve - o livro está agendado para ser publicado final de outubro de 2010, aqueles que se interessam pela história dos homens públicos que fazem a diferença nesse país, poderão conhecer um pouco mais sobre quem foi Adão Pretto, o pequeno agricultor de Miraguaí que se transformou em um grande deputado brasileiro.”


Na foto abaixo, feita pelo Mauro, o marco na Encruzilhada Natalino, onde o Adão Preto começou a deixar de ser um pequeno agricultor para se transformar em um protagonista da História recente do Brasil.

O primeiro Rally a gente não esquece


Alene Lins, jornalista de quem já falei aqui neste blog, me escreve contando as aventuras do seu primeiro Rally. Foi vítima do deslumbramento com as coisas e paisagens que rodeiam esse tipo de esporte.

Claro, por isso, deixou a competição em segundo plano. E já decretou: certamente, terá sido o primeiro e o último rally do qual participa.

Seu olhar de jornalista está mais atento à poesia do que à velocidade. Mais afeito à paisagem do que ao troféu. Mas a aventura dela vale a pena ser lida. Está lá, no blog que ela mantém, pra que ninguém corra o risco de esquecê-la tão logo.

domingo, 16 de maio de 2010

Filhos, como não tê-los?



Dizem que os filhos somos nós, melhorados em algumas vezes. Estou chegando à conclusão de que, sim, eles são mesmo. Tenho dois. Mariana, que faz cinema; e Gabriel, que faz farmácia.

Mas, em casa de jornalista, filho que não escreve nasceu do avesso. Por isso, os dois escrevem e muito bem. Constatei isso há pouco tempo. E me emociono sempre que encontro algum escrito dos dois.

Ontem, Gabriel, que já administra um blog, o "Gabriel por ele mesmo", me fez mais uma surpresa. Fez um perfil. Sem saber ou sabendo. E de uma forma brilhante, construiu a sua imagem e semelhança, percorrendo ruas, espaços, condomínios, escolas e cidades onde viveu, nestes seus dezoito curtos anos de vida.

Monta um jogo de palavras instigante. Constrói imagens que sozinhas não existem, para contar o que vem sendo a sua vida.

É emocionante lê-lo. O texto conciso reproduz uma vida inteira. As frases bem escolhidas, os nomes milimetricamente postos, vão fluindo em um texto que tem DNA. Me vejo lá, aos dezoito, muito melhor do que eu fui.

Por isso, a minha alegria de lê-lo. Por isso, não dá pra ficar guardado. Com vocês, Gabriel Franke Viegas. Diamante, em estado puro. A caminho da lapidação. Pra meu orgulho, pra minha alegria.



Gabriel

Gabriel durante onze anos morou sob Las Palmas de Antônio Bicudo. Nessa época conheceu pessoas que, como ele, também moravam nas mesmas condições, encontrou tantas outras conforme a Harmonia da vida lhe mostrava. Aprendeu, com Professor Xandinho, que amizades podem durar anos e vencer distâncias.

Tinha medo de mudanças, mas isso é inevitável durante a vida. Saindo do olhar de Bicudo foi cair nas graças de Dona Gardênia. Como numa batalha, a vida lhe pôs na "avant garde", fez amizades com vários guerreiros que ao seu lado lutavam. Pouco tempo se passou até retornar às mãos de Antônio, menos tempo até que seguiu viagem com uma comitiva para desvendar os mistérios do Planalto Central.

Brasília tem fama de ser uma cidade moderna, mas quando chegou conheceu pessoas antigas: Juscelino Kubitschek e Leonardo da Vinci. Morou em um Sobradinho e se informatizou com a W3.

Em Brasília tudo é diferente, até os aviões: pode-se pisar nas asas, entrar na cabine do piloto, falar no celular e embarcar e desembarcar a qualquer hora.

Gabriel ainda é jovem é tem muito o que viver, mas enquanto isso pega uma carona no plano do piloto e deixa a vida acontecer.


