Em 1980, quando cheguei ao Rio Grande do Sul, estava em pleno andamento uma revolução cultural. Na música, no cinema, no teatro, nas artes, enfim. Para mim, era o início do meu curso de jornalismo na UNISINOS. Era a descoberta de uma terra que não era a minha, que não era tão quente quanto a minha, que não tinha os sabores da minha terra e ainda assim, era fantasticamente provocante.
Foi assim que descobri Nelson Nadotti e Giba Assis Brasil. Eles eram os caras de ponta, ousados demais, fazendo cinema na bitola "super 8". "Deu pra ti Anos 70" e "Coisa na Roda", dois dos primeiros filmes feitos por eles, viraram clássicos. Estavam plantadas ali, consciente ou inconscientemente, as raízes do bom cinema gaúcho que existe hoje.
Um pouco mais tarde, por conta da minha vida cruzar com a da Mara, terminei me aproximando de figuras como o Carlos Gruber, a Mica Sauressig e o Nilo Cruz (no cartaz de "Coisa na Roda" aí acima, Nilo é o terceiro, da esquerda para a direita e Gruber é o quarto). Todos eles estudaram com a Mara, quando ela ainda era Franke, no Sinodal, um internato, em São Leopoldo. E de alguma forma tambem estavam naquele momento envolvidos com o cinema ou com o teatro, em Porto Alegre.
No teatro, a montagem de "Marat e Sade" conquistou público e crítica e lotava as sessões nos fins de semana. A peça chamava-se originalmente "Perseguição e Assassinato de Jean-Paul Marat representado pelo Grupo Teatral do Hospício de Charenton sob a Direção do Marquês de Sade”. Um polêmico roteiro ficcionista sobre a Revolução Francesa, escrito em 1964 pelo diretor de cinema e dramaturgo alemão, Peter Weiss.
No rádio tocavam Nelson Coelho de Castro, Bebeto Nunes Alves e Ney Lisboa. Todos eles "filhos" de um camarada chamado Carlinhos Hartlieb. Um gênio de vida curta (como é comum aos gênios). Que foi encontrado morto em uma casa em Garopaba (que virou capa do disco póstumo, que está aí abaixo), quando lá não existia nada além de areia, mato, praia e pescadores. Antes de partir, abriu caminho para uma geração inteira de músicos, que se encarregou de dar expressão e consistência à nova música popular gaúcha.
Era uma época de pouco dinheiro e muita diversão. Tempo de pegar o ônibus em São Leo e desembarcar em POA. De caminhar pela Independência, descer para o Bonfim, onde os magros e as magras de todas as tribos se juntavam para terminar a noite no Bar João, ou no Ocidente. Claro, depois de assistir um filme de Godard, no Bristol; ou depois de ver um show da banda "Atahualpa y os Panques" no auditório Araújo Viana.
Hoje, não sei direito porque lembrei de tudo isso. Acho que foi a partida da Iara Maurente, uma jornalista gaúcha que esteve por uns tempos em Brasília, mas que já está de volta ao Sul. Conheci Iara através do Mauro di Deus. E nem foi preciso muito para nos transformamos em amigos, como esses amigos de infância - de quem a gente gosta sem querer. Só por gostar. E a nossa amizade virou "pra sempre".
Então, acho que é isso. Esse texto, Iara, é pra dizer que foi boa a tua passagem por aqui. E que eu estou torcendo para que seja melhor o teu retorno aos pagos. A música aí embaixo, encontrei vasculhando a blogosfera. É uma das que o Nei Lisboa cantou no show que a Universidade de Caxias promoveu, no ano passado, para comemorar os 30 anos de carreira dele. Pra te lembrar.
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