quarta-feira, 5 de março de 2014

Adivinhação

Por Mara Viegas
Mara em Camboriú, velhos tempos.
Até meus 14 anos, praia era sinônimo de Balneário Camboriú. De Santa Rosa, onde eu morava, eram cerca de 800 km, em estrada de terra nos primeiros anos. Um mês de preparativos. Dois dias de viagem, com pernoite em Rio do Sul. Uma efeméride.

A ilha das Cabras - manhã de sol em Camboriú
Quase ao centro da baía que forma o balneário, tem uma ilha. Meus irmãos e eu, na ingenuidade da infância, ouvíamos encantados a historia do homem que vivia na ilha, que vinha ao continente uma vez ao mês, para garantir mantimentos, e que nunca se deixava ver.

Um passeio familiar de barco ou escuna (não lembro mais) ao redor da ilha, assanhava nossa curiosidade e expectativa em ver o próprio ou alguma pista do enigmático morador. Mas o timoneiro, inflexível, avisava: não é permitido chegar muito próximo à ilha. No imaginário infantil, o mistério crescia a cada novo verão.

A ilha, iluminada, atiçando a imaginação.
Cresci. Casei. Tive filhos. Meus pais morreram. Outros destinos fizeram parte do roteiro de férias. 40 anos depois, retorno para Camboriú e levo um susto: a ilha, à noite, está toda iluminada. 


A criança em mim ainda busca pelo habitante da ilha. 

De dia, nenhuma mudança que mereça registro. Fixo os olhos e minha criança interior ainda brinca de adivinhar quem mora naquela ilha.

Mara Viegas
Balneário Camboriú - SC

Último dia de fevereiro de 2014

Mara é jornalista, é minha companheira de jornada 
há 30 anos e é mãe de Mariana e Gabriel.

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