Pela amostra, dá pra ver que o moleque tem "pedigree". Então, os que quiserem, podem visitar o "Gabriel por ele mesmo". E curtir, na origem, as idéias dele.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Estrelas na manhã de sábado




Meu programa para este sábado, 15.05, se estivesse em Belo Horizonte, seria ficar na fila pra pegar um livro autografado do Maurilo Andreas, o cara do pastelzinho. O lançamento do livro dele, "Todas as Estrelas do Mundo" é uma das atividades da Agenda Cultural Página 1.

O projeto da Página 1 é bem legal. E começou no dia primeiro de maio, com a manhã de autógrafo de uma outra grande amiga mineira, a Cris Guerra, que conversou sobre moda, sobre internet e sobre a experiência de escrever o "Para Francisco".

Infelizmente, não vai dar pra ir. Mas quem é de BH e ainda está sem programa para a manhã de sábado, está aí uma boa dica.

De qualquer forma, já combinei com o Maurilo. Vou comprar o meu livro na Cultura. Vou saboreá-lo e, na minha primeira ida a Minas, não escapamos de um encontro. Pro autógrafo e para ser apresentado pelo Maurilo ao Mercado Central de Belo Horizonte. E ele já assumiu esse compromisso comigo.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Quase aqui

Fazia tempo que eu não falava com Ana.

Me lembro que o nosso distanciamento foi natural, como a nossa aproximação. Nos conhecemos produzindo texto, repartindo idéias, falando de filhos e desdobrando a vida, cada qual do seu jeito.

O tempo tratou de nos deixar quietos. Até que estes dias, com o MSN ligado, recebi a informação de que ela estava on line. A nossa distância, a minha curiosidade, me impulsionaram a clicar sobre o nick dela.

Ao lado de sua imagem havia o endereço de um blog. Outro clic. Quase lá. Esse é o nome que ela deu à sua aventura virtual. Não um quase lá de não ter conseguido, como ela mesma explica. Um quase lá de proximidão, de acontecência, de alcançamento (como diría Manoel de Barros).

O texto da Ana continua o que sempre foi, delicioso. O reencontro me deixou emocionado. Da mesma distância de sempre, mas muito mais próximo e acolhedor. Ela tem coisas lindas, como sempre imaginei que tivesse. Na sua quietude, na sua discrição.

Ana Teresa é publicitária, em Campo Grande, MS. Donana, como ela assina no blog, é uma mulher do mundo, sem cercas e bem próxima de alcançar os cinquenta, como eu. Por isso, e porque vocês merecem conhecê-la melhor, vamos quase lá. Sejam bem idos.

Vou postar aqui um dos meus preferidos. Os outros, vocês podem ir beber na fonte.

Quase Feliz




Há dias, assim, como hoje,
de céu azul e ar fresco,
em que tudo parece possível.
Até reconquistar sentimentos perdidos,
que sempre estiveram à espera de uma segunda chance.
(Arte de Marc Chagall)

Força estranha

Hoje, correndo os olhos pela blogosfera, encontrei um vídeo produzido por Sean Stiegemeier (esse cabra exótico aí ao lado), um diretor de cinema e fotógrafo com espírito de adolescente e técnica de veterano.

Em um curto texto no seu site, ele explica que olhou todas as imagens feitas deste vulcão, de nome impronunciável, na Islândia, e imaginou que poderia fazer melhor.

Pegou seu equipamento, enfrentou as dificuldades naturais para chegar até lá. Lamenta ter perdido as primeiras erupções e a lava incandescente. Mas o dia e meio que teve, de tempo bom e boa luminosidade, lhe permitiu fazer essa maravilha de filme.

Faltam palavras para descrever, mas, olhando assim, a gente tem a possibilidade de compreender o quanto é pequeno diante da força da natureza.

Iceland, Eyjafjallajökull - May 1st and 2nd, 2010 from Sean Stiegemeier on Vimeo.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Sobre o amor que se vai



O que a gente diz quando um amigo vai embora?
E quando esse ir embora é pra sempre?
E quando a gente não estava esperando (na verdade, a gente nunca espera)?
E quando a nossa voz não alcança mais aqueles olhos?
E quando não adianta falar espanhol?
E quando a voz que atende o telefone é outra?
E quando tudo que fica é a memória?

E quando...
E quando...
E quando...

Meu Deus!
E quando a gente se dá conta de que a vida passou rápido demais?

