quinta-feira, 14 de outubro de 2010

De volta, do centro da terra

Constelações - Miró
Como numa história de Júlio Verne, vi brotar do centro da terra trinta e três mineiros, no deserto de Atacama, no Chile. Eles passaram quase dois meses e meio presos no coração de uma mina, a quase setecentos metros de profundidade.

Gabriel, meu filho, disse "que alívio, vê-los aqui fora". Foi mais ou menos a reação de todo mundo. Numa época de superexposição midiática, com o conceito de Aldeia Global, de Marshall McLuhan levado ao extremo, dramas como esse são transmitidos ao vivo, 24 horas por dia.

Sem que se tenha controle do desfecho. Sem que se tenha medida, limite do que é público ou privado. Nesse caso, os que estavam no fundo da terra viraram objeto de desejo não só das famílias angustiadas, que torciam pelas suas vidas aqui fora, mas também dos editores, diretores, cineastas e empresários.

À perspectiva do drama (com qualquer desfecho) se junta a perspectiva de bons negócios.
Eles estão sãos e salvos. Resistiram - como heróis de uma estranha aventura casual - bem melhor do que poderíamos todos imaginar.

O que será de suas vidas, é difícil prever. Já tiveram muito mais do que quinze minutos de fama. Viveram um "Big Brother" sem querer, sem pedir. Foram selecionados por obra do acaso. Aqui fora, já experimentam os efeitos do assédio natural e enfrentam conflitos pessoais intransferíveis.

De certo, mesmo, só o fato de que há muito tempo não se via uma operação de resgate coletivo tão bem sucedida. Quantas histórias terão esses homens a contar, ninguém pode prever. Ninguém pode imaginar.

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