quarta-feira, 30 de março de 2011

Rio que passa, abraço que fica

Heráclito, o pai da Dialética
Semana passada viajei a Campo Grande para um encontro e uma despedida. Reencontrar o passado é sempre um desafio. Porque o passado nunca é igual quando se tenta presente outra vez. Heráclito de Éfeso, filósofo grego, pré-socrático, considerado o pai da dialética, já dizia: "Não se pode mergulhar duas vezes no mesmo rio, pois outras águas estão continuamente correndo".

Pois, por algumas horas, estive diante de um rio, de um mesmo rio, com águas distintas, correntes e contínuas. Minha viagem de reencontro com o passado tinha uma despedida, o funeral do senador Lúdio Coelho, como referência. “Seo” Lúdio, sobre quem eu havia escrito poucos dias antes, aqui no blog, partiu com a consciência de ter vivido muito e intensamente.

E, na partida, se viu rodeado de poucos amigos. Alguns do círculo mais íntimo, da família. Poucos da vida pública. E perceber isto me fez acreditar que a decisão de sair de Brasília apenas para estar lá, presenciando a sua última caminhada, foi uma decisão acertada.

Um silêncio, um choro contido pelos cantos, o chapéu que lhe serviu de marca por toda uma vida, uma manhã de céu nublado e um punhado de terra por cima do caixão. Estava concluído o último ato.

Dos amigos que encontrei na breve viagem, em especial, guardo o abraço da Domingas. Domingas é uma senhora paraguaia que trabalha uma vida inteira na casa do “seo” Lúdio. É parte integrante da família e quando me viu – havia pelo menos uns oito anos que não me enxergava – foi como se tivéssemos retomando uma conversa interrompida no dia anterior.

Ela se surpreendeu com a minha presença ali. Quis saber de mim, da minha família, dos meus filhos. A mesma Domingas que me levava chipas quentinhas e café feito na hora, toda vez que eu entrava na casa do “seo” Lúdio. A mesma mulher firme e leal. Agora, só um pouco mais triste. Abraço a Domingas como quem mergulha, de novo, no mesmo rio. Um rio que não é mais igual, mas que continua lá. Firme, contínuo e corrente, apesar da passagem da vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário