sábado, 8 de março de 2014

Estrada nova

Quando o telefone tocou já passava de meia-noite.
Telefonemas depois desse horário quase sempre
vem acompanhados de sobressaltos.
Era meu pai pedindo ajuda para encontrar meu irmão
que saíra às seis do trabalho e ainda não tinha chegado em casa.

Logo ele, que não é dado a aventuras solitárias.

Busco palavras que os acalmem, digo que vou entrar em cena e peço a eles uma tranquilidade que, aquela altura, já me faz falta em alguma medida. Em oração desejo que tudo esteja bem. E vou.

Telefone, amigos possíveis, placa de carro, roteiro a seguir, por onde começar, afinal?
São segundo preciosos de uma busca incerta. Tanta coisa. Tanta possibilidade.

Estar com um irmão é um mergulho no tempo.
Hoje, estive com um dos meus.
Longas horas a falar da vida.
Nós, homens feitos, caminhando como meninos
revendo os passos
chorando as dores
imaginando rotas


Meu irmão, que já foi criança,
hoje é homem feito.
Mas guarda um menino
por trás dos olhos tristes

Nas fotos de nossa infância
há um sorriso congelado no tempo
Há alegria e novidade

Flores e pedras
margeando os caminhos
cruzando rios e soleiras
jardins e morrarias
O menino lá, perdido em


Hoje, encontrei o menino
por trás do homens.
Tinha os olhos cheios d'água
tinha medo
mas tinha coragem
também


A mesma coragem
que vai fazê-lo encontrar
o caminho
Olhei pra tás e ele ainda estava lá
Correndo
sorrindo
como quem inaugurava
estrada nova

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