A notícia aí acima foi manchete dos principais sites de informação, nesta quinta-feira. E foi assunto do nosso almoço também. Falávamos dessa onda de intolerância e despreparo das pessoas, que faz com que a vida seja mais difícil a cada dia. Mas o assunto sério cedeu lugar, rapidamente, para as histórias de família porque Mariana lembrou, não de um caso de abandono, mas de um episódio em que ela se perdeu da gente.
Corria o ano de 92. Mariana tinha 4 e sempre foi muito espevitada, dona de si, etc. e tal. Tanto que eu e Mara sempre a orientamos: Na hora do aperto, nada de pânico. Aja com tranqüilidade. Por exemplo: Caso um dia você se perca no shopping, entre na primeira loja que enxergar. Todas as lojas do shopping têm um microfone usado para informar sobre casos de crianças perdidas.
Você fala com o primeiro funcionário que encontrar, diz o seu nome, a sua idade, o nome dos seus pais e diz que se perdeu deles. O cara vai tomar as providências. Você espera um pouco e logo a gente chega. Sem drama, viu?
Assim foi. O tempo todo. Todo dia a gente orientava, lembrava, repassava as orientações. É que, sabendo a Mariana que tínhamos, uma hora ia acontecer dela se perder. Até que um dia... Aconteceu.
Estávamos conversando com uma amiga, no shopping e, quando nos demos conta, aquele toco de gente independente já não estava mais entre nós. Mara se apavorou. E eu disse a ela que tivesse calma, mas também estava nervoso. Combinamos os três de sair em direções diferentes. Tudo o que eu queria é que ela lembrasse das nossas orientações.
Já tínhamos dado uma boa procurada e o susto já era grande o suficiente para fazer tremer as pernas quando avistamos a nossa amiga fazendo sinal. Ela havia encontrado a Mariana. Corremos em direção a ela, que acabara de entrar em uma loja.
Nós nem precisamos entrar para sentir um alívio geral. Era uma loja de móveis e havia um sofá exposto na vitrine. Nele, bem à vista de todos, estava Mariana, chorando um choro copioso, mas estava lá, sentadinha no sofá da vitrine, à nossa espera. Corremos para abraçá-la e agradecer ao pessoal da loja.
Filha, o que houve? Você esqueceu as orientações que a gente te deu? Por que está chorando tanto? Não pai, eu não esqueci, dizia ela, entre um soluço e outro. E começou a explicar: Primeiro eu me perdi. Aí pensei, tenho que entrar na primeira loja, entrei.
Procurei o primeiro moço da loja, achei. Falei pra ele tudo direitinho, meu nome, seu nome, disse que tava perdida e pedi para ele anunciar no microfone. Aí, ele disse: Aqui não tem microfone, mas você senta aqui e espera que eu já vou lá na administração avisar que você está perdida.
Pronto, pai. Fiz tudo direitinho, mas na loja não tinha microfone. Aí, eu comecei a chorar. Até que você e a mamãe apareceram aqui.
Mariana, aos 4: Sem perdão, pela má informação. |
A Iara é uma gaúcha "de quatro costados". Gosta de ler o Blog mas já avisou: não lida bem com esse negócio de postagens e que tais. Por isso escreve via e-mail mesmo. E eu divido a escrita dela aqui porque acho que a história vale. Um beijo, Iara.
ResponderExcluirOi, Maranhão,
sabia que um dia, quando voltava da praia com meus dois pequenos (5, 6 anos) e eles não paravam de brigar no bando de trás eu parei no acostamento e expulsei os dois do carro? A Maria, mais dramática desde cedo, dizia "mãe, eu sou tua filha, não me deixa na estrada!!!" Um ano mais velho e menos mexicano, o Caio só dizia "não faz isto mãe".
O fato é que ficamos por uns dez minutos na beira da estrada a refazer o acordo de cooperação entre filhos e mãe para que eu pudesse dirigir em paz... Hoje, eles lembram da história às risadas, ainda bem!
Dê uma olhadinha na minha coluna de hoje no www.jornaldegravatai.com.br página 2.
beijo
iara
Meu amor, o que me dá mais alegria nessa longa caminhada jntos é a comprovação de que as grandes tragédias da nossa vida, algumas bem reais, hoje se transformaram em lições sérias e risadas muito divertidas. Obrigada por me ajudar a ver tudo assim.Te amo profundamente.
ResponderExcluirMaranhão, lendo isso, acho que era tão espevitada quanto Mariana,e bem menos responsável. Na minha infancia não haviam shoppings e muito menos microfones em todas as lojas kkkkkk! Época de Natal, Bairro da Penha/SP, lotado, eu "desapareço", sem maiores informações de como deveria me comportar, só sabia que não poderia "desgrudar" do vestido da minha mãe. Tinha mesma idade da Mariana e não acatando a "orientação" desapareço na multidão. Minha mãe desesperada,procurando e perguntando à todos, até que um vendedor resolve ajudar e acabam me "achando" em cima de um "carro alegórico de Natal" no colo de um Papai Noel que fazia parte da alegoria. Durante muito tempo não a perdoei por ter me achado, justo quando eu estava no colo do Papai Noel, indo pegar um trenó puxado por renas e fazer um longo passeio pelo céu e distribuir presentes para "todas as crianças"...Como era bom acreditar em Papai Noel.
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