quinta-feira, 20 de março de 2014

Cachaceiros

 Por Matta Machado
            
Matta Machado
Ferros que já deu muita gente séria como este seu amigo que é abstêmio ou quase,  quer queira, quer não, sempre foi terra de cachaceiros.   E aonde há cachaceiros nunca falta quem implique com eles.
            Abel gostava de cachaça, mas via-se muito tolhido em seu salutar hábito de ficar bêbado. Em sua casa portas da rua trancadas. Ele vigiado, quase amarrado. Abel é um assombro porque mesmo assim, mostra-se compreensivo. Cordato com todas essas injúrias conforma-se com a prisão

            Os dias passam. Agora ele, sem gritos, sem rancores, sem alarde, consegue mais de uma vez embriagar-se. Para espanto e indignação de seus algozes.        Ele foge? Como? A bebida só pode estar escondida, concluem. Reviram a casa, os armários, as gavetas, as prateleiras, o inferno. E nada. Aonde fica escondida essa maldita pinga? Abel está agora ressabiado. De soslaio, caladinho observa a revolução que aprontam em sua casa. A mulher, os filhos, as empregadas, seus cunhados, seus vizinhos, todos desesperados para encontrar as bebidas.

            Um dia rindo, gozando, debochando-se de todos, contou (num botequim - é evidente) a sua mágica: no vasto quintal de sua casa havia cajueiros carregados. Ardiloso, paciente e previdente, injetara, com todo capricho, umas dezenas doses de pinga em cada fruto quase maduro. 
Passava os dias... Comendo e bebendo. 
Caju - é claro.



            Salute!!

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