sexta-feira, 5 de abril de 2013

Dia de Mariana

Quando Mariana chegou a vida ficou mais
iluminada. 
Houve um dia, 25 anos atrás, em que ela chegou. Passavam quatro minutos das nove da noite. Foi um dia especial. Foi uma noite especial. E, a partir dali, a vida também ficou especial.

Mariana está em nós.
Sobre ela, eu e Mara concordamos em quase tudo, desde o início. Mariana, o nome, foi escolha comum de nós dois. Que ela cresceria protegida de todos os males, mas em absoluta liberdade; e que receberia de nós o melhor do nosso respeito, do nosso carinho, do nosso amor, também não foi preciso combinar. Sobre ela tivemos e mantemos uma cumplicidade tácita, sempre.

Mariana nos fez experimentar alguns medos. No segundo dia, já em casa, quando não sabíamos mais o que fazer para conter o seu choro, quando a angústia de pais novos nos fazia temer o futuro, bem nessa hora, surgiu diante de nossa porta a figura encantada de Margot.

Margot.
A madrinha, mais madrinha, de todas as madrinhas de Mariana.
A madrinha, mais madrinha das madrinhas que ela tem,  tomou Mariana em seus braços e, como quem a acolhesse em uma cama de nuvens de algodão, a fez dormir um sono profundo e belo.

Mariana cresceu entre gentes parecidas com a gente. Uns loucos, outros visionários; uns destemidos, outros ousados... Todos, francamente apaixonados pelo bom vida.

Aos nove dias, devidamente acondicionada em um "Moisés" - pra quem não sabe, uns cestinhos em que se carrega crianças novas - decidimos que era hora de sair de casa. Fomos à feira japonesa, a mais tradicional da cidade.

Mariana viu o mundo a partir da Feira japonesa, em Campo Grande.
Lá, fomos para a barraca da obassan (que é como as pessoas se referem às avós, em japonês) Luíza, uma senhora japonesa que nos recebia sempre, às quartas e sábados, de braços abertos. Desta vez, ela nos olhou com ar de reprimenda e quis saber o que estávamos fazendo ali com a aquela criança. Queríamos ver você e apresentar Mariana pro mundo, a partir da feira, obassan!

Ela ficou braba e orgulhosa ao mesmo tempo. Nos tirou Mariana das mãos. Abriu um espaço embaixo do balcão, juntinho das suas pernas e passou o resto da noite cuidando da nossa criança. Daquele dia em diante, e até o dia em que morreu, toda vez que enxergava Mariana (e mais tarde, Gabriel, também) a obassan Luíza não lhes cobrava o que quer que comessem em sua barraca e ainda lhes dava dois pirulitos na hora de ir embora.

liberdade, para ser sempre feliz
Mariana cresceu frequentando redações. Desde bem cedo, ouvia o barulho das máquinas de escrever, rabiscava em laudas, contribuía (sempre para o riso) nas longas assembléias do sindicato dos jornalistas. E olhava televisão com um olhar incomum.

Um dia, achando que ela poderia ficar um pouco mais no berço e nos dar uns minutos a mais de sossego, resolvemos ignorar os seus chamados. Ela passou em revista todos os nomes conhecidos da sua memória.
- Papaaaaaaaaai,
- Mamããããããããããe,
- Dinda Margoooooot,
- Dinda Roseeeeeeeeeee

Os gritos da Mariana querendo sair do berço não nos comoviam. Até que ela usou uma tática de guerrilha infantil: De repente, começou a gritar, a plenos pulmões: Brizooooola!!!!! Bastou isso para que corrêssemos até lá. Brizola, também, já era demais.

Não foram poucas as histórias. Do berço à cadeira de diretora de cinema, a vida vai passando rápida e intensa, como um filme bom. Um filme chamado Mariana, uma das minhas boas razões para viver. Um beijo filha, te amo.






Mariana e Gabriel

Mariana e Clarice



PS. O post está um dia atrasado porque ontem, data do aniversário dela, terminamos o dia no hospital. Uma grade caiu em seu pé. Nada grave. Um susto. E a família reunida, no hospital, ria da graça do dia. Ao final, Mariana ganhou um "veículo", como havia desejado. Uma cadeira de rodas. Ainda que do hospital, ainda que por poucas horas. Vida que segue.

Um comentário:

  1. Meu Mestre, meu amigo, um homem e um profissional corajoso, retidãi inquestionável e esse paizão. Mara, Maraiana, Mestre e Gabriel. Sua Benção!

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