Me lembro que meu pai comprou uma radiola Philco. Naqueles tempos, a radiola era o móvel mais charmoso da casa. A nossa, ficava na sala. Objeto de decoração e de adoração. Criança não podia chegar perto. Pra não estragar o equipamento tão caro. Ela era imensa e tinha um som grave inesquecível, daqueles de fazer balançar janelas de vidro e por pra vibrar o corpo quando a gente chegava mais perto.
O primeiro LP a gente não esquece |
Mas era. Como filho mais velho, conquistei a condição de mexer (cuidadosamente) na radiola. Ouvi tanto aquele disco que decorei todas as letras e a sequência de cada música. Não havia uma que não se encaixasse com os meus sonhos e as minhas angústias juvenis. Era um disco vigoroso. Um sopro de renovação que virou um clássico do rock brasileiro. Uma surpresa generalizada.
Diferente do que acontece hoje, o disco tinha boas músicas do início ao fim. Vendeu 200 mil cópias tornando-se o primeiro grande sucesso do rock nacional da década de 70. E trazia pelo menos duas parcerias maravilhosas de Rita Lee com Paulo Coelho (até então, muito mais letrista do que mago), Esse tal de Roque Enrow e O Toque.
Fruto Proibido, que tenho até hoje, acompanhou todas as mudanças que fiz na vida. Quando saí de casa para estudar fora, levei comigo a Rita e seus amigos cabeludos. Quando conquistei a primeira namorada, fui correndo lhe apresentar a Rita Lee e o Fruto Proibido (sem que isso fosse um trocadilho infame, claro).
Ao final de alguns namoros, muitas vezes recorri ao Fruto Proibido da Rita para curar a dor de cotovelo. O disco quase furava - de tanto tocar - a faixa "Agora só falta Você", cuja letra dizia: Um belo dia resolvi mudar / E fazer tudo o que eu queria fazer / me libertei daquela vida vulgar / que eu levava estando junto a você ...
Com Rita, descobri Luz Del Fuego, uma feminista brasileira. Me apaixonei pelos primeiros acordes do blues em "Cartão Postal", que bem mais tarde ficaria eternizado também na voz terminal de Cazuza. Enfim, com a Rainha do Rock Brasil sonhei, sofri, sorri e fiz viagens deliciosas.
Rita e os mutantes |
Ontem, li no jornal que aos 67 anos de idade, ela disse adeus aos palcos. Não vai se afastar das músicas, mas faz a sua última turnê ainda no começo deste ano. É justo, embora seja triste. É mais um dos meus ídolos a caminho da aposentadoria. Mas, recorrendo ao velho e bom Fruto Proibido, e à música Cartão
Postal, faço minhas as palavras dela: O adeus traz a esperança escondida. Pra quê sofrer com despedida?
Rita sai de cena, mas tratou de deixar uma ocupante à altura para o posto. No vídeo aí embaixo, ela elege a sua "filha" e herdeira do rock. Pitty. E faz uma apresentação histórica junto com a menina, que ela havia, naquele momento, recém descoberto. God bless the Queen!
Saber da nova fase da Rita Lee é constatar que quem acompanhou a carreira dela, hoje também está em outra fase. Esse disco da Rita é histórico e não só você, mas todos nós, os seus irmãos, também decoramos (por osmose) todas as faixas. Como não lembrar da velha radiola que não parava de tocar Rita Lee, Beatles e tantos outros que fizeram parte da nossa história. Bons tempos...
ResponderExcluirSaber da nova fase da Rita Lee é constatar que quem acompanhou a carreira dela hoje também está em outra fase. Esse disco da Rita é histórico e não só você, mas todos nós, os seus irmãos, também decoramos (por osmose) todas as faixas. Como não lembrar da velha radiola que não parava de tocar Rita Lee, Beatles e tantos outros que fizeram parte da nossa história. Bons tempos...
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