Patrícia (com medo do fotógrafo) e o Juca que virou o hoje Dr. Matta Machado, no colo do pai, o velho "Mattão". |
Uma consulta com o Dr. Matta Machado nunca é uma simples consulta. A começar pela música clássica, que, invariavelmente, preenche o vazio do ar e o tempo de espera até que sejamos atendidos.
Depois, porque ele nunca se limita a enxergar o que há em nossos olhos. Vai mais longe e vê também o que existe por trás deles, quase alcançando a nossa alma. E nisso de enxergar a alma, também se expõe. Nos permitindo ver, no caminho inverso, que além do oftalmologista há um poeta, um cronista, um escritor, um contador de histórias de mão cheia. Um sujeito de sensibilidade aguçada. Um mineiro da gema, da melhor estirpe de contadores de causos que aquela terra já deu.
Antes do ano fechar passei pelo consultório dele para renovar as lentes e... ouvir boa prosa. Já no início da consulta ele me mostrou uma foto do pai. O velho Matta, que com o tempo virou o "Mattão" e que, tempos mais tarde, alcançado pela experiência e pela idade, viraria o "Mattinha".
A foto traz ele, ainda uma criança, e a irmã Patrícia, um pouco maiorzinha, no colo do pai. E foi a partir dela que ele começou a falar da irmã. "Sabe por que ela está com cara de choro na foto?" Não Faço idéia, disse. "Porque tinha medo de fotógrafo", respondeu ele. Imediatmente, trouxe a irmã e o medo de infância para o tempo presente.
Me disse que Patrícia, a irmã que tinha medo de fotógrafo, cresceu, superou uns medos e adquiriu outros. E foi por conta de um desses medos que persistem, o de ajudar uma pessoa querida a enfrentar um período de doença ela recorreu ao "Juca", que é como chamam em família o Dr. Matta Machado. Pediu remédios que lhe aliviassem a dor e lhe dessem coragem para não fraquejar.
Se fosse apenas um médico, o Matta teria lhe dado uma receita. Ao invés disso, escreveu-lhe uma carta poema que fez questão de dividir comigo e me autorizou a dividir com vocês. A carta está transcrita aí embaixo. Revela o tanto de carinho do irmão pela irmã. E a fonte que alimentou essa união entre os dois, Dona Stella, mãe de ambos.
Um poema de amor feito em carta. Do Doutor para a irmã. Uma aula de carinho, memória e afeto. O Matta Machado, cuidador dos olhos e artesão das letras, no seu melhor estilo.
Brasília, 11 de agosto de 2009
Patrícia,
Aí vão seus medicamentos.
Prestam-se na medida para aquela menina que tem medo da morte, das doenças, das caras feias e de... fotógrafos!
Servirão também para quem se angustia com o sofrimento alheio, com a pobreza, a ignorância e a solidão. E talvez te ajudem, mas só um pouco, quando tudo isto não for alheio, mas próximo, afetando quem se mais ama.
Na verdade Patrícia, queria ter para ti uma vacina contra todos os males do mundo e da vida.
Somente posso emprestar-te, porém, um pouco da coragem que eu talvez tenha herdado daquela valorosa pessoa que foi Dona Stella.
Um beijo e todo o afeto!
Juca
Uma dica para a Patrícia, irmã do Dr. Nem precisa vacina prás coisas que não entendo no mundo.Invento uma história e me explico, de um jeito sem dor.Daí, a história vira uma verdade e me convence. A vida fica bem melhor.
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