sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Fofão, Clovis e Clowns


De Norte a Sul, o Brasil se sacode. É carnaval.
Nos meus tempos de menino, na ilha de São Luis, havia uma certa magia nessa época do ano. Nada que se compare ao ritmo frenético dos carnavais de hoje. Talvez fosse coisa de quem ainda enxergasse o mundo na medida da altura do joelho dos adultos. Mas a memória é forte e ficou para sempre.

Na rede onde dormi até os meus dez anos, sonhei sonhos incríveis. O balanço da rede me fazia ir e voltar com os batuques, que pareciam vir lá da Praça da Saudade ou lá do Beco do Gavião. O som dos tambores ia e vinha. Uma hora mais distante; outra, mais perto. Até que o sono me tomasse.

O bairro onde nasci, a Madre Deus, era e ainda parece ser o coração da Ilha. Há um pulsar que dura o ano inteiro. Entra ano e sai ano, muda o compasso, mas a harmonia permanece. Ali convivem em absoluto equilíbrio o sacro e o profano. Caixeiras do Divino Espírito Santo; pretas velhas do tambor de crioula; brincantes de boi; sambistas da velha guarda; caboclos de pena...

Há, entretanto, um personagem mítico que está intimamente ligado ao carnaval de São Luis: o “Fofão”. No Rio, ele se chama “Clóvis”, uma variante do inglês “Clown” – palhaço. Em Pernambuco é “Palhaço” mesmo.

Mas a imagem do “Fofão” sempre me remete à minha infância, em São Luis. É uma figura da commedie dellarte, um tipo tradicionalíssimo. É um pierrot, um arlequim do avesso. Usando um roupão de chita colorida e uma máscara nariguda, de papel machê, que sempre que se aproxima de alguém emite um som parecido com uma expressão francesa: Uhlahlah!!!

Na minha infância, eles carregavam uma bonequinha na mão e uma vara para assustar os desavisados. A imagem do “Fofão” me invadiu nessa sexta-feira gorda, de carnaval, na forma de uma exposição de fotografias que está acontecendo no espaço Zumbi dos Palmares, no décimo andar do Anexo IV, da Câmara Federal em Brasília.

A mostra retrata o carnaval da Bahia e reúne fotos de Marisa Vianna, Augusto Campos, Mario Luna e Raimundo Bandeira. Fica lá até o dia seis de março. Vale a pena ser vista. No meu caso, me permitiu uma viagem de volta ao passado, ao meu tempo de moleque, às minhas noites dormidas ao embalo da rede e ao som dos tambores de São Luis.

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