quinta-feira, 25 de março de 2010

Ricardo e a música brasileira

Marcia Braga*

Meu amigo Ricardo lá de Curitiba está fazendo um artigo sobre música brasileira. Ele manda o artigo para que eu dê uma olhada. Está muito legal, criativo, bem escrito, mas num determinado momento ele diz que "Carinhoso" (Pixinguinha/João de Barro) é um grande tema em que o autor descreve as maravilhas do seu próprio sentimento. Segundo ele, uma coisa rara na música. Fiquei pensando, pensando, pensando... e sou obrigada a discordar. O Roberto Carlos também já fez o mesmo.

É só comparar as letras de "Carinhoso" e "Como é grande o meu amor por você" (Roberto/Erasmo Carlos). A primeira diz:



"Meu coração, não sei por que/ bate feliz quando te vê/ e os meus olhos ficam sorrindo/ e pelas ruas vão te seguindo/ mas mesmo assim, foges de mim/ ah, se tu soubesses como eu sou tão carinhoso/ e o muito, muito que te quero/ e como é sincero o meu amor/ eu sei que tu não fugirias mais de mim/ vem, vem, vem, vem/ vem sentir o calor dos lábios meus à procura dos teus/ e vem matar esta paixão/ que me devora o coração/ e só assim então/ serei feliz, bem feliz..."

Na segunda letra temos:


"Eu tenho tanto prá lhe falar/ mas com palavras não sei dizer/ como é grande o meu amor por você/ e não há nada pra comparar/ para poder lhe explicar/ como é grande o meu amor por você/ nem mesmo o céu, nem as estrelas/ nem mesmo o mar e o infinito/ não é maior que o meu amor/ nem mais bonito/ me desespero a procurar/ alguma forma de lhe falar/ como é grande o meu amor por você/ nunca se esqueça nem um segundo/ que eu tenho o amor maior do mundo/ como é grande o meu amor por você..."

Em termos de composição poética os temas são os mesmos e as duas músicas exploram a mesma descrição, ou seja, o que o Ricardo chama de auto-exaltação. Talvez, o Roberto (ou Erasmo, não sei quem fez a letra) tenha sido bem mais hiperbólico que o João de Barro, ou não, como diria o Caetano.

*Marcia Braga é jornalista e professora do curso de Jornalismo da FUNORTE, em Montes Claros, Minas Gerais. Ela abastece a minha caixa de mensagem, sempre, com alguns textos deliciosos. Sua auto-definição é um poema: "Meia dúzia de palavras sobre a minha origem: sou mineira de BH, jornalista e artesã, de palavras e objetos". Acho que está na hora de dividir alguns dos escritos da Marcia com vocês.

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