Quando tudo isso acontece,
A gente fica sem voz.
E o choro vem.

Nessas horas, nos resignamos
à essência da condição humana:
Estar sempre partindo.

(Para Flora Akatsuka, amor de nossas vidas)

domingo, 9 de maio de 2010

O dia dela!


Depois que a gente cresce, o dia das mães ganha um outro sentido. Se distancia do comercial, que leva multidões insandecidas às lojas e que aumenta o faturamento das empresas.

O sentido que eu penso que muda é a forma da gente compreendê-las. É mais leve a forma de amar. É mais viva a forma de acolher. Falo da minha mãe, mas penso verdadeiramente que acontece assim com todos os filhos e com todas as mães.

Pensando assim e vasculhando os meus guardados, encontrei uma fotografia que traduz bem essa idéia. É com ela que presto a minha homenagem a Dona Isabel. E com ela, alcanço também meus irmãos. Que a vida seja cada vez mais viva, para todos nós.

A foto, lá em cima, foi feita num desses dias de almoço em família, domingão mesmo. Eu, Isa, Isanor, Iram e Ildenor, resolvemos dar uma mãozinha à Dona Isabel, mãe de todos nós.)

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Sobre Minas, filhos, estradas e memória

Aconteceu em 2007.
Patão Guedes já não está entre nós.
Perdeu pro câncer, mas ficou na memória, pra sempre. Eu reli agora, porque um amigo - O Rodrigo Pael - começou a falar sobre a angústia de ver o jogo do Corinthians, ontem à noite. Depois de ler, achei que cabia publicar aqui e dividir com vocês.


"Patão" Guedes

Uma amiga jornalista, de Montes Claros, Valéria Esteves, me escreveu dizendo que Patão Guedes está doente, enfrenta uma metástase e voltou para o hospital. Conheço de perto a luta contra o câncer. E sei o quanto é preciso ter forças para enfrentá-lo. Isso tudo me fez lembrar vivamente, dele, de Montes Claros, de Paulinho Ribeiro - sobrinho de Darcy - e do patriarca da família Guedes, Godofredo, a quem só conheço no imaginário e na voz do filho mais famoso, Beto. Escrevo para não esquecer. Escrevo porque enfrento a tristeza de um jeito melhor, preenchendo o vazio do papel.

Cantar
Godofredo Guedes


Godofredo Guedes

Se numa noite eu viesse ao clarão do luar
Cantando e aos compassos de uma canção
Te acordar
Talvez com saudade cantasses também
Relembrando aventuras passadas
Ou um passado feliz com alguém

Cantar quase sempre nos faz recordar
Sem querer
Um beijo, um sorriso, ou uma outra ventura qualquer
Cantando aos acordes do meu violão
É que mando depressa ir-se embora saudade que mora no meu coração



Numa das minhas idas a MOC, Paulinho Ribeiro me chamou pra ir ao refúgio de Ucho Ribeiro, irmão dele. Chovia a cântaros. Paulinho é dado a isso. Inventar coisas. Quando a gente menos espera, ele inventa. E a invenção é tão instigante que é difícil resistir. Lá fomos nós. Chuva forte e fé na estrada.

No caminho, Paulinho me pergunta se conheço Diamantina. De passagem, respondo. Passei por lá no início da década de oitenta. Mas foi uma passagem curta, eu ia de volta pra casa, São Luis do Maranhão, depois de passar dez anos fora. Então tu não conhece é nada, diz Paulinho. E toca pra Diamantina.

Acende um palheiro que viagem assim não se faz sem fumaça. Passa boi, passa boiada, passa morro, passa estrada e toca conversa besta, conversa de menino, de gente livre de preconceito, de gente doida pela vida.

Essas coisas de ir pra não sei onde sempre me dão um frio na barriga. Mas eu topo por que minha vida é um pouco assim. Lembro que era um sábado e a idéia era passar em Diamantina, rever alguns lugares, experimentar uma cachaça e seguir para a fazenda de Ucho.

Paulinho falava maravilhas do lugar. Um chalé na beira de um rio. Cercado de verde por todos os lados. A Água lambendo a varanda. Uma quietude de fazer gastura. Paz em estado puro.

