quinta-feira, 17 de março de 2011

Memórias da Profissão - “Seo” Lúdio, em três tempos

A importância da Ponte

As crianças adoravam as histórias dele
“Seo” Lúdio. Era assim que o povo tratava Lúdio Martins Coelho, o prefeito mais popular que Campo Grande já teve. E um dos mais ricos também. A riqueza vinha de família. O pai dele foi um dos maiores fazendeiros do antigo Mato Grosso. E os filhos trataram de cuidar bem do patrimônio. Tão bem que o multiplicaram em muitas vezes.

Mas, nem toda a riqueza serviu para tirar o jeito interiorano do “Seo” Lúdio. Ele não esbanjava. Não dava demonstrações públicas de riqueza. E ainda tinha um jeito de se comunicar que lhe garantia total identidade com o povo. Eu sempre achei que esse jeitão meio caboclo, no fundo, no fundo, não passava de uma bela estratégia de marketing pessoal.

Era o prefeito das coisas simples. Tratava a cidade como quem trata a sua própria família. Ou, o seu curral, diziam os críticos mais ácidos. Mas o povão adorava o “Seo” Lúdio. Invariavelmente, iniciava ou terminava os seus discursos dizendo que "Campo Grande era bom pra criar criança e fortalecer a família". E tinha tiradas sensacionais.

Um dia, ele inaugurava uma das pontes sobre o córrego Prosa. Nessa época, o Roberto Higa era o fotógrafo da Prefeitura e experimentava uma sofisticação – uma câmera Polaroid, com a qual tirava as fotos e entregava na hora ao fotografado. Com autógrafo e tudo do prefeito, causando um imenso alvoroço. “Seo” Lúdio adorava. E o povão, mais ainda.

A ponte era um antigo desejo da comunidade e ía facilitar muito o tráfego na região. O evento era tão importante que a Rádio Educação Rural decidiu transmitir ao vivo. Na hora marcada, havia uma quantidade grande de repórteres de TV, rádio e jornal; faixas, foguetes, a "furiosa" da Prefeitura tocando marchinhas e o povão lá, festejando. Um repórter mais apressado correu para o prefeito e tascou-lhe a pergunta à queima roupa, antes de todo mundo: Prefeito qual a importância dessa ponte? “Seo” Lúdio olhou de um lado e de outro e mandou ver: - Meu filho, essa ponte é importante porque passa gente, carro e bicicleta por cima; e muita água por baixo!

A nomeação e a queda

Ao lado dele, caminhei muito em CG
Um dia, “Seo” Lúdio mandou me chamar, queria uma conversa em reservado comigo. Eu era diretor de jornalismo da TV Guanandi, afiliada da Rede Bandeirantes e não tinha nenhuma proximidade com ele. Mesmo assim, fui. E me surpreendi com um convite para assumir a Secretaria de Comunicação da Prefeitura.

Foi uma longa conversa. Para cada argumento eu tinha um questionamento. Eu resistia muito à idéia de assumir um cargo tão importante sem ter intimidade com ele ou com sua equipe. Mas, ao final, me pôs em xeque: Olha aqui, você é um dos jornalistas que mais me critica. E apesar disso, é um dos que eu mais respeito. Não tenho o que reclamar de você. Sua crítica e bem feita. Eu estou tendo problemas com a minha comunicação. Então, já que você sabe tanto criticar, deve saber o que é preciso fazer para a Prefeitura funcionar bem nessa área. Eu terminei aceitando o convite.

Concluída a conversa, ele chamou o secretário de Administração e determinou a minha nomeação. No dia seguinte, o Diário Oficial trazia a nomeação de “Maranhão Viegas” para a Comunicação Municipal. Corri no prefeito para falar que acontecera um equívoco. O “Maranhão Viegas” não existia de fato. Eu usava apenas como nome profissional. Meu nome mesmo era Inorbel Viegas.

O prefeito não teve dúvidas, chamou o secretário de novo, mandou demitir o Maranhão e nomear o Inorbel Viegas. A passagem relâmpago do “Maranhão Viegas” pela Comunicação do “Seo” Lúdio causou estranheza em muita gente. Não lembro quantos amigos me procuraram querendo saber o que havia acontecido? Quem era aquele cara, de mesmo sobrenome, que tinha me substituído? Qual erro eu havia cometido para durar tão pouco no cargo?

Naqueles dias, o "Maranhão Viegas" deu muitas explicações. Mas o "Inorbel Viegas", felizmente, seguiu firme no cargo até o último dia do mandato do “Seo” Lúdio.

A pesquisa

Coletiva do "Seo" Lúdio era sempre muito animada.
A eleição já estava bem avançada e a candidata do “Seo” Lúdio não ia lá muito bem das pernas. Naquele dia, ao final da tarde, ele decidiu fazer uma das coisas que mais gostava - andar entre o povo, em uma feira de frutas e verduras. No meio da caminhada, foi alcançado por uma repórter de TV que lhe informou os resultados da mais recente pesquisa e do mau desempenho da candidata dele.

Ele sorriu e disse que já conhecia os números. Ela então perguntou se ele toparia uma entrevista. Ele disse: Respondo, desde que seja só uma pergunta, ainda tenho muito que andar com esse povão. Ela topou. Um sinal para o câmera, luz acesa, microfone em punho e ela mandou: “Seo” Lúdio como o senhor viu o resultado da última pesquisa? Ao que ele respondeu: Vi como você, pela televisão! E encerrou a conversa.
Ah, sim! Todas as fotos desse post são de Roberto Higa.

3 comentários:

  1. oi Maranhão

    que saudades daquele tempo em Campo Grande, das conversas contigo, Mara, Ecilda e vários outros colegas de redação.
    O bom de envelhecer é poder sentir saudades e não ter vergonha de dizer isso. Vê se aparecem por aqui, em Floripa. é caminho para Garopaba!
    carinhoso beijo para vc e Mara
    Giovanna Flores

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  2. Oi, Giovanna!!!
    Bom saber notícias suas. Olha, não temos viagem prevista, mas qualuer hora dessas a gente desembarca aí. Prum por-de-sol ou prum chopp. E pra matar a saudade. Beijo.

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  3. Maranhão... quando li a introdução do texto, antes mesmo de visitar o blog pensei na história da ponte e não é que era ela mesmo que estava lá. Bom tempo aquele da TV Guanandi!

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