quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Um abraço carinhoso


Por *Innocêncio Viegas

Innocêncio e Isabel
Depois de uma bateria de exames no Instituto de Doenças do Coração, liguei para a Bel informando ter ocorrido tudo dentro dos conformes. Logo saí para bebericar um gostoso café na Cafeteria que fica nas proximidades da Clínica, ao lado de uma banca de revistas.

            Como de costume fui primeiro à banca, comprei um livro e voltei para a Cafeteria.
            Ocupei um dos bancos altos e pedi um café com leite e um pão de queijo. Enquanto o café não chegava aproveitei para ler a “orelha” do livro. A Cafeteria estava vazia e eu era o único cliente. Nisso, chega um menino de aproximadamente dez anos. Franzino, tranquilo, sério, usando um óculos de armação preta. Estava bem vestido e aparentando ser um menino bem educado. Dirigiu-se ao balconista e perguntou.

– Quanto custa um guaraná?
            – Três reais, disse o funcionário da Cafeteria
            – E um pão de pizza?
            – Dois e cinquenta. O menino olhou para a mão que segurava o dinheiro e um pouco triste disse que o seu dinheiro não dava para fazer a compra pois só dispunha de quatro e cinquenta. Eu tomava o café e saboreava o pão de queijo. Logo me dirigi ao garoto.

 – Se você concordar, posso completar o seu dinheiro!
            O menino nada falou e o balconista, paralisado, escutava o que eu falava. Sem qualquer resposta da criança – quem cala às vezes consente – pedi ao balconista que o atendesse que eu pagaria.

            O menino logo informou que o lanche era para levar. O lanche  foi acondicionado em uma sacola: uma lata de guaraná, um pão de pizza e guardanapos. O menino segurou o lanche com a mão direita, conservando o dinheiro na esquerda.

             O jovem virou-se para mim e perguntou.
            – Como faço para pagar o senhor?
            – Meu bom menino – disse-lhe – quando você tiver mais ou menos a minha idade e que uma criança ou outra pessoa perto de você estiver necessitando de ajuda, aí você o ajudará e estará me pagando.

            Sem dizer nenhuma palavra, dirigiu-me um olhar de felicidade, encostou a cabeça em meu peito e, com a mão esquerda abraçou-me delicadamente e saiu em direção a uma das  Clínicas ali perto. Aquele abraço foi um refrigério para a minha alma.

            Observei que aquele menino deveria ser criado por uma veneranda avó pois durante o nosso pequeno diálogo ele me chamou de “senhor”, palavra que os meninos de sua idade, criados hoje pelos modernos pais, não sabem falar e, só os antigos ensinavam os filhos  e netos  a tratar por “senhor ou senhora” a todas as pessoas mais idosas.

            Paguei a despesa, agradeci o atendimento e saí, já preparando na cabeça, esta crônica.
            Conversando com o compadre Cantanhede sobre este caso, ele me disse: compadre esse menino ao crescer será uma boa pessoa.

            Nas minhas reflexões agradeci a Deus pela oportunidade que tive de receber daquela criança um olhar piedoso de agradecimento e merecer sentir no peito, o calor e a ternura de um carinhoso abraço.
*Innocêncio Viegas é maranhense, da Madre D'eus. É membro da Academia de Letras de Brasília e da Academia Maçônica de Letras do Brasil. É fundador da Confraria dos Amigos da Boa Mesa. É marido de Isabel, minha mãe. E é meu pai.
 

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