Diamantina - MG

Quando chegamos em Diamantina a chuva tinha se transformado em uma garoa insistente. É impossível andar por ali e não lembrar de São Luis. Ruas estreitas, pedra de cantaria, calçadas de um passante só. Sobrados e azulejos com a cara de Portugal. Paramos em um boteco pra comer algo. Meu telefone toca. Era Mara. Conversa com teu filho. Ele não para de chorar. Gelei.

Gabriel Viegas

Gabriel é um menino lindo. E visceralmente apaixonado pelo Grêmio. Naquele dia, o Grêmio fazia um jogo definitivo, histórico. Ou ganhava e voltava para a primeira divisão do campeonato brasileiro ou amargava mais um ano na segunda divisão. O jogo era no estádio dos aflitos em Recife. Faltavam onze minutos pra terminar. A pressão era total.

O Grêmio, imortal 

Um estádio inteiro contra o grêmio. O Náutico já havia perdido um pênalti. O juiz acabara de marcar outro. O Gabriel se desesperou e começou a chorar. Os jogadores do Grêmio foram pra cima do juiz e ele, além de marcar o pênalti, expulsou quatro jogadores do Grêmio. Gabriel se desesperou ainda mais.

Quando ele chegou ao telefone só dizia: pai, o juiz é ladrão, é ladrão, é ladrão. Meu coração ficou mais aliviado, a tragédia poderia ter sido maior. Passei a falar com calma de pai que precisa acalmar filho. Calma, filho. A vida é assim mesmo. Nem sempre o time da gente ganha, mesmo jogando melhor, blá, blá, blá...

No que estou conversando com ele, vejo uma televisão ligada mostrando aquele jogo. Eu, em Diamantina. Gabriel e Mara, em Campo Grande. E o jogo rolando em Recife. O juiz manda cobrar o pênalti. O Gabriel chora. Eu rezo por ele. E por mim. Pra que eu consiga atravessar bem com meu filho a primeira grande frustração da vida dele, a primeira e mais dolorida dor.

O jogador do náutico corre pra bola. Um silêncio sepulcral no telefone. Só ouço os soluços de Gabriel. O chute. A bola. O goleiro defende. Uma explosão de vozes. Nessa altura do campeonato, todo o bar onde eu estava prestava atenção em mim e na minha tentativa de acalmar meu filho. Já havia até torcida pelo grêmio.

Nem deu tempo de comemorar. O goleiro do grêmio jogou a bola pro Anderson, um pretinho abusado, de trancinhas rastafari no cabelo que ocupava a camisa nove, de centro-avante. Anderson correu, passou por um, passou por dois e foi derrubado. Gabriel xingava o juiz. O Grêmio não perdeu tempo, Patrício cobrou a falta.

Os jogadores do náutico ainda não entendiam o que tinha acontecido, como tinham perdido aquela oportunidade de marcar. Anderson corre pela linha de fundo e recebe a bola. A defesa desarmada. Passa por um, deixa outro no chão. Diante do goleiro tem calma suficiente para escolher o canto. Chuta. Um chute definitivo, certeiro, gol do grêmio. Meu coração quase salta pela boca. Só de ouvir a alegria do meu filho.

O bar em Diamantina, em festa. E o locutor gritava: Incrível, inacreditável, o grêmio faz um milagre no estádio e vence a batalha dos aflitos. O grêmio foi campeão. E Gabriel foi pra rua, com Mara, por a emoção pra fora. Agradeci a Deus pelo milagre de estar ali, de estar por perto, mesmo à distância. Por estar com ele.
Paulinho dividiu tudo comigo. Repartimos uma cerveja e algumas lágrimas de alegria pela vitória de Gabriel, pela chuva, por Diamantina, pela viagem, pela companhia e seguimos para a fazenda de Ucho.

Já era noite quando entramos em uma estrada de barro. Temi diante da possibilidade de ficarmos atolados. Mas o meu temor era besteira diante da vontade do Paulinho de vencer a estrada. Ele dirigia como quem conhecesse aquele caminho desde pequeno. A estrada, o barro, o medo, a noite, tudo ia passando na mesma velocidade. Chegamos com chuva forte na casa do Ucho.

