Por *Innocêncio Viegas
Innocêncio e Isabel |
Depois de uma bateria de exames no Instituto de
Doenças do Coração, liguei para a Bel informando ter ocorrido tudo dentro dos
conformes. Logo saí para bebericar um gostoso café na Cafeteria que fica nas
proximidades da Clínica, ao lado de uma banca de revistas.
Como
de costume fui primeiro à banca, comprei um livro e voltei para a Cafeteria.
Ocupei
um dos bancos altos e pedi um café com leite e um pão de queijo. Enquanto o
café não chegava aproveitei para ler a “orelha” do livro. A Cafeteria estava
vazia e eu era o único cliente. Nisso, chega um menino de aproximadamente dez
anos. Franzino, tranquilo, sério, usando um óculos de armação preta. Estava bem
vestido e aparentando ser um menino bem educado. Dirigiu-se ao balconista e
perguntou.
– Quanto custa um guaraná?
– Três
reais, disse o funcionário da Cafeteria
– E
um pão de pizza?
–
Dois e cinquenta. O menino olhou para a mão que segurava o dinheiro e um pouco
triste disse que o seu dinheiro não dava para fazer a compra pois só dispunha
de quatro e cinquenta. Eu tomava o café e saboreava o pão de queijo. Logo me
dirigi ao garoto.
–
Se você concordar, posso completar o seu dinheiro!
O
menino nada falou e o balconista, paralisado, escutava o que eu falava. Sem
qualquer resposta da criança – quem cala às vezes consente – pedi ao balconista
que o atendesse que eu pagaria.
O
menino logo informou que o lanche era para levar. O lanche foi acondicionado em uma sacola: uma lata de
guaraná, um pão de pizza e guardanapos. O menino segurou o lanche com a mão
direita, conservando o dinheiro na esquerda.
O jovem virou-se para mim e perguntou.
–
Como faço para pagar o senhor?
– Meu
bom menino – disse-lhe – quando você tiver mais ou menos a minha idade e que
uma criança ou outra pessoa perto de você estiver necessitando de ajuda, aí
você o ajudará e estará me pagando.
Sem
dizer nenhuma palavra, dirigiu-me um olhar de felicidade, encostou a cabeça em
meu peito e, com a mão esquerda abraçou-me delicadamente e saiu em direção a
uma das Clínicas ali perto. Aquele
abraço foi um refrigério para a minha alma.
Observei
que aquele menino deveria ser criado por uma veneranda avó pois durante o nosso
pequeno diálogo ele me chamou de “senhor”, palavra que os meninos de sua idade,
criados hoje pelos modernos pais, não sabem falar e, só os antigos ensinavam os
filhos e netos a tratar por “senhor ou senhora” a todas as
pessoas mais idosas.
Paguei
a despesa, agradeci o atendimento e saí, já preparando na cabeça, esta crônica.
Conversando
com o compadre Cantanhede sobre este caso, ele me disse: compadre esse menino
ao crescer será uma boa pessoa.
Nas minhas reflexões agradeci a Deus
pela oportunidade que tive de receber daquela criança um olhar piedoso de
agradecimento e merecer sentir no peito, o calor e a ternura de um carinhoso
abraço.
*Innocêncio Viegas é maranhense, da Madre D'eus. É membro
da Academia de Letras de Brasília e da Academia Maçônica de Letras do
Brasil. É fundador da Confraria dos Amigos da Boa Mesa. É marido de
Isabel, minha mãe. E é meu pai.
Que fofo. Um abraço para o seu Innocêncio.
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