por Innocêncio Viégas*
Lívro Árvore - Salvador Dali |
Digo das lombadas coloridas dos livros dispostos lado a lado nas estantes da minha Biblioteca. Ela não chega a ser igual às Bibliotecas dos meus amigos que são amigos dos livros, mas guarda uma boa quantidade de livros preciosos que perpetuam em suas páginas, as mais belas histórias da humanidade, numa variedade de assuntos, todos eles cativantes e convidativos a uma boa leitura. Não cito o nome dos meus velhos amigos para não deixar alguém de fora, pois eles são muitos, e se fosse enumerá-los esta crônica seria uma história comparada às Mil e uma noites, quando Sherazade contava suas belas histórias ao sultão Shahryar.
As cinco da matina, quando o sabiá meu amigo “desata a sonata” e o galo Cigano amiúda o canto para acordar o sol, já estou abancado em minha velha cadeira de palhinha, de frente para os livros, admirando-os, revendo todos os títulos, verificando a irregularidade da posição de cada um deles e me embevecendo com a beleza do colorido de suas lombadas.
Livros comprados, livros recebidos de amigos nas datas festivas, livros adquiridos nos mais preciosos “sebos” quando da ciganice das viagens pelo Brasil, sempre acompanhado pela Bel, e pelos filhos em determinadas ocasiões.
Livros achados em velhas gavetas, livros deixados propositadamente em bancos de praças e até um dos meus, recuperado num “sebo” pelo professor Anoraldino, um querido irmão e amigo dos livros. Só assim – disse ao professor – eu poderia estar ao lado dos grandes homens das letras, na prateleira de um “sebo”. Fiquei feliz, recuperei o livro e dei ao mano velho, um dos últimos exemplares do “O homem além do homem”, edição de 1988, já esgotada.
Os livros me atraem. Sempre que saio e passo por uma livraria, não me contento se não entrar, pelo menos para folhear algum deles e ler as belas “orelhas” e às vezes saborear um bom café, lendo o prefácio, atendo um papo com algum desconhecido, também amigo dos livros e que imediatamente passa a ser um novo amigo. O livro tem esse poder. Livros que se vão e ficam apenas na lembrança. Certa vez emprestei um livro – Eram deuses os astronautas – a um amigo de caserna e nunca mais pude ver os dois. Outro livro querido que perdi foi um livro de bolso da Ed. Ouro, “O quarto rei mago”, livro todo riscado e com pequenos comentários dos que o leram. Também desapareceu. Saudades infindas! Gostaria de recuperá-lo. Entre os aficionados, corre um adágio que não conheço o autor: “imbecil é quem empresta o livro. Mais imbecil é quem o devolve”.
Tenho vários livros que peguei emprestado de alguns “imbecis”, no bom sentido, claro, que estão comigo e que eu não lembro o nome dos donos.
O livro mais antigo que está em meu poder, Edição de 1937, ano do meu nascimento, me foi ofertado por um grande amigo, jornalista da melhor “cepa”, que correu o mundo em busca de notícias para os grandes jornais em que trabalhou, o irmão Fernando Pinto, o velho “China”. Trata-se de um livro comprado em um dos “sebos” de Brasília, cujo nome é: O Livro de San Michele. Traz uma dedicatória na primeira página, de um certo Rubens para um amigo José, datada de 21-VI-1938. E, na segunda página, a dedicatória do Fernando, uma verdadeira poesia a este “velho Duca” que enche de saudades e cheiro de vinho, esta crônica que será antológica.
Manoel de Barros |
Se desejar saber mais, venha visitar o Rancho da Montanha. Não se preocupe que o vinho a casa oferece. Se quiser colaborar, traga o tira gosto. Pode ser um presunto “pata negra”, de Javali da Espanha.
Se achar impossível, venha assim mesmo que lhe servirei um torresminho, salgadinho – sô – com a melhor das águas que passarinho não bebe, trazida lá da Fazenda da Cruz da Retirada Bonita, onde nasceu o poeta do amor, Fagundes de Oliveira.
Lembrando Marina Colasante eu diria: “Venha provar da água que em minha casa se bebe”.
O importante é vir aqui para correr os olhos e apreciar ... A beleza das lombadas coloridas.
Não demore, o tempo urge!
Innocêncio Viégas * É escritor, teólogo, membro da Academia de Letras de Brasília, membro da Academia Maçônica de Letras do DF, membro do CERAT. E, quando sobra tempo, é meu pai, também.
Obrigada Maranhão. Uma delícia ler seu Innocêncio.
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