segunda-feira, 27 de agosto de 2018

O que foi e o que será




Sim.
Há vida entre o que foi 
e o que será. 
Nesse hiato de tempo,
o tempo passa. 
E a gente vive
enquanto o tempo passa.


sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Do mestre, com carinho

Luiz Evangelista foi meu professor em Maringá, no Paraná, em 1979. Hoje penso que ele foi, seguramente, quem me abriu a mente para a filosofia e para a literatura. Duas das coisas que me sustentam. E que me fazem ser quem sou. 

Ontem, Luiz me deu a honra de assistir o Caminho de Cora, pela TV Brasil. Hoje ele me escreveu. Em tom solene, como cabe a um dos mais respeitados cientistas que esse país já deu. Com intimidade, que só quem foi seu aluno sabe reconhecer. 

Por isso, transcrevo a escrita. 
Porque ela justifica tudo o que eu sou hoje. 
Agradecido, Luiz. Muito. 

Luiz Evangelista, meu "Merlí".


Prezado Sr. Viegas,
tomo a liberdade de manifestar-me sobre o extraordinário programa que tive o privilégio de acompanhar na TV Brasil. 
Como sou um velho fã da poeta goiana, tomei a liberdade, também, de escrever um pequeno texto.
Eu gostaria de agradecer-lhe. O seu trabalho foi um presente para o Brasil.
Boa noite.
Atenciosamente,
Luiz Roberto Evangelista


Eu sou aquela menina feia da ponte da Lapa. 
Eu sou Aninha. 

Eu a conheci na Bienal de 1986, em São Paulo. Ela tinha deixado este estranho mundo há pouco tempo. Lá estavam dois livros seus;  eu os comprei e os li, avidamente. E os guardo, com muito cuidado. Estão na minha estante (desorganizada) de literatura, ao lado de alguns outros que, como ela, amavam escrever...

Habituei-me, nesses anos todos, a ser só eu a gostar dela. Nas rodas, no meu ambiente (universitário!), entre os amigos, em casa, fora do País... Eu me habituei também a falar dela, de vez em quando. Mesmo em minhas aulas de física, ao longo dos anos, uma vez ou outra eu a mencionava. Poucos (na verdade: ninguém, de que eu me lembre) a conheciam!
A ela eu juntei outra mulher do Interior: Helena Meirelles, “a maior violeira do Brasil e do Mundo”.  Eu o fiz,  e me convenci: este é o Brasil com as suas mulheres fortes. Mulierem fortem, quis inveniet?

Que surpresa ao vê-la agora retratada em seu caminho, que corta o seu Goiás 
profundo – Goiás que, aliás, só é profundo porque deu ao mundo filhos como ela – diga-se! 
A TV Brasil nos levou, pela mão competente e pela alma de poeta de Maranhão Viegas, a percorrer com ela os seus próprios caminhos.  Conhecemos o “Caminho de São Tiago”, conhecemos, no Sul da Itália, o “Caminho de São Francisco”. Agora, conhecemos o caminho de Cora. 
O mundo estranho de Einstein que ela deixou é agora menos estranho; na verdade, é mais doce, pois temos a sua companhia. A companhia de Aninha, da casa velha da ponte.  Doceira. Poeta. 

Luiz Roberto Evangelista
Maringá, 23 de agosto de 2018.

Pra quem não teve a oportunidade de ver, ai está o Caminho de Cora. Desfrute!


quinta-feira, 23 de agosto de 2018

O menino à espera de Cora





Sabe menino novo? Que fica olhando pro relógio na noite de natal? Que vai e volta da porta do quintal, e olha pra cima pra ver se o dia acabou? Se o céu já está estrelado? Assim. Bem assim estou hoje. É dia de "Caminhos da Reportagem" na TV Brasil. E é a estreia de "No rastro da Poesia. No Caminho de Cora."

Tô que não me contenho.
Dá meia-noite e não dá 21:45.

Agora, nesse exato momento, me vem à memória o dia em que li pela primeira vez sobre o Caminho de Cora. Foi no final de março, início de abril deste ano. Naquela hora, me subiu um calor pelo corpo. Pensei comigo: E se eu criasse coragem para fazer a reportagem sobre esse caminho? Me enchi de força e fui. Atravessei a redação, bati na porta da chefe e pedi preferência. Se um dia decidirem fazer um “Caminhos da Reportagem” sobre o Caminho de Cora, eu sou candidato a fazer.

