quinta-feira, 11 de abril de 2013

Esticando as linhas.



Caro leitor. 

Para compreender o texto a seguir, sugiro que leia a postagem anterior. Mas se o tempo for escasso, eu encurto a explicação: 

Na metade dos anos 80, do Século passado (putz, dito assim, dá um peso!) eu estive diretor de jornalismo da afiliada da TV Globo, em Mato Grosso do Sul, TV Morena. Um dia, atendi um jovem estudante que queria me ouvir sobre a profissão de jornalista. 

Esse menino cresceu e ontem, assim sem aviso prévio, me mandou uma mensagem  pelo facebook, que me fez voltar no tempo e roubar alguns minutos do dia para fazer o que continua sendo um dos meus maiores prazeres - escrever. 

Buenas! 
Cezinha Galhardo (como ele assina) deve ser uma alma boa e um bom profissional. Escrevi pra ele umas curtas linhas confessando a falha no meu disco rígido (que não conseguia resgatar as cenas daquele encontro do passado) e me dizendo emocionado com a mensagem dele. E também, querendo saber mais. Sobre a vida dele e sobre aquele instante em que estivemos juntos, lá na redação da TV Morena e que acaba de ficar perpetuado em nossa memória.

A resposta dele é um primor. E eu tenho que dividir com vocês. 
Obrigado, Cezinha!  Um grande e caloroso abraço.
A! E mais: A casa aqui (no blog) é sua. 
Escreva sempre que tiver vontade.   

Esticando as linhas



Sabe quando você espera que do lado de lá volte um sinal de fumaça como resposta? Então... recebi uma apresentação da esquadrilha da fumaça.

Putz, Viegas!!! Não é à toa que a Fabi me disse adorar seus textos!
 Hoje trabalhamos juntos na comunicação institucional em um órgão público: somos os publicitários rodeados por jornalistas. Ela trabalha com produção e fotografia e eu cuido do visual. Nos divertimos bastante.

Vou te contar como nosso encontro aconteceu, pelo meu olhar: 
Era um trabalho de escola, onde existia uma força de incentivo para que os alunos começassem a pensar no seu futuro profissional, afinal querer ser astronauta quando crescer já não valia mais. A sala foi loteada em grupos e nosso ficou com a profissão "jornalista". Na minha cabeça, profissão era ser médico, dentista, alfaitate, açougueiro... mas e jornalista? O que que esse rapaz faz? Pra mim jornalista, até então, era o apresentador oriental do jornal local e o Cid Moreira. Mas, ok.

Ligo na TV Morena e vejo se há a possibilidade de um jornalista me atender, numa hora vaga (hahahahaha!) para responder a algumas questões de um trabalho de colégio. "- Sim, pode vir. Ao chegar procure por Maranhão Viegas". Pronto! Lá fui eu ansioso para a entrevista. Não tinha nenhuma ideia que eu ia entrevistar quem entrevistava os outros. Se tivesse essas preocupações adultas em mente, talvez teria sido um total desastre, afinal eu nunca tinha feito aquilo.

Dizem que quanto mais básicos são os sentidos, mais tempo as impressões ficam na memória. Pois é. Entro na redação da TV Morena e a imagem que tenho é de um ambiente levemente enfumaçado, de coloração amarelo-esverdeada, cheio de mesas e pessoas andando de um lado para o outro com papéis na mão e cigarros na boca.

Nas mesas não me lembro de computadores, mas sim de Olivettis, Remingtons e similares, somadas a papéis, canetas e cinzeiros. O som era o constante tec-tec das máquinas de escrever e o falatório da turma, vez ou outra interrompido pela voz de alguém que chamava a atenção dos colegas para algum assunto.

O aroma de nicotina parecia minar de todos os objetos que me cercavam, misturado com um tom de madeira e couro.

A nossa conversa começou com um gravador, desses de fitinha, em cima da mesa, onde disse que depois escreveria o que nós conversaríamos. Foi quando você, gentilmente, perguntou se eu não me incomodaria de conversar em meio ao trabalho, já que vc tinha que resolver um problema da pauta (!?). Por mim ok, não queria atrapalhar o que quer que você tivesse que resolver com essa moça, afinal, ela devia ser importante ali.

Lembro que nossa conversa ter durado cerca de meia hora, pois eu sabia que esse era o tempo que cabia na fita minicassete. As questões foram acerca da natureza da sua escolha de jornalista como profissão, e também de como era ser um jornalista.
 Não é a toa que não se recorde do nosso encontro, afinal eu era uma esponja seca caindo de pára-quedas ali e você tinha que cuidar dos seus afazeres profissionais, além do xereta na sua frente.

Suas respostas eram em parte de frente pra mim, e em parte de lado, pensando e digitando com apenas 3 dedos de cada mão (e muita velocidade). Aliás, ficava imaginando "- Puxa, se ele digitasse com todos os dedos seria muito mais eficiente". Anos depois, ao conhecer a frase dita por Antonio Maria "- Tolos! pensam que escrevo com as mãos!", lembrei-me da imagem de te ver digitando aquela barulhenta máquina de escrever, na hora, e da ignorância do meu pensamento.

Analisando hoje, vejo que as respostas mais importantes que eu tive não estavam no gravador, mas fora dele. Eu vivi, durante meia hora um pouquinho do que é ser um jornalista e trabalhar na redação de um jornal. Obrigado por me proporcionar isso.

Falando um pouco de mim, fui estudar em Campinas, onde concluí o curso de publicidade e propaganda.

Depois, devido a um cliente, me mudei para São Paulo, onde continuei meus estudos por lá e casei. Montei um estúdio de design gráfico, onde sou desde o proprietário ao motoboy. Trabalhei com muitos jornalistas, mas sempre dentro da área visual (padrão jornalistico, capista, etc).

Voltei para Campo Grande a 3 anos, para trabalhar com comunicação institucional (sempre visual). Continuo atendendo os clientes de fora, mas morando aqui, o que ajudou a interromper a queda dos meus cabelos.

Se passar por aqui, será um prazer nos encontrarmos para "um chopes e dois pastel". Aposto que a Fabi vai curtir a ideia, também.


A propósito, tirei 10 no trabalho, obrigado!

Um abração!


Cezinha Galhardo

2 comentários:

  1. Sim. Cezinha Galhardo é uma alma boa. Talvez a melhor dentre tantas que conheci ao longo da vida (até agora).
    Tudo bem, sou suspeita p/ dizer (sou sua esposa), mas...vendo como foi importante p/ ele esse resgate e o quanto isso tudo o fez feliz (quando cheguei em casa hj ele não via a hora de me colocar diante do computador p/ participar disso), pude ter a certeza de que nessa vida, vc pode ser feliz com coisas que parecem "pequenas" aos olhos do mundo, mas que são enooooooooooormes a quem tem "alma boa".
    Simplesmente...uma história incrível entre um "menino" (na obrigação de um trabalho escolar) e um um profissional entretido com seus afazeres, mas que teve a "boa alma" de render 30 minutos de fita, ainda hoje "ouvidos" com o coração.
    A emoção não foi só sua, caro jornalista Maranhão Viegas. Obrigada por compartilhar conosco.
    Alessandra Galhardo.

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