A varanda da casa de Ucho

Tudo ali, do jeito que Paulinho havia descrito. Mas havia mais. Havia umas três ou quatro pessoas fazendo comida, bebendo vinho, cantando. Entre eles, um camarada muito magro, de oclinhos redondo, à beira de um teclado, pra quem fui apresentado: Patão, irmão do Beto. Não demorou muito, estávamos cantando as canções de Godofredo Guedes, de Beto Guedes, de Lô Borges e Bituca (que é como a turma chama Milton Nascimento na intimidade) , um clube da esquina improvisado, feito ali, na beira do rio, abafando o barulho da chuva.

De manhã, quando acordei, pude ver melhor a casa de Ucho. Vi que Jacy, mãe deles, já havia passado por aquele lugar e tinha deixado marcas nas paredes. Uma imagem de Santo Antônio, frases de Manoel de Barros escritas entre as janelas. Uma composição perfeita.

Santo Antônio de Jacy

Manoel de Barros no alto da janela

Agora, quando Valéria me fala da volta de Patão ao hospital, é impossível não pensar nele e naquele dia. Na viagem de volta da casa de Ucho, em que ficamos juntos e dividimos lembranças dos tempos de rua, ele em MOC e eu em São Luis. Sei que vencer o câncer não é pra qualquer um. É pra poucos e pra especiais. Como Mara, como Flora, como Patão.

Enquanto escrevo, duas músicas me ocupam a memória. A que Beto fez para o filho dele, que tem o mesmo nome do meu, Gabriel. E a que está transcrita lá em cima, de Godofredo Guedes, "Cantar". Vale pra lembrar o Patão. Vale pra espantar a saudade. Vale pra celebrar a vida.

terça-feira, 4 de maio de 2010

A vida não tem roteiro

*Marcia Braga

Gente, dar aulas é uma maluquice. Quando você não está estudando, está organizando o próximo estudo. Parece um poço sem fundo. E se existem um Piazzolla, uma Mercedes Sosa, e um Robert Johnson, Creedence, Duke Ellington, Charlie Parker e Miles Davis, são por breves instantes.

Por que não escolhi ganhar a vida fazendo artesanato? Ou, quem sabe, o papel de megera na novela das nove?

Vocês se lembram da música "Tatibitati" da Rita Lee, que dizia: "... sempre fui levada da breca/ brincar de médico é melhor que boneca..."?

Pois é, brinquei pouco de médico e mal olhei as bonecas, na obsessão dos Júlio Verne, Monteiro Lobato, Cecília Meireles e Manuel Bandeira.

A vida não tem nenhum roteiro. Queria me sentir assim:

"Ai que prazer
não cumprir um dever
ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada
estudar é nada
o sol doira sem literatura
o rio corre, bem ou mal
sem lição original.
E a brisa, essa
de tão naturalmente matinal
como tem tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta
estudar é uma coisa em que está indistinta
é distinção entre o nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quando há bruma
esperar por Dom Sebastião
quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
mas o melhor do mundo são as crianças
flores, música, o luar, e o sol, que peca
só quando em vez de criar, seca.
O mais que isto
é Jesus Cristo
que não sabia nada de finanças
nem consta que tivesse biblioteca.."
(Liberdade/Fernando Pessoa)


*Marcia Braga é jornalista e professora
do curso de Jornalismo da FUNORTE,
em Montes Claros, Minas Gerais.
Sua auto-definição é um poema:
"Meia dúzia de palavras sobre a minha origem:
sou mineira de BH, jornalista e artesã,
de palavras e objetos".

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Estão lá...


Do escuro do meu quintal dá pra ver o Cruzeiro do Sul.
Agora há pouco, enquanto eu tomava uma taça de vinho e esperava por notícias de um lugar qualquer, olhei pra cima e vi, o Cruzeiro do Sul.

Pus a mão ao lado dos olhos pra cortar a luz e enxergar melhor.
Ele estava lá, como sempre esteve, desde quando eu era criança...

Tem coisas que não mudam nunca.
A gente nasce,
cresce,
Às vezes,
morre.

