Considero saber passar o tempo um dos maiores desafios da atualidade. Em geral, luta-se hoje por um tempo a mais. De descanso, de lazer, de vida. Mas, geralmente, quando se conquista esse tempo ele é mau usado. Seja por falta de preparação, por falta de planejamento ou por inabilidade com o tempo.
Ontem, vivi um dos mais exigentes desafios dos últimos tempos. Esperar em silêncio por uma cirurgia. Coisa simples, uma hérnia umbilical, me diziam os especialistas. "Simples para quem, cara-pálida?" Eu me perguntava, com a consciência de que no universo da medicina há pouco de simplicidade.
Chego ao hospital e me dirijo ao espaço destinado à preparação pre-cirúrgica. Minha família ficou lá fora, no espaço frio, reservado às famílias de pacientes, que todo hospital tem. Agora era comigo, com o tempo e com o silêncio. Fora isso, havia um grupo de atendentes do hospital e outro de desconhecidos, na mesma situação que eu - a espera de uma cirurgia.
Orientado, fui a um banheiro tirar a roupa e por aquele jaleco "elegante" que todo hospital fornece a quem vai se internar. Pronto, juntei-me ao grupo de "desconhecidos íntimos". Eles abusavam do exercício de conversar entre si, abrindo mão do silêncio a que todos temos direito nessa situação.
Falavam tanto e tão avidamente que em poucos minutos, apenas por estar ali, eu sabia mais sobre a intimidade deles do que qualquer um deles pudesse imaginar. Não os recrimino. Penso que cada um lida com os seus medos e anseios da forma que é capaz.
Eu me recolhi. Resolvido a viver o silêncio da espera, não importando quanto tempo isso significasse. Era eles, vivendo uma conversa nervosa, e eu, em absoluto silêncio. Fechei os olhos. Não havia telefone celular, iPad, iPod, livro, caderno ou caneta. Não havia sequer as minhas lentes de contato para me fazer enxergar melhor. Não havia outra coisa a fazer senão esperar.
No silêncio é quando a gente se enxerga melhor por dentro. No silêncio a gente vê, fica de frente, com o feio e o bonito de cada um de nós. Talvez por isso, as pessoas fujam tanto do silêncio. Uma hora depois de iniciado o meu silêncio, uma moça vestida para operar me chama pelo nome de batismo - Inorbel, vamos lá?
Pegou firme e carinhosamente em minha mão e me perguntou, rompendo o meu silêncio: Você está nervoso? E eu respondi: Não. Tenho alguma fome e a certeza de que o mais difícil já passou. Venci o tempo, o passar do tempo e o silêncio com dignidade.
Fico feliz, meu amigo, por tudo isto e por você estar aqui.
ResponderExcluirSe cuida cara... o mundo precisa de pessoas como você... força e vida!
ResponderExcluirValeu, Mariza. Valeu, Robinho! Estamos no jogo.
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