domingo, 20 de janeiro de 2013

Margot, cinco minutos, uma vida

Margot, na última visita
a Brasília 
Em março de 2011, estive em Campo Grande, MS, para mais uma atividade profissional. Não me recordo bem o que era, mas como na maioria das vezes em que voltei a Campo Grande, Margarida Gomes Marques me intimou: Você fica em minha casa. Nada de hotéis. Como sempre, concordei.

Estar na casa de Margot, desfrutar de sua companhia ainda que por poucas horas, era sempre um presente. Nunca escondi de ninguém o amor e a admiração por ela.

Naquele dia, depois de uma longa jornada de trabalho, combinamos jantar e tomar um vinho com amigos, entre os quais estava Ecilda Stefanello (jornalista, amiga, sócia de uma vida inteira, e como Margot, uma das pessoas entraram em definitivo na minha vida).

A poesia (silhueta de Drummond ao fundo) sempre por perto.
Depois do jantar, já de volta à casa da Margot, ficamos conversando por mais algum tempo. Lá, era sempre assim. Havia um cansaço do dia, do trabalho. Mas havia uma necessidade de ficarmos juntos, conversando, dividindo um pouco da nossa vida comum.  Esforço prazeroso, compreensível por estarmos geograficamente distantes - eu em Brasília, ela em Campo Grande.

Olhar certeiro
Enquanto falávamos pensei comigo mesmo que adoraria fazer uma entrevista com Margot. Mas apesar dos inúmeros trabalhos, viagens e projetos que fizemos juntos, isso nunca aconteceu. E a conversa ali ia evoluindo. Passamos pelo trabalho, pelos amigos, pela política e chegamos à arte.

Viver cercado de boas coisas, como Margot sempre quis.
A casa de Margot era uma galeria. Nos últimos tempos, tempos de vacas magras, ela havia se desfeito de alguns quadros. Mas ainda assim, havia muitas e boas telas. No meio da conversa, comecei a fazer fotos dela e da casa. Lembrei que o telefone tinha uma filmadora e sem que ela se desse conta, acionei o telefone e filmei uma parte da nossa conversa.

Foram cinco minutos, um pouco menos. Mas valeu por uma vida.

Hoje, revisando os meus arquivos de imagem, descobri essa preciosidade. Estava ali, inteira, intacta, a entrevista que nunca fiz com Margot. Comecei perguntando sobre um quadro do Ilton Silva , pintor sul-matogrossensse, filho de uma outra artista ícone da cultura de Mato Grosso do Sul, Conceição dos Bugres. Ela me diz que teve que vendê-lo, para o Gilberto Alves, um amigo e colecionador de artes.

"Uma mulher feliz!"
Depois engatamos a conversa e eu pergunto sobre a vida, sobre a felicidade, sobre a realização. Os cinco minutos se transformam numa vida. Margot fala das coisas e pessoas que mais gosta, como o poeta Emanoel Marinho. Fala também de Neruda, uma das suas paixões. Fala da emoção de visitar suas casas no Chile.

Por algum motivo, eu sabia o que estava fazendo. E acho que ela também. A vida não nos deu outra chance. Mas o pouco que fiz, nossa curta conversa tem hoje o valor de uma eternidade.

Ao final, percebendo que estava sendo gravada, Margot dá um sorriso cúmplice, me chama de safado e sai de cena. Foi a bronca mais carinhosa e delicada que alguém poderia me dar em vida. Foi uma despedida bem ao estilo da Margot.

Eu agradeço e divido o presente que acabo de descobrir no meu relicário digital. Cheio de saudade, de respeito e de amor. Margot, uma vida em cinco minutos. (Não liguem para a má edição. Eu estava emocionado demais pra me preocupar com créditos e ajustes. Depois eu penso nisso.)


4 comentários:

  1. Pura emoção de ver a Margarida vivíssima como a conhecemos Maranhão! Grande lembrança!

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  2. sem palavras....obrigado por partilhar ....

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  3. Emocionante! Adorei ver, ouvir e sentir. Obrigada por dividir essa emoção! Bjs

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  4. Veleu, Mestre. Ela é o máximo. Que entrevista...Que pessoa......Acho que gente assim "é"! Nunca morre...

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