domingo, 17 de outubro de 2010

Falecimento de Gaiarsa

Rudá Ricci*


Mais um que vai fechando um ciclo cultural do país. José Ângelo Gaiarsa (foto ao lado) faleceu ontem, aos 90 anos. Gente mais nova que eu não deve se lembrar, mas Gaiarsa foi um psiquiatra corajoso e polêmico, que enfrentava a análise das tensões - que todos vivemos, mas nos negamos a comentar publicamete - familiares.

Pregava relacionamentos abertos e criticava duramente a (des)educação promovida pelas mães. Durante dez anos, de 1983 a 1993, ele apresentou um quadro do programa Dia Dia, transmitido pela TV Bandeirantes, em que respondia, ao vivo, dúvidas dos telespectadores sobre temas como família, sexualidade e relacionamentos amorosos.

Tenho nítida a imagem dele andando de um lado para o outro, agitado, ouvindo a voz de uma telespectadora contando suas angústias. Ele ouvia e no programa seguinte analisava. Era, quase sempre, uma análise no estilo "chute no estômago". Não chegava a ser um analista de Bagé, mas o impacto era forte.

Em seu site, deixou um texto intitulado "A matança dos inocentes" que dá a dimensão de suas provocações. Reproduzo o início do artigo:

Jeová não deve ser muito amigo de crianças. Creio, mesmo, em uma secreta cumplicidade entre Ele e Herodes, aquele que mandou matar todas as crianças com menos de dois anos quando lhe disseram que havia nascido um Grande Rei que o superaria. Na Psicanálise de Freud o “infantil” em nós é mal visto e mal falado, sinônimo de neurótico, regressivo, irracional, imaturo e mais palavrões similares. Chamar de “criança” ou “infantil” a pessoas adultas é ofensa universal significando, em paralelo com Freud, irresponsável, ignorante, bobo.
 
Rudá Ricci - Sociólogo, Mestre em Ciências Políticas e Doutor em Ciências Sociais. Diretor Geral do Instituto Cultiva e membro da Executiva Nacional do Fórum Brasil do Orçamento (http://www.forumfbo.org.br/). E assina o Blog De Esquerda em Esquerda

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