E elas estão lá...
Brilhando no escuro,
feito estrelas,
de um Cruzeiro do Sul.

domingo, 2 de maio de 2010

Ao mestre, com carinho


No dia em que Glauber Rocha morreu eu estava no Rio de Janeiro, participando de um encontro nacional de cinema. Era o início da década de 80. Dois convidados especiais também estavam lá e se uniam a mim por uma questão de identidade geográfica e poética: José Loureiro e Ferreira Gullar.

O primeiro deles é escritor e roteirista de cinema. O segundo é o meu poeta maior, se quiser saber porque, faça uma visita ao site dele.

Ambos, como eu, maranhenses de nascimento. E como eu, guardam também amor e dor por esta terra de contrastes – a ilha de São Luis.

Hoje, domingo, nesse início de maio, revendo arquivos que vou guardando ao longo da vida, encontrei algo de Gullar que me toca muito. Uma crônica, publicada originalmente na Folha de São Paulo, em junho de 2006, da mesma forma que hoje, às vésperas de uma copa do mundo.

O texto de Gullar é um modelo pra mim. Como a sua poesia e o seu raciocínio. Por isso, faço questão de republicar aqui o que ele escreveu sobre ídolos, identidade, futebol e paixão. A paixão é um pouco por minha conta. Porque, à medida em que descreve suas idas aos campos de futebol com o pai dele, eu também me identifico com a minha infância, em São Luis.

Refaço o caminho das poucas vezes em que fui ao estádio Nhozinho Santos, acompanhado por meu pai, assistir ao clássico maranhense “Maremoto”, que reunia ,de um lado, o Maranhão atlético clube e, de outro, o Moto Clube de São Luis (meu time). O texto de Gullar é primoroso. E me inspira as mais remotas e deliciosas lembranças da infância. Boa leitura.



CRAQUES DA MINHA VIDA
FERREIRA GULLAR



Como o assunto no Brasil de hoje é o futebol, aproveito para dizer que sou filho de um antigo centroavante do Luso Brasileiro Futebol Clube, que foi tantas vezes campeão maranhense.

Ele se chamava Newton Ferreira, e foi na qualidade de craque da seleção maranhense que, em 1929, conheceu o Rio de Janeiro, um ano antes de nascer o seu filho José, ou seja, eu, também conhecido como Periquito.

Disputava-se o Campeonato Brasileiro, e a seleção maranhense, campeã do Norte e Nordeste, veio ao Rio enfrentar a seleção carioca. Foi recebida, no palácio do Catete, pelo presidente Washington Luís e, no dia seguinte, adentrou o gramado disposta a vencer. Mas perdeu: perdeu para os cariocas de 9 a 0 e saiu de campo debaixo de vaias e sob uma chuva de chupas-de-laranja.

Isso foi meu pai mesmo que me contou, muitos anos depois, quando o trouxe ao Rio para tratar da saúde. Talvez tenha sido dele que herdei esta disposição para rir de mim mesmo. Ele ria da derrota e eu ria com ele.

Mas minha relação com o futebol não se limita a isso, já que, sem o mesmo talento que ele, joguei no infantil do Ferroviário Futebol Clube, sem contar as peladas no Campo do Ourique, em frente ao Mercado Novo. Bem, já então Newton Ferreira abandonara o futebol e se tornara um pequeno comerciante, mas ainda me levava para assistir, aos domingos, às partidas do Luso.

Minha carreira futebolística terminou quando sofri uma violenta rasteira e caí de bunda no chão. Temi ter quebrado o espinhaço e vi que seria melhor dedicar-me a esporte menos brabo; a poesia, por exemplo.

Troquei a rua pelo quarto, onde agora passava os dias lendo, enquanto meus companheiros de pelada seguiram seu rumo. Dois deles se tornaram craques de futebol, amados das respectivas torcidas: Esmagado, que fez sua carreira lá mesmo em São Luís do Maranhão, e Canhoteiro, que se tornou ídolo da torcida do São Paulo.

Quando, aos 21 anos, me mudei para o Rio de Janeiro, já os tinha perdido de vista e quase me esquecera do futebol -eu, que era vascaíno doente, que pusera o nome do Vasco em meu time de botão.

