terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Desconetar para conectar

A quarta-feira começa com uma mensagem do Jorge Calábria, um dos sócios da produtora Casca de Noz, de BH, me propondo assistir um comercial tailandês. Jorge explica que o comercial fez com que ele pensasse nesse volume de conexões diárias a que estamos submetidos e a perda de um tempo precioso que poderia ser melhor investido nas relações humanas.

É contraditório e é real. Tenho um amigo que costuma dizer que os computadores são máquinas que foram inventadas para resolver problemas que antes a gente não tinha. De fato, os computadores chegaram com a promessa de tornar a vida mais fácil. Tornaram. O mundo todo a um clic das mãos. Das compras de supermercados, bancos, a educação à distância até os namoros, quase tudo tornou-se uma possibilidade virtual.

Aí descobrimos que a essência da contradição está em passar mais tempo plugado do que tocando a vida normal. A gente não se dá conta, mas agregada às facilidades que a web nos permite está também a perda, quase que total, da nossa privacidade. Basta entrar na rede mundial de computadores para ver todos e também ser visto por todos. Vivemos na prática a Aldeia Global a que Marshall McLuhan se referia, no início da década de 60, quando ninguém ainda sonhava com internet e computadores caseiros.

As estatísticas mostram que os brasileiros estão entre os campeões no ranking dos que passam mais tempo ligados à internet. O trabalho, que antes encerrava quando a gente deixava o local de trabalho, agora invade a nossa casa, as noites e madrugadas, a bordo de notebooks, Ipads, Iphones e que tais. O dia, na prática, ficou muito mais curto do que parece. Já não se limita às 24 horas reais. E esse é o aspecto que nos faz concluir que os computadores, se por um lado, tornaram tudo mais fácil, por outro, complicaram enormemente a nossa vida.

À nossa identidade, juntamos, sem perceber, mais um número - o de IP ou Internet Protocol. É essa assinatura virtual que revela nossos hábitos, os sites que visitamos, as conversas que temos, os nossos gostos e manias. Não há mais um lugar por onde você passe sem deixar um rastro de que esteve lá. Quem controla isso tudo? Quem compreender melhor e dominar os sistemas e processos de tecnologia da informação, os hackers, as polícias inteligentes e os bandidos astutos.

A reflexão que o comercial tailandês nos propõe é mais simples, mas vai um pouco além. Quando estamos plugados, conectados, estamos ao mesmo tempo em contato com milhões de pessoas, totalmente expostos e absolutamente solitários. Nós, a máquina e um mundão de seres virtuais. Por isso, vale o exercício. Nem toda a virtualidade do mundo substitui algo que só a máquina humana carrega: a capacidade de traduzir emoção e sentimento em gestos inteligentes.

Como em tudo, o excesso, no uso da virtualidade também faz mal. Por isso, agradeço ao Jorge e divido com vocês a simplicidade deste comercial. Não precisa entender ou falar tailandês. A mensagem é clara.

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