Desabamento aqui...
O Brasil ainda está sob o impacto do desabamento dos três prédios na área central do Rio de Janeiro. Faz dois dias. Mas as imagens e o drama vão durar uma eternidade. Os relatos contam que em menos de dez segundos um prédio de 20 andares, outro de 10 e um de 4 se desintegraram, viraram uma montanha de entulho.
Estima-se que 23 pessoas tenham morrido. Houve relatos de pequenos milagres. Um homem saiu do elevador, viu o prédio se desintegrando e correu pra dentro do elevador, de novo. Tudo o que os especialistas não recomendam. Mas isso o salvou.
Um zelador fazia uma vistoria no sexto andar, no prédio de 10 andares. Ouviu barulhos, percebeu o prédio ao lado caindo e correu para a sacada do prédio em que estava, que também foi destruído como se destrói um castelo de cartas. O primeiro bombeiro a chegar subiu em um monte de entulho para conversar com pessoas de um prédio vizinho e ouviu alguém dizendo – Estou aqui, no sexto andar. Era o zelador, sob os seus pés, salvo por um milagre, no meio dos escombros.
Mas houve também relatos dramáticos que não tiveram final feliz. Um homem conversava pelo MSN com a sua esposa. Ele, em um lugar da cidade; ela, no primeiro prédio a desabar. De repente, a conversa foi interrompida sem um ponto final. Não deu tempo dela despedir-se ou, sequer, de dizer o que estava acontecendo. O teclado parado. A tela vazia. O homem desesperado. Hoje, ao final da manhã, o corpo dela foi encontrado.
Em outro caso dramático, já algum tempo depois dos prédios terem desabado, uma noiva recebeu uma ligação do seu noivo. Ele trabalhava no prédio. Ele trocou poucas palavras com ela. O sinal caiu. O telefone ficou mudo. Foi a última vez em que se falaram. Ele ainda não havia sido encontrado até há pouco.
... E terremoto lá.
Eliane Di Quarto, minha amiga jornalista que vive em Milão, na Itália, me escreve pra dizer que a terra tremeu por lá. Foi também há dois dias. E o relato dela dá uma ideia da angústia que vive quem tem tempo pra pensar e, felizmente, se salvar, numa circunstância dessas:
A terra tremeu! Foi hoje de manhã! Era mais ou menos 9h10. Depois de tudo passado, a informação é de que o terremoto, com epicentro na planície Padana Emiliana e 4.9 na escala Richter, durou 10 segundos!
Ô, 10 segundos longos! Foi o tempo de pegar o casaco da Sophia, o meu, deixar tudo do jeito que estava e descer. Pelas escadas. Nada de elevador porque pode ser ainda mais perigoso. Tremia a terra, mas o tremor maior era dentro de mim. Pensava no Lorenzo na escola. Pensava no que aconteceria se desmoronasse tudo! Pensava nas perdas. Em todos os tipos. É inevitável não pensar! E agora?
O prédio onde moramos foi construído nos anos 70, já pensado para situações como esta, mas quem fica em casa pra ver se a engenharia funciona mesmo? Quanto mais alto se está, mais forte se sente o tremor. Eu, Andrea, que ainda não tinha saído para o trabalho, e Sophia ficamos pela rua. Com o celular, tentei sintonizar uma rádio. Parecia tudo tranquilo, mas ainda assim inventei algumas coisas pra fazer. Desculpa pra não voltar pra casa.
Fruta, verdura, perfumaria e creme para o rosto. Tudo no térreo! Sete anos atrás vivi a mesma sensação. Era madrugada! Dormia e senti a cama caminhar e tremer tudo. Nunca tinha provado na pele, mas logo entendi que era um terremoto. Saímos de casa de pijamas, só com o sobretudo por cima, e passamos boa parte da noite no carro, ouvindo as notícias à espera de uma informação um pouco mais segura pra poder entrar em casa.
Agora, acabo de voltar pra casa. Na estrada, pensei na minha tristeza hoje de manhã, quando Andrea teve que formatar o nosso Hard Disk externo por conta de um problema sem solução. Perdi várias e várias imagens arquivadas à espera de um tempo pra editar uns vídeos. Nestes momentos um pensamento puxa o outro e tentei fazer as contas do que já perdi, por causa da distração, do computador que me deixou na mão, da velha agenda eletrônica que pifou...
Hoje, passado um tempo, vejo que quase nem me lembro, com certeza, do que ficou pra trás. E como acontece quando meu cérebro está no canal italiano, deixei escapar em alta voz um: “va fanculo le immagini perse! Andiamo avanti nella vita!”
Levo o dia adiante com o celular sempre no bolso, nada de pantufas nos pés, e os casacos já pendurados na porta. Se for preciso sair correndo. Já está tudo na mão!
Eu sei que tá longe, mas Ane mora no meu coração e desci a escada correndo com ela, agora, dias depois. E percebendo o quanto precisamos estar atentos e fortes, não temos tempo de temer a morte.
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