A meu convite e depois de muita provocação, ela passa a escrever para este blog. Na frequência que quiser, sobre o assunto que achar melhor. Apenas com o compromisso de traduzir com os olhos de brasileira a vida italiana. Na estréia, como vocês poderão acompanhar a seguir, ela já diz a que veio.
A nonna Tana tá indo embora, aos 95 anos! Tá indo aos poucos. Sem querer ir. Com sofrimento. Chamo-a de nonna por respeito, por carinho, por afeto a esta senhora que me recebeu de braços abertos, como neta, mesmo. De verdade, nonna do Andrea.
Lembro-me do primeiro natal que “a brasileira” organizou na Sicília. Debaixo da árvore vão os presentes, sim senhor. Não se abre nada antes. Ela e os sobrinhos do Andrea, habituados a abrir tudo na medida em que iam chegando, olharam-me com ar desconfiado mas, logo, gostaram da idéia. Magia, expectativa, fantasia! A nonna Tana, apelido de Gaetana, no final do "espera, abre, sorri, agradece, espera", de dois natais seguidos comentou em um estreito dialeto siciliano: “da quando c’è questa ragazza il nostro natale è piu bello!”
Nonna Tana |
A nonna Tana é dos tempos em que mulher não saia de casa sem marido, imagine viajar de avião sozinha, só com um filho e, ainda por cima, vestindo camiseta justa que pouco disfarçava os 7 meses de gravidez. Mas a nonna Tana é, também, mulher que, no período da guerra, quando dinheiro não se via no bolso, inventou sapatos de cortiça para calçar os filhos. É mulher que pesava o pão duro pra dividir em partes iguais entre os quatro filhos. É mulher que levava à mesa sempre a mesma, e pouca, sopa no almoço e no jantar. A guerra não duraria pra sempre.
Os filhos oram para que ela vá. Para que parta de uma vez. A despedida já está se fazendo longa demais. Sofrida demais. E quando ela se for, na mesma casa em que a família por tantas vezes reuniu-se, haverá o último encontro. Um recomeço. Os amigos mais chegados se ocuparão de preparar o almoço ou o jantar. As mulheres arrumarão uma longa mesa, a mesma onde poucas horas antes parentes e amigos despediam-se da nonna Tana. Pasta, pão e vinho.
Um olhar desatento pensaria em um uma festa. Não. É o jeito siciliano de dizer que a vida começa, acontece, termina e recomeça ali, à mesa. É o modo siciliano de não deixar a família sozinha. É o brinde a uma existência. As pessoas conversarão um pouco de tudo. Farão um esforço pra sorrir. Um sorriso sóbrio, quase silencioso. E o ùltimo encontro se faz o primeiro.
Na primeira vez em que participei de uma despedida assim me surpreendi. Fazia o possível para que não transparecesse a minha surpresa. Quase um choque. Hoje penso que, de qualquer forma, é um belo modo de festejar a vida. De ir adiante, de continuar. Pão, vinho e um sóbrio sorriso.
E agorinha mesmo, quando abaixei meus e-mails recebi a notícia que hoje, às seis da manhã, em Campo Grande, minha irmã trouxe à luz um menino. Heitor. Aqui, pão, vinho e um sorriso. Aberto ou sóbrio. Um sorriso!
Laura Murta me escreve, de bate-pronto, logo depois de ler a estreia da Eliane:
ResponderExcluirOi querido, saudades...
Assim que recebi a mensagem corri para o blog, li o texto terno da Eliane. Temos vivido situação tão similar em relação à Flor, sobretudo, depois da partida do Zezão. Há dois meses, Flor perdeu mais um filho. Desse "baque" Flor não se refez, nem quer mais, esta é a verdade!Tivemos um natal como descreve a Eliane, mesa posta: pão, vinho e a tentativa de sóbrios sorrisos. Há dois meses reflito sobre a brevidade e fragilidade de nossa existência, já com saudade de ser chamada de "Da Rosa", era assim que este meu tio chamava por mim...
Parabéns para vc, para o blog e para Eliane.
Beijo em Mara, nas crianças e em vc, claro!
Laurita.
Nossa,Maranha,que gente mais linda. Bem vindos! Só por estarem no seu Blog já tem leitores certos.
ResponderExcluirBjos
Celene, querida amiga! Quanto tempo! Que bom tê-la de volta. Gente linda escrevendo aqui, né? Isso me enche de orgulho e aumenta o prazer que tenho com essa brincadeira de escrever. Beijo.
ResponderExcluirDois prazeres: Amigos e boa leitura. Parabéns Ane e Maranhão. bjs
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