Dois meses depois fui chamado pra uma reunião e a notícia veio de supetão: Você vai fazer o Caminho de Cora. Mas tem que ser no começo de junho, antes das suas férias. Ai, foi quando deu aquele frio na barriga. Sabe como? Aquele frio que encolhe o estômago da gente. Que faz parecer o chão faltar. Ok. Eu desejei. Ele veio. Agora... é fazer.

A literatura de Cora passou a frequentar minhas noites. O caminho de Cora, os meus dias. Assisti gravações antigas em que Cora fala da vida dela. Vi documentários novos, contando sua história sob o prisma da emoção de quem não ficou parada, nem respeitou os limites impostos pelo tempo. Uma caminhante. Uma peregrina. Uma aventureira incansável.

Aumentei o ritmo das minhas corridas para aguentar o tranco do caminho. Comprei botas especiais para suportar a caminhada. Tá certo, eu só percorreria alguns trechos dos 300 quilômetros do caminho. Não haveria tempo de fazê-lo todo, nos cinco dias destinados à produção do material. Mas eu sabia que caminharia muito.

De carro, fizemos cinco vezes a medida do percurso. 1.500 quilômetros no total. Subimos morro, enfrentamos estradas de terra, mato, pó e sol a pino. E descobrimos vida interiorana e poesia, muita poesia, espalhada pelo caminho. Não só as poesias de Cora (cuidadosamente postas em lugares estratégicos), que renovam a energia dos caminhantes cada vez que o cansaço se manifesta.

No caminho de Cora, a vida é um pouco poesia. Basta permitir o olhar. Basta querer enxergar. Basta não ter pressa e ter calma.

Hoje, minha ansiedade é outra. Daqui a algumas horas vai ao ar, em rede nacional, pela TV Brasil, o resultado do trabalho de uma equipe briosa, - "chiquitita, pero cumplidora" como se costuma dizer nos pampas - que forma o Núcleo de Programas Especiais. Onde são pensados, planejados, gestados e paridos alguns dos melhores produtos desta TV, entre os quais a série "Caminhos da Reportagem".

Quase não acredito na distância do tempo, entre aquela primeira leitura despretensiosa, que me informava sobre a existência do Caminho de Cora Coralina, e o quase agora da exibição do programa. Eu o vi na ilha. E me emocionei muito.

Espero que a minha emoção se traduza, também, aos olhos de quem o veja na TV. E que a emoção se espalhe numa medida boa. Na dose certa de poesia que salva o dia. Como a simplicidade do "seo" Quinzinho. Como a singeleza da TiaTó. Como a firmeza dos peregrinos Mário e Marina. Como a coragem das “Mulheres Coralinas”, da Ebe.

Enfim, o menino que me habita corre feliz em direção ao seu "presente", que chega já. No rastro da poesia. No Caminho de Cora Coralina.

Meus agradecimentos à equipe que não mediu esforços para colocar esse projeto de pé: Mariana Fabre, Sigmar Gonçalves, Hugo Madureira, Isaias Cipriano, André Pacheco, Rogério Verçoza, Dailton Matos, Edivan Viana, Suzana Guimarães, Julia Costa e Henrique Correa. E, por uma questão de justiça, agradeço também a todos os que, em alguma medida, contribuíram com a feitura deste sonho real. 

Mariana Fabre e Sigmar Gonçalves, os pulmões do Caminho de Cora. 

Henrique Correa, Cintia Vargas e Suzana Guimarães.
O coração do Caminho de Cora.  

Um agradecimento especial a Cintia Vargas, Ana Passos, Patrícia Paiva e Adriana Motta, que enfrentam os leões desse nosso tempo agudo e dão o norte da nossa jornada diária. E o meu sincero reconhecimento à TV Brasil, que me deu a oportunidade impar de juntar poesia e jornalismo - uma fórmula que não me sai da cabeça. Nunca.

Serviço:
"Caminhos da Reportagem"
No rastro da poesia. No Caminho de Cora
Quinta-feira - 23.08.2018 - 21h45
Reapresentação: Domingo 26.08.2018 - 20h00 
TV Brasil 





O vídeo completo está ai embaixo. Desfrute!!