Fora de forma, o homem bem vestido corria desesperadamente atrás
do moleque. As pessoas que observavam logo imaginaram a mão magra surrupiando a
carteira do gordinho que, perto dos 50, reagia com um misto de bravura e falta
de preparo físico.
Deram a volta na praça em desabalada carreira e o homem suava em
bicas, resfolegando vermelho enquanto o meninote sem camisa sorria um riso
livre.
De repente, o impensável: o menino confiante e soberano na arte
da fuga tropeçou em um buraco da calçada e se estatelou no chão. Percebendo a
oportunidade o homem arrancou forças de algum lugar e disparou rumo ao
pequenino que tentava atabalhoadamente se levantar.
Não havia como escapar. Em poucos segundos as mãos gordas
estavam pousadas nos ombros do garoto com surpreendente leveza.
- E aí, machucou?
- Não, tá tudo certo. - respondeu o menino, meio envergonhado e
com um resto de orgulho que o impedia de reclamar da dor que sentia no joelho.
Fora vencido, mas não daria o prazer de se entregar à derrota.
Maurilo Andreas (e Sophia) |
- Tem certeza?
- Tenho…
Mal o moleque terminava o aceno positivo com a cabeça, o homem
saiu novamente em disparada, dessa vez atrás de ninguém, e gritou enquanto
dobrava a esquina.
- Então tá com você, bobo. Vem me pegar!
E
assim pai e filho mudaram a hora de almoço, mudaram a terça-feira, mudaram a
praça com a alegria de uma amizade grande demais para regras.
Era o que eu precisava pra começar a noite de trabalho. Um texto que abraça a gente.
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