sábado, 14 de abril de 2012

Xingu - veneno e antídoto

Orlando, Leonardo e Cláudio. Boas interpretações no filme Xingu.
Quando eu era menino, muitas vezes, ouvi falar deles: Os irmãos Villas-Bôas. Naqueles tempos, a história deles era lição obrigatória na escola. Para defini-los, eram usados termos que não faziam muito sentido na cabeça das crianças: Desbravadores da Amazônia, Indigenistas e por aí a fora.

Hoje, me vejo em frente à telona assistindo a história romanceada da vida e da luta deles. Um quê de nostalgia e deslumbramento me toma ao reencontrar personagens tão íntimos da minha vida. Tão pertos e tão distantes eles estiveram de mim, nesse tempo todo.

Cena do filme Xingu
Falo de Xingu, o filme de Cao Hamburger, que entrou em cartaz nos cinemas brasileiros semana passada. De saída, lhes digo que é mais um belo exemplar da boa fase do cinema nacional. Luz, direção, atores, cenários e música estão à medida de qualquer bom festival mundial. Não nos envergonham, ao contrário.

Enquanto assisto, me dou conta de que o tema é controverso. Vai despertar longas discussões entre os que defendem os índios e os que defendem o progresso. Como se um fosse a antítese do outro. O embate será rico, apaixonado e interminável. Mas não é sobre isso que eu quero falar.

Penso na capacidade dos nossos "irmãos americanos do norte". Eles têm uma habilidade invejável para transformar personagens de sua história, controversos ou não, em mitos do cinema. Nós, brasileiros, temos um cacoete incontrolável para destruir reputações. Busco na memória por exemplos que me contradigam e encontro apenas dois: Pelé e Airton Senna.

No mais, somos viciados em pregar peças, em ridicularizar histórias, em transformar feitos em chistes. Duvida? Vou citar um único exemplo - Rubens Barrichello. Nascido nos EEUU, a história dele seria motivo de orgulho, serviria de exemplo de dedicação e perseverança. Mesmo sem ter sido campeão uma só vez, num esporte em que os campeões são figuras do porte de semi-deuses.

Nascido em terras tupiniquins, Rubinho é exemplo de fracasso. Mote invariável de piadas.

O que me faz pensar sobre isso é o fato de que eu senti um orgulho danado ao gastar pouco menos de duas horas assistindo Xingu, no cinema. Rever meus velhos conhecidos das páginas de livros escolares, vê-los transformados em personagens vibrantes da história do Brasil e saber que aquela saga, tirante um ou outro detalhe, resultado da liberdade poética do diretor, aconteceu de verdade me obrigou a reencontrar o meu país. Pude rever com olhos adultos e maduros a história dessa cruza entre nativos e estrangeiros.

Caio Blat, João Miguel e Felipe Camargo - Os irmãos Villas-Bôas
Numa síntese: a Expedição Roncador-Xingu, que aconteceu nos anos 40, do Século passado, permitiu alcançar o extremo Norte brasileiro. Os irmãos Leonardo, Cláudio e Orlando Villas-Bôas ajudaram a abrir 1.500 quilômetros de picadas no meio da selva. Cruzaram 1.000 quilômetros de rios. Abriram 19 campos de pouso. Formaram 43 vilas e cidades. Contataram 19 diferentes tribos indígenas. Enfrentaram mais de 200 crises de malária. E, em 1961, conseguiram finalmente criar o Parque Nacional do Xingu.

Uma frase dita pelo personagem de Cláudio Villas-Boas é o resumo dessa história. Refletindo em voz alta ele diz: "Nós seremos o veneno e o antídoto dessa gente". É ou não motivo suficiente para sair da cadeira e correr para um cinema mais próximo? Quer mais um empurrãozinho? Clique aí embaixo e veja o trailer. Depois, fique à vontade pra registrar aqui, no espaço para comentários, o que achou do filme.

Um comentário:

  1. "Nós seremos o veneno e o antídoto dessa gente". E assim foi. Assim como os indios sao o veneno e antidoto do progresso. E assim é.

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