O leão de Independência
Carlos Moa |
Quando chegaram a Independência, pequena cidade do interior
do Rio Grande do Sul, recém-casados, Carlos Moa e Lisete Hartmann estavam divididos.
Ele, feliz como pinto no lixo. Era o seu primeiro trabalho como engenheiro de
uma prefeitura. Aliás, lá em Independência, a partir do momento em que assumiu
o cargo, o Carlos Moa passou a ser a terceira autoridade da cidade. Só perdia em
importância para o prefeito e para o padre.
Lisete, não. Estava meio acabrunhada. Entristecida. Queria
ser professora, mas em uma cidade maior, não ali, naquele finzinho de mundo,
aquela coisinha miúda. Tão triste estava que não conseguiu se empolgar com a
casa nova alugada pelo Carlão.
Entrou em casa cabisbaixa. E o Carlão, animado. Veja isso,
veja aquilo. Lisete não queria ver nada. Só chorava. Carlão a consolou até o
momento de ir para o trabalho. De tardezinha eu volto, a gente toma um
chimarrão e a vida vai se ajeitar, prometeu ele antes de fechar a porta.
Lisete |
Lisete olhou a casa. Tudo encaixotado, tudo por arrumar e
vontade, nenhuma. Chorou um pouco mais. As horas foram passando sem que Lisete
se desse conta. Até que, em meio ao choro, ouviu um rugido de leão.
Espantou-se. Meu Deus! Estou tão angustiada, tão distante de onde queria estar
que começo a ouvir coisas. Imagine, um leão! (Pensou ela meio na dúvida de sua
própria consciência).
Mais um pouco de choro e... Outro rugido. E mais outro. E
mais outro. As lágrimas de Lisete agora tinham uma razão a mais. Está certo que
estou longe da cidade, mas um leão por aqui não faz nenhum sentido. Acho que
estou realmente angustiada, pensou em silêncio, cortando um pouco o choro, mas
sem nenhuma vontade de abrir a janela.
A angústia da Lisete cresceu na mesma proporção dos rugidos
do leão imaginário. Por via das dúvidas, decidiu trancar-se no quarto. Já não
confiava no seu discernimento, era uma mulher em forma de pranto.
Nisso, já de tardezinha, o Carlão volta pra casa e encontra
a Lisete, trancada no quarto, sentada no centro da cama, encolhida e quase
desidratada de tanto chorar.
Ao vê-lo ela confessou: Carlão, eu não quero parecer
ridícula, mas desde a hora em que cheguei nessa casa estou ouvindo coisas
estranhas e isso não é um bom Sinal. Carlão, acho que estou ficando louca.
Calma, Lisete, o que está acontecendo? O que você está ouvindo que não acha
normal?
Lise e Moa |
Entre um soluço e outro, ela disse que estava ouvindo
rugidos de leão o dia inteiro. Calmamente, o Carlão levantou-se em direção à
janela. No caminho tranquilizou a Lisete: Você não está louca nada, mulher. Tem
mesmo um leão aqui, no terreno ao lado de casa. E puxando a Lisete para junto
da janela a fez ver não só um leão, mas um grupo de macacos, um elefante e
outro tantos bichos exóticos. Todos pertencentes ao circo que, tal como a
Lisete e o Carlão, chegara naquele mesmo dia a Independência e se instalou, por
coincidência, no terreno ao lado da casa do engenheiro Carlos Moa e da
professora Lisete.
Maranhão,
ResponderExcluirEu soube somente quando vc me ligou sobre o ocorrido com o Carlão. Fiquei tão chocada que não consegui imaginar como esta tragédia podia ter acontecido com aquele menino. Pois na minha cabeça o Carlão ainda era aquele menino que conheci ainda na Unisinos (e ele era um meninão mesmo). Quando a gente não encontra as pessoas, fica com a lembrança do último encontro. Então não consegui acreditar no que vc me dizia sobre a partida prematura e em disparada deste menino, que para minha surpresa nas fotos acima o retratam como um Senhor de cabelos brancos, mas ainda assim com cara de moleque. Desejo que a Lizete e as meninas consigam encontrar serenidade para se habituar com a saudade e a falta do marido e do pai, mesmo que isto seja a mais dura batalha que elas já enfrentaram na vida. Um grande beijo para elas e o desejo de que o Carlão as vigie com amor e cuidados espírituais, já que físicamente isto não mais será possivel
Oi, Suzi! Belas palavras. Certamente vão razer algum conforto para essa dura batalha, como vc mesma classificou, que terão a Lisete, a Camila e a Julia ( e de resto, todos nós que vivíamos mais próximos do Carlão). Obrigado pela companhia. Beijo.
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