sábado, 28 de abril de 2012

Vida sem Sá, poesia fria

João Sá Maia - Foto: Fumaça
A tarde de sexta fica mais triste (aliás, tristeza há de sobra, nestes tempos últimos). Abro a caixa de e-mails preocupado com transmitir e receber coisas do trabalho e recebo uma porrada nos peitos: "Faleceu hoje, em Campo Grande, o publicitário João Sá Maia"
Um comunicado frio, mas necessário. Ainda bem que o Eduardo Crivelente lembrou de me avisar. Súbito, perco a pressa. Perco a noção do tempo. Vasculho na memória a imagem do Sá. Encontro letras e escritos. Encontro cenas de horas passadas entre montanhas e vales, nos sertões de Guimarães, à borda do Jequetinhonha. 
Sim. Nossos últimos goles de água e de idéias aconteceram em Montes Claros, MG, em 2008. Uma aventura política, que só não foi mais furada por que promoveu encontros e reencontros que levarei para o resto da vida. Como as horas de dor e criatividade que tive com Sá Maia. 
Naquele ano, o corpo dele já não aturava desaforos. Estava cansado e limitado. Mas a cabeça... Ah, a cabeça do Sá era e continuaria sendo, sempre, um celeiro de boas frases, de genialidades, de inconsequências literárias deliciosas.
É mais um dos meus bons amigos que passa pro lado de lá. Está nem sei onde, uma hora dessas. Mas onde quer que esteja, está "geniando" letras, frases e canções. Busquei freneticamente algo de nossas conversas passadas. E encontrei um e-mail/carta que ele me escreveu. 
Aquelas linhas trazem a mais perfeita tradução da alma do Sá. Ele estava triste, mas até na tristeza era delicioso, delicado. Uma delicadeza bruta e fina, ao mesmo tempo. Falava da perda de uma amigo brasiliense. Falava de uma peleia jurídica em que acabara de entrar, para tentar receber os trocos da campanha feita e nem toda paga. E falava com um carinho especial da vida, das pessoas. Descrevia sua Campo Grande com um olhar triste e belo. Era o começo do fim, cheio de poesia. Da poesia que nunca nos faltou. E que agora, mudou de plano.  
Hoje abro espaço para uma tristeza poética. E reparto com vocês as letras escritas por Sá. Que eu guardo carinhosamente como uma jóia rara. Uma jóia pra sempre. Valeu, Sá. 



Samaia samaia@terra.com.br
03/06/09



para mim

E aê, Maranhoc?
Nada a ver, mas recebi de Brasília uma notícia entristecedora. Douglinhas irmão amigo foi-se fora do combinado como diz o Boldrin. Cardiologista porreta planaltocentralino dos grotões nordestinos, sorriso permanente, guerreiro das causas inacabadas. Um merecedor do prêmio lênin. Vários companheiros estão por aí, de todo lugar, se despedindo e levando seus pertences e patuás para serem abençoados por oxossi e ianasan. Quase fui, não fosse o se...mas o Douglinhas nem reparou. Eu sei q ele entende essas coisas de ausências...agora mais que nunca.

Como vão todos: Mara, as crianças (!!??), você?

Não sei se vc sabe (claro q sabe) ou está acompanhando os desdobramentos das desventuras catrumanas. A galera foi pro pau. Faca no dente. Me chamou, fui junto. Coisa de difícil solução pra todo lado. Justiça brasileira veloz como jabuti tetraplégico em maratona de paraolimpíadas paris-dakar. Não há previsões. Nem favoritos, placar em aberto. Quem ver, viverá e aos vencedores, os pequis. Pequi-pariu todos eles...

Vivo em retumbante vagabundagem, às margens plácidas da marginalidade improdutiva, tanto que tem deixado o Domenico Di Masi puto de tanto ócio. Mas quem anda mais putanhesca é a Mariana minha filha teen age. O trabalho por aqui, q já andava mais difícil que perna de cobra, e muito aparteado pelos amigos do rei, escasseou de vez. E pau na bunda dos prejudicados, ecoam os áulicos: farinha pouca meu pirão primeiro. No que estão certos e seguros do ponto de vista deles. A fila não anda e aumenta todo dia. 


saída é a porta da mendicância profissional. Difícil escapar, não há saída de emergência. Ou dá ou desce. Ou como eu sloguei o programa do Dácio Correa: Ou Dácio ou Décio, um homem com V maiúsculo. Um dia seremos todos putas e daremos vivas à putaria toda, e mandaremos a nossa arrogância e nossa hipocrisia à puta que nos (me) pariu. Viveremos felizes, então, todos de cócoras, na terra dos sapos cururus. e saravá.

Campo Grande frio feito beira de lagoa escandinava dawuelas de folhinha de inverno na padaria. Até fumacinha de frio pela boca tem. Frio é um luxo muito chique de burguês que minha nordestinidade, falta de pêlos e abstinência não suportam. Sem conhaque, sem cobertor de orelha, sem edredons da terra do teletube, sem aquecimento central nem lateral o que me sobra é tremer de frio e bem dizer o calor de escrever e me lembrar dos amigos

bjs
joão  maia

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