domingo, 25 de abril de 2010

Torresmo no Mercado Municipal

Margarida Marques esteve em minha casa, por três dias. Sempre pensei em escrever uma série sobre “as mulheres da minha vida”. Quando um dia eu criar coragem para fazer isso, Margarida terá um capítulo especial.

Ela é jornalista, gaúcha, elegante, sincera, adora vinhos e... é nossa comadre. Madrinha de Mariana.

Margarida tem presença incontestável na nossa vida. Lembro de uma vez. Fazia três dias que Mariana havia nascido. Eu e Mara, pais de primeira viagem, enfretamos uma crise de choro da guriazinha.

Foi uma longa e exaustiva crise. Hoje compreendo que, quanto mais ela chorava, mais ficávamos nervosos. E o nosso nervosismo, de alguma forma, colaborava para que ela continuasse a chorar. Sem uma razão física qualquer. Tentamos de tudo e nada resolvia.

Quando a gente não tinha mais pra onde correr, a não ser para o hospital, eis que soa a campainha. Eu estava com Mariana nos braços, ela chorando e eu, quase. Começava a anoitecer. Abri a porta e apareceu a Margarida.

Eu nem dei boa noite, nem nada. Entreguei Mariana a ela. Como num passe de mágica, Margarida agasalhou Mariana nos braços, fez meia dúzia de carinhos e a guriazinha desmaiou, como um anjo. Eu e Mara, a partir desse dia, passamos a acreditar nos dons divinais de Margarida.

Essa é só uma das muitas histórias deliciosas que relembramos, nestes dias. No sábado, fomos apresentar o Mercado Municipal de Brasília para ela. O mercado é um lugar mágico. Fica na 509, da W3 Sul. Sua fachada destoa do restante das outras casas comerciais da rua, remete a antigos casarões, no melhor estilo Art Nouveau, que marcaram um período da arquitetura e que se caracterizam pelo uso de ferro fundido, arcos, grades e vitrais.



Quem conhece outros mercados famosos, como o de São Paulo ou Recife, vai se identificar imediatamente. Lá dentro, cheiros e sabores se misturam e formam uma harmoniosa combinação, um convite à permanência sem pressa, sem hora para terminar.



Na banca do "Manel Xicote" lembrei do meu pai e da fissura que ele sente por este lugar. Cortes especiais de bacalhau, azeites, azeitonas, presunto parma, queijos especiais. Tudo, na banca do Manel Xicote é tão especial quanto a própria história da criação da logomarca, que saiu da cabeça do Ziraldo.


A caminhada pelo mercado é uma provocação. O plano era passar rapidamente por lá. Mas isso é quase impossível. Resolvemos nos sentar na parte de cima, que nos permite uma visão ampla e geral do mercado.

Foi lá que encontramos o Mauro Di Deus. Quase saindo, depois de comer um filé de tambaqui. Comemoramos o encontro e o Mauro terminou ficando um pouco mais do que também havia planejado.

Foi uma tarde esplendorosa, recheada de boas histórias, bom chopp, caipirosca e muito torresmo. O encontro, certamente, vai render mais algumas boas histórias aqui no blog. A pauta foi extensa.

Uma exposição de um holandês, com fotografias de 1957, quando Brasília não passava de um canteiro de obras; o início de uma biografia que o Mauro está ajudando a escrever; as visitações publicas ao Congresso, que ganham a partir de agora um atrativo a mais – serão conduzidas por atores e atrizes, representando personagens ilustres da história da cidade; um painel sem assinatura, feito especialmente para o Salão Verde... Olha, a ida ao mercado rendeu muito. Rendeu até uma cena inusitada.

Além do chopp, pedimos uma porção de torresmo. Na mesa que ficava imediatamente atrás da nossa estavam duas das figuras mais célebres da MPB: Ronaldo Bastos e Fernando Brant. Compositores, parceiros de Milton Nascimento em alguns dos grandes clássicos do Clube da Esquina, só pra ficar no óbvio. Eles conversavam animadamente até que o garçom trouxe o nosso pedido.

Assim que ele deixou a porção de torresmo na mesa, Fernando Brant parou de falar e olhou com um olhar de cobiça, incontrolável. Todos que estavam na mesa dele se voltaram para a nossa. Percebendo o encanto com o torresmo, sugerimos que eles se servissem do nosso prato. Eles sorriram, agradeceram educadamente e pediram um igual.

Uma pena, porque pra nós, teria sido uma honra dividir o nosso torresmo com a nata da MPB.

3 comentários:

  1. Que sorte tens Maranhão!!!!E esta foto da Margarida foi uma delicia...a sua história com ela é maravilhosa e descreve aquilo que ela representou na minha vida: sabedoria ...tive pouco tempo de convivência...quando ela estava a frente do projecto TVE ... entretanto foi dela que recebi um dos mais sábios conselhos da minha vida...ainda bem que tive a sorte de passar pelo caminho dela ...
    Quando estiverem novamente juntos diz-lhe que mandei um grande beijo e que a admiro muito pela grande mulher que ela é...um exemplo de dignidade e sensatez a segui...
    Ah!!!Diz também que eu adoro os cabelos os cabelos dela...rsrsrs
    Lindas fotos...mais um belissimo texto...

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  2. Como, meu Deus, como alguém cita mercados municipais e não menciona o de Belo Horizonte? Toma tenência, Maranhão!

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  3. Você está coberto de razão, Maurilo.
    Entretanto, meu nobre amigoo, a ausência de citação reflete um descuido dos meus
    queridos amigos de BH (todos, aí incluídos): ninguém nunca me chamou para uma passada
    por lá. Fui, portanto, traído pelo desconhecimento.
    Mas prometo corrigir esse deslize e vc está intimado a ser meu condutor nessa deliciosa jornada.

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