Muito anos depois, numa das minhas idas a São Luís, reencontrei Esmagado, já fora do futebol, mas admirado pelos fãs. Passeamos juntos pelas ruas da Madre-Deus, num sábado à noite, quando pude ver como o povão o admirava e se aproximava de nós para abraçá-lo e conversar.

Ídolo são-paulino


De Canhoteiro, tive notícias através dos jornais: era chamado de "o Garrincha do Morumbi", tão sensacionais eram os dribles que dava nos adversários, com o mesmo espírito moleque das peladas de infância. Jogou na seleção brasileira e conquistou legiões de fãs, entre os quais o menino Chico, filho de Sérgio Buarque de Holanda.

Certo domingo, pela televisão, o vi jogar. Mal acreditei: ali estava, com as mesmas gingas, o Canhoteiro das partidas em frente ao Mercado Novo. Nesse mercado, o pai dele, seu Cecílio, tinha uma banca onde vendia mingau de milho e tapioca. Era lá que, todas as manhãs, bem cedo, quebrava o jejum antes de seguir para o colégio.

Ele não via com bons olhos aquela obsessão do filho pelo futebol. Queria que o filho estudasse, em vez de jogar bola. "O que vai ser desse menino quando crescer? Vai terminar vendendo mingau no mercado que nem eu?"

Newton Ferreira procurava tranquilizá-lo: "Nada disso, seu Cecílio, o menino vai ser um craque da bola. Ouça o que estou lhe dizendo". Mas é que, naquela época, ser um craque da bola no Maranhão, em matéria de grana, não queria dizer grande coisa. "Você foi um craque e acabou quitandeiro. Quero que meu filho seja doutor, seu Ferreira, isso o que eu quero", dizia Cecílio.

Canhoteiro já era gênio aos dez anos de idade. Prendia a ponta da camisa na mão, enfiava dois dedos na boca (ele ainda chupava dedo) e saía driblando todo mundo com extraordinária habilidade. Tive, assim, a glória de trocar passes com ele, muito antes que a fama o coroasse.

Um dia confidenciei a um cronista esportivo -se não me engano, ao Armando Nogueira- que tinha sido colega de infância de Canhoteiro, e ele logo pensou em promover um encontro de nós dois, na primeira oportunidade que o São Paulo viesse jogar no Rio. O encontro não houve, mas, quando falou de mim a Canhoteiro, este exclamou:
-Não me diga, o Periquito virou poeta?!


Pra fechar, outra poesia em forma de música, de outro maranhense, Zeca Baleiro. Justa homenagem ao ídolo de Gullar, "Canhoteiro".

“Em busca do tempo perdido”


*Innocêncio Viégas

Não! Não estou falando do mais importante período romanesco do século 20 quando Marcel Proust iniciou o lançamento em 1913, de sua coleção de romances, em número de oito, iniciando com “os prazeres e os dias”.

Mas igual a Proust temos momentos que nos devolvem ao passado e voltamos à infância e vamos crescendo em recordações até chegarmos aos dias atuais. Aí, nesse caminhar no tempo, sorrimos, amamos, sofremos e às vezes quase morremos.

Eu e a Bel estamos entrando no período gostoso da vida onde cada minuto é vivido intensamente. Estamos agora caminhando na única avenida do nosso bairro. Longa, reta com subidas e declives. Bem arborizada, o que nos proporciona respirar o ar saudável das rajadas que sopram do norte.

No caminho vamos encontrando outras pessoas que, como nós, buscam recuperar a saúde quase perdida no decorrer da vida.

Antes: um charuto cubano, um cachimbo com fumo inglês e cigarros das melhores marcas. No almoço as iguarias repletas de sal, açúcar e muita gordura com sabores mil. No jantar as finas bebidas do mundo, das farras, dos encontros sociais, das noitadas dançantes intermináveis completando o “bom” da juventude.

Agora: No lugar dos fumos uma bombinha de ar comprimido para dilatar os brônquios; em vez das gorduras das refeições, um peitinho de frango grelhado, sem sal e sem pimenta; e substituindo as bebidas das melhores cepas e de ricos alambiques, um chá de maçã com canela ou o charmoso chá verde tão em moda.

