sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Réquiem para Maria

Eu estava à mesa da cozinha com o Bi e a Mara. Já tinha feito o meu último post do dia. Já tinha corrido meus quatro quilômetros na esteira. Já tinha visto a Mara  fritar um filé. Já estava tomando a minha taça de vinho.

O dia de ontem já era quase hoje. Quando a manchete do Jornal da Globo mostrou uma cena de Marlon Brando e Maria Schneider, que eu só vi de relance e fiquei tentando adivinhar o que tinha acontecido.

Gritei, o Marlon Brandon morreu. A Mara me corrigiu: Ele já foi, faz tempo. Putz, então, então... Então faz 40 anos de "O Último Tango em Paris". Não, pensei... 1972... 40 anos vai fazer no ano que vem. Putz. Então, morreu a Maria Schneider! Bingo. Morreu.

Corri pro computador. E ele, frio, me confirmou: Ela morreu de câncer, aos 58 anos de idade.

Maria tinha 20 e vivia no mesmo apartamento de Brigite Bardot quando foi descoberta por Bernardo Bertolucci, que a fez contracenar com Marlon Brando em O Último Tango em Paris. A história do filme era banal: Uma relação breve e ardorosa entre uma adolescente e um viúvo americano de passagem por Paris.

O filme, que passou um bom tempo proibido no Brasil, tornou-se uma referência da ousadia dos anos 70, sobretudo por causa de uma cena em que os dois faziam sexo anal. O mundo assumiria para sempre uma excêntrica ligação entre a manteiga e o sexo.

Maria Schneider transformou-se em ícone sexual e pagaria muito caro pela ousadia da cena. Sua carreira praticamente sucumbiu. Nos anos seguintes, salvo em excepções como Profissão: Repórter, de Michelangelo Antonioni (1975), ou Violanta, de Daniel Schmid (1977), só lhe ofereceram papéis semelhantes ao de O Último Tango.

Mais tarde, numa entrevista, Maria Schneider diria ter "perdido sete anos" da sua vida, entre drogas, overdoses, uma tentativa de suicídio e um internamento numa clínica psiquiátrica em Roma. Escalada para um dos filmes de maior sucesso de Luis Buñuel, "Esse obscuro objeto do desejo", não segurou a onda e foi demitida. Depois, virou militante feminista e continuou a aparecer no cinema e na TV, quase sempre em papéis secundários. O seu último filme foi Cliente, de Josiane Balasko, em 2008.

Maria morreu. Mas a cena em que ela e Brandon dividem prazer e dor vai ficar para sempre no imaginário de cada um de nós. Sobretudo, no imaginário de todo aquele que um dia rompeu os limites da censura para aprender a ver o mundo sob o prisma da modernidade, da quebra de tabus, o sexo livre. Eu fui um dos que não deixou de espiar o mundo pela janela do último tango em Paris.

2 comentários:

  1. Ela tinha a minha idade. Como histórias de vida são tão diferentes, né?! Imagina eu e você sendo enrabados no cinema pelo Marlon Brando e o mundo inteiro assistindo.
    Nelson Rodrigues vai encontrar com ela no céu e dizer: "- Moça, precisamos ter uma conversinha. Acho que sua vida lá na Terra vai dar, no mínimo, um conto."
    Saúde, um abraço e saudades de trabalharmos juntos.

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  2. Fernando, quanto tempo amigo!
    Que bom receber notícias suas. Assim que for a SP vamos programar uma conversa.Também tenho saudades de trabalhos conjuntos. Está na hora, o ano é esse. Vindo a Brasília, me avise. Grande abraço.

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