sábado, 11 de agosto de 2012

Short Cuts de agosto

Margot, a saudade e a fé.

Margot
Há dias, penso em Margot. Penso tanto que resolvi fazer-lhe uma carta. Margot é Margarida Marques, minha comadre. Madrinha de Mariana. Uma alma gêmea, dessas que entram na vida da gente não se sabe como, nem por quê. Mas que ficam em definitivo.

Pensei em Margot quando comprei um livro, lindo, que se resume a uma carta escrita por Paulo Mendes Campos a Otto Lara Rezende. Li num vapt. Pensei nela num vupt. Fiquei tão embevecido pela escrita de um para o outro, que senti necessidade de escrever também. E lembrei que, uma vez, muitos anos atrás, já tinha vivido uma sensação parecida com essa.

Era agosto, também. Tempo de campanha política. Eu tocava uma, de um lado. Margot estava em lado oposto. Mas isso nunca nos apartou. Então, um dia, assisti um filme. Me lembro como se fosse agora. "Ponto de mutação" era o nome do filme. trava-se da história de um poeta, um político e uma cientista. Um texto provocante. Uma direção simples, beirando a perfeição.

Quando terminei de ver o filme, corri para o computador e escrevi uma carta de oito laudas para a Margarida. "Você precisa ver esse filme, Margot". E tratei de deixar as minhas impressões sobre o que havia visto. Escrevi num fôlego só, de uma sentada. E mandei pra ela.

Minutos depois, pelo aparelho de fax, me chegava a resposta de Margot. Oito páginas manuscritas, lindas, que eu guardei até o dia em que o tempo apagou.

Pensando nisso e movido pela nova leitura, comecei a escrever uma nova carta pra Margot. Mas fui atropelado pelo acaso e pelo apagão que deu no computador. A carta não chegou a ser concluída. E a saudade de Margot só aumentava. Há pouco, olhei o relógio, quase dez da noite. Resolvi ligar. Do outro lado da linha Margot, com um fiapinho de voz, me diz que está doente há quase um mês. Então, era isso o silêncio dela. Era isso o aperto no meu coração. Melhore logo, Margot. Tenha fé. Ou eu pego um avião e vou aí. Ainda tenho muito pra te escrever.

Fé na mudança

Mariza, uma das "Meninas"
Stefânia é mãe de Soraia. Stefânia tem 84 e não perde um baralho por nada desse mundo. Toda semana, "as meninas" se juntam para horas de cartas, vinho, comida e dar risadas. "As meninas" formam um grupo de mulheres que variam de 18 a 84 anos. Acho que já falei sobre elas aqui no blog. Ou melhor, a Mariza Poltronieri, que é uma das integrantes, e que me falou sobre o grupo, sempre que pode me conta suas aventuras do carteado.

Ontem, teve uma nova. Era aniversário de Soraia. Mais razão ainda para a reunião das meninas do baralho (que também parecem ser "do barulho"). Depois de muito vinho, de muita filosofia, de comidinhas variadas, de Roberto Carlos correndo solto na vitrola, de papo  de amor e de prazer, num minuto de silêncio, Stefânia soltou uma daquelas frases desprovidas de pertinência, mas que entram para a história pelo simples fato de ser pronunciada naquela circunstância, naquele momento: "Preciso mudar de cabelereiro". Coisa besta, que rendeu boas horas de gargalhada. Coisa de mulheres que acham sentido em tudo na vida. Que a transformam em alegria e prazer tudo o que podem. Que veem beleza na simplicidade. Coisa de quem nunca perde a fé. E de quem não foje das mudanças. Nem que seja, das de cabelereiro.


Gil e minha mãe

Isabel, minha mãe.
Hoje cedo, o Bom Dia Brasil (o primeiro jornalístico do dia, na Globo) completou a série que homenageia os nossos ídolos setentões. Quem fechou a série foi Gilberto Gil. Uma bela reportagem de José Raimundo, dessas de dar inveja. De a gente pensar calado e se perguntar: "Por que não fui eu que fiz essa entrevista?" Foi a última entrevista do jornal.

Mal terminou o Bom Dia, o meu telefone tocou.
- Bom dia, Nuca Viegas!
- Bom dia minha mãe! Que bons ventos a trazem?
Minha mãe tinha uma alegria indisfarçável na voz.
- Eu estava aqui vendo a história de Gilberto Gil. Como eu gosto daquele pretinho! Como eu gosto de suas músicas. Elas tem uma capacidade de mexer comigo.
- Eu também estava assistindo, mãe. Foi mesmo de emocionar!
- Sabe, Nuca, eu gosto muito de ouvir as músicas do Milton Nascimento e do Gil. Do Caetano eu não gosto muito, mas desses dois... Ah! que coisa... O Gil tem uma música que me lembra muito aquele tempo em que nós voltamos pra São Luis, no início dos 80. Era uma música que eu cantarolava todo dia. (e ela começa a cantar) "Anda com fé eu vou, que a fé não costuma falhar..." Acho que eu cantava para me convercer de que alguma coisa boa ía mesmo acontecer.

Fiquei ali, escutando a história de minha mãe, e o seu canto, e a sua alegria... Que delícia de telefonema.

- Nuca, eu gosto tanto dele que acho que vou comprar um desses aparelhinhos e colocar umas músicas do Milton e do Gil, só pra ficar escutando a hora que eu quiser.

Isso mesmo, mãe! Acho que a senhora deve fazer mesmo isso. E mais uma coisa, mãe: Não perca nunca a fé.

Desliguei o telefone e fiquei pensando que já tenho dois presentes pra ela. Um disco do Milton e outro do Gil. E "um aparelhinho", só pra ela poder escutar as músicas que gosta, sempre que quiser.

Um comentário:

  1. Tudo lindo Maranhão, Margot, Minhas meninas,D. Isabel, andar com fé. A vida é boa por gente, perto e longe da gente. É boa porque são elas que nos dão fé. É o humano cuidando da humanidade e que nos faz crer em santos, anjos, em Deus.
    Um cabeleireiro na vida de uma mulher é tão importante quanto um marido. Além da gargalhada nós também levamos um susto. Beijo com fé.

    ResponderExcluir