sábado, 27 de março de 2010

Viva, Renato, viva!

No dia 11 de outubro de 1996 eu, Mara, Mariana e Gabriel estávamos voltando de uma viagem à Bolívia. Tínhamos ido a Cochabamba rever nossos compadres, Liliana Bayá e Roberto Rojo. Eu e Mara somos padrinhos de Aymê, uma afilhada que nunca batizamos, mas que sabe o quanto de amor temos por ela. Da mesma forma, também amamos Tessay, a primeira filha de Liliana, que ajudamos a criar, quando éramos estudantes do curso de jornalismo, na UNISINOS. Mas isso é história pra outra hora. Nosso amor por Tes, Aymê, Liliana e Roberto vem de longe e não tem hora pra acabar.

O fato é que voltávamos de uma curta estada com eles, lá na Bolívia. Nessa época, a ligação entre a Bolívia e Campo Grande, onde morávamos, implicava também em uma obrigatória passagem de balsa sobre o Rio Paraguai, à saída de Corumbá. Não havia ponte, ainda.

O ônibus parou. Descemos, como sempre fazíamos. E passamos alguns minutos esperando a balsa chegar à margem do rio, no lado onde estávamos. Havia uma barraca de venda de bebidas. Havia uns homens enganando outros homens, com aquele jogo de adivinhar em que caçapa estava escondida a pedrinha. Havia uma escuridão do início da noite e havia uma certa melancolia.

Algo que misturava o fim da viagem, a volta para casa, o cansaço, a beira de rio, o cheiro de mato... E havia uma televisão ligada na Globo. Num determinado momento, o apresentador, acho que era a Lilian Vitefibe, disse com um ar de tragédia no rosto: morreu hoje o símbolo de um geração: Renato Russo. Pow! Foi como receber um cruzado de direita. E foi direto nos peitos.

Nos entreolhamos, eu e Mara, sem saber direito se era pra acreditar. Não que a gente não soubesse que ele andava mal. Mas ninguém queria escutar aquela notícia. Ainda mais assim, sem avisar, sem nada.

Mas a reportagem continuou. E era verdade. E a balsa chegou enquanto o jornal ainda mostrava as reações das pessoas, sobretudo, as reações dos jovens, por todo o Brasil.

Lembro do silêncio que nos tomou. Atravessar o Rio Paraguai era sempre algo silencioso e contemplativo. Principalmente, à noite. Naquela noite, então, o silêncio foi maior e mais doído. Renato era um dos meus ídolos que partia. De um jeito que eu não queria. De uma forma que eu custava a entender.

Naquela época, Gabriel tinha quatro e Mariana tinha oito anos. E os dois, ainda hoje, continuam amando as músicas do Renato. Ele só saiu de cena. Mas continua por aqui. Hoje, Renato faria 50 anos, se estivesse vivo. Viva, Renato. Viva, sempre.

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