Substituindo os belos passos de um tango ou de um bolero bem traçado, caminhamos sem destino pelas ruas que nos proporcionam o prazer de ir em busca de momentos de suor, para depois de um bom banho, e de um revigorante café da manhã, lermos o jornal, só na parte da cultura e diversão pois as demais páginas não merecem a nossa atenção.

Continuamos nossa caminhada e eis que um quarentão bem saudável, dirigindo uma enorme caminhonete pára ao nosso lado. Paramos também.

- São casados? Perguntou o desconhecido
- Sim, só há 48 anos. Respondo.

No banco atrás do motorista um enorme e tranqüilo cão de guarda nos observa enquanto o seu dono, querendo chorar, esconde o rosto com a mão direita. Recuperado ele fala.

- Lembrei agora dos meus pais. Eles também caminhavam assim. O meu velho já viajou. Outra vez pareceu chorar e logo voltou ao diálogo. A mamãe continua. Eles andavam de mãos dadas, disse ele olhando para as nossa mãos.

- Vocês podem dar as mãos? Perguntou.
- Claro que podemos. Respondi e logo segurei a mão da Bel.
- Vão com Deus! Disse e arrancou passivamente a sua caminhonete enquanto o cão deixava cair no vidro da janela uma grossa e pegajosa bába. Concluí que os dois choravam cada um ao seu modo.

Por alguns metros caminhamos calados. Nós também queríamos chorar. Fomos e nem olhei para trás. A saudade que aquele desconhecido sentiu ao nos ver demonstrou ser ele um bom homem. Um coração sensível ao bem; um filho saudoso, talvez carente de um carinho, um afago da mamãe e um abraço apertado do papai. Momentos que não retornam.

Já estamos em casa, o nosso banho foi reconfortante. O café, fumegante. O leite desnatado, o queijo branco macio e sem gosto e o pão integral, com gosto de ontem.

Tem coisa melhor?
Nós também estamos “em busca do tempo perdido”.

Innocêncio Viégas
Escritor – Teólogo – Membro da Academia de Letras de Brasília - meu pai.
Bel, é minha mãe.
Email: ijviegas@bol.com.br

sábado, 1 de maio de 2010

Meu Maio

de Vladimir Maiakovski


A todos
Que saíram às ruas
De corpo-máquina cansado,
A todos
Que imploram feriado
Às costas que a terra extenua –
Primeiro de Maio!
Meu mundo, em primaveras,
Derrete a neve com sol gaio.
Sou operário –
Este é o meu maio!
Sou camponês - Este é o meu mês.
Sou ferro –
Eis o maio que eu quero!
Sou terra –
O maio é minha era!

Novos atributos de um velho produto

Zecca Freitas é um grande amigo, publicitário dos bons, que vive em São Paulo, mas circula pelo Brasil afora, repartindo o seu conhecimento e suas boas idéias. É também um avô dedicado, que vive babando pela Carolina, a quem tenta insistentemente transformar em uma corintiana de berço. Particularmente, torço para que não seja bem sucedido nessa empreitada.

Estivemos juntos, em Porto Alegre, em 2006, cuidando da campanha ao governo de Yeda Crusius. Foi o Zecca quem me apresentou o Lourival um dos mais charmosos botecos da cidade, aberto em 1953 e que até hoje preserva o seu estilo tradicional. Daqueles antigos mesmo, um dos poucos a oferecer uma cerveja artesanal, produzida pela cervejaria RSW Abadessa, de Montenegro - a Slava.



Ela é servida numa garrafa especial de 2 litros. Uma delícia que me acostumei a consumir na companhia do Zecca, roubando alguns minutos das poucas horas da madrugada em que não estavamos no estúdio de gravação ou na ilha de edição.

Volta e meia, ele me escreve mandando novidades sobre a neta, mas também sobre as suas andanças e a descobertas do mundo virtual. Hoje, ele me escreveu, apresentando novos argumentos para um velho produto. Me disse o Zecca, na mensagem:

"Nova forma de entretenimento e transmissão de informações históricas, científicas e culturais... supera os e-books, arquivos em pdf, pendrives, kindle, ipad. Vale a pena conhecer..." e me mandou o link aí abaixo: