Os dois namoravam há mais de três anos. Ele 38. Ela 25. Mas não havia diferença, nem de tempo, nem de espaço, em seus corações. João gostava da natureza. Maria adorava flores. Os dois faziam planos enquanto caminhavam em um bosque nos arredores da cidade. Passeio de sábado.
A manhã um pouco fria, como são as manhãs de inverno. O silêncio composto da floresta. Pássaros, folhas, galhos secos, vento e montanhas.
De repente, Maria avista uma orquídea. Linda, amarela, nascida num ponto tangencial, onde dois galhos de uma árvore caprichosamente se cruzavam. Uma beleza quase inalcançável, como se tivesse sido criada para ficar ali. Uma composição permanente da natureza. Uma lindeza, à beira de um penhasco.
João enxergou o brilho nos olhos de Maria.
- Quer que eu a pegue pra você.
Maria hesitou um pouco antes de responder.
... – Quero. (Um querer indeciso, que quase não lhe saiu da garganta)
João deu-lhe um beijo antes de partir em direção à flor. Foi a última vez que os dois se beijaram.
A árvore e a orquídea. João e Maria. A flor e o penhasco. O acaso e a tragédia. A natureza viva. Um passo em falso. A queda. O amor despedaçado. Uma vida aqui em cima. O corpo morto lá embaixo.
A orquídea permanece no mesmo lugar de onde jamais vai sair. Maria chora a dor de um amor que acabou, numa manhã fria de sábado. No inverno. No silêncio composto da floresta.
Ficção de Maranhão Viegas,
baseada em história real que pode ser lida aqui.
Beleza, Maranhão. Texto maravilhoso, poético. Bom demais pra começar o dia.
ResponderExcluirTão melancólico, tão poético e belo.
ResponderExcluirAinda assim, melhor ler apenas seu texto, acreditando apenas na ficção.