Luiz Evangelista foi meu professor em Maringá, no Paraná, em 1979. Hoje penso que ele foi, seguramente, quem me abriu a mente para a filosofia e para a literatura. Duas das coisas que me sustentam. E que me fazem ser quem sou.
Ontem, Luiz me deu a honra de assistir o Caminho de Cora, pela TV Brasil. Hoje ele me escreveu. Em tom solene, como cabe a um dos mais respeitados cientistas que esse país já deu. Com intimidade, que só quem foi seu aluno sabe reconhecer.
Por isso, transcrevo a escrita.
Porque ela justifica tudo o que eu sou hoje.
Agradecido, Luiz. Muito.
Luiz Evangelista, meu "Merlí".
Prezado Sr. Viegas,
tomo a liberdade de manifestar-me sobre o extraordinário programa que tive o privilégio de acompanhar na TV Brasil.
Como sou um velho fã da poeta goiana, tomei a liberdade, também, de escrever um pequeno texto.
Eu gostaria de agradecer-lhe. O seu trabalho foi um presente para o Brasil.
Boa noite.
Atenciosamente,
Luiz Roberto Evangelista
Eu sou aquela menina feia da ponte da Lapa. Eu sou Aninha.
Eu a conheci na Bienal de 1986, em São Paulo. Ela tinha deixado este estranho mundo há pouco tempo. Lá estavam dois livros seus; eu os comprei e os li, avidamente. E os guardo, com muito cuidado. Estão na minha estante (desorganizada) de literatura, ao lado de alguns outros que, como ela, amavam escrever...
Habituei-me, nesses anos todos, a ser só eu a gostar dela. Nas rodas, no meu ambiente (universitário!), entre os amigos, em casa, fora do País... Eu me habituei também a falar dela, de vez em quando. Mesmo em minhas aulas de física, ao longo dos anos, uma vez ou outra eu a mencionava. Poucos (na verdade: ninguém, de que eu me lembre) a conheciam!
A ela eu juntei outra mulher do Interior: Helena Meirelles, “a maior violeira do Brasil e do Mundo”. Eu o fiz, e me convenci: este é o Brasil com as suas mulheres fortes. Mulierem fortem, quis inveniet?
Que surpresa ao vê-la agora retratada em seu caminho, que corta o seu Goiás
profundo – Goiás que, aliás, só é profundo porque deu ao mundo filhos como ela – diga-se!
A TV Brasil nos levou, pela mão competente e pela alma de poeta de Maranhão Viegas, a percorrer com ela os seus próprios caminhos. Conhecemos o “Caminho de São Tiago”, conhecemos, no Sul da Itália, o “Caminho de São Francisco”. Agora, conhecemos o caminho de Cora.
O mundo estranho de Einstein que ela deixou é agora menos estranho; na verdade, é mais doce, pois temos a sua companhia. A companhia de Aninha, da casa velha da ponte. Doceira. Poeta.
Luiz Roberto Evangelista
Maringá, 23 de agosto de 2018.
Pra quem não teve a oportunidade de ver, ai está o Caminho de Cora. Desfrute!
Sabe
menino novo? Que fica olhando pro relógio na noite de natal? Que vai
e volta da porta do quintal, e olha pra cima pra ver se o dia
acabou? Se o céu já está estrelado? Assim. Bem assim estou hoje. É
dia de "Caminhos da Reportagem" na TV Brasil. E é a
estreia de "No rastro da Poesia. No Caminho de Cora."
Tô
que não me contenho.
Dá
meia-noite e não dá 21:45.
Agora,
nesse exato momento, me vem à memória o dia em que li pela primeira
vez sobre o Caminho de Cora. Foi no final de março, início de abril
deste ano. Naquela hora, me subiu um calor pelo corpo. Pensei comigo:
E se eu criasse coragem para fazer a reportagem sobre esse caminho?
Me enchi de força e fui. Atravessei a redação, bati na porta da
chefe e pedi preferência. Se um dia decidirem fazer um “Caminhos
da Reportagem” sobre o Caminho de Cora, eu sou candidato a
fazer.
