sábado, 10 de dezembro de 2011

O cinema na minha estrada

O cinema sempre esteve presente em minha vida. Desde cedo. Desde sempre. Em 24 quadros por segundo, tenho a ilusão de que me movimento como um personagem, como num filme. Um longa-metragem que me trouxe da Madre Deus e me levou pro mundo.

24 quadros por segundo. No Paraná, minha primeira parada, bem no início da década de 70, aos 8 anos de idade, não perdia por nada as matinês do Cine Star, toda quarta-feira à tarde. Ali descobri os faroestes, os italianos, os épicos, sem saber direito o que eu assistia. Mas meus olhos já se encantavam com a telona, e com a beleza das fitas projetadas a 24 quadros por segundo.

Quando desembarquei no Rio Grande do Sul, no início da década de 80, a Geração Super 8 começava a ganhar fama e prestígio. Uma juventude inovadora e descolada chegava às telas em ousados longa-metragens produzidos naquelas maquininhas mágicas que fizeram história. O cinema Super 8 formou uma geração de artistas, técnicos, roteiristas e diretores e inaugurou uma nova fase da produção cinematográfica gaúcha.

"Deu pra ti Anos 70" abriu a fila, encheu as salas de cinema, conquistou público e crítica e tornou-se um clássico de uma sequência que traria ainda, "Coisa na Roda", "Inverno" e vários outros títulos. Giba Assis Brasil e Carlos Gerbase viraram gente grande, para o cinema, a partir desse movimento. Da mesma forma, surgiram Werner Schunemann, Carlos Gruber, Nilo Cruz, Rude Lagemann e Ivonete Pinto.


Nessa época, no curso de jornalismo da UNISINOS, a gente ensaiava todos os movimentos possíveis no teatro, na literatura e no cinema também. Era um tempo de experimentação. Desafiado pelo Guaracy, professor da cadeira de Cinema, dirigi o meu primeiro média-metragem, em super 8. "Qualquer coisa a ver com o Paraíso" era uma fantasia poética de 20 minutos, rodado durante uma noite inteira, entre a Avenida Farrapos e o Mercado Central de Porto Alegre. NUma dessas voltas ao Sul vou tentar obter uma cópia desse filme que hoje faz parte do acervo da universidade.

Em 81, numa rápida volta a São Luis do Maranhão, conheci Carlito Silva e com ele embarquei no projeto de um documentário, feito também em super 8, que contava a história de um grupo de famílias cuja vida acontecia em função do mais rico folclore maranhense, o Bumba Meu Boi.

Durante duas semanas filmamos a história que deu origem ao documentário "Rei da União". Com ele, recebemos o prêmio do juri popular do primeiro Festival Guarnicê de Cinema, no Maranhão. Durante os dias que passamos em Pindaré Mirim, cidade no coração amazônico maranhense, pude compreender os detalhes de uma festa que misturava o sagrado e o profano, num sincronismo de dança e de ritmos que povoaram toda a minha infância e ainda hoje, aceleram o meu coração.

Na foto postada aí acima, eu, homem feito, criei coragem e pus o chapéu de um dos brincantes do boi. Um sonho de infância, um reencontro com as minhas raizes, uma alegria sincera.

O tempo passou, o filme da vida deu muitas voltas e eu cheguei à TV. Ao jornalismo. Mas nunca abandonei o cinema, nunca deixei de produzir roteiros e de dirigir documentários. Recentemente, o cinema bateu de novo à minha porta. Fruto de um convite feito por Roberto Além Rojo, um premiado diretor de cinema Boliviano, fui chamado para colaborar com o roteiro de um filme que vai contar um pedaço esquecido da história da Bolívia. Sobre esse novo projeto já falei aqui no Blog e se você quiser conhecer melhor essa história é só clicar aqui.

Hoje, vasculhando a blogosfera, dei de cara com uma nova safra do jovem cinema gaúcho. E senti vontade de repartir com vocês a simplicidade deliciosa desse filme, feito por alunos de uma faculdade de cinema de Santa Maria. Ele tem 15 minutos. Mas eu penso que você não vai se arrepender se parar para assistir. É um belo jeito de encerrar a noite de sábado. A 24 quadros por segundo. Como num filme.


Nenhum comentário:

Postar um comentário