segunda-feira, 4 de julho de 2011

Cães, gatos e cia

*Por Mariza Poltronieri


Quando criança, convivi com muitos animais, os de comer e os de gostar. Lá no restaurante tinha um “abatedouro” de aves, matava-se e limpavam-se os frangos para uso. Engraçado, não víamos os coitados como seres, mas como produtos. Em contrapartida, se ganhássemos um pintinho, imediatamente ele se transformava de um produto para um amigo do peito.

Eventualmente, seu Luís trazia alguns bichos para engordar e comer. Vinham perus, cabritos, coelhos, leitõezinhos. Cuidávamos deles como bichos de estimação, sem a mínima malícia do que iria ocorrer com eles. Depois de gordinhos eles sumiam e iam para a panela. Nós, bobinhos que só, nem desconfiávamos da justificativa de meu pai. Todas às vezes o bicho tinha fugido.

Além dos bichos de comer, criamos cachorros de criança e cachorros de caça, gatos, porquinhos da índia (no Peru se come o “coim”. Não tive coragem, são bichos de gostar!). Todos participavam de nosso dia-a-dia como os irmãos, pai e mãe.

O tempo passou e fomos pra casa da Zona Dois. Lá, o seu Luís cometeu alguns pecados ambientais. Tentou fazer de bichos silvestres, bichos de gostar. Não deu nada certo e só sobrou a culpa e o arrependimento. Trouxe da fazenda um veado e dois mutuns, ambos da fauna do cerrado mato-grossense. Os mutuns ficavam presos num gaiolão construído para eles e o veado cresceu, virou mocinho louco para namorar, com chifres, atacando todo mundo. Foram doados. A casa da zona dois foi esvaziando de gente e de bichos. Só sobrou a d. Olívia.

Em minha casa tenho uma cadela poodle, já idosa. Lilica é um “highlander”. Já foi atropelada duas vezes, quase mortalmente e sobreviveu. Também tenho dois gatos “street cats”, fofos e lindos. A Mafalda, uma gata de três cores, mãe do Udelson (nome escolhido pelo Vinícius, tirado do jornal), um gato enorme e amarelo, o próprio Garfield de gordo e preguiçoso. Gosto mais de gatos. Eles são companheiros mas não pulam na gente. A Mafalda dorme comigo toda noite.

Dia desses li na revista super interessante que os animais pensam. Cachorros, por exemplo, são os únicos bichos que sabem o que você está pensando, através do contato visual. Olhando nos olhos, eles detectam o nível de atenção dos donos e atuam de acordo com ele. Cães e gatos são experts em dissimulação. As aves são monogâmicas, golfinhos são sádicos, galinhas fazem planos para o futuro, vacas têm inimigas, chimpanzés sentem inveja e vergonha. Para o mal ou para o bem, é melhor a gente acreditar.

(Nota do Blog: Poucas horas depois de enviar este texto, Mariza escreveu outra mensagem, informando que a cadela Lilica havia morrido. Mariza falou sobre intuição, como se o texto escrito anteriormente fosse uma espécie de sinal. Ou uma forma de despedida. Não duvido.) 

*Mariza Poltronieri é culinarista em Maringá, PR. E tem espaço garantido aqui, para escrever sempre que quiser, sobre alquimia gastronômica. Ou, sobre o que ela desejar.

4 comentários:

  1. Obrigada pelo carinho.
    É muito triste perder bichos de gostar...

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  2. Cachorros sabem falar, mas se calam diante da ignorância e da bondade dos humanos...Sua lilica teve o lar que mereceu, e você, o olhar doce e sincero dela...Te amo pra sempre! ( esse sempre, é todo dia! )bjs . Si.

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  3. De Daisa Poltronieri para o meu email:

    "Mariza, lindo o que me enviou sobre os bichos...de chorar de baciada mana!"

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  4. Parabéns Mariza, por mais esse texto que flui com a sua inata facilidade de contar histórias para os de 8 a 80.

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