Dois
meses depois fui chamado pra uma reunião e a notícia veio de
supetão: Você vai fazer o Caminho de Cora. Mas tem que ser no
começo de junho, antes das suas férias. Ai, foi quando deu aquele
frio na barriga. Sabe como? Aquele frio que encolhe o estômago da
gente. Que faz parecer o chão faltar. Ok. Eu desejei. Ele veio.
Agora... é fazer.
A
literatura de Cora passou a frequentar minhas noites. O caminho de
Cora, os meus dias. Assisti gravações antigas em que Cora fala da
vida dela. Vi documentários novos, contando sua história sob o
prisma da emoção de quem não ficou parada, nem respeitou os
limites impostos pelo tempo. Uma caminhante. Uma peregrina. Uma
aventureira incansável.
Aumentei
o ritmo das minhas corridas para aguentar o tranco do caminho.
Comprei botas especiais para suportar a caminhada. Tá certo, eu só
percorreria alguns trechos dos 300 quilômetros do caminho. Não
haveria tempo de fazê-lo todo, nos cinco dias destinados à produção
do material. Mas eu sabia que caminharia muito.
De
carro, fizemos cinco vezes a medida do percurso. 1.500 quilômetros
no total. Subimos morro, enfrentamos estradas de terra, mato, pó e
sol a pino. E descobrimos vida interiorana e poesia, muita poesia,
espalhada pelo caminho. Não só as poesias de Cora (cuidadosamente
postas em lugares estratégicos), que renovam a energia dos
caminhantes cada vez que o cansaço se manifesta.
No
caminho de Cora, a vida é um pouco poesia. Basta permitir o olhar.
Basta querer enxergar. Basta não ter pressa e ter calma.
Hoje,
minha ansiedade é outra. Daqui a algumas horas vai ao ar, em rede
nacional, pela TV Brasil, o resultado do trabalho de uma equipe
briosa, - "chiquitita, pero cumplidora"como se costuma dizer nos pampas - que forma o Núcleo de
Programas Especiais. Onde são pensados, planejados, gestados e
paridos alguns dos melhores produtos desta TV, entre os quais a série
"Caminhos da Reportagem".
Quase
não acredito na distância do tempo, entre aquela primeira leitura
despretensiosa, que me informava sobre a existência do Caminho de
Cora Coralina, e o quase agora da exibição do programa. Eu o vi na
ilha. E me emocionei muito.
Espero
que a minha emoção se traduza, também, aos olhos de quem o veja na
TV. E que a emoção se espalhe numa medida boa. Na dose certa de
poesia que salva o dia. Como a simplicidade do "seo"
Quinzinho. Como a singeleza da TiaTó. Como a firmeza dos peregrinos
Mário e Marina. Como a coragem das “Mulheres Coralinas”, da Ebe.
Enfim,
o menino que me habita corre feliz em direção ao seu "presente",
que chega já. No rastro da poesia. No Caminho de Cora Coralina.
Meus
agradecimentos à equipe que não mediu esforços para colocar esse
projeto de pé: Mariana Fabre, Sigmar Gonçalves, Hugo Madureira,
Isaias Cipriano, André Pacheco, Rogério Verçoza, Dailton Matos,
Edivan Viana, Suzana Guimarães, Julia Costa e Henrique Correa. E, por uma questão de justiça, agradeço também a todos os que, em alguma medida, contribuíram com a feitura deste sonho real.
Mariana Fabre e Sigmar Gonçalves, os pulmões do Caminho de Cora.
Henrique Correa, Cintia Vargas e Suzana Guimarães.
O coração do Caminho de Cora.
Um
agradecimento especial a Cintia Vargas, Ana Passos, Patrícia Paiva e
Adriana Motta, que enfrentam os leões desse nosso tempo agudo e dão
o norte da nossa jornada diária. E o meu sincero reconhecimento à
TV Brasil, que me deu a oportunidade impar de juntar poesia e
jornalismo - uma fórmula que não me sai da cabeça. Nunca.
Serviço: "Caminhos da Reportagem" No rastro da poesia. No Caminho de Cora Quinta-feira - 23.08.2018 - 21h45 Reapresentação: Domingo 26.08.2018 - 20h00 TV Brasil