Acabo de ter dois encontros. O primeiro, com o meu maestro soberano, Lula Theodoro. Passamos tanto tempo nos desencontrando que eu até pensei que ele não queria mais ser "o meu maestro soberano". Abandonado, procurei um maestro suburbano. Não encontrei. Ainda bem.
Hoje, quando finalmente nos reencontramos, Lula Theodoro, o meu maestro soberano, me disse que mais uma das nossas viagens musicais está pronta. Uma toada de boi. Quase não me cabia em mim. De tanto feliz que fiquei. Amanhã, vou conhecer a toada. Depois, conto pra vocês.
Depois, tive o meu segundo encontro. Com a poesia de Manoel de Barros. Dessa, não tenho o que dizer. Tenho vontade de ler e gritar bem alto: POR QUE NÃO FUI EU QUE FIZ??????? E recomposto, chorar de tanta emoção, de tanta lindeza que esse sujeito carrega nas palavras. Coisa simples e besta. De tão linda. (Obrigado, Bosco Martins, por me ajudar a fechar a noite de quinta).
Soberania
Por Manoel de Barros
Naquele dia, no meio do jantar, eu contei que tentara pegar na bunda do vento — mas o rabo do vento escorregava muito e eu não consegui pegar. Eu teria sete anos. A mãe fez um sorriso carinhoso para mim e não disse nada. Meus irmãos deram gaitadas me gozando. O pai ficou preocupado e disse que eu tivera um vareio da imaginação.
Mas que esses vareios acabariam com os estudos. E me mandou estudar em livros. Eu vim. E logo li
alguns tomos havidos na biblioteca do Colégio. E dei de estudar pra frente. Aprendi a teoria das idéias e da razão pura. Especulei filósofos e até cheguei aos eruditos. Aos homens de grande saber. Achei que os eruditos nas suas altas abstrações se esqueciam das coisas simples da terra. Foi aí que encontrei Einstein (ele mesmo — o Alberto Einstein). Que me ensinou esta frase:
A imaginação é mais importante do que o saber.
Fiquei alcandorado! E fiz uma brincadeira. Botei um pouco de inocência na erudição. Deu certo. Meu olho começou a ver de novo as pobres coisas do chão mijadas de orvalho. E vi as borboletas. E meditei sobre as borboletas. Vi que elas dominam o mais leve sem precisar de ter motor nenhum no corpo. (Essa engenharia de Deus!) E vi que elas podem pousar nas flores e nas pedras sem magoar as próprias asas. E vi que o homem não tem soberania nem pra ser um bentevi.
Texto extraído do livro (caixinha) "Memórias Inventadas - A Terceira Infância", Editora Planeta - São Paulo, 2008, tomo X, com iluminuras de Martha Barros.
Manoel de Barros é mesmo um presente maravilhoso. E você me deu um presente com este texto que eu não conhecia. Você merece Manoel de Barros, Maranhão. Como poucos.
ResponderExcluirQue delícia ler isso!
ResponderExcluirMeu Maestro Soberano, Lula Theodoro, me escreveu. Se atrapalhou com a postagem do comentário e resolveu me mandar por e-mail. Orgulhosamente, divido com vocês.
ResponderExcluirMEU PARCEIRO!VC MERECE O MANUEL!
E EU SEMPRE FAREI POR MERECER VC.
GRANDE ABRAÇO!
LUIZ THEODORO