quinta-feira, 20 de março de 2014

Pega!

Por Maurilo Andreas*


Fora de forma, o homem bem vestido corria desesperadamente atrás do moleque. As pessoas que observavam logo imaginaram a mão magra surrupiando a carteira do gordinho que, perto dos 50, reagia com um misto de bravura e falta de preparo físico.
Deram a volta na praça em desabalada carreira e o homem suava em bicas, resfolegando vermelho enquanto o meninote sem camisa sorria um riso livre.
De repente, o impensável: o menino confiante e soberano na arte da fuga tropeçou em um buraco da calçada e se estatelou no chão. Percebendo a oportunidade o homem arrancou forças de algum lugar e disparou rumo ao pequenino que tentava atabalhoadamente se levantar.
Não havia como escapar. Em poucos segundos as mãos gordas estavam pousadas nos ombros do garoto com surpreendente leveza.
- E aí, machucou?
- Não, tá tudo certo. - respondeu o menino, meio envergonhado e com um resto de orgulho que o impedia de reclamar da dor que sentia no joelho. Fora vencido, mas não daria o prazer de se entregar à derrota.
Maurilo Andreas (e Sophia)
- Tem certeza?
- Tenho…
Mal o moleque terminava o aceno positivo com a cabeça, o homem saiu novamente em disparada, dessa vez atrás de ninguém, e gritou enquanto dobrava a esquina.
- Então tá com você, bobo. Vem me pegar!

E assim pai e filho mudaram a hora de almoço, mudaram a terça-feira, mudaram a praça com a alegria de uma amizade grande demais para regras.

Um comentário:

  1. Era o que eu precisava pra começar a noite de trabalho. Um texto que abraça a gente.

    ResponderExcluir